RAMATIS BRASIL, TERRA DE PROMISSÃO Obra psicografada por AMÉRICA PAOLIELLO MARQUES



RAMATIS


 BRASIL, TERRA DE PROMISSÃO

Obra psicografada por
AMÉRICA PAOLIELLO MARQUES


































BRASIL, TERRA DE PROM1SSÃO


Esta obra trata da missão espiritual do Bra¬sil diante da Transição Planetária ou dos "Tem¬pos que são Chegados".

Em outras obras como Mensagens do As¬tral, Elucidações do Além, e A Vida Huma¬na e o Espírito Imortal, Ramatis chamou a atenção para os desafios espirituais e materiais que estão reservados para a Nação Brasileira no Terceiro Milênio.

BRASIL, TERRA DE PROMISSÃO está organizado em quatro partes, onde Ramatis aprofunda a análise espiritual da Preparação Psicológica do Povo Brasileiro, da Fase de Re-alização e Consolidação da Liderança da Na¬ção Brasileira, das Conseqüências para a Hu¬manidade e dos Testemunhos Valiosos.

São descritas as características gerais que permitirão ao povo brasileiro vencer as lutas de sua experiência do futuro, como um con¬junto de circunstâncias cuidadosamente plane-jadas pela Direção Espiritual do Planeta, den¬tro dos quais serão enquadrados os espíritos preparados para valorizá-las.

Segundo Ramatis, os valores da humildade constituem a base do planejamento traçado por Ismael, entidade responsável diretamente pela orientação espiritual da "Pátria do Evangelho, Coração do Mundo"- termos utilizados por Humberto de Campos em obra ditada a Chico Xavier sobre o Brasil.

O desgaste do conceito vigente de felicida¬de e as provações coletivas tendem a se inten¬sificar em todo o planeta. O bom uso do livre arbítrio poderá atenuar, mas não poderá mais sustar um processo, que já está em andamen¬to, visando à higienização planetária, onde "se¬rão bem-aventurados os misericordiosos e pa¬cíficos". E a índole fraterna do povo brasileiro representa uma semente que terá seu desen¬volvimento acelerado face à necessidade de prestação de socorro en escala mundial, para dar testemunho do verdadeiro sentido do amor - o Amor Universal. 





OBRAS DE RAMATIS .


1.    A vida no planeta Marte         Hercílio Mães  1955        Ramatis         Freitas Bastos
2.    Mensagens do astral         Hercílio Mães  1956          Ramatis         Conhecimento
3.    A vida alem da sepultura        Hercílio Mães  1957        Ramatis         Conhecimento
4.    A sobrevivência do Espírito        Hercílio Mães  1958        Ramatis         Conhecimento
5.    Fisiologia da alma         Hercílio Mães  1959         Ramatis         Conhecimento
6.    Mediunismo             Hercílio Mães  1960        Ramatis         Conhecimento
7.    Mediunidade  de cura          Hercílio Mães  1963          Ramatis         Conhecimento
8.    O sublime peregrino          Hercílio Mães  1964        Ramatis         Conhecimento
9.    Elucidações do além         Hercílio Mães  1964        Ramatis         Conhecimento
10.    A missão do espiritismo         Hercílio Mães  1967        Ramatis         Conhecimento
11.    Magia da redenção         Hercílio Mães  1967        Ramatis         Conhecimento
12.    A vida humana e o espírito imortal  Hercílio Mães  1970        Ramatis         Conhecimento
13.    O evangelho a luz do cosmo        Hercílio Mães  1974        Ramatis         Conhecimento
14.    Sob a luz do espiritismo          Hercílio Mães  1999         Ramatis         Conhecimento

15.    Mensagens do grande coração        America Paoliello Marques 1962    Ramatis        Conhecimento
16.    Brasil, terra de promissão         America Paoliello Marques 1973    Ramatis        Freitas Bastos
17.    Jesus e a Jerusalém renovada      America Paoliello Marques 1980    Ramatis        Freitas Bastos
18.    Evangelho, psicologia, ioga      America Paoliello Marques 1985    Ramatis etc      Freitas Bastos
19.    Viagem em torno do Eu          America Paoliello Marques 2006    Ramatis        Holus Publicações

20.    Momentos de reflexão vol 1     Maria Margarida Liguori 1990    Ramatis        Freitas Bastos
21.    Momentos de reflexão vol 2     Maria Margarida Liguori 1993    Ramatis        Freitas Bastos
22.    Momentos de reflexão vol 3     Maria Margarida Liguori 1995    Ramatis        Freitas Bastos
23.    O homem e o planeta terra       Maria Margarida Liguori 1999    Ramatis        Conhecimento
24.    O despertar da consciência      Maria Margarida Liguori 2000    Ramatis        Conhecimento
25.    Jornada de Luz             Maria Margarida Liguori 2001    Ramatis        Freitas Bastos
26.    Em busca da Luz Interior          Maria Margarida Liguori 2001    Ramatis        Conhecimento

27.    Gotas de Luz             Beatriz Bergamo    1996        Ramatis             Série Elucidações

28.    As flores do oriente         Marcio Godinho 2000        Ramatis        Conhecimento
29.    O Universo Humano          Marcio Godinho    2001        Ramatis          Holus
30.    Resgate nos Umbrais          Marcio Godinho 2006        Ramatis        Internet
31.    Travessia para a Vida         Marcio Godinho 2007        Ramatis        Internet

32.    O Astro Intruso                                Hur Than De Shidha 2009    Ramatis         Internet

33.    Chama Crística             Norberto Peixoto 2000        Ramatis        Conhecimento
34.    Samadhi             Norberto Peixoto 2002        Ramatis        Conhecimento
35.    Evolução no Planeta Azul         Norberto Peixoto 2003        Ramatis        Conhecimento
36.    Jardim Orixás             Norberto Peixoto 2004        Ramatis        Conhecimento
37.    Vozes de Aruanda         Norberto Peixoto 2005        Ramatis        Conhecimento
38.    A missão da umbanda         Norberto Peixoto 2006        Ramatis        Conhecimento
39.    Umbanda Pé no chão         Norberto Peixoto 2008        Ramatis        Conhecimento
40.    Diário Mediúnico           Norberto Peixoto 2009        Ramatis        Conhecimento
41.    Medinunidade e Sacerdócio     Norberto Peixoto 2010          Ramatis        Conhecimento
42.    O Triunfo do Mestre          Norberto Peixoto 2011        Ramatis        Conhecimento
43.    Aos Pés do Preto Velho            Norberto Peixoto 2012        Ramatis        Conhecimento
44.    Reza Forte               Norberto Peixoto 2013        Ramatis        Conhecimento




Sumário

Invocação às Falanges do Bem                                5
Biografia de Ramatis                                     6
Introdução — América Paoliello Marques                             11
Carta de Hercílio Mães                                     14
Prefácio da 2- edição                                        17
Prefácio de Ramatis                                         19


PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA                              23
       
1.    Origens étnicas                                    24  
2.    Desenvolvimento histórico                                  32
3.    Características coletivas                                  45
4.    Composição espiritual                                  53
5.    Lutas de formação                                      60
6.    Amálgama espiritual                                  69


REALIZACÃO                                          74
        
1.    Heranç    a espiritual                                    75 
2.    Liderança                                          85
3.    Consolidação                                      92
4.    Obstáculos                                        96
5.    Realização                                          102
6.    Harmonia                                        107  


CONSEQÜÊNCIAS PARA A HUMANIDADE                        112 

1.    Virtude e cristianização                                113 
2.    Abertura dos canais espirituais                              117
3.    Tradição e fraternidade                                  125
4.    Paraíso terrestre                                      130
5.    Trampolim espiritual                                  135
6.    Desligamento gradativo                                  142


CONCLUSÃO                                         148
           
1.    Testemunhos valiosos                                149 
2.    Mensagem de esperança                                  154
3.    Exortação                                          159
4.    A Fraternidade do Triângulo, da Rosa e da Cruz (FTRC) e seu Trabalho         160
na Terra





Invocação às Falanges do Bem




Doce nome de Jesus,
Doce nome de Maria,
Enviai-nos vossa luz
Vossa paz e harmonia!

Estrela azul de Dharma,
Farol de nosso Dever!
Libertai-nos do mau carma,
Ensinai-nos a viver!

Ante o símbolo amado
Do Triângulo e da Cruz,
Vê-se o servo renovado
Por Ti, ó Mestre Jesus!

Com os nossos irmãos de Marte
Façamos uma oração-.
Que nos ensinem a arte
Da Grande Harmonização!





















RAMATIS
Uma Rápida Biografia
A ÚLTIMA ENCARNAÇÃO DE RAMATIS
SWAMI SRI RAMATIS
(3 partes)

Parte I
Na Indochina do século X, o amor por um tapeceiro hindu, arrebata o coração de uma vestal chinesa, que foge do templo para desposa-lo. Do entrelaçamento dessas duas almas apaixonadas nasce uma criança. Um menino, cabelos negros como ébano, pele na cor do cobre claro, olhos aveludados no tom do castanho escuro, iluminados de ternura.
O espírito que ali reencarnava, trazia gravada na memória espiritual a missão de estimular as almas desejosas de conhecer a verdade. Aquela criança cresce demonstrando inteligência fulgurante, fruto de experiências adquiridas em encarnações anteriores.
Foi instrutor em um dos muitos santuários iniciáticos na Índia. Era muito inteligente e desencarnou bastante moço. Já se havia distinguido no século IV, tendo participado do ciclo ariano, nos acontecimentos que inspiraram o famoso poema hindu "Ramaiana", (neste poema há um casal, Rama e Sita, que é símbolo iniciático de princípios masculino e feminino; unindo-se Rama e atis, Sita ao inverso, resulta Ramaatis, como realmente se pronuncia em Indochinês) Um épico que conte todas as informações dos Vedas que juntamente com os Upanishades, foram as primeiras vozes da filosofia e da religião do mundo terrestre, informa Ramatis que após certa disciplina iniciática a que se submetera na china, fundou um pequeno templo iniciático nas terras sagradas da Índia onde os antigos Mahatmas criaram um ambiente de tamanha grandeza espiritual para seu povo, que ainda hoje, nenhum estrangeiro visita aquelas terras sem de lá trazer as mais profundas impressões à cerca de sua atmosfera psíquica.
Foi adepto da tradição de Rama, naquela época, cultuando os ensinamentos do "Reino de Osiris", o Senhor da Luz, na inteligência das coisas divinas. Mais tarde, no Espaço, filiou-se definitivamente a um grupo de trabalhadores espirituais cuja insígnia, em linguagem ocidental, era conhecida sob a pitoresca denominação de "Templários das cadeias do amor". Trata-se de um agrupamento quase desconhecido nas colônias invisíveis do além, junto a região do Ocidente, onde se dedica a trabalhos profundamente ligados à psicologia Oriental.
Os que lêem as mensagens de Ramatis e estão familiarizados com o simbolismo do Oriente, bem sabe o que representa o nome "RAMA-TIS", ou "SWAMI SRI RAMA-TYS", como era conhecido nos santuários da época. É quase uma "chave", uma designação de hierarquia ou dinastia espiritual, que explica o emprego de certas expressões que transcendem as próprias formas objetivas. Rama o nome que se dá a própria divindade, o Criador cuja força criadora emana ; é um Mantram: os princípios masculino e feminino contidos em todas as coisas e seres. Ao pronunciarmos seu nome Ramaatis como realmente se pronuncia, saudamos o Deus que se encontra no interior de cada ser.
Parte II
O templo por ele fundado foi erguido pelas mãos de seus primeiros discípulos. Cada pedra de alvenaria recebeu o toque magnético pessoal dos futuros iniciados. Nesse templo ele procurou aplicar a seus discípulos os conhecimentos adquiridos em inúmeras vidas anteriores.
Na Atlântida foi contemporâneo do espírito que mais tarde seria conhecido como Alan Kardec e, na época, era profundamente dedicado à matemática e às chamadas ciências positivas. Posteriormente, em sua passagem pelo Egito, no templo do faraó Mernefta, filho de Ramsés, teve novo encontro com Kardec, que era, então, o sacerdote Amenófis.
No período em que se encontrava em ebulição os princípios e teses esposados por Sócrates, Platão, Diógenes e mais tarde cultuados por Antístenes, viveu este espírito na Grécia na figura de conhecido mentor helênico, pregando entre discípulos ligados por grande afinidade espiritual a imortalidade da alma, cuja purificação ocorreria através de sucessivas reencarnações. Seus ensinamentos buscavam acentuar a consciência do dever, a auto reflexão, e mostravam tendências nítidas de espiritualizar a vida. Nesse convite a espiritualização incluía-se no cultivo da música, da matemática e astronomia.
Cuidadosamente observando o deslocamento dos astros conclui que uma Ordem Superior domina o Universo. Muitas foram suas encarnações, ele próprio afirma ser um número sideral.
O templo que Ramatis fundou, foi erguido pelas mãos de seus primeiros discípulos e admiradores. Alguns deles estão atualmente reencarnados em nosso mundo, e já reconheceram o antigo mestre através desse toque misterioso, que não pode ser explicado na linguagem humana.
Embora tendo desencarnado ainda moço, Ramatis aliciou 72 discípulos que, no entanto, após o desaparecimento do mestre, não puderam manter-se a altura do padrão iniciático original.
Eram adeptos provindos de diversas correntes religiosas e espiritualistas do Egito, Índia, Grécia, China e até mesmo da Arábia. Apenas 17 conseguiram envergar a simbólica "Túnica Azul" e alcançar o último grau daquele ciclo iniciático.
Em meados da década de 50, à exceção de 26 adeptos que estavam no Espaço (desencarnados) cooperando nos trabalhos da "Fraternidade da Cruz e do Triângulo", o restante havia se disseminado pelo nosso orbe, em várias latitudes geográficas. Destes, 18 reencarnaram no Brasil, 6 nas três Américas (do Sul, Central e do Norte), e os demais se espalharam pela Europa e, principalmente, pela Ásia.
Em virtude de estar a Europa atingindo o final de sua missão civilizadora, alguns dos discípulos lá reencarnados emigrarão para o Brasil, em cujo território - afirma Ramatis - se encarnarão os predecessores da generosa humanidade do terceiro milênio.
A Fraternidade da Cruz e do Triângulo, foi resultado da fusão no século passado, na região do Oriente, de duas importantes "Fraternidades" que operavam do Espaço em favor dos habitantes da Terra. Trata-se da "Fraternidade da Cruz", com ação no Ocidente, divulgando os ensinamentos de Jesus, e da "Fraternidade do Triângulo", ligada à tradição iniciática e espiritual do Oriente. Após a fusão destas duas Fraternidades Brancas, consolidaram-se melhor as características psicológicas e objetivo dos seus trabalhadores espirituais, alterando-se a denominação para "Fraternidade da Cruz e do Triângulo" da qual Ramatis é um dos fundadores.
Supervisiona diversas tarefas ligadas aos seus discípulos na Metrópole Astral do Grande Coração. Segundo informações de seus psicógrafos, atualmente participa de um colegiado no Astral de Marte.
Seus membros, no Espaço, usam vestes brancas, com cintos e emblemas de cor azul claro esverdeada. Sobre o peito trazem delicada corrente como que confeccionada em fina ourivesaria, na qual se ostenta um triângulo de suave lilás luminoso, emoldurando uma cruz lirial. É o símbolo que exalta, na figura da cruz alabastrina, a obra sacrificial de Jesus e, na efígie do triângulo, a mística oriental.
Asseguram-nos alguns mentores que todos os discípulos dessa Fraternidade que se encontram reencarnados na Terra são profundamente devotados às duas correntes espiritualistas: a oriental e a ocidental. Cultuam tanto os ensinamentos de Jesus, que foi o elo definitivo entre todos os instrutores terráqueos, tanto quanto os labores de Antúlio, de Hermés, de Buda, assim como os esforços de Confúcio e de Lao-Tseu. É esse um dos motivos pelos quais a maioria dos simpatizantes de Ramatis, na Terra, embora profundamente devotados à filosofia cristã, afeiçoam-se, também, com profundo respeito, à corrente espiritualista do Oriente.
Soubemos que da fusão das duas "Fraternidades" realizada no espaço, surgiram extraordinários benefícios para a Terra. Alguns mentores espirituais passaram, então, a atuar no Ocidente, incumbindo-se mesmo da orientação de certos trabalhos espíritas, no campo mediúnico, enquanto que outros instrutores ocidentais passaram a atuar na Índia, no Egito, na China e em vários agrupamentos que até agora eram exclusivamente supervisionados pela antiga Fraternidade do Triângulo.
Parte III
Os Espíritos orientais ajudam-nos em nossos trabalhos, ao mesmo tempo em que os da nossa região interpenetram os agrupamentos doutrinários do Oriente, do que resulta ampliar-se o sentimento de fraternidade entre Oriente e Ocidente, bem como aumentar-se a oportunidade de reencarnações entre espíritos amigos.
Assim processa-se um salutar intercâmbio de idéias e perfeita identificação de sentimentos no mesmo labor espiritual, embora se diferenciem os conteúdos psicológicos de cada hemisfério. Os orientais são lunares, meditativos, passivos e desinteressados geralmente da fenomenologia exterior; os ocidentais são dinâmicos, solarianos, objetivos e estudiosos dos aspectos transitórios da forma e do mundo dos Espíritos.
Os antigos fraternistas do "Triângulo" são exímios operadores com as "correntes terapêuticas azuis", que podem ser aplicadas como energia balsamizante aos sofrimentos psíquicos, cruciais, das vítimas de longas obsessões. As emanações do azul claro, com nuanças para o esmeralda, além do efeito balsamizante, dissociam certos estigmas "pré-reencarnatórios" e que se reproduzem periodicamente nos veículos etéricos. Ao mesmo tempo, os fraternistas da "Cruz", conforme nos informa Ramatis, preferem operar com as correntes alaranjadas, vivas e claras, por vezes mescladas do carmim puro, visto que as consideram mais positivas na ação de aliviar o sofrimento psíquico.
É de notar, entretanto, que, enquanto os técnicos ocidentais procuram eliminar de vez a dor, os terapeutas orientais, mais afeitos à crença no fatalismo cármico, da psicologia asiática, preferem exercer sobre os enfermos uma ação balsamizante, aproveitando o sofrimento para a mais breve "queima" do carma.
Eles sabem que a eliminação rápida da dor pode extinguir os efeitos, mas as causas continuam gerando novos padecimentos futuros. Preferem, então, regular o processo do sofrimento depurador, em lugar de sustá-lo provisoriamente. No primeiro caso, esgota-se o carma, embora demoradamente; no segundo, a cura é um hiato, uma prorrogação cármica.
Apesar de ainda polêmicos, os ensinamentos deste grande espírito, despertam e elevam as criaturas dispostas a evoluir espiritualmente. Ele fala corajosamente a respeito de magia negra, seres e orbes extra-terrestres, mediunismo, vegetarianismo etc. Estas obras (15 Psicografadas pelo saudoso médium paranaense Hercílio Maes (sabemos que 9 exemplares não foram encontrados depois do desencarne de Hercílio... assim, se completaria 24 obras de Ramatís) e 7 psicografadas por América Paoliello) têm esclarecido muito os espíritos ávidos pelo saber transcendental. Aqueles que já possuem características universalistas, rapidamente se sensibilizam com a retórica ramatisiana.
Para alguns iniciados, Ramatís se faz ver, trajado tal qual Mestre Indochinês do século X, da seguinte forma, um tanto exótica:
Uma capa de seda branca translúcida, até os pés, aberta nas laterais, que lhe cobre uma túnica ajustada por um cinto esmeraldino. As mangas são largas; as calças são ajustadas nos tornozelos (similar às dos esquiadores).
Os sapatos são constituídos de uma matéria similar ao cetim, de uma cor azul esverdeado, amarrados com cordões dourados, típicos dos gregos antigos.
Na cabeça um turbante que lhe cobre toda a cabeça com uma esmeralda acima da testa ornamentado por cordões finos e coloridos, que lhe caem sobre os ombros, que representam antigas insígnias de atividades iniciáticas, nas seguintes cores com os significados abaixo:
Carmim - O Raio do Amor
Amarelo - O Raio da Vontade
Verde - O Raio da Sabedoria
Azul - O Raio da Religiosidade
Branco - O Raio da Liberdade Reencarnatória
Esta é uma característica dos antigos lemurianos e atlantes. Sobre o peito, porta uma corrente de pequenos elos dourados, sob o qual, pende um triângulo de suave lilás luminoso emoldurando uma cruz lirial. A sua fisionomia é sempre terna e austera, com traços finos, com olhos ligeiramente repuxados e tês morena.
Muitos videntes confundem Ramatís com a figura de seu tio e discípulo fiel que o acompanha no espaço; Fuh Planu, este se mostra com o dorso nu, singelo turbante, calças e sapatos como os anteriormente descritos. Espírito jovem na figura humana reencarnou-se no Brasil e viveu perto do litoral paranaense. Excelente repentista, filósofo sertanejo, verdadeiro homem de bem.
Segundo Ramatís, seus 18 remanescentes, se caracterizam por serem universalistas, anti-sectários e simpatizantes de todas as correntes filosóficas e religiosas.
Dentre estes 18 remanescentes, um já desencarnou e reencarnou novamente: Atanagildo; outro, já desencarnado, muito contribuiu para obra ramatiziana no Brasil - O Prof. Hercílio Maes, outro é Demétrius, discípulo antigo de Ramatís e Dr. Atmos, (Hindu, guia espiritual de APSA e diretor geral de todos os grupos ligados à Fraternidade da Cruz e do Triângulo) chefe espiritual da SER.
No templo que Ramatis fundou na Índia, estes discípulos desenvolveram seus conhecimentos sobre magnetismo, astrologia, clarividência, psicometria, radiestesia e assuntos quirológicos aliados à fisiologia do "duplo-etérico".
Os mais capacitados lograram êxito e poderes na esfera da fenomenologia mediúnica, dominando os fenômenos de levitação, ubiqüidade, vidência e psicografia de mensagens que os instrutores enviavam para aquele cenáculo de estudos espirituais. Mas o principal "toque pessoal" que Ramatis desenvolveu em seus discípulos, em virtude de compromisso que assumira para com a fraternidade do Triângulo, foi o pendor universalista, a vocação fraterna, crística, para com todos os esforços alheios na esfera do espiritualismo.
Ele nos adverte sempre de que os seus íntimos e verdadeiros admiradores são também incondicionalmente simpáticos a todos os trabalhos das diversas correntes religiosas do mundo. Revelam-se libertos do exclusivismo doutrinário ou de dogmatismos e devotam-se com entusiasmo a qualquer trabalho de unificação espiritual.
O que menos os preocupa são as questões doutrinárias dos homens, porque estão imensamente interessados nos postulados crísticos.







Introdução


"Jesus afirmou que vinha para os deserdados da sorte. Aqueles que se encontram oprimidos pelas dificuldades externas voltam-se para a busca das realizações inter¬nas. Mesmo quando a revolta lhes assola o íntimo, acham-se mais aptos a receber os esclarecimentos espi¬rituais do que as almas enfatuadas em seu orgulho pela conquista de valores transitórios.

Através da simbiose gradativa entre o psiquismo utilitarista do estrangeiro atormentado e a indolência poética e risonha do brasileiro, que desperta repentina¬mente para novas realidades sociais, uma força reno¬vadora deverá surgir — o panorama da Terra de Pro-missão em que o Brasil se verá transformado. Já não será a terra dos brasileiros mas o porto seguro da Humanidade."

RAMATIS



O Brasil, a bela Terra do Cruzeiro do Sul que tanto amo, ainda não tom.ou consciência do grande destino que o aguarda.

Sua natureza majestosa reflete a beleza dos páramos celestiais, a m.agnitude absoluta do Criador junto às criaturas. Qual a finalidade de um tal Éden terrestre senão servir de cenário às m.ais puras e no¬bres realizações humanas?

Terra fértil sob o ponto de vista espiritual, recebe, por im.pulso dos ventos adversos que assolam a Huma¬nidade, as sementes que se destacam de toda parte, com.o conseqüência das lutas e contradições humanas. E não há fruto que aqui não sazone, não há fome que não possa ser saciada, não há batalha que não chegue um dia a ser vencida. Onde há alim,ento há vida, onde  há vida há esperança. E se para conquistar uma mentalidade mais pura e verdadeira for necessário o está¬gio apare.ntem.ente involutivo em. que vivemos, já nos sentiremos compensados pelas restrições a que somos subm.etidos, no esforço de construir uma Humanidade m.ais fraterna e feliz.

O sonho m.aior da criatura humana espirituali¬zada deve ser o de colaborar na elevação do semelhan¬te. Eis por que o povo brasileiro pode considerar-se verdadeiramente predestinado, pois a form.ação bási¬ca de sua índole é fraterna e se com. essa atitude atrai a si problemas e dores, que importa, se não buscar na Terra a compensação im.ediata, se lutar pela realiza¬ção de um ideal de Amor?

Bendito seja o povo brasileiro se possibilitar a experiência da fraternidade incondicional e não temer pôr à prova os ensinamentos de Jesus, compreendendo Sua afirm.ação de que Seus seguidores seriam reconhe¬cidos por "muito se amarem mutuamente".Feliz será o Brasil se derrubar as barreiras de raça, sabendo que no grande cômputo de valores fi¬nais, nenhum,a indagação será feita sobre a origem, da alm.a no plano físico e que só os "tesouros que a traça não destrói" distinguirão para sempre os seres entre si.

Sobre a base de uma aparente inferioridade ra¬cial, poderá ser quebrada a onda destruidora do orgu¬lho e só a luz interior do espírito permanecerá como credencial suficientemente forte para engrandecer o homem..

"O maior dentre vós será aquele que menor se fizer", disse-nos Jesus. O anseio do Brasil espirituali¬zado de hoje deve ser o de servir ao próximo e, como os cristãos das prim.eiras eras, silenc.iosam.ente e a con¬tragosto de m.uitos, desenvolver a campanha da humil¬dade, do serviço e da fraternidade vivida integralmen¬te, sem limitações de raça ou condição social.

Por que assim. vem. se alastrando em. nossa terra a semente do amor cristão? Creio que foi por ter aqui encontrado a tendência ao espírito de igualdade imperando, inclusive, sobre a desigualdade ilusória das raças. Que maior afirm.ação pode haver de fraternidade realm.ente sentida do que o gesto generoso que estende os liam.es do Amor àqueles que nos são dessemelhantes e freqüentemente adversos?

Só quem. já conseguiu chegar ao coração dos deserdados da sorte poderá dizer que se agasalhou ao calor dos princípios cristãos. Nesses momentos, sabe-mos que Jesus está conosco porque se estabeleceu a corrente do Amor pregado por Ele na Terra.Por isso creio que o Brasil forma dia a dia um povo capaz de dar aos hom.ens o maior de todos os exemplos: o da fraternidade buscada em pureza evan¬gélica. E quando os tempos forem, chegados, o joio será separado do trigo e, após ter sido aquele lançado fora, os celeiros da Humanidade poderão ser abastecidos com as sementes sadias da espiritualidade, produzi¬das nos campos imensos da Terra abençoada e fértil que, silenciosamente, guarda em. seu seio a riqueza que possui para oportuna distribuição.

Por haver ainda m.uito descrédito e incompreensão entre nós a respeito do futuro do Brasil, os am.igos espirituais empenham-se numa campanha de esclare¬cimento geral e várias obras têm surgido com o objetivo de localizar a situação porvindoura dessa "terra de promissão".

Com.o fazem, relativamente ao nosso progresso individual, procuram, aclarar os equívocos concernentes à evolução das coletividades. Por um engano muito freqüente, costum.am.os julgar que os aparentemente vitoriosos e prósperos são os privilegiados da sorte, esquecendo-nos de que a verdadeira felicidade independe das circunstâncias externas e de que a dor suportada com espírito cristão é o maior índice de evolução espiritual.

Sob este aspecto, temos fortes razões para nos julgarmos um. povo feliz e nosso coração pode encher-se de esperança ao ver que nem. a mais triste realidade do presente consegue afastar-nos do ideal de cultivar, sobre a Terra do Cruzeiro, as rosas espirituais de um amor sublimado à Humanidade.

Que seja glorificada entre nós a lioa-Nova do Mestre Jesus é o único anseio realm.ente fervoroso que deve vibrar em, cada coração.

A Verdade será vitoriosa, pois saberemos esperar a queda de todos os véus da ilusão, procurando viver dentro da Realidade Maior, o Am.or que nos ensinou Jesus!
Como é de praxe, e não só por isso m,as por um. sentimento de sinceridade e am.or à Verdade, desejo escusar-me com os irmãos da Terra e do Espaço pelas imperfeições do presente trabalho, que somente foi trazido a lume por não m.e poder furtar às solicitações do Bem, tão generoso, que até à minha capacidade limitada estende seus apelos.

Aos pés de Jesus, o Médico das Almas, coloco o fruto de meus esforços, porque sei que é através do serviço que conseguirei m.e curar dos desvios espiritu¬ais e sinto a excelência da cura através a "laborterapia" do Mestre, que. a todos recebe com Amor.










































Carta de Hercílio Mães


À Irmã América Paoliello Marques.


Sem dúvida, Brasil, Terra de Promissão, recebido através de sua psicografia, demonstra que ambos ope¬ramos na m.esm,a faixa vibratória inspirativa de Ram.atis, espírito generoso e sábio, cujas mensagens despertam em nossas alm.as imperfeitas o "Amor do Cristo" e desenvolve-nos a índole universalista de res¬peito, afeto e contribuição a todas as crenças humanas!

Graças à assistência afetuosa e ao encorajamento espiritual desse grande amigo espiritual, os nossos impulsos m.entais, instigados pelo atavismo inferior da animalidade, amenizam-se, pouco a pouco, facul¬tando-nos melhor aproveitamento no aprendizado terráqueo. Ante o conceito crístico de que "sópelo amor se salva o hom.em.", à medida que se dilatam, as frontei¬ras do nosso coração e abrangem-os maior área de cordialidade humana, também, sentimo-nos mais am¬parados, apesar do jugo carnal e, conseqüentemente, mais tranqüilos no pensar.

O pensamento é a força criadora do Universo no sentido do Bem, m.as, também., representa o pior adver¬sário quando mobilizado para o Mal. Há muitos sécu¬los já era citado o sábio aforism,o hindu — "o homem se converte naquilo que pensa", equivalente ao conceito ocidental de que — "o hom.em, é o produto do que pensa"! No intercâmbio da vida humana instituímos a herança dos valores definitivos e acumulam,os para a verdadeira vida do espírito imortal! Em conseqüência, a nossa futura felicidade ou desventura nos planos siderais condiciona-se à boa ou má qualidade dos nossos pensamentos, uma vez que o homem é livre para agir de acordo com o seu arbítrio. Jamais poderemos retribuir a Ramatis o benefício de nos estimular o "pensar reto", que se converte no júbilo de compreender e sentir adequadamente os companheiros de jornada espiritual educativa na Terra!

E o Espiritismo é o inesquecível ensejo que nos abriu as portas da mediunidade para o intercâmbio com Ramatis, sob cuja égide devemos prosseguir na orientação sadia do pensamento e no aperfeiçoamento da sensibilidade, nas relações incondicionais de fraternidade aos nossos irmãos terrenos! Indiscutivel¬mente, o Espiritismo é movimento da mais pura uni¬versalidade, pois, além de ser filosofia capaz de traçar roteiros sadios para todos os homens de boa-vontade, é ciência, comprovando em todas as latitudes geográ¬ficas do orbe a razão e a lógica dos seus postulados! E a legenda desse universalismo autêntico ainda se con-firma na transfusão dos seus ensinamentos libertado¬res, os quais se realizam à luz do Evangelho, isto é, do "Código Moral" da humanidade terráquea que, insti¬tuído pelo Mestre Jesus, visa extinguir todas as fron¬teiras dos preconceitos e convenções humanas com. a simples recomendação: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!"

O Espiritismo não é somente um campo para pesquisas técnicas, onde a frialdade da ciência divorcidada da Fé tenta negar a alma hum,ana porque não consegue filtrá-la nas experiências de laboratório! Reconhecido com.o o Cristianismo renascente, sem os separativism.os de raças e credos, o Espiritismo é o denominador comum da cordialidade universal, um. libertador de almas na hora da alucinação humana do século apocalíptico!

A humanidade terrena deslumbra-se pelos feitos incomuns da ciência e da técnica moderna, no século XX, mas desvaira-se desesperada e confusa na hora profética do "Final dos Tempos", em que a animalidade emerge tentando sufocar o princípio superior do espí¬rito eterno! Os homens executam, avançados progra¬mas de expansão planetária e requintam, o conforto no culto epicurístico do corpo transitório, m.as os m.agos da bomba atômica estão atentos para destruir o mundo ao simples toque de um. botão eletrônico! Rejubilam-se as criaturas pela façanha do homem conquistar a Lua, mas, infelizmente, não conseguem, penetrar um centí¬metro na própria alma!  Tenta-se povoar o deserto lunar, exaurido e poeirento, enquanto no orbe terreno esboroam.-se as civilizações rnilenarias sob o fogo da metralha e da insensatez dos conflitos ideológicos!


Na verdade, os cientistas terrenos m.ostram-se cada vez mais apressados em. transferir para a Lua os maus costumes da Terra, num. feito prem.aturo e con¬trolado pelos raciocínios m-ecanizados dos computado¬res! Enquanto os homens glorificam. o intelecto para conquista de "mais espaço", seus corações encontram-se ressequidos, clamando por umpouco de "águapura"! Após alcançarem o "teto-limite" da atual civilização materialista, sem. objetivos superiores de espiritua¬lidade, os terrícolas fazem um "retorno" às cavernas; trajam, ternos de casimira e vestimentas de seda, mas substituem o velho tacape pela pistola eletrônica; ma¬tam, a saudade das grutas de pedra habitando os canudos de cimento dos "arranha-céus"; antigamente arrastavam, as companheiras pelos cabelos, a fim de se satisfazerem ; hoje, carregam.-nas em, luxuosos veículos motorizados!

Entontecidos pela falta de objetivos superiores, os homens terrestres tentam, abrir caminho através das excentricidades e atitudes circenses, onde a falta de fé, amor, esperança e disciplina conduzem, à completa inversão de valores! Clamam por demonstrações pú¬blicas do ato sexual, em espetáculos licenciosos televisados, teatralizados ou cinematrografados entre júbi¬los e alegrias primárias! Deforma-se a arte milenária, como se fosse possível cultuar a sombra efêmera no lugar da grandiosidade do carvalho! Aqui, na pintura, borrões de tintas consagram conceitos extravagantes; ali, na esfera da música, os tantas e batuques em sons eletrônicos fazem delirar novos selvagens de roupas berrantes; acolá narrativas entremeadas de palavrões premiam, o cabotino ou paranóide da subliteratura pornográfica!

Assim, Irmã América, louvo a sua psicografia de Brasil, Terra de Promissão, que é mais um. desmentido aos tradicionais derrotistas, "cassandras" modernas a vaticinar mau agouro! É tem.po de reconhecermos as nossas condições de povo em processo de "superdesenvolvimento" espiritual, capaz de atravessar pacifica¬mente as renúncias de governos, revoluções e conflitos políticos, que outras nações m.ais poderosas só logram solucionar encharcando-se de sangue e arruinando o patrimônio comum. A luta fratricida, a violência agres¬siva e os conflitos odiosos são frutos de explosões de natureza animal, reações desesperadas de espíritos primários, jam.ais de criaturas superiores! As nações que se guerreiam, os povos que se trucidam, pela competição de sím.bolos, doutrinas, am.bições políticas ou desentendimentos ideológicos, estão m.ais próximos da velha linguagem instintiva dos trogloditas, sem as qualidades pacíficas e valiosas que já identificam, os espíritos emancipados!

Sem dúvida, a nossa Pátria ainda é uma nação que m.al atinge a puberdade, caldeando, pouco a pouco, o povo mais fraterno do mundo, im.prim.indo na alma do brasileiro características de todas as raças, de todos os sentimentos e reservas culturais! Só os gigan¬tes da espiritualidade podem, evidenciar a paz, a ter¬nura e o estoicism.o, virtudes próprias de criaturas espiritualizadas. Quando cogitam.os de alguém, que passou pela Terra deixando um. rastro de luz em bene¬fício da Humanidade, ou seja, um espírito "super-desenvolvido", jam.ais evocam.os Nero, Hitler, Átila, Aníbal, Gengis Khan ou Alexandre, cerebrações instintivas, estrategistas mórbidos e pródigos contribuintes dos cemitérios! Recordamos Confúcio, Crisna, Buda, Francisco de Assis, Vicente de Paulo, Gandhi e o ines¬quecível Jesus, seres realmente "superdesenvolvidos", capazes de se sobreporem, aos instintos violentos das lutas antifraternas! Evidentemente, o Brasil ainda não é o país mais bem organizado do mundo, não possuindo ainda estabilidade economico-financeira. Mas é o "oásis" para o estrangeiro desesperado, fonte de enriquecimento para o homem, laborioso e sensato, terra do povo mais versátil e de conhecimentos enciclo¬pédicos, onde um. simples engraxate é mais atilado e epigramático do que um "expoente estrangeiro" à base de computadores!

É, enfim, o povo m.ais intuitivo do mundo, onde o m.aloqueiro carrega um "santinho" no pescoço e o polí¬tico famoso "sarava" o seu guia; onde o médico receita o medicam.ento fam.oso para o cliente, m.as vence a sua própria insônia com o chá de ervas prescrito pela "preta velha"! É, finalmente, a nação abençoada, onde os próprios militares de toda graduação hierárquica organizam.-se em "cruzadas militares espíritas", tro¬cando a espada da m.orte pela paz de espírito, a sementeira do ódio pela jardinagem.do Amor, o manual de guerra pelo Evangelho do Cristo.

Hosanas, pois, ao Brasil, por ser, realmente, a "Terra de Promissão"!


Curitibia, 27 de novembro de 1969


HERCÍLIO MÃES























Prefácio da 2- edição


Ao ser impressa e publicada a primeira edição de Mensagens do Grande Coração, o Plano Espiritual determinou que houvesse continuidade no trabalho de psicografia. De forma inesperada e segura me foi co¬municado o plano completo da presente obra, para que não restassem dúvidas sobre a necessidade de obedecer aos interesses dos seres encarnados, abrindo clareiras na caminhada obscura dos interesses da vida mate¬rial, onde freqüentemente nos envolvem.os com  esqueci¬mento dos objetivos da evolução espiritual.

Estávam.os no início da década de sessenta e, portanto, muito longe do estágio em. que o Brasil se encontra hoje. Além. disso, é preciso esclarecer que a psicografia representa em. nosso trabalho um.a fonte preciosa de orientação e reconforto, porém, mesmo assim, está colocada como parte de um. trabalho m.aior, representado pela necessidade de viver a vida comum familiar e profissional como base do equilíbrio para a experiência mediúnica junto à Fraternidade do Triân¬gulo, da Rosa e da Cruz, em cujas atividades intensivas testamos a excelência de um. esforço permanente de afinação espiritual com, os ensinamentos do Evangelho de Jesus.

Acrescentando ainda as dificuldades editoriais, aomente no ano de 1972 foi possível envolver a obra no formato físico de um livro para que cumprisse sua finalidade junto ao público.

Hoje, quando o panoram.a mundial vai gradualmente confirm.ando a carência espiritual dos seres humanos, surgem, mais atuais do que nunca as adver¬tências do Evangelho de Jesus e nunca será dem.asi.ado o esforço que fizermos na Terra para dar ouvidos às advertências amigas dos Espíritos que se destacam como vanguardeiros na grande caravana onde se des¬locam, os seres hum.anos aflitos e sem. rumo.

Um dia, na estrada de Emaús, alguns homens desarvorados perante uma catástrofe de sentimentos angustiosos foram, abordados por um. Peregrino. Sentiram-se reconfartados, porém, só O reconheceram, quan¬do, no aconchego da hospedaria, Ele partiu o pão para servi-los.

Podem.os perceber que as almas sensíveis hoje podem, sentir-se como aqueles homens que se acostumaram a crer no Mestre e O viram, sacrificado e rejei¬tado violentamente. No burburinho da estrada co¬mum, marcada pelas atribulações da fome, da guerra e da destruição indiscriminada, percebemos que o Mestre está novamente rejeitado e Sua m.ensagem de Amor é diariamente pisoteada pela fúria que se apossa da alm.a humana.

Nesse panoram.a de violência e cegueira espiri¬tual, o Peregrino continua a nos procurar. Entretanto, como nas Escrituras, nossos "olhos" encontram-se "fe¬chados para que não O conheçam-os". As mensagens do Seu Amor nos atingem, sob as form.as mais diversas. Entretanto, só O reconheceremos se nos acolh.erm.os à "hospedaria" do campo interior e, meditando e orando, nos dispusermos a possuir os "olhos de ver" e os "ouvi¬dos de ouvir" no silêncio da alma, longe dos ruídos do ódio, da cupidez e do que hoje chamamos de "espírito prático", para velar nossa insensibilidade.

Se a Mensagem de há dois mil anos não deixou de ser atual porque nossos erros continuam a ser os mes¬mos, uma obra que busca filtrar para o nosso século os ensinamentos luminosos do Mestre Jesus aplicados à realidade espiritual de uma parcela da Humanidade, representa um. acréscimo de Sua misericórdia em. nossos caminhos. E poderemos sentir Sua presença assim como a do Mensageiro iluminado que desveladamente se dedica a servi-Lo, interpretando para nós os ensinamentos dos "tempos que são chegados".

Procurando valorizar o desvelo do Plano Espiri¬tual para conosco, a Fraternidade do Triângulo, da Rosa e da Cruz hoje procura impulsionar a experiência viva dos princípios evangélicos na Terra Brasileira, como vem fazendo há vinte e um anos. Uma vivência intensificada do Evangelho vem, sendo realizada na criação da Comunidade Lar Nicanor CCLN). Dia após dia mais alguns irmãos vêm cooperar na formação do "espírito comunitário", isto é, na experiência da coope¬ração que antecede a verdadeira fraternidade entre todos.

É grande a alegria de possuirmos em. andam.ento um. Plano de Implantação Gradual da CLN, onde todos nos exercitamos na persistência de buscar me¬lhores rumos interiores para o espírito, submetendo-nos a disciplinas preciosas de serviço ao próximo.

Temos esperança de que, desse modo, chegarem,os a nos tornar mais sensíveis para reconhecer a solicita¬ção do Senhor, que se apresenta nas "vestes" simples e m.uitas vezes esfarrapadas do irmão carente ou revol¬tado que nos procura sem saber o rumo que o conduzirá à Paz.

Nesses momentos, e somente neles, teremos condi¬ções de agradecer, por atos, os benefícios recebidos, oferecendo-os a mais algumas alm.as sem rumo.

Como sempre fazemos, desejamos estender a to¬dos o convite para se empenharem, conosco no trabalho. Não só porque a "Seara é grande e os trabalhadores são poucos", mas, principalmente, porque precisamos "caminhar enquanto há luz" e o Mestre nos espera "desde os  tempos desconhecidos"...

A Fraternidade e a Comunidade possuem um amplo programa de trabalho e há sempre carência de trabalhadores e de recursos materias , pois cabe a nós criá-los, apoiados na força dos ensinamentos superiores. Estamos convocando a todos para se integrarem ao esforço dos tempos de grandes mutações que vivem.os, procurando compartilhar o celeiro das bênçãos espiri¬tuais que nos foram, entregues.

Que a Paz de  Cristo nos alcance os corações, mesmo em. plena era turbulenta como a que vivemos.


Rio de Janeiro, 25 de setem.bro de 1983

AMÉRICA PAOLIELLO MARQUES







Prefácio


PAZ  E AMOR!


Quem não se recordará de momentos da infância em que uma auréola de intensa felicidade se tenha feito sentir pela concretização de um. sonho longamente acalentado? A posse de um objeto ou a realização de um desejo, naquela fase da vida, podem. tom.ar caracterís¬ticas de euforia tão intensa que revelem, à alm,a a plenitude de um. prazer jam.ais igualado. Para o espí¬rito que ainda não descortina a complexidade da exis¬tência terrestre, cujos horizontes ainda estreitos estão providos de objetivos imediatos, é possível vislum.brar o êxtase espiritual de uma satisfação completa, mesmo quando retido aos grilhões da matéria de um mundo de provas e expiações.

Entretanto, logo que o âmbito das cogitações espi¬rituais se alarga, multiplicam-se, os obstáculos à feli¬cidade humana e perde-se a noção do que seja um. sentimento de harmonia desfrutado em todo o seu esplendor. Limitações de todos os matizes transtor¬nam os desejos de tranqüilidade, não permitindo ao hornem a ousadia de ambicionar mais do que uma existência em. que sejam satisfeitas as necessidades há Nicas de sua subsistência, tanto física como emocio¬nal e  psíquica.

Por conseguinte, ao nos reportarmos ao título desta obra, surge-nos, como termo de comparação para o verdadeiro significado que ele representa na vida do terreno do futuro, a emoção totalizadora e cabal que se apossa da alma infantil nos seus momen¬tos de maior júbilo.

Ao terrícola do presente, cuja sensibilidade aguilhoada por vicissitudes diversas atravessa um período de hipertensão emocional negativista, só a recordação das mais intensas alegrias da pureza infantil pode dar uma ligeira impressão da paz espiritual que brindará o espírito da coletividade terrestre quando forem, vencidas as provações dolorosas do final do ciclo. Somente no futuro poderá avaliar, em toda a sua extensão, a grandiosidade das bênçãos que o Eterno reserva há milênios aos filhos que se tornarem dignos de convalescer do grave m.al que assola a Humanidade presente, a descrença em. relação ao próprio porvir.

O homem acostuma-se a considerar as prom.essas de um futuro de paz como palavras dignas de figurar nos belos contos de fadas e não pretende se deixar iludir com a mesma facilidade dos espíritos que des¬pertam, para a vida. Só a lógica de uma argumentação segura será capaz de romper as barreiras formadas pelo ceticismo e não julgamos que as criaturas devam, abdicar do direito de serem, esclarecidas satisfatoria¬mente, antes de se conformarem com esta ou aquela idéia.

Sempre que preciso, devemos lançar m.ão de forte casuística para servir às idéias defensoras do Bem sobre a Terra. Longe de reprovarmos tal proceder nós o louvamos, pois o grau de progresso da mente humana exige que toda construção se estabeleça sobre os alicer¬ces duradouros da lógica.

Fortes serão aqueles que ornarem a Verdade em. suas duas características: o saber e a bondade, que funcionam, respectivamente, como armação e argamassa para a construção das colunas de sustentação do templo em que a Verdade será universalmente vene¬rada, no futuro, por uma Hum.anidade esclarecida.

Chegam.os à época do Saber, que antecede à da Sabedoria, e estimulamos a ânsia de conhecimento como instrumento capaz de abrir novos horizontes na busca da Verdade e do Amor que, conjugados, formam, a Sabedora. Na era do Mentalismo, quando a Terra já houver ultrapassado suas mais rudes provas, haverá perfeita fusão entre os objetivos do enten.dim.ento e do coração. A mente humana pode ser comparada a uma semente que traz em potencial os germes de uma vida poderosa e bela. Como suas congêneres vegetais, po¬rém, precisa do calor e do aconchego da terra dadivosa para desenvolver-se em toda a plenitude e só as vibra¬ções do amor cristão podem, proporcionar-lhe ambiente favorável ao engrandecimento.

A Europa desenvolveu os valores mentais relacio¬nados à vida prática, à arte e à beleza. Refinou no homem, tudo que pudesse elevar seu nível na Terra como "hom.o sapiens", distanciando-o o mais possível das condições rudes de uma civilização primária. O Oriente intensificou as forças subjetivas da m.ente, acordando nos indivíduos a consciência da elevação que podem, conquistar como seres viventes na mais alta escala da evolução. Ambos os aspectos contribuíram para que o homem, do século XX esteja preparado para sentir sua capacidade de elevar-se através dos pró¬prios esforços. Possui valores inigualáveis na Criação, é o senhor da vida no planeta, com possibilidades cada vez maiores de aperfeicoamento.

A civilização americana recolheu esses valores de amòas as procedências como cotilédones e, com sua força renovadora e protetora, cobriu-os, como a casca que preserva e sustem, o grão.

Atualmente a Humanidade encontra-se na situa¬ção do agricultor que armazenou sementes e espera a época oportuna para a semeadura, enquanto prepara o solo, revolvendo-o, adubando-o e higienizando-o.

A mente humana permanece ressecada à espera do terreno fértil em que possa cair e germinar em seus valores, de tal forma que todo o ser por ela comandado se veja beneficiado pelos germes do saber acumulado durante milênios. Que falta à coletividade terrena para realizar o seu sonho de paz e harmonia? É problema de ambie.nte. Todos já sentiram, que os elementos das forças criadoras do Bem existem, em. todas as expressões da atual civilização mas não conseguem, compreender satisfatoriamente a razão pela qual suas sementes não produzem. A terra está seca e sem, adubo. Assim, sendo, transformou-se em, substância compacta. Mesmo quando alguém, a revolve e semeia, não há produção. A chuva benfeitora das bênçãos do Alto é repudiada pelo homem e o adubo do amor fraterno não é utilizado. Assim., as sementes do Bem, mesmo que caiam em terreno revolvido pela dor, não conseguem resistir à aridez e à pobreza da alma humana que as recolhe.

Nas grandes provações coletivas que se aproxi¬mam, o homem verá ruir o edifício de suas falsas concepções e dos destroços surgirá a putrefação capaz de enriquecer as qualidades do terreno espiritual, tornando-se apto a produzir a força impulsionadora de uma seiva poderosa. Simultaneam.ente, o desastre a que se verá conduzido por suas deturpações psicológi¬cas fá-lo-á ansiar por uma renovação de forças que lhe venha como ajuda indispensável à reconstrução de sua existência e, a essa simples enunciação subjetiva de um desejo de auxílio, hão de chover sobre seu espírito as bênçãos do Eterno Pai, cheio de misericórdia para com Seus filhos desajustados, pois terão aberto campo de sintonia para a harmonização com a Vida.

Não parece absurdo, nem. mesmo aos mais céticos, que a Humanidade terrestre precise de uma renovação total de valores; entretanto, não houve ainda força que a pudesse deter em seus desvarios. Desligada como se encontra de toda orientação sadia, não existe mais possibilidade de levá-la à renovação por m.eios suasórios. A única força capaz de detê-la em, sua marcha acelerada para a autodestruição é justamente a vitória parcial dos males que vem. alimentando. Então, haverá necessidade de recomeçar em bases inteira¬mente novas, pois só o estupor de uma provação apocalíptica terá o condão de alertar os homens, tirando-os do sono letárgico de sua inconsciência espiri¬tual. No calor da refrega as sementes do progresso rolarão em busca do ambiente propício ao seu desenvolvimento e não será onde o fogo e o sangue houverem, crestado o solo que os frutos da paz poderão crescer.

A alma coletiva de um, povo traz em si as caracte¬rísticas alimentadas em cada um de seus componentes, nos moldes que lhe constituem, a tradição. A força magnética dos ideais do conjunto forma uma aura que possibilita a germinação dos produtos afins. Assim, a índole pacífica de um povo não pode ser improvisada por uma questão de conveniência. Se há orgulho de raça, há amor-próprio e vaidade e, portanto, hostilida¬de e prepotência. Como evangelizar, de um momento para outro, espíritos que ainda não sentiram, a causa profunda de seus males?

Entretanto, a coletividade que se sentir tão irmã de seus semelhantes que não se negue a receber, sem, restrições, o refugo humano dos deserdados da sorte conseguirá form.ar rico adubo para as sementes do Saber, valendo-se dos detritos que recolhe dos margi¬nais do preconceito. A injustiça, a intolerância e todas as limitações interpostas entre o hornem e seus sonhos de progresso fermentam, a alma para o maior aprovei¬tamento das energias que se vê impedido de utilizar na plena realização de seus desejos na vida. Volta-se para as indagações acerca de suas dificuldades, compreen¬de e tolera as deficiências de seus irmãos e sabe que há valores ocultos na alma que não dependem, exclusiva¬mente de ser ou não vitoriosa objetivamente.

Quando Jesus afirmou que vinha para os deserdados da sorte, emitiu grande conceito da Verda¬de, pois aqueles que se encontram, oprimidos pelas dificuldades externas voltam-se com, maior interesse pura a busca das realizações internas e, mesmo quando a revolta lhes assola o íntimo, acham-se mais aptos a receber os esclarecimentos espirituais do que as almas enfatuadas em seu orgulho pela conquista dos valores transitórios. Isto não significa que o progresso material seja inimigo do progresso espiritual, mas, sim, que os homens invigilantes se absorvem, de tal forma em suas conquistas passageiras que não reser¬vam, energias para construir os valores eternos capazes de elevar seus espíritos ao nível da felicidade sonhada, embora não identificada em suas reais bases constitutivas.

Somos daqueles que crêem na impossibilidade de deter o progresso, mesmo quando ele exige que lance-mos mão de um retrocesso temporário. A experiência o tem, demonstrado e os homens chegarão à aplicação desse princípio, quando sentirem a necessidade de se darem, as mãos reciprocamente, compreendendo que é impossível avançar deixando para trás quem esteja mergulhado na dor do separativismo entre os homens.

Só o Cristianism.o vivido como norma de lei será capaz de fundir a Hum.anidade em  uma única vibração da paz e harmonia porque, por seus postulados, tende a destruir a separação, seja ela qual for, provando que somos todos originários de um único princípio e, por¬tanto, reduzindo a pó as divergências como criações temporárias da incompreensão hum,ana.

Após o advento de Jesus não havia necessidade de ser criada m.ais nenhuma norma de vida para a tran¬qüilidade do homem na Terra. Entretanto, incapaz de desenvolver um esforço sincero de readaptação, a cri¬atura continuou a criar regras utópicas de felicidade, iludindo-se no anseio de fugir à obrigação que mais bem-estar lhe trará: amar ao próximo como a si mes-mo, reverenciando o Criador em. todos os homens.

Por uma vaidade satânica, no sentido bíblico da palavra, continua a criar sistemas contraditórios de progresso, falsos em suas bases, porque distanciados do real proveito coletivo.

Impossível refundir todos os códigos a que os homens se filiaram, em sua cegueira espiritual. Só se convencerão da inutilidade, de seus esforços egocên¬tricos quando virem, destruídos diante de si os castelos de areia de uma dominação fictícia sobre o sem.elh.ante.

Enquanto isso não sucede, dediquemo-nos a er¬guer diante de nossos olhos os planos bem.ajustados da Verdade que nos é revelada para que, no momento que vivem.s, já possamos ser colaboradores da concre¬tização desses projetos. O "amor que cobre a m.ultidão dos pecados" é melhor sentido entre aqueles que se encontram, assediados pelas incompreensões ou erros de todos. Portanto, não desanimeis quando sentirdes à vossa volta o turbilhão de enganos em que mergulha a Humanidade. Exercitai o amor que perdoa, tolera e compreende e esperai, pois a Verdade não faltará com. sua luz a amparar vossos esforços no Bem!


Paz e Amor

RAMATIS





















Primeira Parte

PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA



 









































1

Origens étnicas


PERGUNTA — Perdoai-nos ser a primeira pergun¬ta que vos fazemos a repetição de uni conceito que, por tão difundido e por parecer comprovado na prática, nos leva a submetê-lo a exame, embora nossa forma¬ção espírita-cristã nos faça apreciar o indivíduo, uni¬camente, em sua expressão espiritual. Porém, temos ouvido constantemente a afirmação de que o maior obstáculo à projeção do Brasil como país integrado em suas melhores possibilidades é o problema racial. Como interpretar essa idéia diante da Espiritualidade?
RAMATIS — "Palavras o vento leva" e em tudo que expressamos, seja o aspecto de palavras escritas ou faladas, só a real intenção permanece como valor digno de análise. Em qualquer trabalho respeitável, a maior liberdade deve reinar na pesquisa sincera da verdade, que não se limita pela bitola dos preconceitos humanos. Se fugíssemos à coragem de examinar a realidade, por mais adversa que seja ao nosso tempe¬ramento, não poderíamos obter argumentos para ba¬sear nossos conceitos.
O homem, realmente, labora enclausurado den¬tro dos limites étnicos, geográficos e sociais, sendo sua expressão espiritual cerceada pelas forças de que dis¬põe como meios de exteriorizar-se. Entretanto, pode¬mos comparar o corpo a uma herança racial cuja utilização apresenta aspectos semelhantes àqueles com que se defronte o musicista ao manusear seu instru¬mento. Pode fazer uso diverso, segundo sua capacida¬de, de um mesmo instrumento afinado e puro, ao passo que mesmo um mau instrumento pode apresentar sonoridades mais perfeitas na mão de um hábil artista.


PERGUNTA — Haverá, então, raças que facili¬tam a expressão do espírito e outras que possam tolher suas manifestações?
RAMATIS — Assim como para a obtenção do belo efeito de uma orquestra há necessidade de instrumen¬tos dotados de características diversas que facilitem a expressão diferenciada de sons, para a produção da harmonia do conjunto há, na Humanidade, uma infini¬dade de gamas psicológicas expressas nas caracterís¬ticas raciais e que possibilitam os meios de desenvol¬vimento crescente de todas as nuances de progresso espiritual. E como sabemos que a evolução do espírito nem sempre se dá sob as condições que a visão limita¬da do homem julga mais propícias, compreende-se que possa haver harmonia dentro da diversidade de situ¬ações às quais o espírito é submetido em suas diferen¬tes encarnações.
Assim o hotentote é, geralmente, um espírito em fase rudimentar de evolução, ao passo que o europeu já alcançou o domínio de grande parte dos meios de expressão do espírito encarnado.
Entretanto, a força que impele o livre arbítrio de ambos é feita de uma capacidade de expressão compa¬rável à aptidão artística do musicista para produzir os sons. Se sucedesse que ao hotentote fosse proporcio¬nado o ensejo de vestir um corpo europeu, não saberia como aproveitá-lo e, embora o meio o levasse a desen¬volver pendores mais avançados, sua expressão es¬piritual não passaria aos olhos dos compatrícios, de sons estrídulos ou roufenhos. No caso inverso, na eventualidade de ser um ex-europeu internado na selva para encarnar num grosseiro instrumento hotentote, sofreria as agruras de um "abafamento" espiritual e certamente a "afinação" adquirida pelo seu espírito extravasaria em pura intuição relativa a tudo que significasse progresso para o seu ambiente.


PERGUNTA — Serão essas diferenças unica¬mente produto do meio ou haverá outras razões para elas?
RAMATIS — Existe o atavismo racial, espécie de herança psicossomática que permanece como energia latente nos cromossomos portadores das característi¬cas hereditárias. Como sabemos, a influência do espí¬rito sobre a matéria é decisiva e, quando uma coletivi¬dade se entrega ao cultivo de determinados valores, impregna as organizações físicas de seus componentes com o magnetismo capaz de imprimir nas células orgânicas os impulsos energéticos que se exteriorizarão sob a forma de tendências coletivas, a se expressarem mais ou menos intensamente em cada indivíduo.


PERGUNTA— Poderão essas características do atavismo racial ser fator decisivo nos destinos dos povos?
RAMATIS — Sim, desde que seus componentes se submetam documente a elas, o que geralmente sucede.


PERGUNTA — Como interpretar esses fatos no caso particular do Brasil?
RAMATIS — O Brasil é o único país do mundo onde o amálgama racial se faz sem grande restrições. Considerado durante muito tempo pelos colonizadores como local de estadia temporária, em seu ambiente todas as situações eram admissíveis e uma forma de tolerância desenvolveu-se, se bem que sob bases nega¬tivas. O homem branco suportou o contato com o negro a ponto de estabelecer relações estreitas, inclusive de cruzamento racial, e, longe da metrópole, tais fatos eram incluídos no rol dos acontecimentos normais. A raça lusitana, se bem que envergando o porte dos senhores, não deixou de transbordar afetividade, no grau exuberante que lhe é característico, quando en¬controu a ingênua dedicação e humildade da mulher cativa. E se o senhor branco, o privilegiado da cor, desceu a esse contato, selou com sua aprovação evi¬dente o anseio de irmanação latente nas almas rudes dos negros e dos selvagens.
Iniciou-se assim a formação do amálgama racial sobre o qual o tempo se incumbiria de depositar ele¬mentos novos, provenientes de todas as partes do mundo.
As conseqüências de tais ocorrências perduram até hoje na índole despreocupada do brasileiro, que vive em função do momento que passa, sem fornecer a si mesmo planejamentos para o futuro, como se sua terra continuasse a ser o Eldorado ao qual nenhuma cooperação especial devesse ser dada com vista ao porvir. O europeu responsável pela formação psicoló-gica do que convencionaremos chamar a "raça brasi¬leira", lançou a semente da conduta desavisada por considerar a terra conquistada local onde "nada cria¬ria raízes". As duas raças que se lhe associaram foram incapazes de ultrapassar ou liderar os raciocínios do homem branco e seguiram-lhe documente as pegadas. Mais do que o atavismo racial, influiu na formação da alma brasileira a atitude psicológica do líder da soci¬edade nascente, o europeu displicente e ganancioso, que em sua terra era cristão e respeitável, mas que no Brasil só via uma fonte inesgotável de lucros e praze¬res inconfessáveis. Essa distorção psicológica produ¬ziu uma atmosfera de displicência em relação aos valores morais e cívicos a impregnar todo jovem ser que surgia. Nos primeiros anos de sua existência ali¬mentava-se na formação de valores espirituais negati¬vos e via tudo o que o cercava com a ânsia de auferir vantagens, num esquecimento absoluto das noções de disciplina, trabalho e previsão, relacionadas com o engrandecimento da nacionalidade.


PERGUNTA — Embora compreendamos que o fator psicológico é o mais importante, gostaríamos de saber qual a parte desempenhada pelo atavismo racial na formação do povo brasileiro.
RAMATIS — Nosso objetivo neste trabalho é favorecer a compreensão, tanto dos aspectos negati¬vos quanto dos positivos, a fim de abrir horizontes novos àqueles que ainda não se entregaram a tais cogitações. Assim, procuramos colocar-nos em situa¬ção de neutralidade e imparcialidade tais que nos permitam falar com amor dos erros e com alegria dos acertos.
Como já havíamos afirmado, os povos caracteri¬zam-se pelas tradições cultivadas, que impregnam cada um de seus componentes como uma aura capaz de influir nos traços gerais de sua formação. A resigna¬ção fatalista, a indolência e a cupidez originárias, respectivamente, do negro, do índio e do europeu, foram os fatores decisivos na composição áurica do povo brasileiro. Porém, como pelo princípio de polari¬dade,* não há negativo que não possua seu correspon¬dente positivo, a paciência surgiu como herança cons¬trutiva do povo oprimido, a altivez da independência, como embrião provindo da alma nômade do silvícola e a cordialidade permaneceu como lastro positivo da índole fidalga do povo de além-mar.
Por isso o brasileiro recebe bem o estrangeiro mas é avesso à pressa que ele tenha em renovar-lhe os métodos de vida, preferindo livremente suportar com paciência inclusive a própria impossibilidade de colo¬car-se na vanguarda dos povos civilizados.


* Ver o Kaibalion, obra ocultista sobre os princípios de Hermes Trismegisto.


PERGUNTA — Como devemos, pois, encarar o problema racial com relação ao progresso social do Brasil?
RAMATIS — A vitória pertencerá sempre a quem souber esperar a consolidação dos valores espirituais em seu aspecto real. Por mais prolongada que seja a maturação de um povo, o verdadeiro objetivo de sua formação será alcançado se prevalecer em seu seio o aprendizado das virtudes evangélicas. Bem pouca atencão tem sido prestada entre os povos preocupados com a corrida do progresso material, às vantagens obtidas por aqueles que são os "últimos" no dizer de Jesus. No anseio normal de afirmação diante do meio, distan¬ciam-se do verdadeiro sentido do progresso que deve ser alcançado, preferencialmente no âmbito espiritual, para haver emprego adequado dos bens materiais.
A situação do Brasil diante dos outros povos tem sido, por muito tempo, a de um povo inconsciente do seu próprio valor, sob o ponto de vista em que este é encarado por todos. Gigante adormecido e indolente aos olhos de seus irmãos terrenos, sua altitude psico¬lógica não pode expressar mais nada para quem não "vê". Há, porém, uma fermentação de valores que se interinfluenciam e que é perceptível às almas habitu¬adas a lidar com os princípios espirituais.
Nos povos, como nos homens, o futuro é mais ou menos promissor segundo o grau de sintonia com as verdades eternas e jamais será proporcional às aqui¬sições onde prevalece a afirmação no plano material.
A irregularidade do caráter brasileiro revela uma situação de instabilidade que o livra da cristalização em torno de conceitos mundialmente reconhecidos como verdadeiros, mas que, na realidade, apresentam uma hipertrofia de aspectos que, em sua real medida, seriam úteis.
Assim, a indolência risonha e despreocupada como característica coletiva será substituída, aos poucos, por uma tranqüila observação dos fatos e um gradativo ajustamento ao ritmo veloz do progresso, sem permi¬tir, porém, que o espírito brasileiro seja arrastado na voragem dos acontecimentos que enredam os povos essencialmente dinâmicos. Restará sempre uma ten¬dência para observar os fatos sem se deixar arrastar por eles, uma confiança no valor da liberdade indivi¬dual que não pode ser prejudicada, nem mesmo com vista a uma conquista de situação no âmbito do pro¬gresso coletivo. A aparente rebeldia do elemento naci¬onal contra o turbilhão avassalador do progresso material produz no caráter brasileiro uma faceta pitores¬ca aos olhos do bom observador. Embora a cupidez o impulsione a invejar a situação "privilegiada" do es¬trangeiro disciplinado no culto aos valores do trabalho como a um deus entronizado e iracundo, sua índole irrequieta é completamente incompatível com esse culto monástico ao "deus do progresso material", con¬siderado o Zeus do Olimpo moderno. Observando-o com admiração mas sem as disposições de ofertar os altos tributos por ele exigidos, contorna o templo da divindade máxima e contenta-se em obter os favores dos deuses menores, mais fáceis de se tornarem propí¬cios. Recebe então as dádivas proporcionais às suas oferendas e continua a julgar inatingíveis os favores do "grande deus do progresso material".
Em caso semelhante encontram-se todos os povos ainda não amadurecidos na consciência nacional. Na época, porém, em que sua maturação psicológica esti¬ver eclodindo, o ambiente terreno já lhes terá forneci¬do os elementos necessários para a orientação de seus esforços de progresso em sentido mais verdadeiro e ajustado aos objetivos do bem coletivo.
O problema racial, pois, tem servido para entra¬var, de certo modo, o progresso social do Brasil, sob o aspecto do ajustamento ao ritmo dinâmico adotado por outros povos homogêneos em suas características ra¬ciais. Porém, longe de ser esse fato um entrave à conquista da liderança sonhada pela consciência naci¬onal de alguns de seus filhos, contribuirá para preser¬var os valores positivos que existem latentes no seio de seu povo.


PERGUNTA — Como podemos compreender que os valores de um povo sejam preservados por uma falta de ajustamento ao progresso coletivo?
RAMATIS — Uma criança que, por sua tenra idade, não participe dos vícios da sociedade adulta em que nasceu pode preservar-se do contágio psicológico se a tempo for retirada do ambiente negativo. O povo brasileiro, em sua maioria, não compartilha ativa¬mente dos problemas que afligem os povos em hegemonia no mundo atual. Ouve falar com horror das situações caóticas reinantes entre seus irmãos "mais velhos", mas essas notícias ressoam em sua consciên¬cia como provenientes de um mundo distante cujos padecimentos não sente e cujas conquistas inveja. Preservado por sua imaturidade, não se contagia, por não haver ressonância, ainda, em sua alma coletiva para os princípios de uma existência árdua, trabalha¬da por provações e conquistas milenares como é a de seus irmãos.
Com o correr do tempo, os fatos se incumbirão de apontar as deficiências do sistema de vida adotado pelos atuais líderes planetários e, quando os valores adormecidos do povo brasileiro forem despertados por uma contingência natural da evolução, o panorama mundial estará modificado a ponto de proporcionar uma compreensão diferente dos princípios morais que devem, realmente, ser cultivados por um povo cristão.


PERGUNTA — Há alguma razão para ser confi¬ada ao povo brasileiro a missão de exemplificar os ensinamentos evangélicos no futuro? Após a grande transformação do final dos tempos não será possível a qualquer povo a devida transformação para acomo¬dar-se às Verdades Eternas?
RAMATIS — Após as grandes provações coleti¬vas não será mais possível a quem quer que seja permanecer em oposição organizada ao Bem coletivo, pois o ambiente terreno será saneado e a catástrofe se incumbirá de evidenciar de tal forma os erros contu¬mazes do homem terreno que os mais inertes espiritu¬almente falando não conseguirão se furtar ao impera¬tivo de definir-se em favor da renovação imprescindí¬vel. Entretanto, como é fácil compreender, aos povos antigos seria mais difícil obter liderança num setor de realizações em que são exigidas virtudes antagônicas à sua expressão psicológica habitual. Os choques aos quais será a Humanidade submetida impressionarão a todos, porém a alma dos povos ainda na adolescência espiritual estará mais apta a absorver os valores da nova era. Assim como o espírito do homem avançado em anos conserva automatismos que o impedem de assimilar com facilidade novos conceitos, também ca¬berá à juventude espiritual do planeta aproveitar, em maior profundidade, os ensinamentos futuros. Os po¬vos que estiverem em fase de consolidação de princí¬pios psicológicos respirarão em uma atmosfera de realidades apocalípticas, quando a luz não mais puder ser velada pelas falsas concepções humanas.


PERGUNTA — Não seria mais fácil ao povo brasileiro obter vitória em sua missão evangélica se possuísse uma origem étnica homogênea, proveniente de uma das grandes raças existentes na Terra?
RAMATIS — Os ramos étnicos mais favorecidos da Terra tiveram todos os elementos necessários a essa liderança evangélica e só conseguiram realizá-la em parcela tão limitada que se tornou caótica a situa¬ção espiritual terrena. Em conseqüência, deturpou-se de tal forma o panorama psicológico no qual se movi¬mentam que desenvolveram em torno de si uma aura impenetrável aos princípios evangélicos mais profun¬dos e verdadeiramente sentidos. Há um verniz de cristianização a envolvê-los de permeio com tal soma de impurezas que se transformou numa crosta imper¬meável aos efeitos da luz. Embora contem com preci¬osas aptidões no campo da realização, como entidades afinadas aos valores da razão e da disciplina, não se encontram capacitados para liderar um movimento de cunho essencialmente evangélico. O amor cristão trans¬formou-se para eles num privilégio a cuja conquista só os "santos" são capazes de pagar tributo.
Se o povo brasileiro tivesse recebido a herança exclusiva de um desses ramos étnicos, estaria envolto em suas características psicológicas. Houve necessi¬dade de formar um amálgama racial que neutralizasse ii hipertrofia dos princípios contrários ao amor crístico.


PERGUNTA — Como compreender este processo de neutralização dos princípios contrários ao amor crístico?
RAMATIS — Consideramos "princípios contrá¬rios ao amor crístico" os sentimentos de orgulho e egoísmo que se revelam sutilmente disfarçados sob a forma de características naturais, como sejam o pre¬conceito racial e a busca frenética de segurança no plano material.
Os elementos étnicos formadores do povo brasi¬leiro fundiram-se com o objetivo de proporcionar um ambiente no qual fosse impossível a predominância daquelas características negativas. Sendo sua coleti¬vidade heterogênea, neutralizou-se o orgulho racial tão decantado como característica "positiva" de um povo, mas que, na realidade, constitui forte incentivo à egolatria.
O povo brasileiro, por sentir-se desprovido das virtudes geralmente consideradas indispensáveis à formação de uma raça vitoriosa, furta-se à cristaliza¬ção mental em torno de antigos vícios de um naciona¬lismo estreito e permite a penetração de valores de fraternidade, inexistentes em outras coletividades.
Vencidos encontram-se aqueles que, entregues ao culto da ilusão, entronizam os valores transitórios acima dos eternos. Só a humildade será capaz de oferecer na Terra um ambiente espiritual favorável ao esclarecimento; e como a incompreensão generalizada associou humildade à humilhação, como o orgulho tornou-se sinônimo de realização positiva nas mentes desviadas dos homens, perdeu-se totalmente o sentido do que seja a evolução harmoniosa do espírito dentro dos moldes normais de prosperidade, sem distorções mentais. Foi preciso então reiniciar na Terra o apren¬dizado do amor e da humildade, colocando em um ambiente desarmônico almas que se predispusessem à existência definitiva da Humanidade nesse ciclo. Enclausuradas numa inferioridade aparente diante de seus irmãos, passariam a pesquisar novo tipo de engrandecimento: o do espírito entronizado sobre a matéria. O clima de menor capacidade de realização material causado por uma inferioridade momentânea, fruto da consolidação da maturidade em vias de se efetivar, aliada às características étnicas pouco favo¬ráveis à busca do progresso material, ofereceu os elementos de uma realização sui-generis sobre a face da Terra — um povo fartamente provido de elementos materiais de grandeza, capazes de constituí-lo em líder da civilização, procurando valores que, entre outros povos, são realmente inexistentes. Esses, antes de conquistar a Verdade, buscam a consolidação dos interesses da vida atual e esta primazia inverte com¬pletamente o programa de evolução, fechando dentro de um círculo acanhado as conquistas das mais bem dotadas comunidades.
Existe, ainda, entre os brasileiros um certo es¬panto infantil diante da grandeza da herança que representa a sua terra. Como a criança a despertar para as vantagens que possui em estado latente, en¬vaidece-se, embora não consiga utilizá-las e ainda se compraz na pesquisa das virtudes consideradas se¬cundárias por seus irmãos mais velhos — os sentimen¬tos de solidariedade que ligam entre si os herdeiros de raças aviltadas por esses mesmos irmãos. O negro infeliz, o português degredado e o índio primitivo sofreram sempre o complexo de serem marginais da sociedade vitoriosa de seus irmãos terrenos e legaram ao povo brasileiro a herança de um atavismo racial feito de solidariedade recíproca, na qual busca defen¬der-se, em sua inferioridade, da força avassaladora dos povos em evidência. Devido a essa atitude psicoló¬gica, abrem-se os braços do brasileiro com facilidade para receber os elementos desajustados de toda e qualquer origem, pois a índole provada na incompre¬ensão dos povos estrangeiros sente, como em sua pró¬pria carne, a dificuldade de qualquer indivíduo deslo¬cado no seio da sociedade luzente dos povos privilegi¬ados com as tradições de raças intocáveis. Mas, desde que os elementos estrangeiros lhe cheguem como re¬presentantes oficiais desses povos, retrai-se a capaci¬dade de abrir-lhes o coração e forma-se em bloco único de resistência a interferências indébitas. Surge a cons¬ciência da nacionalidade e o brasileiro, embora não ataque individualmente, sabe formar-se como um todo, cheio de personalidade e deliberação.
Neutralizaram-se, pois, os princípios contrários ao amor crístico pela concretização na Terra do Cru¬zeiro, de um amálgama racial proveniente de tipos considerados inferiores pelos homens em geral, o que impediu o surgimento de um carma feito de orgulho. A formação psicológica tocada pelos elementos da dor de uma segregação racial tem mantido o povo brasileiro envolto pela ebulição de princípios heterogêneos re¬sultantes da herança étnica recebida. Tal situação transitória impede-o de entregar-se, com o mesmo fervor de outros povos, à busca do progresso material, mantendo-o livre do perigo de uma solidificação de valores que, feita no momento atual da Humanidade, redundaria em estacionamento dentro da aura negati¬va que envolve as outras coletividades. Essa ebulição será prolongada, por mais algum tempo, a fim de ser incorporado à formação do povo brasileiro o produto de uma aprendizagem dolorosa mas necessária: a obser¬vação da derrocada dos princípios de uma civilização materialista. A alma aberta desse conjunto de raças, em trabalho de consolidação, assinalará integralmen¬te os ensinamentos de tais acontecimentos pois sua consciência coletiva, ainda não estabilizada, acha-se como a cera moldável, por não haver ainda terminado seu período de formação psicológica.
Compreende-se assim a utilidade dupla de se ter colocado na terra brasileira um amálgama racial que, por ser heterogêneo, livrou-a do estigma do orgulho racial e impediu a consolidação prematura de valores, possibilitando a prorrogação da fase de sua maturida¬de psicológica a tempo de assimilar, de alma ainda virgem, os valores decisivos do expurgo cármico da humanidade terrena.


PERGUNTA — Qual deverá ser nossa atitude a fim de colaborar da melhor forma possível para o amadurecimento das qualidades positivas do nosso povo, tendo em vista sua herança étnica? Bastará esperarmos que o tempo cumpra sua missão renova¬dora?
RAMATIS — O homem criado à imagem e seme¬lhança de Deus possui em estado latente uma aptidão infinita de criar. Essa capacidade pode expressar-se indefinidamente em pensamentos e atos ocasionais e contraditórios ou ser exercida disciplinada e inteli¬gentemente com o objetivo de colaborar numa concretização mais perfeita dos desígnios eternos. Esta última hipótese pertence aos que já têm "olhos de ver" e só a eles será possível auxiliar o reerguimento geral.
Para satisfazer o anseio de estimular a evolução do povo brasileiro, será preciso obter uma oportuna divulgação dos valores a serem alcançados. Como a incompreensão dos letrados, em sua grande maioria, utiliza-se com eficiência lamentável da plasticidade natural dos que nada realizaram no campo do auto-aprimoramente intelectual, será necessário despender um duplo esforço, atacando ambas as frentes de bata¬lha: a argumentação lógica para os que possuem dotes intelectuais desenvolvidos, num duelo em que utiliza¬remos fraternalmente as suas próprias armas, e o amparo sistemático e amoroso aos que se encontram vergados sob o peso de uma encarnação desprovida dos benefícios da razão iluminada. A estes últimos, chega¬remos através do amor; àqueles, por intermédio da razão apoiada nas vibrações de uma dedicação incon¬dicional ao Bem.
Em nossa escola filosófica de amor cristão, tanto (.oremos lições para proporcionar ao oprimido como ao opressor, ao egoísta como ao amorável, ao ilustrado como ao analfabeto. Sobretudo pela capacidade de exemplificar essas lições, fortaleceremos a corrente de forças positivas que impulsionam o progresso da alma coletiva do povo em formação, inoculando-lhe os ger¬mes vivos, porque atuantes, das verdades eternas.
E quando afirmamos ao discípulo que é preciso "viver" as verdades que ama em todos os momentos de sua existência, queremos ressaltar que o Bem é um princípio estuante de vida só aclimatável em terrenos afins e necessita, para ser conservado em seus valores de produtividade perene, dos cuidados proporciona¬dos nos laboratórios às culturas de ambientação mais delicada. Assim, o aprendiz que pretende veicular os valores do Amor Crístico em seus atributos de amparo e esclarecimento deve se considerar como um campo onde serão mantidas as condições de uma salubridade mínima, indispensável à existência dos germes do Bem que aprendeu a amar. Assemelhar-se-á então ao "tubo de ensaio" no qual, por uni esforço constante, mantêm-se as condições de vida para os embriões do Bem, que irão sendo inoculados oportunamente.
Ao ódio responderá com amor; à incompreensão contumaz replicará com o silêncio da atividade benfei-tora; à indiferença em relação aos valores eternos fornecerá os elementos de meditação de uma realiza¬ção cheia de renúncia e boa-vontade. E assim, dentro da massa que parecerá em repouso, estará trabalhan¬do o fermento da espiritualidade que evidenciará sua presença quando o calor da provação coletiva subme¬ter a experiências decisivas esse conjunto de almas aparentemente adormecidas sobre a incompreensão de seu próprio valor.
Quem desejar colaborar efetivamente no estímu¬lo ao progresso do povo brasileiro deve trabalhar si¬lenciosamente como o fermento preparador da massa, compreendendo que, no momento, seus esforços pare¬cerão inúteis, incapazes de erguer e transformar o conjunto. Porém, se souber interpretar verdadeira¬mente o papel que desempenha, não esmorecerá ante a vitória aparente da inércia em que seus irmãos parecerem mergulhados. Conhecendo a programação do trabalho, saberá que o pão só se tornará agradável ao paladar e de fácil digestão se receber oportunidade de levedar por tempo suficiente.
















































2

Desenvolvimento histórico


PERGUNTA — À sombra da História do Brasil, gostaríamos de analisar convosco quais os fatos que mais influíram na formação do carma coletivo de nosso povo.
RAMATIS — À orientação espiritual de um povo só interessam os fatos que, em linhas gerais, impri¬mem um impulso capaz de modificar sua situação diante da Espiritualidade. Por isso, não nos detere-mos a examinar curiosidades históricas do anedotário tradicional ou inédito, como erradamente poderia jul¬gar quem buscasse nesta obra e especialmente neste capítulo o sensacionalismo peculiar aos estudos co¬muns dos acontecimentos passados. Como podereis facilmente compreender, estamos situados em um posto de observação que amortece os ecos dos interesses imediatos e só nos deteremos nos fatos que representam a coluna vertebral do corpo de situações que, até hoje, se acumularam à volta da consciência coletiva do povo brasileiro.
As avozinhas, através dos tempos, vêm narrando, aos seus atentos ouvintes, os fatos que presenciaram c as crônicas oficiais estão repletas de observações entusiastas sobre os feitos patrióticos. Porém, essas formas de comentário histórico funcionam como transbordamentos da enxurrada de situações vividas, a correr canalizados no subsolo inexplorado por esses narradores. Como belos chafarizes, as expressões lau-datórias das narrativas oficiais impregnam as mentes que, passivamente, se colocam à sua volta com o desejo de se extasiar diante do belo e do grandioso, sem investigar, muitas vezes, a qualidade falsa ou verda¬deira de tal espetáculo e mesmo sem cogitar, em seu ardor patriótico, se haverá pelo mundo afora quem produza melhores efeitos de beleza e grandiosidade.
Particularmente, não faltam as informações que passam pela tradição oral, como pequeninas fontes de abastecimento a jorrar do sistema de irrigação que funciona como o próprio sangue vigoroso a alimentar o gigante cujos feitos uns se encarregam de enaltecer e outros de reduzir a simples situações equívocas, a que os homens do momento procuraram esquivar-se da melhor forma possível.
Nós, porém, procuramos reportar-nos aos aconte¬cimentos como alguém que examinasse a rede de enca¬namentos no subsolo. Ela foi construída aparente¬mente ao sabor dos fatos; sabemos, no entanto, que seus construtores agiram impulsionados por reminis-cências de planos preestabelecidos no Espaço.
Todavia, como facilmente podemos compreender, o abafamento do espírito pela matéria e a incompre¬ensão generalizada reinante na Terra não permitiram que esse planejamento fosse respeitado como convi-nha. E freqüente os engenheiros precisarem transigir com a imperfeição da obra, em virtude da ineficiência do pessoal especializado. Isso porém não impede que sejam preparados novos obreiros para futuras retifi¬cações e que se procure, com afinco, um nível mais alto de realização.
A história do Brasil está repleta de fatos con-firmadores de sua predestinação pacífica e amorável. É no estudo desses momentos históricos decisivos que nos deteremos, atendendo ao objetivo desta obra. Não nos restam lazeres para o exame de situações pitorescas ou de casos que não hajam influído de forma marcante no carma coletivo do povo brasileiro.
Faremos um ligeiro apanhado das linhas mestras da canalização através da qual tem corrido, nesses quatro séculos, o fluido tão heterogêneo, das vivências desse povo destinado a projetar-se no futuro, mas que necessita rever cuidadosamente sua rede de abasteci¬mento, planejando-lhe o prolongamento dentro de me¬lhores concepções da técnica de evolução espiritual.


PERGUNTA — Como será conduzida por vós a análise desses fatos?
RAMATIS — Para melhor orientarmos nosso estudo, convém que nos coloquemos na atitude mental do psicólogo que, intensamente concentrado em sua observação, utiliza impessoalmente os conhecimentos técnicos. Pesquisa os antecedentes biológicos como ponto de partida para uma análise de conjunto, relaci¬onando-os com os distúrbios fisiológicos e com os fatos de repercussão moral.
Nessa atitude da mais absoluta neutralidade téc¬nica, examinaremos o que poderíamos chamar de "an¬tecedentes biológicos" do "paciente" a observar. Sabe¬mos que se trata de um adolescente em plena crise de adaptação e indagaremos sobre os fatos relacionados ao seu nascimento.


PERGUNTA— Compreendemos então que serão analisados os acontecimentos ligados ao descobrimen¬to do Brasil, não é verdade?
RAMATIS — Penetrando a atmosfera eferves¬cente de atividades do século XV, identificaremos a expectativa dos que se interessavam diretamente em acompanhar os fatos comparáveis aos "meses de ges¬tação" do que se supunha ser um belo infante. Colombo incumbira-se de fazer as primeiras tomadas de conta¬to, mas, no corpo maternal da América, Portugal pres¬sentira os movimentos fetais de uma nova terra e nela depositava as esperanças de ampliação da sua prole.
São feitos os preparativos necessários e o cirur¬gião competente encarrega-se de cortar o cordão umbilical ao retirar das entranhas da obscuridade históri¬ca o mais belo rebento que Portugal já possuíra.


PERGUNTA — Quais as conseqüências psicoló¬gicas de tal fato?
RAMATIS — Para iniciar o estudo das conseqüên¬cias psicológicas relacionadas com o nascimento de um pequenino ser é preciso pesquisar as reações desencadeadas nos genitores por esse fato insólito. Portugal, em pleno vigor da idade madura, não ali¬mentava ilusões quanto à possibilidade de conseguir despertar maturidade repentina em seu pupilo, mas, envaidecido de seus dons de robustez física, dedicou-se a explorar esse aspecto. Como o pai que sabe ser impossível alcançar o desabrochar da personalidade de seu filho, por já se encontrar avançado em anos, desistiu de incutir-lhe uma orientação educacional adequada, julgando essa tarefa acima de suas forças. Com o correr do tempo e o desenrolar dos acontecimen¬tos, viu-se em completo descalabro sob o ponto de vista da autoridade moral, pois seu rebento transformara-se num atleta, cujos feitos eram aplaudidos por todos em virtude dos lucros produzidos, mas cujo comporta¬mento na intimidade era necessário velar aos olhares indiscretos.


PERGUNTA — Como compreender essa última afirmação?
RAMATIS — Assustado com a atitude calamito¬sa dos colonizadores nas "terras de além-mar", onde não havia o freio da civilização, Portugal resolveu, um tanto tardiamente, estimular os processos educativos, como se fosse possível sanar por intervenção alheia a má orientação dos pais junto ao filhos nos primeiros anos de sua infância. A fim de acalmar seus espasmos de consciência, recorreu à disciplina religiosa, exata¬mente como os genitores que, sem forças para assumir com firmeza a direção de seus tutelados, entregam-nos a piedosos homens, numa transferência acomo-datícia de responsabilidade. Entretanto, a argúcia psicológica dos pequeninos percebe nada ter mudado em suas relações com os pais, limitando-se a adquirir hábitos de simulação que são levados à conta de pro¬gresso efetivo. Nessa atitude, fazem uso de um direito hereditário à acomodação utilitária e é freqüente que tudo permaneça numa paz aparente, promissora de uma solução mais fácil.
No entanto, os anos se encarregarão de mostrar os malefícios de tal proceder que, não obstante, só serão perceptíveis a quem souber relacionar entre si os fatos remotos de uma infância mal orientada.


PERGUNTA — Haverá meios de sanar as difi¬culdades causadas pela repercussão dessa linha de conduta na personalidade adulta? Ou a falta de orien¬tação educacional na infância é um mal de conseqüên¬cias inevitáveis?
RAMATIS — O Senhor permite sempre a recupe¬ração, alcançada na medida exata do esforço despen¬dido. Se não houvesse meios de deter as conseqüências de um mau início, não haveria utilidade em estudar¬mos as deficiências e teríamos que admitir a existên¬cia do inferno para os irrecuperáveis.
O processo, porém, é prolongado e a desilusão chega facilmente às almas bitoladas no âmbito de uma única vida. Eis a razão pela qual precisamos insistir no aspecto espiritual do problema da evolução históri¬ca do povo brasileiro, para deixar bem marcadas as impressões palmares desse gigante através dos sécu¬los. Como o detetive interessado em reconstituir os fatos a fim de obter conclusões, mediremos as pegadas dessa trajetória secular e veremos, pela amplitude dos passos já executados, qual a capacidade de locomoção que o futuro lhe reserva. Só assim conseguiremos uma impressão mais exata das possibilidades latentes do jovem bisonho, que observamos diante de nós. Não agiremos como observadores desavisados e incapazes de maior penetração psicológica, a fazer negras previ¬sões diante dos ademanes desgraciosos do adolescente inábil. Desejamos, mais como um amigo, repetir aos seus ouvidos as palavras de estímulo baseadas na consciência plena de sua capacidade de recuperação e estamos certos de que a reação será tanto mais favorá¬vel quanto mais capazes forem as orientações que seguidamente lhe sejam proporcionadas.


PERGUNTA — Nossa curiosidade, desperta pe¬las vossas palavras, desejaria identificar os fatos que serão analisados.
RAMATIS — O nascituro robusto que surgiu aos olhos do mundo no século XV, enchendo de espanto seus descobridores, principiou a tarefa de equilibrar-se sobre os próprios pés, mas tão larga era a sua envergadura que foi preciso mobilizar vários precep-tores ao mesmo tempo para auxiliarem o desenvolvi¬mento de seus primeiros passos. Freqüentemente, em sua insegurança infantil, ameaçava esmagar os que tentavam ampará-lo e houve quem se prevalecesse desse fato para declarar inaptos seus tutores.
A França e a Holanda, vizinhos mais hábeis na técnica educacional, pretenderam interferir decisiva¬mente, retirando a Portugal o pátrio-poder. Não con¬tavam, porém, com a força do instinto que atrai os filhos para os pais. Viram-se, pois, repudiados, embo¬ra trouxessem ao pequeno infante a oferta de seus préstimos mais eficientes.
E o gigante, em sua primeira fase de infância, continuou a amparar-se nos educadores liliputianos que lhe eram destinados na quantidade capaz de su¬prir a falta de qualidade, pois poucos homens de real valor se dispunham a emigrar para a terra recém-descoberta.
Não faltaram, porém, alguns donatários consci-enciosos que procuraram exercer governança laborio¬sa e, por ordem de D. João III, principiaram a difícil empresa de se colocarem uns sobre os ombros dos outros para alcançarem altura suficiente, a fim de amparar os braços do bebê que desejava caminhar. Contudo, muitos não conseguiram sustentar-se em tal malabarismo que, mesmo executado a contento, não lograria  oferecer apoio suficiente  para  dirigir o pequenino gigante em seus primeiros passos.
Engendrou-se então uma forma mais eficiente de administrar e iniciaram-se os Governos-Gerais. A cri¬ança sentiu-se aliviada da algazarra que se fizera à sua volta, alegrando-se por ver diante de si um só comandante, mais robusto e portanto mais à sua altura.


PERGUNTA — Quais os aspectos principais des¬sa primeira fase de nosso desenvolvimento histórico?
RAMATIS — Como recém-nascido, o Brasil esti-vera em decúbito dorsal, assinalando por gestos desco¬nexos a sua vitalidade latente. Em seguida, imprimin¬do consciência aos próprios movimentos, colocou-se de bruços e levantou a cabeça para sorrir, identificando os pais. Sentiu-os afáveis e amorosos e, incapaz de discernir sobre seus problemas dentro da comunidade humana, entregou-se confiante à orientação dos que primeiro lhe falaram ao coração.
Em seguida veio a fase em que já lhe era possível escolher as próprias companhias e estabelecer compa¬rações entre o "modus-vivendi" adotado em seu pró¬prio lar e as diretrizes mais amplas que norteavam a existência de seus contemporâneos. A cada incursão de reconhecimento retornava mais cabisbaixo e insa¬tisfeito. Por amor aos progenitores, gostaria de con¬servar-se na ignorância em que vivia, mas, penetran¬do já a segunda infância, via-se em brios e precisava colocar-se à altura de seus companheiros. A América do Norte declarara sua independência. A França era uma incitação constante à liberdade e aos direitos do homem. O mundo avançava e era necessário obter autonomia, mesmo que isso custasse o rompimento com a austera intransigência paterna.
O menino ainda não penetrara a adolescência e já clamava contra as imposições do regime retrógrado de seus responsáveis. Debatia-se, pois sua visão ultra¬passava já o âmbito estreito da casa paterna. Porém, como sempre sucede em tais casos, por mais perfeita que seja a inconfidência, têm pouca envergadura os braços do pequenino para se livrarem dos pulsos fortes dos progenitores, que terminam por submetê-lo após toda grande tentativa de libertação.
Entretanto, com a Inconfidência Mineira, conso¬lidou-se o anseio que aguardaria a hora adequada para concretizar o sonho tão acariciado — a Indepen¬dência.


PERGUNTA — Qual teria sido o destino do Bra¬sil caso se realizassem os desejos dos Inconfidentes?
RAMATIS — Tiradentes e seus companheiros foram precursores, no Brasil, de uma idéia que germi¬nava espontaneamente em todo o planeta. Sua missão consistia em personificar um conjunto de idéias e defendê-las para que se desenvolvessem oportuna¬mente. Nos anais da Espiritualidade jamais existiu exemplo de planejamento que incluísse movimentos armados e, como o Brasil vem sendo preparado para uma missão essencialmente pacífica, houve sempre o maior cuidado em preservá-lo das conquistas sangui-nolentas. No momento em que os movimentos renova¬dores descambam para o âmbito da violência, enfra¬quecem, pois fogem à orientação que lhes foi impressa no Espaço.
Em sua retina espiritual, o "Mártir da Indepen¬dência" sentiu essa distorção dos planos preestabe-lecidos e, como líder do projeto belicoso, tomou a si a responsabilidade declarada do movimento. Reconhe¬cia em seus companheiros o idealismo que os teria tornado capazes de semear as idéias generosas, espe¬rando que o tempo se incumbisse de desenvolvê-las e encerrou o capítulo frustrado daquela revolta, penitenciando-se por se ter negado a esperar.
Podemos aquilatar das conseqüências dessa li¬bertação prematura se nos reportarmos às situações vividas pelos meninos que cedo se libertam de qual¬quer tutela, entregando-se à vadiagem nas ruas. Só os excepcionalmente dotados são capazes de fugir às influências negativas e se tornarem homens de bem.
Em geral, o que sucede é a desagregação de toda conquista educacional semiconsolidada no verdor da segunda infância.
Por mais dignos de respeito e admiração, os In¬confidentes, com uma independência precoce, teriam causado o desmembramento do território brasileiro, facilitando a dominação estrangeira e a fragmentação do povo que está destinado a manter-se coeso para uma missão de fraternidade no futuro.


PERGUNTA — Haverá então uma época prede¬terminada para a eclosão de nossa autonomia entre os povos?
RAMATIS — Todos os detalhes são previstos nos estudos feitos no Espaço para o encadeamento cármico de um povo. Dizemos previstos sob a forma de análise, com o objetivo de estabelecer diretrizes, tal como na família é possível traçar planos para o futuro, buscan¬do os meios de sua realização.
Dentro do planejamento psicológico de um povo há características de semelhança muito grandes com o mesmo processo aplicado à alma humana.
Sabemos que o indivíduo só começa a habilitar-se para enfrentar o meio quando desponta em sua mente a argúcia da adolescência, geralmente acompanhada de uma certa dose de agressividade, necessária à imposição pessoal.
Podemos facilmente identificar esse período de adolescência com a época de Pedro I. Sua atitude simboliza uma fase. Cada momento psicológico de uma coletividade encontra quem o reflita com maior ardor. Irreverente, indisciplinado, cuidou de pôr em evidên¬cia as características varonis do povo brasileiro no momento em que este já possuía uma consciência em vias de se tornar realmente autônoma. José Bonifácio, colocado a seu lado, teve por missão ser porta-voz da sobriedade, como a memória que alerta o adolescente em relação aos conceitos de equilíbrio herdados dos ensinamentos paternos.
Sem o sentimento de coesão nacional, introduzi¬do na consciência coletiva do povo brasileiro através dos períodos de governo de D. João VI e Pedro I, o Brasil não estaria apto a enfrentar as investidas do desmembramento que sucederiam à Independência.


PERGUNTA — Cientes de que a programação deste trabalho não comporta a curiosidade histórica, abstemo-nos de interrogar diretamente sobre o perío¬do movimentado que se seguiu à Proclamação da Inde¬pendência. Porém, para que não se forme uma lacuna entre os comentários anteriores e os fatos posteriores de maior importância, deixamos a vosso critério a coordenação do assunto.
RAMATIS — Como é bela a juventude, cuja irreverência e aparente irresponsabilidade trazem em si o fermento da renovação! Que maravilhosas oportu¬nidades de evolução espiritual são oferecidas pela impossibilidade funcional que têm os jovens de se acomodarem às idéias cristalizadas! O progresso exige reajustamento, e não fora a inquietação da mocidade que lança sobre as solidificações mentais do meio um raio de luz avançada, a sociedade sofreria do mal incurável de um envelhecimento precoce.
A prudência, como virtude oriunda do bom-senso, só produz efeitos positivos ao ser conjugada com o espírito renovador que não permite o estacionamento. Numa obra de conjunto, na qual cada um dá sua contribuição parcial ao progresso, não se poderia re¬criminar os ímpetos de almas empenhadas na tarefa de transformação, pois só a índole pouco austera de que são dotados abre campo às atividades capazes de romper os grilhões das situações estabelecidas e am¬plamente consolidadas.
A repercussão negativa de seus atos deve-se, em grande parte, embora não totalmente, ao rompimento de barreiras anteriormente estabelecidas pelos inte¬ressados em sustentar a situação vantajosa de grupos ou idéias aparentemente mais proveitosas.
Forma-se então uma espécie de jogo em que os oponentes insistem em lançar-se em sentidos contrá¬rios e de seus esforços, que seriam prejudiciais se totalmente vitoriosos, resulta a conquista de meio termo para o bom andamento do progresso.
Só uma alma irrequieta e indomável como a de Pedro I seria capaz de tomar a si a responsabilidade de romper a tradicional obediência à Metrópole, pois sua índole já construíra uma resistência natural às im¬pressões e idéias alheias. A mesma capacidade de enfrentar a opinião do meio que o fazia viver de acordo com as próprias concepções levou-o a prestar relevan¬te serviço à terra onde tão severas eram as admoesta-ções à sua conduta irreverente.


PERGUNTA — Como devemos, pois, encarar o período que se seguiu à Proclamação da Independên¬cia?
RAMATIS — Formou-se um estado de estupefa¬ção semelhante ao que se apossaria de um homem acorrentado que, após concentrar longamente suas forças no ato de arrancar os grilhões do paredão a que o prendiam, consegue soltá-los. Sua primeira sensa¬ção é um misto de prazer e espanto e, momentanea¬mente, acha-se incapacitado para discernir com clare¬za. Como vivera acorrentado, não possui experiência que o torne seguro em suas deliberações. Sente-se como que embriagado pelo direito de agir livremente e não pretende abrir mão do privilégio conquistado com tão grande esforço. Toma uma atitude hostil à menor interferência na sua soberania e, por conseguinte, muitas vezes ultrapassa o limite da liberdade, em cujo seio ainda não se aclimatou.
Os brasileiros, cansados da escravidão política, viram na euforia de autoridade de Pedro I um perigo talvez maior do que o anterior, pois a opressão poderia instalar-se no próprio ambiente doméstico. O espírito conservador e prudente de alguns homens da época deliberou o afastamento, no qual Pedro I levaria con¬sigo não só a sombra de um mal a ser evitado, mas, também, a tristeza da responsabilidade que obriga os pais a internar o adolescente rebelde por não poderem reconduzi-lo ao caminho da temperança.


PERGUNTA — Teria Pedro I guardado profunda mágoa pelos acontecimentos que o afastaram do Bra¬sil?
RAMATIS — Não cremos fosse esse espírito tur¬bulento afeito a alimentar ressentimentos. As mágoas germinam e florescem mais fortemente nas almas introvertidas, cujo panorama limitado de atividade externa prodigaliza lazeres para conjeturas sobre fa¬tos passados. Um homem de espírito prático e ativo substitui facilmente as decepções por interesses novos no propósito deliberado de esquecer, embora nem sem¬pre, intimamente, consiga fazer justiça às situações vividas.
Seu panorama de lutas renova-se com mais faci¬lidade, refazendo impressões e permitindo que as an¬tigas caiam rapidamente, senão no esquecimento, pelo menos no estado de vibrações amortecidas.
Às alegrias da corte brasileira, que tanto lhe tocavam o coração, sobrepôs a rearmonização com os valores mais avançados de uma sociedade cheia de tradição e cônscia da própria superioridade.
Jamais pôde lembrar-se com rancor dos anos vividos na pátria adotiva. Eles permaneceram em sua memória como "os doces anos da juventude".
PERGUNTA — Para iniciarmos o estudo de um novo período da História do Brasil gostaríamos de conhecer vossas considerações sobre o Segundo Impé¬rio.
RAMATIS — Foi um período de marcante vitória da Espiritualidade sobre a Terra Brasileira. Venerá-vel figura de monarca liberal, generoso e seguro em seus princípios cristãos, Pedro II teve, durante meio século, oportunidade de colocar sobre um trono virtu¬des que raramente o adornam. Exemplo de retidão e soberania espiritual, conseguiu realizar na terra o ideal dificilmente concretizado de um governante hon¬rado por seus súditos, com reais motivos para isso.
Na intimidade, confessou-se muitas vezes inca¬paz de arcar com a responsabilidade de dirigir a Pátria convulsionada por desinteligências e graves lutas in¬ternas e externas. Como os servos sinceros do Bem, dando de si tudo que possuía, considerava pequenas as suas possibilidades diante da extensão da obra. Bem pouco, porém, podia avaliar suas próprias qualidades, pois, sendo elas dons naturais, não se dava conta da influência profunda que exercia à sua volta. Espírito de escol, envolvia toda uma época numa aura de sere¬nidade paternal, abrindo campo às atitudes nobres nos contemporâneos que se inspiravam inconsciente¬mente em sua irradiação harmoniosa.
As coletividades são intensamente influenciadas pelos seus dirigentes, não só por lhes estarem sujeitas às deliberações como por serem suas vidas insensivel-mente imantadas a quem as orienta. Os olhos de um povo estão instintivamente fixos em seus líderes, para bendizê-los ou criticá-los. No primeiro caso, as vibra¬ções positivas do amor que inspiram estimulam o desenvolvimento harmonioso das tarefas executadas. No segundo, contribuem para enfraquecer o entusias¬mo e, muitas vezes, disseminam o desinteresse ou o desânimo.
Desse modo, bem podeis imaginar o que repre¬sentou para o Brasil o período durante o qual teve diante de sua alma coletiva a figura veneranda do patriarca sereno, modesto e cristão que a Orientação Espiritual do planeta legou ao Brasil para modelo das virtudes cívicas e humanas.


PERGUNTA — Quais os fatos principais de seu governo, à luz da Espiritualidade?
RAMATIS — Todo homem é produto do entrosa-mento das influências do meio sobre sua índole espiri¬tual. As diretrizes básicas de sua conduta definem-se no ponto em que essas duas forças se cruzam. Como duas coordenadas, elas formam o ângulo dentro do qual vão sendo marcados, na horizontal, os impulsos do plano material onde ele vive e, na vertical, os avanços mais ou menos largos da mente e da sensibi¬lidade consciente e subconsciente. Dos repetidos pon¬tos de conjugação dessas duas forças surge uma linha que será inclinada para a mediocridade do meio ou se elevará, atraída pelos valores de uma consciência esclarecida. Nenhum espírito encarnado conseguirá nortear sua conduta com absoluta independência do meio. Porém, está em suas mãos elevar mais ou menos a reta de seus pensamentos e ações.
Pedro II amou, serviu e chorou. Não se ligou às facilidades aparentes de sua posição, preocupando-se em lutar contra as deficiências que prejudicavam o povo. A muitos "espíritos práticos" do presente nossas palavras soarão como o eco de uma espécie de "sadis¬mo espiritual". Mas o fato de valorizarmos o sofrimen¬to de um governante que não se deixou distrair pelos interesses falsos de sua posição tem razões profunda¬mente lógicas. Todo aquele que se impõe como dever de consciência cumprir a missão de servir ao bem-estar alheio encontrará obstáculos capazes de arrefe¬cer-lhe o entusiasmo se não se dispuser a "fazer das tripas coração", como se diz em linguagem vulgar.
Os governantes aparentemente dedicados ao bem-estar do povo têm resistência aos seus esforços muito atenuada, pois é menor o número de vantagens pesso¬ais que contrariam. A gratidão e o louvor popular só chegam a ser evidentes muito tempo após a alma de seu líder se haver empenhado nas contrariedades da governança fiel. O povo geralmente desconhece seus próprios interesses, até que a obra benfeitora lhes traga proveitos inegáveis.
É, portanto, uma conseqüência natural do está¬gio evolutivo da humanidade terrestre que seus ver¬dadeiros condutores sofram a dor do isolamento e da insegurança dentro do meio, embora haja, na intimi¬dade espiritual das grandes almas, a serenidade ad¬quirida como a resistência do aço submetido às altas temperaturas e aos resfriamentos súbitos.
Em todo o período governamental de Pedro II, conferimos maior relevância ao fato de possuir esse monarca intensa capacidade para manter-se sereno na prova cruel do insulamento espiritual, alimentan¬do a chama interior de uma pureza de intenções abso¬lutamente inextinguível.
Diante da Espiritualidade, nada poderia sobre¬por-se a esse fator, capaz de assegurar o êxito possível a qualquer empreendimento.


PERGUNTA — Que fatores terão influído para fazer de Pedro II esse líder espiritualmente tão bem
dotado?
RAMATIS — Achamos interessante notar a ex¬pressão "espiritualmente bem dotado", pois é preciso distinguir claramente entre a capacidade de magneti-zar as massas numa liderança estéril e artificial e o dom superior das grandes almas que se colocam em situação natural de destaque, por uma amplitude de valores que não procuram evidenciar, mas que se impõe por si mesma. Pedro II não pode ser comparado aos líderes modernos, cujo empenho maior consiste em consumir vorazmente a atenção das massas. Incapaz de improvisar o "vedetismo" exigido pela alma super¬ficial da época materialista, seria facilmente derrota¬do em uma das eleições atuais, por apresentar virtu¬des dificilmente identificadas pelo olhar distraído do irrequieto espírito contemporâneo.
Para melhor compreendermos os fatores que o envolveram numa aura de constante e genuíno patriarcalismo, no sentido bíblico da palavra, seria necessário recuarmos à atmosfera tranqüila da vida no século passado, quando o cientificismo dos tempos modernos mal começava a despontar. Todos os valores hipertrofiados geram desequilíbrio e até mesmo a força grandiosa da ciência, que impulsiona o progres¬so, pode distorcer o panorama da própria evolução para a qual colabora tão decisivamente. O homem do século XIX começava a vislumbrar uma era lúcida de grandes renovações. Respirava na atmosfera de Edison, Marconi, Mme. Curie e outros pioneiros do ressurgi¬mento material do planeta, cuja alma coletiva ainda não mergulhara na concepção hipertrofiada dos valo¬res adquiridos através da ciência material. Concedia ainda importância relativamente grande à personali¬dade do cidadão capaz de se impor pelas irradiações de um verdadeiro humanismo.
O homem atual porta-se como a criança cujos educadores proporcionassem, para seu aprendizado, meios tão aperfeiçoados na técnica material que a levassem a considerar a experimentação científica como um brinquedo, viciando-lhe a alma em facilida¬des que a tornassem avessa ao estudo acurado das causas capazes de movimentar a engrenagem obser-vada. Encantada com a técnica, olvidara por completo os valores desenvolvidos por aqueles que se empenha¬ram num esforço sobre-humano para obter os meios de concretizar o sonho dourado de um progresso vertigi¬noso. Observando os efeitos, seria essa criança inca¬paz de desenvolver em si qualidades que a tornassem, também, apta a semelhante empreendimento, feito de tenacidade e idealismo superior.
A Humanidade do presente moldou seu psiquismo numa atmosfera de grandiosidade externa e perdeu, por atrofia, a capacidade de identificar as irradiações mais aprimoradas do espírito.
Pedro II foi uma alma como ainda existem muitas sobre a Terra. Não se poderia afirmar que fosse um expoente da Espiritualidade. Sua grandeza consistia em possuir uma sinceridade de propósitos de absoluta integridade moral e ter sido colocado em situação que favorecia e evidenciava esses atributos. Não era um espírito aguerrido e belicoso; no entanto, sabia aceitar o desafio das forças negativas. Não era um gênio científico, mas valorizava a instrução, seguindo os rumos mais avançados do saber, sem esquecer de proporcionar ao povo os rudimentos necessários ao seu esclarecimento. Não era um "santo", porém de sua aura irradiava-se uma vibração em que predominava a generosidade cristã, sem discriminação de qualquer espécie.
Ainda nos dias de hoje, poderiam ser encontrados em vosso meio espíritos que se lhe assemelhassem pela pureza de intenções e verdadeira capacidade de trabalho em prol do bem coletivo. Entretanto, para que se alçassem ao panorama da liderança seria ne¬cessário formar-se uma corrente de entusiasmo popu¬lar pelas virtudes cristãs que não se exibem em praça pública, incapazes que são de se contradizerem em sua autenticidade por gestos melodramáticos de propa¬ganda pessoal.
Os fatores decisivos do êxito de Pedro II sob o ponto de vista espiritual foram, em primeiro lugar, sua indiscutível coerência com os princípios cristãos, assimilados por sua alma íntegra e profundamente interessada na evolução do povo; e, paralelamente, a circunstância de ter vivido numa época em que os destinos da Pátria ainda permitiam a interferência mais direta da Espiritualidade para colocá-lo como seu verdadeiro condutor.
Hoje em dia passaria inteiramente despercebido ou ver-se-ia relegado ao ostracismo caso tentasse, por dever cívico, impor-se aos seus contemporâneos.
Nada disso, porém, está em desacordo com as previsões das Esferas Superiores, pois a maturidade psíquica de um povo só pode ser forjada ao calor de provações coletivas, durante as quais as maiores li¬ções são assimiladas.


PERGUNTA — Que considerações ainda teríeis a fazer em torno desse período histórico?
RAMATIS — Acompanhando a seqüência das comparações adotadas, constatamos ser essa época equivalente ao período da segunda infância no desen¬volvimento espiritual da coletividade brasileira. Há nos fatos observados aquela característica de ponde¬ração e "bom comportamento" que os jovens se impõem para as decisões graves, quando ainda se colocam sob um maior controle dos progenitores. Assim, num dia de festa para o plano terrestre e, mais ainda, para a Espiritualidade, na ausência física do responsável pelos destinos do País reuniu-se o que havia de mais puro em sentimento patriótico e, dentro da aura lumi¬nosa de um idealismo extraterreno, o povo brasileiro deu prova de generosidade vigorosa em seus princí-pios cristãos, igualando os direitos civis de todos os homens na Terra do Cruzeiro.
Foi como se, na ausência paterna, a alma coletiva brasileira desejasse dar um testemunho de assimila¬ção dos princípios morais e educacionais adquiridos e, como a criança feliz, recepcionasse com a casa em festa o pai que retornava.
Ele, por sua vez, recebeu com alegria as demons¬trações do progresso espiritual de seus tutelados, embora soubesse que estimulando o desenvolvimento dos predicados positivos de seus filhos, arriscava-se a sérios contratempos. Contudo, dispôs-se a pagar os prejuízos conseqüentes à boa aprendizagem, mesmo que isso redundasse em ruína total para si.
Houve intenso júbilo na Terra, mesclado aos cla¬mores de protesto de grande parte dos "prejudicados" com a alforria dos negros. Mas, em nenhuma parte do mundo, em nenhum momento histórico, vibrou mais intensamente o padrão de espiritualidade de um povo.
Grandes valores têm sido movimentados em ou¬tras coletividades sob o ponto de vista espiritual; nenhum, porém, de tão alto teor crístico como o esforço benéfico de alguns, refletido de forma decisiva sobre o carma de uma nação, de maneira tão fidalga e cristã.
Com bases profundas, essa foi uma lei digna de figurar num livro de ouro, pioneira de uma era que ainda não despontou na Terra — uma era na qual a justiça será distribuída com eqüidade e os códigos redigidos verdadeiramente em função do bem-estar coletivo, mesmo que impliquem em desabono aparente para quem os sancione.
A alma generosa da mulher brasileira teve tam¬bém sua glorificação na pessoa da Princesa que iniciou uma era de influência positiva no elemento feminino como instrumento de socorro à infelicidade alheia. Essa época de sérias definições não poderia deixar de marcar uma das diretrizes mais nobres da Espiritua¬lidade sobre a Terra Brasileira: um exemplo indelével da colaboração efetiva da sensibilidade feminina aos empreendimentos que traçaram definitivamente os rumos de um povo.


PERGUNTA — Como deveremos interpretar, à luz da Espiritualidade, os fatos que se seguiram à libertação dos escravos?
RAMATIS — Espiritualmente falando, o Brasil navegara até então como uma grande caravela em período de calmaria, onde os senhores, distraídos de seus deveres espirituais, não sabiam encontrar a dire¬ção dos ventos generosos. Com esforços, arrastava-se a nave sobre as ondas à custa dos pesados remos movidos pelos cativos. Um pequeno grupo, porém, conspirava, buscando a rota certa para que a viagem espiritual seguisse seu ritmo normal. Entretanto, não contava com a extensão das conseqüências da vitória que obteria. Alcançado o rumo certo, repentino impul¬so enfunou as velas, arrastando a nau com sua força propulsora. Os cativos, em algazarra, viram-se desli¬gados de sua tarefa e corriam em confusão pela nave. Acusações de toda sorte eram dirigidas ao comandan¬te pelos feitores. Dentro de tal ambiente, tornou-se cada vez mais difícil planejar a rota e o pânico apode¬rou-se da maioria. Colhida pela força do vento renova¬dor, a embarcação ameaçava adernar se mão poderosa não imprimisse ao leme a direção acertada. Verdadei¬ro motim, no entanto, vedava ao comandante o acesso ao leme.
A criança atingira a puberdade e negava-se a obedecer aos generosos ditames paternos. Incapaz de suportar a disciplina renovadora imposta pela neces¬sidade de corrigir erros longamente alimentados, pre¬feriu personificar na figura do eminente brasileiro que imprimira novos rumos ao destino do País o motivo dos desgostos e insatisfações que convulsionavam sua alma.
Repelindo a figura venerável do servo fiel da Pátria, seus detratores deram vazão aos instintos inferiores de revolta contra o sentimento de amor e fraternidade de que seus atos sempre se revestiram.


PERGUNTA — Poder-se-ia julgar culpado o Proclamador da República por ter contribuído para o degredo de tão nobre alma?
RAMATIS — Amotinados os tripulantes de uma embarcação, é preciso que mão firme se aposse do leme antes que o naufrágio seja iminente. Austero, leal e prudente, Pedro II não possuía, porém, o dom de impor-se à revelia do povo que servira. Sua alma generosa não saberia equilibrar-se num clima em que era acusado de causador das maiores calamidades públicas. Desde o momento em que a alma coletiva do país, convulsionada, atribuiu-lhe a culpa dos próprios desajustamentos, compreendeu em seu foro íntimo a extensão das dificuldades que seriam interpostas à continuidade de sua administração.
O governo deve ter sempre íntima relação com o grau de maturidade espiritual do povo. Consciente¬mente, na hora de grandes definições, a coletividade brasileira demonstrou não se encontrar à altura do líder que recebera do Alto e, pela ordem natural das coisas, alguém deveria substituí-lo.
Não são os atos praticados que definem o caráter de um homem, mas a maneira pela qual ele os realiza. Uma contingência de honra e de noção de responsabi¬lidade pode impulsionar as criaturas a adotar atitu¬des que repercutirão negativamente sobre seus con-temporâneos. Uma visão mais ampla pode descortinar panoramas não identificados pela maioria.
No momento decisivo, Deodoro assumiu a respon¬sabilidade de personificar os anseios do povo que repelia a generosidade sem mácula de Pedro II e clamava por um líder e um destino mais à altura de sua compreensão.
Os padrões de conduta do jovem ser que se desem¬baraça do jugo paterno descem de nível, mas temos então uma fase de involução necessária à sua futura auto-afirmação.
Deodoro seguiu os ditames da consciência, to¬mando energicamente em suas mãos os destinos da Pátria sequiosa de autonomia. Quem poderia acusá-lo? Nem mesmo Pedro II, que compreendeu a gravida¬de do momento, embora não se pudesse furtar à dor de prova tão aflitiva.
Longinus,* que cravara a lança no corpo de Jesus nas últimas horas do Calvário, viu-se reduzido à pro¬longada agonia do degredo, tendo a trespassá-lo a dor de uma incompreensão irremediável.


* Longinus foi uma encarnação anterior de Pedro II, no tempo de Jesus (cf. Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evange¬lho, de Irmão X, psicografado por Francisco Cândido Xavier).


PERGUNTA — Em virtude de ser Pedro II con¬siderado um instrumento dócil às inspirações da Espi¬ritualidade, teria nossa Pátria, em sua ausência, retrogredido ou sofrido grave prejuízo?
RAMATIS — Não, simplesmente colocou-se so¬bre os próprios pés para seguir os caminhos escolhi¬dos. Nem as criaturas nem as coletividades podem ser conduzidas indefinidamente pela mão do mais sábio. Este princípio, que parece à primeira vista uma injus-tiça ou imprevidência dos Poderes Superiores, revela profunda sabedoria, pois o ser em evolução só se torna consciente das próprias necessidades quando elas pas¬sam a molestá-lo. Precisa, então, fazer-se forte, a fim de enfrentá-las e vencê-las.
Num anseio natural de autodeterminação, os bra¬sileiros desejaram escolher os próprios rumos, não reconhecendo mais sobre si qualquer tutela, mesmo sendo ela da melhor espécie. Esse fato, como já disse¬mos, é sintoma de sadia maturidade, e por si só nada revela de condenável. Mesmo a incapacidade de mui¬tos para valorizar o governante de escol que até então liderara o País não pode ser condenada, pois o âmbito mental e emocional de um ser involuído não deve ser acoimado de errado por não alcançar ainda valores mais altos. Há uma norma de direito espiritual que dá a cada um a liberdade de escolher sem ser molestado, mesmo quando os seres que lhe caminham à vanguar¬da identifiquem a inconveniência de suas predileções.
A quem possua uma idéia mais clara do que seja a evolução, nada existe de estranhável no fato de um aparente retrocesso ser sintonia de real tomada de posição dentro do processo evolutivo. O primeiro im¬pulso no deslocamento em direção ao Alto costuma ser feito sob a custódia das Forças Superiores que, após, se retiram para observar de longe, vigilantemente, aguardando os momentos decisivos em que a colabora¬ção externa seja indispensável e oportuna.
Este processo é utilizado como norma de trabalho por todos os servos do Senhor e foi assim que o Brasil passou a ser amparado de forma indireta após a Pro-clamação da República, fato esperado na eclosão da maturidade relativa a que o povo brasileiro havia chegado.
Longe de ser considerado involutivo, o período que se seguiu é classificado diante da Espiritualidade como a era dos primeiros pronunciamentos realmente genuínos da coletividade, já consciente de seus desti¬nos.


PERGUNTA — Como interpretar o período que se seguiu à Proclamação da República?
RAMATIS — À Proclamação da República se¬guiu-se um período comparável aos primeiros anseios de autonomia característicos da puberdade e adoles¬cência. Sendo recente a relativa liberdade desfrutada, o ser ainda se mostra imaturo para a verdadeira realização de independência e enfrentará uma fase mais ou menos longa de adaptação. Muitos de seus gestos terão o cunho caricatural da personalidade não definida e parecerão risíveis em sua seriedade burlesca. Entretanto, sob a aparente incoerência de conduta permanece um lastro valioso de experiências úteis acumuladas e registradas a bem da futura personali¬dade que se delineia. Passando da atividade desor¬denada e insegura dos primeiros anos de puberdade à rebeldia obstinada da adolescência, substituída em seguida pelos primeiros clarões de reflexões sadias, o período laborioso que precede a estabilidade dos anos da juventude é precioso pela diversidade das experi¬mentações registradas. Sem elas não se poderia for¬mar uma consciência própria, capaz de arquivar remi-niscências e conclusões nas quais se baseassem as diretrizes do futuro. Dessa forma, o período republica¬no tem sido caracterizado por uma variedade de expe¬riências que se assemelham aos diferentes impactos aos quais a alma adolescente se vê submetida. Um estudo constante de caracteres e situações coloca muitas vezes a alma do povo brasileiro perplexa, como o jovem que abre desmesuradamente os olhos diante de fatos inesperados a que sua impulsividade o arras¬tou.
Porém, dotado de boa índole, pára e raciocina, procurando corrigir os próprios erros sem, entretanto, conseguir furtar-se a novos dissabores.
Permanece na luta e orgulha-se de viver dentro dela, pois sabe que seu futuro baseia-se nos esforços feitos para melhor se conduzir.


PERGUNTA — Poderíamos obter uma análise mais detalhada do que seja esse período de puberdade e adolescência?
RAMATIS — Esse período desdobra-se em três fases: a puberdade, com início de reais transforma¬ções, seguida de duas etapas para o clímax e a conso¬lidação das novas bases de vida.
Na alma humana, atingido o período de maturação que precede as grandes transformações do final da segunda infância, um impulso interior arroja a indivi¬dualidade ao terreno de vivências antes impossíveis.
Há uma incapacidade total de permanecer nos pa¬drões anteriores de conduta. Entretanto, a alma ainda não conta com o desembaraço da experiência e utiliza nesse novo campo de ação os valores adquiridos ao contato de seus instrutores. A puberdade caracteriza-se, pois, pelo jogo de emoções e idéias que tendem a forçar a alma entre expressões antagônicas de si mes¬ma, sem porém exorbitar de um âmbito limitado.
O período da adolescência dispõe de um lastro de várias incursões no terreno da autonomia. O senti¬mento de entusiasmo pelos valores entrevistos chega ao seu paroxismo e o ser desmanda-se para conseguir conhecer, através de sucessivas experiências, os limi¬tes impostos pelo meio à expansão de sua própria personalidade.
Passado mais algum tempo, diminui a intensida¬de desse rebuliço. A sede de emoções, parcialmente saciada, permite que a alma passe a sorver suas im¬pressões num ritmo moderado, já com uma atitude de observador interessado mais tranqüilo.
Consideramos os primeiros anos da República semelhantes aos de plena consolidação da puberdade a surgir num crescendo, através dos primeiros pruri¬dos de emancipação. Na Guerra da Independência e na Inconfidência Mineira, tomam as características de rebeldia da segunda infância, reveladoras da aproxi¬mação inegável do destemor e ousadia inerentes ao período crítico. Essas tendências, porém, só se acen¬tuam, tomando aspectos de maior repercussão, quan¬do o ser conquista uma coordenação própria de idéias capaz de conduzi-lo a um fim determinado.
A capacidade do ser vitorioso em um embate planejado alerta os educadores para o surgimento de uma personalidade definida. Foi assim que os brasi¬leiros, considerados coletivamente, testemunharam suas possibilidades autodiretivas no esforço de expan¬dir as idéias abolicionistas, provando, diante de seus orientadores, o vigor crescente dos germes de sua autonomia em vias de concretização.
Apoiados moralmente pelos próprios condutores de seus destinos na Terra, renovou-se a disposição com vista a um futuro cada vez mais realizador e criou-se uma incompatibilidade total entre o jovem vitorioso em seus propósitos e o desejo de seus orien¬tadores de continuarem a conduzi-lo.
Novos esforços de autonomia e rompem-se por completo os liames da tutela que, por mais amiga que seja, passa a ser indesejável.
O período conseqüente é de ajustamentos totais, porém as normas adotadas em tudo lembram os valo¬res adquiridos. Paira sobre os homens do governo a aura de sincera austeridade com relação ao bem públi¬co. Admira-se e incentiva-se a retidão de princípios e os caracteres, calcados na moral sólida e padronizada da época, refreiam os ímpetos naturais em tais even¬tos.
Passam-se os anos, as gerações se sucedem e o "menino" sente amortecer o eco das vozes dos progeni-tores. Seus ardores e inquietações crescem, seu corpo desenvolve-se, mudam completamente as caracterís¬ticas físicas. As novas companhias trazem-lhe ao discernimento considerações inéditas. Observa o am¬biente, conclui pela necessidade da renovação de valo¬res e procura audaciosamente cultivar novos padrões de vida. Rompem-se as barreiras estabelecidas pelas considerações da primeira e da segunda infância, clas¬sificando-se de obsoletos até mesmo os rumos prestigiados na fase da puberdade.
Surge a adolescência em toda a sua força. Fala-se em renovações radicais, rompe-se com o passado nos aspectos passíveis de crítica e, dando vazão aos valo¬res próprios como sinal de renovação, exteriorizam-se males interiores não suspeitados.
Dos pampas, uma avalanche arrasadora derra¬ma-se sobre o Brasil. Sua finalidade? Vencer o erro que se propaga sob a égide do poder constituído. Para longe o pátrio-poder, pois os genitores encontram-se pejados de enganos! Melhor será seguir só, pelos cami¬nhos novos da razão.
Simbolicamente, a voz da prudência fala através do prelado, que afasta o "genitor" para evitar maiores choques com o "filho" rebelado.
Senhor da situação, o adolescente rejubila-se e investe furiosamente contra as normas e padrões establecidos. Traz consigo o ardor do idealismo culti¬vado num clima de absoluta eugenia física e moral. Libertou-se de todas as inibições no campo largo de sua terra de valentes homens. Simboliza a mente juvenil, inclinada à trama de heróicas façanhas. E a época encontra sua expressão num grupo de cidadãos valorosos, clarividentes, porém, ainda, sujeitos ao culto da força como meio de impor a razão.
Característica inegável da adolescência em sua expressão mais pura — revolta contra os valores esta¬belecidos e utilização de medidas impositivas — a Revolução de Trinta e seus anos subseqüentes propor¬cionaram à alma nacional os meios de reflexão quanto aos melhores métodos de remediar situações negati¬vas. À força de tantos choques e de lutas contra a sua repercussão, o povo brasileiro começa a reconhecer que talvez fosse preferível agir moderadamente, reno¬vando o panorama da vida com mais cautela e ponde¬ração.
Despontam os primeiros raios de um discerni¬mento sereno. Porém, o vezo característico da idade da intemperança não desaparecerá de um momento para o outro. Só à custa de novas decepções conseguirá o pobre adolescente aquietar seus ímpetos e suportar pacientemente o processo natural de maturação, que exige tolerância, constância e paciência. Passará afi¬nal a compreender que a elevação dos padrões de vida é produto exclusivo do trabalho infatigável e que a semivadiagem da adolescência não possui valores que possibilitem resolver de chofre problemas seculares. Quando humildemente reconhecer sua deficiência, desistindo de adotar uma atitude de bazófia que lhe fecha os ouvidos às sábias advertências de seus maio¬res, poderá caminhar como o jovem sensato que, sem abrir mão do idealismo renovador pelo qual seria capaz de imolar as próprias energias, saberá vencer impulsos insólitos, recorrendo serenamente à experi¬ência do passado. Dela então retirará os princípios de uma sabedoria nova, reavivando os conceitos classifi¬cados como obsoletos porque empoeirados pelo tempo com o vigor das tintas brilhantes que seus olhos jovens emprestam a tudo que toca.


PERGUNTA — Haverá ainda considerações a tecer sobre o desenvolvimento histórico do Brasil?
RAMATIS — O desenvolvimento histórico do Brasil, em linhas gerais, não fugiu ao andamento impresso à evolução dos outros povos. Assim como todas as criaturas humanas assemelham-se em suas reações através dos diversos períodos da existência, os povos diferenciam-se por emprestarem característi¬cas próprias às fases comuns de crescimento.
Os momentos críticos em que a alma se encontra em rebuliço têm o condão de fazer sobrenadar as emersões do subconsciente, exteriorizando o conjunto de impressões arquivadas em vivências anteriores. O crescimento exige que o ser amplie as próprias con¬quistas, impelindo para o plano das realizações con¬cretas as tendências até então conservadas em estado latente.
Jesus afirmou que o "reino dos céus" seria para aqueles que se assemelhassem aos pequeninos, ainda incapazes de lançar mão de subterfúgios, entregues como se encontram, nas primeiras etapas da existên¬cia, a um processo de expansão constante de sua mais íntima essência espiritual. Assim, nas criancinhas que O fitavam ingenuamente, sem a menor noção do momento grandioso que viviam, poderia o Mestre as¬sinalar as diferentes características de doçura, rebel¬dia, compreensão ou hostilidade. Em todas, porém, identificava a pureza e a simplicidade das almas ainda submetidas ao despertamento gradativo na experiência terrena, fase em que os princípios renovadores podem, com maior êxito, ser assimilados.
Através das eras, o Mestre continua a pregar, chamando a Si os que se assemelham aos pequeninos, e os povos, como se fossem crianças de diversas raças e procedências, têm sido, um a um, atraídos à Sua presença. Entretanto, em breve passa a idade recepti¬va e a alma humana, em suas expressões coletivas, não tem sabido usar o mágico poder de conservar, na maturidade, a candura espiritual que a tornaria pere¬nemente acessível às vibrações do "reino dos céus".
Todavia, entre todos aqueles "pequeninos" que se aproximaram do Senhor nos milênios de desenvolvi¬mento do planeta, os olhos misericordiosos do Mestre puderam sempre distinguir maior ou menor recepti¬vidade aos Seus ensinos.
Bem podemos compreender que tenha Ele senti¬do quão superficial foi o Seu toque nas almas dos povos intensamente voltados para os interesses materiais, junto aos quais Sua voz passou como um suave aroma que não foi devidamente aspirado. Eram as crianças bem dotadas, aquelas cujos privilégios distraíam-se por completo no enlevo dos folguedos absorventes. Finalmente, chegou junto a Ele um grupinho de três pequeninos, exibindo, respectivamente, o aspecto hu¬milde e tristonho do negro, do índio e do branco menos dotado. Vinham silenciosos, tímidos, assustados mes¬mo, por uma insegurança quase doentia. Pararam e puseram-se a olhar os outros meninos que brincavam alegres e despreocupados. Fitavam-nos como quem não tem direito algum e, insensivelmente, aproxima¬ram-se do Mestre que lhes estendia as mãos. Aconche¬garam-se a Ele e, sentindo-se renovados ao Seu conta¬to, sorriam aliviados. Permaneceram então a ouvir-lhes as palavras brandas, continuando, ao mesmo tempo, a observar os jogos dos outros, porém não mais torturados pelas agruras do sofrimento intenso dos que nada têm.
Palavras de luz lhes tinham sido segredadas e suas almas, prematuramente amadurecidas pela ad¬versidade, absorveram-nas em seu justo valor. O gozo fácil de uma infância descuidada não lhes podia inte¬ressar, pois a dor já lhes havia feito sentir sua dureza férrea, para a qual só existe um lenitivo — o Amor Espiritual.
Essas três criancinhas nunca mais se afastaram do Mestre. Sabiam quão árdua era a luta longe Dele. Daí por diante, passaram a brincar a Seus pés com o pouco ou nada que possuíam, mas sempre envolvidas por um inefável sentimento de segurança. Cresceram à Sua sombra, causando-lhe preocupações quando suas almas penetravam a penumbra das experiências dolo-rosas mas necessárias; porém, a um simples olhar Seu, nova força lhes vibrava na alma e, esperançosas, aguardavam o futuro que lhes estava reservado.
Com Ele aprenderam a aceitar a dor que as tor¬nou espiritualmente maduras para entender-Lhe as lições e, dentro em pouco, começaram a ajudar e con¬solar os pequeninos desgostos de seus irmãos mais felizes.
Com o tempo, os companheiros mais aquinhoados acostumaram-se a recorrer, nas horas de aflição, aos irmãozinhos humildes, pois neles encontravam recur¬sos armazenados através de duras provações.
Só a dor é capaz de preparar o ambiente psicoló¬gico de um povo para a aceitação natural do Evange¬lho. As "três raças tristes" — o negro escravizado, o índio em sua condição de desajuste e inferioridade e o branco frustrado em suas saudades e sonhos de gran¬deza irrealizados na terra natal — venceram o espec¬tro da irreverência diante da vida, que sempre lhes surgira sob a aparência de penosas realidades ínti¬mas.
Não se pense, portanto, em privilégios ou preten¬sões descabidas quando nos referimos ao futuro pro¬missor da Terra do Cruzeiro. Experiências aflitivas, profundas amarguras espirituais, foram impostas a seus filhos a fim de que se tornassem vanguardeiros do Bem sobre a Terra. Aos discípulos que partiriam com a missão de difundir a Boa Nova o Mestre não prometeu senão lutas e dores — sacrifícios proporcio¬nais ao bem que desejassem espalhar.
Na renovação espiritual do planeta venceram sempre os que travaram grandiosas e profundas bata¬lhas interiores. Àqueles que sobraram lazeres e des¬preocupações só as compensações da vida material poderiam chegar.
Por algum tempo ainda será uma característica dos "escolhidos" a permanência entre seus irmãos como ovelhas denegridas pela dor — o divino filtro que, sorvido com compreensão, desperta no homem a consciência da sublimidade da vida espiritual, não lhe sendo mais possível continuar distraído de seu verda¬deiro destino.

3

Características coletivas


PERGUNTA — Quais as características coletivas que permitirão ao povo brasileiro desincumbir-se sa¬tisfatoriamente da missão que o aguarda no futuro?
RAMATIS — "O amor, que cobre a multidão dos pecados", é o único predicado capaz de proporcionar aos seres a execução satisfatória de tarefas. A ampli¬tude dos preceitos evangélicos jamais seria alcançada se a força motriz do Amor Universal não viesse, inevi-tavelmente, a constituir, cedo ou tarde, o impulso irresistível igualmente disseminado sobre todos os seres. No crepúsculo da atual civilização, mais nítida se fará essa realidade, pois o caos a que se verá arrastada valorizará ao extremo os princípios do Amor Crístico. E onde poderá ser encontrado ambiente pro¬pício à germinação das sementes evangélicas se o orgulho e o egoísmo terão ressecado, de forma genera¬lizada, a alma das coletividades imbuídas de falsas grandezas materiais?
Não diremos que haverá sobre a Terra Brasileira uma elite espiritual, mas que, em seu ambiente, esta¬rão concentradas as condições ideais para o desenvol¬vimento oportuno de virtudes buscadas então com avidez.
Por força das circunstâncias previstas na Espiritualidade a grandeza material de um povo espera o momento adequado para surgir. Geralmente, isto sucede na ocasião em que as virtudes por ele veicula¬das tornaram-se mais necessárias ao progresso co¬mum. Assim, não existe motivo especial de orgulho na eclosão natural de uma maturação oportuna por parte de cada grupo étnico.
Desejamos tornar bem claro que a programação de trabalho reservada ao povo brasileiro não constitui um batismo que o exime por privilégio, de um pecado original. Faz parte de um planejamento cármico que deverá cumprir com suor e lágrimas, sendo sua atua¬ção no planeta engrandecida em virtude de a coletivi¬dade terrestre tornar-se digna de experiências reno¬vadas, às quais todas as almas bem-intencionadas terão acesso.
Por conhecermos o mecanismo da reencarnação, torna-se impossível alimentar princípios falsos de uma superioridade espiritual coletiva, que redundaria em orgulho absolutamente nefasto.
As características gerais que permitirão ao povo brasileiro vencer as lutas de sua experiência do futuro provêm de um conjunto de circunstâncias cuidadosa¬mente planejadas pela Direção do Planeta, dentro das quais serão enquadrados os espíritos preparados para valorizá-las.


PERGUNTA — Como poderemos compreender melhor essas características responsáveis pelo bom êxito da missão a ser cumprida pelo povo brasileiro?
RAMATIS — Consideramos o ambiente da Terra Brasileira como um grande recipiente, onde preciosas experiências vão sendo realizadas a benefício do pro¬gresso da Humanidade. Inicialmente, por assim dizer como "caldo de cultura", procurou-se estabelecer riquíssimas condições materiais sob a forma de reser¬vas naturais privilegiadas. Em seguida, preservou-se o ambiente de um progresso imediato e inoportuno pois, além de esgotar-lhe prematuramente os recur¬sos, consolidaria a sua psicologia coletiva nos moldes indesejáveis de uma era de incompreensão e invi-gilância.
Passou-se então a introduzir nesse "caldo de cul¬tura", mantido a temperatura média, os princípios germinativos de diversas procedências, capazes de enriquecer o produto desejado.
PERGUNTA — Gostaríamos de obter maiores esclarecimentos sobre o significado de ser "mantido a temperatura média".
RAMATIS — Achamos interessante frisar essa expressão a fim de divulgar a idéia esclarecedora de um fenômeno causador de inúmeras controvérsias. Incontáveis laudas têm sido gastas para explicar ou pesquisar as razões da lentidão do progresso brasi¬leiro, principalmente em comparação com a nação irmã norte-americana. Um certo complexo gerou-se em alguns espíritos, dando origem à insatisfação e mesmo à animosidade contra aqueles que são acusa¬dos de causadores dessa situação.
Entretanto, na lentidão do progresso brasileiro repousam suas mais belas esperanças para o futuro. Sabemos quantas exclamações de indignação essas palavras poderão provocar e, embora não estejamos encarnados, nosso nome não deixará de atrair expres¬sões coléricas dos ardorosos patriotas da atualidade. Contamos, porém, com a compreensão daqueles ir¬mãos capazes de lançar o olhar para o porvir e acom¬panhar nosso raciocínio, numa visão de conjunto isen¬ta de individualismo. Esses amarão o Brasil como parte integrante da Humanidade e saberão compreen¬der que ele espera apenas o momento oportuno para mostrar-se mais útil.
Incluiu-se na programação das experiências rea¬lizadas no ambiente da Terra Brasileira a necessidade de agir cautelosamente usando os elementos adequa¬dos, cuja maturação seria feita a longo prazo. Por tratar-se da formação de uma raça cujas característi¬cas deveriam diferir fundamentalmente da maioria, o processo de desenvolvimento da consciência coletiva atuante deveria prolongar-se por um período que per¬mitisse atingir exatamente o objetivo visado.


PERGUNTA — Qual seria esse objetivo?
RAMATIS — Seria a eclosão de um amadureci¬mento maior na ocasião em que os valores novos esti¬vessem surgindo na atmosfera espiritual da Terra.


PERGUNTA — E quais seriam esses valores novos?
RAMATIS — A quebra dos falsos ídolos. A visão nefasta do dragão do poder material, a escoar destrui¬ção como línguas de fogo e amargura. Os olhos estupe¬fatos do povo jovem a observar as conseqüências advindas de uma dedicação extrema aos valores ime¬diatos da vida.
Repetimos que não desejamos enaltecer uma co¬letividade em detrimento de outras. Examinamos o panorama do progresso espiritual da Humanidade tendo sempre em vista a circunstância de que os espíritos peregrinam por diferentes raças e pátrias como escolas de currículos diversos.
O cadinho da nacionalidade brasileira, como o de todas as outras, é acessível aos espíritos afins com a sua índole. Representa uma etapa na aprendizagem coletiva, a cujo usufruto estão destinadas todas as almas afeitas às experiências relacionadas com o futu¬ro da Humanidade.


PERGUNTA — Quais seriam os "princípios ger-minativos" introduzidos no ambiente espiritual do povo brasileiro?
RAMATIS — Uma extensa costa, como porta aberta, convidativa à imigração, simbolizando a alma fraterna que seria a característica básica de nova era. Braços abertos, o Brasil recebe seres de todas as procedências, conservando nas suas extensas flores¬tas inexploradas uma reserva capaz de acolher, prote¬ger e amar infinitamente a Humanidade, como um coração a extravasar imensas reservas de Amor.
Paternalmente assiste às lutas, aos sofrimentos e dores dos que o procuram à espera de que, um dia, à sombra de sua generosidade inata, todas as dissen-sões sejam sanadas.
Para a formação de uma raça "sui-generis", sob o ponto de vista espiritual, colocou-se no ambiente brasi¬leiro uma pequena amostra das virtudes de cada povo.
Ouvimos já a observação mordaz daqueles que insistem na afirmação da inferioridade racial, como se nos dissessem ironicamente "quem tudo quer, tudo perde". E nós responderemos com a demonstração dos fatos pois, no grande amálgama racial que o conjunto brasileiro representa, perde-se, é verdade, a noção restrita de raça e de povo para ganhar-se em senti¬mentos fraternos.
A característica outrora indispensável à forma¬ção da nacionalidade — identidade de objetivos e hábitos exclusivistas — perde, dia a dia, seu valor no mundo atual e uma raça agregadora equivalente faz-se necessária para substituí-la. A idéia de uma fraternidade limitada a pequenas coletividades vai, a pouco e pouco, tornando-se incompatível com a mar-cha do progresso. Os homens das diversas partes do globo que vêm, cada vez mais, intensificando suas relações, começarão a envergonhar-se de seus princí¬pios de nacionalismo estreito e passarão a viver coesos sob o impulso irresistível de uma solidariedade a todos extensiva.


PERGUNTA — No caldeamento das raças for¬madoras da nacionalidade brasileira, haverá caracte¬rísticas de maior valor provenientes de uma determi¬nada origem?
RAMATIS — A Direção Espiritual que vela sobre os destinos do Brasil dedica-se especialmente a dissol¬ver no conjunto a idéia de exclusivismo racial. Gran¬des valores têm sido introduzidos na coletividade bra¬sileira desde os seus primórdios; no entanto, em sã consciência, não nos seria possível destacar méritos superiores para a construção do seu futuro. Será lícito analisar, pesando eqüitativamente, cada uma dessas características acumuladas como contribuição das di¬ferentes raças, porém sem atribuir a nenhuma delas primazia absoluta.
Na engrenagem complexa da formação de uma nacionalidade é preciso considerar a contribuição dos detalhes que asseguram o funcionamento do conjunto. Infelizmente, existe ainda, disseminada entre os ho¬mens, uma falsa noção de valores na apreciação do organismo social. Difundiu-se uma lamentável ten¬dência a subestimar atividades de importância pri-mordial. Ao considerar este aspecto, as opiniões são geralmente emitidas à semelhança do leigo diante de uma bela viatura. Por falta de conhecimentos técni¬cos, é incapaz de avaliar a eficiência da engrenagem, destituída de beleza, oculta sob a carroceria brilhante, mas que sustenta e garante o bom funcionamento do veículo.
Para que o Brasil se desloque ao longo da estrada ampla do progresso, em atendimento aos planos de evolução espiritual, é preciso que todas as peças, sim¬bolizadas pelas diferentes características étnicas de seu povo, estejam ajustadas ao mecanismo geral.


PERGUNTA — Podereis exemplificar algumas dessas características?
RAMATIS — Hoje, mais do que nunca, quando um surto de progresso estimula o contato, cada vez maior, com os valores importados que se vão ajustan¬do à vida nacional numa ampla programação de inter¬câmbio, evidenciam-se as funções específicas de cada peça introduzida na imensa maquinaria em que se constitui o colosso brasileiro. Sobre um amplo esque¬leto de chassi, vêm sendo colocadas, através dos sécu¬los, as peças indispensáveis. Inicialmente, os eixos das rodas rijamente simbolizadas pela raça portugue¬sa, que buscou no índio o complemento para fazer avançar o carro do progresso. Ambos, porém, como material de pouca resistência diante da tarefa a ser realizada, deram causa a um fenômeno que poderia ser comparado a rodas de madeira que se desgastam ou quebram. Substituiu-se então o mecanismo insatisfatório por fortes rolamentos de metal, calça¬dos com uma substância moldável semelhante a pneus.
Surgiram os negros, capazes de resistir fielmente a todos os embates. Formou-se assim a sustentação do veículo, com uma mistura permanente da matéria-prima fornecida pelo negro, em maiores proporções, mesclado ao índio e ao branco. E o carro ia-se deslocan¬do vagarosamente sob pressão manual.
O progresso, porém, exigia a modernização do processo de locomoção e chamou-se, à sala das máqui¬nas, técnicos capazes de introduzir o uso de engrena¬gens aperfeiçoadas. Simbolizando verdadeiro meca¬nismo de peças bem planejadas, cada uma das raças de emigrantes, introduzidas em especial nos estados de clima europeu, representa um tipo de mecanismo in¬dispensável ao bom funcionamento do conjunto.
Será fácil compreender que, se a cada raça desse conjunto cabe uma função adequada, não seria possí¬vel valorizar em especial qualquer uma delas, pois a omissão de uma pequena peça dessa engrenagem pre¬judicaria a harmonia do andamento geral.


PERGUNTA — Gostaríamos que analisásseis mais detalhadamente o papel destinado a cada uma dessas raças na formação das características coletivas do povo brasileiro.
RAMATIS — Reconhecida a lentidão do desloca¬mento do grandioso veículo do progresso brasileiro, importaram-se peças a fim de montar um motor capaz de impulsioná-lo com maior eficiência. E, a pouco e pouco, o mecanismo foi sendo aperfeiçoado. O carbura-dor, os pistões, toda uma complicada técnica passou a figurar no panorama da vida nacional, tendo como eixo de transmissão a descendência estrangeira, gradativamente entrosada aos eixos e às rodas do carro.
Entretanto, aquele que se sentar à direção do veículo deverá tomar em consideração os valores da nacionalidade legítima, embora valorizando a contri¬buição preciosa de todo o conjunto que dirige. Para isso contará com a vigilância dos faróis, representados pelos órgãos legislativos e com a proteção esclarecida da imprensa, simbolizada pelo pára-brisa, cuja função é impedir que a visão dos dirigentes se turve, mesmo durante os maiores temporais.
Temos na coletividade paulista o motor de parti¬da, no conjunto guanabarino a função específica de chave de contato, agora bipartida com a nova capital; no grande celeiro mineiro, o fornecedor de combustí¬vel e nas populações sulistas, o radiador que tem seguido junto ao pára-choque fronteiriço, recebendo constante reabastecimento de águas brasileiras a fim de continuar sua missão de manter a temperatura no interior da engrenagem. No seu bojo, a viatura carre¬ga tudo aquilo que significa a mais antiga tradição, as forças nacionais mais remotamente consolidadas. O equipamento montado logo em seguida ao chassi é a tradição dos estados do Norte, necessitados de revisão urgente em suas possibilidades, pois, embora consti¬tuídos de material de boa qualidade, esperam a remo¬delação de técnica adquirida pelo recente surto de progresso. Há ainda um grande tanque de reserva representado pelas zonas de riquezas naturais inexploradas, que pacientemente esperam a sua vez de também colaborar na evolução da comunidade bra¬sileira.
Em toda essa maquinaria, porém, encontra-se fundida matéria-prima de diversas procedências e o único ponto de convergência capaz de promover a unidade do conjunto é um sentimento comum que bafeja o País de norte a sul — a esperança de um maior aproveitamento dos amplos recursos prodigamente doados pela Natureza à Terra do Cruzeiro.
Mesmo diante da impossibilidade momentânea de usufruir certos benefícios por demais legítimos para lhes serem negados, os brasileiros, seja qual for a sua ascendência racial, apegam-se a esta esperança que os une indissoluvelmente. Com a intuição ineren¬te aos povos hipersensíveis, prevêem o grandioso futu¬ro da Pátria, antegozando seus dias de glória. E aque-les que viram a luz do dia em terras distantes sentem-se, também, como filhos dessa nação generosa, cuja aura benfazeja predispõe todos os seres à fraternidade. São cativados pela simplicidade do povo acolhedor, ainda incapaz de valorizar, como eles, os estrangeiros, a riqueza material que lhes proporciona uma perene tranqüilidade de espírito.


PERGUNTA — Como poderemos contribuir para o aprimoramento dessas características coletivas?
RAMATIS — O aprimoramento das característi¬cas coletivas brasileiras está previsto de forma um tanto diversa do processo desenvolvido junto aos ou¬tros povos que lideram o mundo.
A grandeza e hegemonia dos povos através das eras têm sido baseadas na maior capacidade de se impor ao semelhante pela força. Hoje em dia, no en¬tanto, o panorama mundial exige uma liderança con¬solidada pelo poder grandioso do espírito, a fim de que a Humanidade penetre a nova era cônscia dos verda¬deiros valores da imortalidade. Portanto, que o povo se norteie por diretrizes calcadas numa sólida estruturação evangélica e, mesmo que essa atitude possa apresentar-se, diante dos outros povos, como um fator negativo, que cada brasileiro fixe os olhos espirituais na grandiosidade da pobreza e humildade de um Francisco de Assis, mensageiro do Amor Crístico, num ambiente impregnado dos mais férreos valores materiais.
Faz-se necessário elevar coletivamente o padrão de espiritualidade da alma brasileira, acordando-lhe os sentimentos cristãos como valores extremos numa época de devassidão. Na intimidade de todo ser vibra um anseio sempre crescente de alcançar a felicidade como finalidade da vida — clamor indelével do espírito eterno, buscando, através das eras, a harmonia para a qual foi criado. Mas os homens, mergulhados na incre¬dulidade, entregam-se ao prazer dos sentidos, esque¬cendo-se das alegrias imorredouras da alma. E preci¬so, pois, discernir claramente entre os diversos meios de satisfazer essa ânsia de prazer, inseparável da
condição espiritual. Ao abrir os olhos para a vida, a criatura, ignorante dos verdadeiros roteiros a seguir, avança pelo caminho que lhe parece mais fácil, na procura da felicidade, que ela ainda não sabe definir em seus fundamentos reais. De acordo com as caracte¬rísticas do meio em que nasceu, raramente sobrepon¬do-se a elas, o espírito encarnado lança-se na batalha pela conquista da alegria.
Por conseguinte, devem ser amplamente disse¬minadas no ambiente espiritual do Brasil as verdades eternas que formarão uma escola, onde as primeiras letras do alfabeto evangélico serão soletradas pelas almas no alvorecer da vida material. Formada, pois, nesse ambiente favorável, achar-se-ão preparadas para entender as mensagens espiritualizadas dos momen¬tos apocalípticos e estarão propensas aos sentimentos de compaixão e benevolência.
Como hostes disciplinadas, marcharão nos cam¬pos ensangüentados do porvir, não para ferir mas para socorrer. E assim terá sido lançada a mais eloqüente mensagem de amor fraterno jamais enunciada por uma coletividade sobre a Terra.


PERGUNTA — Não credes que haja dificuldade em obter um resultado homogêneo num conjunto for¬mado por características tão heterogêneas?
RAMATIS — A característica máxima do Amor Crístico pregado no Evangelho de Jesus é a universa¬lidade dos sentimentos fraternos. Em vista disso, jul¬gamos mais provável obter-se uma vibração, por míni¬ma que seja, desses sentimentos, numa coletividade heterogênea do que num conjunto de seres onde impe¬rem quaisquer sentimentos exclusivistas.


PERGUNTA — Fazemos essa pergunta por nos parecer que os moldes da formação de sentimentos coletivos na Terra não servirão aos ideais futuros e, assim sendo, haverá necessidade de colher elementos novos, sem o auxílio da experiência, para a obtenção dos valores indispensáveis à Humanidade vindoura.
RAMATIS — Os princípios de consolidação dos valores espiritualizantes na formação brasileira obe¬decem ao mesmo esquema das conquistas obtidas pe¬las outras nações. Para isso, sempre se fez necessária uma combinação de valores baseada nas característi¬cas coletivas primordiais, impulsionadas pelo momen¬to psicológico vivido pela Humanidade.
Em todos os casos houve necessidade de forjar novos moldes nos quais se consolidassem as experiên¬cias coletivas e nessa renovação fundamental baseou-se todo o progresso obtido.
A diferença, no caso em questão, resume-se no fato de necessitarem os moldes a serem fabricados de constituição diversa, pois o material empregado deve¬rá ser uma fusão de substâncias até então julgadas incompatíveis. Entretanto, a liga conseguida possuirá capacidade maior de resistência, à altura dos elemen¬tos em combustão que lhe serão fornecidos para futura solidificação.
Será tão alta a temperatura da provação na Terra nos tempos que se aproximam, que ao seu calor, os valores humanos acumulados em todas as latitudes fundir-se-ão misturando-se, para se derramarem em moldes mais adequados. Purificados ao calor da prova, poderão tornar-se úteis a uma civilização cônscia das verdades até então negadas.
Todavia, os moldes nos quais se forjaram os valo¬res buscados anteriormente pela Humanidade pouco esclarecida, seriam frágeis para conter essa mistura incandescente, formada pela fusão dos valores de to¬das as origens. Não resistiriam, partindo-se ou dei¬xando transbordar o conteúdo.
Numa terra onde se tenham construído paciente¬mente os hábitos generosos de benevolência generali¬zada, mesmo que a princípio mal orientada, haverá tempera e largueza para formar os moldes indispensá¬veis e urgentemente procurados para conter a dor e resfriá-la com as brisas calmantes da tolerância. Su¬portarão também, sem maiores prejuízos, o acréscimo de tarefas, enrijecidos que foram pela resignação milenar de um povo menos dotado no âmbito dos valores cultivados pela cegueira de uma civilização exclusivamente material.
Dentro do princípio divulgado entre vós, de que "a fome põe a lebre a correr", a necessidade de reação diante dos acontecimentos estarrecedores do final do século iniciará o processo de homogeneização dos es¬forços da coletividade brasileira, a fim de que, do seu celeiro farto, possa ela estender braços amigos aos irmãos ameaçados de submergir.
Gratos pelos socorros recebidos e atônitos diante da inanidade dos valores até então cultivados, julga¬rão encontrar no Brasil a antiga Terra da Promissão dos hebreus. De mãos vazias, ver-se-ão forçados a recorrer a seus irmãos mais jovens, começando então a assimilar as verdadeiras noções de fraternidade cristã, pelo exemplo que lhes será proporcionado.
As raças que antes vinham à terra promissora em busca da riqueza material bater-lhe-ão às portas ne¬cessitadas de reconforto físico recolhendo, sem sentir, o ouro precioso, mas ainda não apreciado, dos senti¬mentos cristãos.
Uma nova era terá sido implantada e os missio¬nários do Bem encarnados no Brasil incumbir-se-ão de orientar essa coletividade heterogênea, porém rica em princípios favoráveis à consolidação dos valores evan¬gélicos.



4

Composição espiritual


PERGUNTA — Paralelamente às considerações tecidas sobre as origens étnicas do povo brasileiro, gostaríamos de obter comentários a respeito da com¬posição espiritual da alma coletiva aqui domiciliada.
RAMATIS — Presentes na formação espiritual do povo brasileiro encontram-se, como não poderia deixar de ser, todos os espíritos que se apresentaram à Direção Espiritual do Planeta como novos cruzados, dispostos a servir à sombra da bandeira majestosa de Ismael. Como sucedeu àquele movimento histórico, o chamamento feito em relação à nova Terra da Promis¬são simbolizava uma conquista em nome do Eterno, visando resguardar sobre o solo brasileiro os tesouros do Evangelho que aí seriam introduzidos. Uma dispo¬sição, porém, diferenciava totalmente os novos cruza¬dos dos antigos — antes de sacrificar um só de seus irmãos em humanidade para atingir seus fins, dar-se-iam em verdadeiro holocausto, exemplificando, diante das criaturas terrenas, os legítimos objetivos do Cris¬to.
Um "estado-maior" de espíritos caldeados nas lides materiais do passado, senhores de uma formação essencialmente pacífica por já se haverem desiludido das gloríolas transitórias, reuniu-se para estudar a execução dos planos da Espiritualidade no local onde ocorreria o renascimento espiritual da Humanidade. Sucedeu como se o Mestre, decepcionado com o apro¬veitamento dos tesouros confiados à antiga Terra da Promissão, deliberasse tranferi-los, em espírito e ver¬dade, para o âmbito abençoado das paragens que, por alguns séculos ainda, permaneceriam ignoradas pela maioria dos homens, distraídos na conquista de valo¬res passageiros.
Ergueram-se os novos soldados do Bem, impo¬nentes em sua coragem humilde, e rijos espiritual¬mente como resistentes eram seus precursores medi¬evais entregaram-se à tarefa, prontos a tudo sacrifi¬car no sentido de plasmarem os primórdios de uma Nova Era.


PERGUNTA — Poderemos então concluir que o povo brasileiro tenha sido formado exclusivamente de almas de escol empenhadas na obra de redenção da Humanidade?
RAMATIS — Desejamos relembrar que nos refe¬rimos a um "estado-maior" formado das almas consci¬entes dos deveres espirituais impostos à coorte de servos humildes, capazes de liderar a nova Cruzada Espiritual sobre o Planeta. Entretanto, a fim de que sua missão fosse levada avante, seria necessário labu-tar em terreno propício, no qual todos os testemunhos de amor cristão pudessem ser efetuados. Para atingir a concretização dessa parte do planejamento fez-se indispensável abrir campo às exemplificações basea¬das nas tarefas do reerguimento espiritual em favor do semelhante, único testemunho capaz de proporcio¬nar ao discípulo o atestado de espiritualização real¬mente crística. Assim sendo, agregaram-se aos condu¬tores dos destinos espirituais da nova coletividade todos os seres que, por sintonia do pretérito, desejas-sem adquirir as virtudes evangélicas já alcançadas por aqueles espíritos. E eis que principiou na Espiritualidade a marcha garbosa dos cavaleiros ar¬mados em nome do Senhor, ostentando o aprumo característico do auto-esforço. Avançavam ciosos de se fazerem acompanhar pelas almas ainda trôpegas que, à retarguarda da grande coluna, formavam como que uma infantaria a se deslocar em situação precária. Mas, para espanto geral e como exemplo para toda uma Nova Era, os valorosos cruzados não se pejavam em resguardar com desvelo seus irmãos mais humil¬des, como guardiães inteiramente convictos da missão cristã que lhes fora confiada.


PERGUNTA — Haverá algum fundamento na afirmação, que já se tornou comum entre nós, sobre a deficiência do material humano encaminhado às ter¬ras brasileiras? Será ele de gabarito espiritual infe¬rior por não se amoldar proveitosamente à sociedade de origem?
RAMATIS — Quem poderá definir com exatidão os verdadeiros motivos pelos quais se afastaram essas almas de sua terra nativa? Cada ser é um complexo emaranhado de impressões justapostas, para as quais nem o próprio interessado conhece, muitas vezes, as explicações necessárias. Transplantar-se de uma cole¬tividade exige um conjunto de reações ignoradas pela maioria das criaturas acomodadas ao âmbito natal. Preocupa-se o espírito nessa situação com um sem-número de detalhes de origem material e psicológica capaz de arrefecer o ânimo dos mais seguros analistas de gabinete. Embora a coragem dos grandes descobri¬dores seja decantada em prosa e verso, talvez o valor dos atuais "desbravadores de civilização" não lhes esteja muito distante.
O homem que emigra pode estar tranqüilo quanto à rota que o navio percorrerá e quanto à inevitável ancoragem do mesmo no porto de destino. Todavia, sua odisséia começou no esforço de romper a rotina e desdobrar-se-á, à semelhança dos aventureiros do passado, ao se encontrar sob a ação anestesiante da calmaria da indiferença alheia pela sua sorte; agra-var-se-á, ainda, ao rugir da tempestade dos sentimen¬tos contraditórios da incerteza e da insatisfação, prólongada através duma espera que, freqüentemente, parecerá interminável. Essas almas, assim batidas pelas ondas gigantescas da inadaptação ao meio, terão que possuir a resistência dos cascos dos navios, refor¬çados para enfrentar todos os embates, como, também, aprender a conhecer, por sinais eventuais, a proximi¬dade da "terra firme" onde possam desembarcar com segurança. Navegando no mar tenebroso das incom-preensões humanas, jamais poderão ser acoimadas de "refugo humano" como levianamente as classificam seus detratores, de suas poltronas bem resguardadas.


PERGUNTA — Além dos motivos de ordem eco¬nômica, haverá ainda outras razões que impulsionem essas almas a uma aventura assim tão penosa?
RAMATIS — Na Espiritualidade, o determinismo e o livre-arbítrio são duas leis que se conjugam para equilibrar as realizações do progresso. Podemos afir¬mar que funciona no Espaço um verdadeiro "departa¬mento de emigração" com a finalidade de objetivar o bem-estar da Humanidade. Nenhuma força constran¬ge, inapelavelmente, os espíritos encarnados a emi-grar; porém, em seu foro íntimo ecoa o apelo dos compromissos assumidos, quando, por deliberação própria, aliaram-se às almas que se propuseram des¬cer no seio de uma das raças existentes na face da Terra, para colher valores úteis à formação da nacio¬nalidade brasileira. Na realidade, vistos sob esse pris¬ma, são brasileiros que estagiaram em solo diverso antes de ingressar definitivamente nas lides de sua pátria de eleição. Esses espíritos podem mesmo ser considerados como os mais autênticos patriotas, pois, reconhecendo a programação superior relacionada com o progresso do Brasil, não hesitaram em arrostar os desajustes da expatriação, tendo em vista contribuir com uma pequena parcela de valores novos, necessários ao equilíbrio espiritual de sua Terra da Promissão.
A imunidade ao exclusivismo racial é inerente à alma do brasileiro nato, um apóstata das normas inflexíveis do nacionalismo cultivado pelos povos apegados à tradição. Esse sentimento de "fluidez patrió¬tica" baseia-se na intuição profunda de que sua nacio¬nalidade tem raízes nos princípios universalistas de Amor, incompatíveis com a consolidação de valores rígidos no plano material.


PERGUNTA — Desejaríamos que definísseis mais claramente o que designais por "fluidez patrióti¬ca".
RAMATIS — A força dos sentimentos patrióticos é uma energia emitida pelos espíritos afeiçoados ao local que lhes proporciona a alegria da renovação espiritual através da encarnação. Varia em sua inten¬sidade e seus atributos de maior ou menor sutileza estão na razão direta da elevação do espírito que a emite. Através das eras, formam-se moldes mentais dentro dos quais se solidificam os valores espirituais da maioria, encarando-se com estranheza as expan¬sões patrióticas em desacordo com os padrões gerais.
Pela natureza peculiar de sua formação, a alma brasileira não herdou um molde único em que forjar suas vibrações de civismo. Na impossibilidade de sele¬cionar entre os muitos apresentados o que melhor lhe conviria, preferiu manter no estado fluido o amor às bênçãos recebidas através da encarnação nesse rincão privilegiado. Transferiu então suas expressões patri¬óticas para um nível menos concreto, transmitindo pela tradição de hospitalidade os sentimentos de gra¬ta satisfação pelos bens recebidos, considerando-os como usufruto e não como propriedade exclusiva.
Essa atitude parece ao observador superficial um tanto displicente e, muitas vezes, encoraja a intromis¬são indébita por parte do estrangeiro inescrupuloso que, diante da necessidade premente de um brasileiro menos avisado, insinua-se, induzindo-o a faltar com seus deveres de fidelidade ao bem comum. Isto, porém, por mais freqüente que pareça, despertando o pânico entre os preclaros estudiosos do porvir nacional, re¬presenta procedimento nefasto, conseqüente da indi-gência moral inevitável, quando os valores da subnutrição espiritual e física imperam para desbara¬tar a energia incipiente de uma coletividade. Entre¬tanto, a eclosão infalível do progresso destinado a cada povo em seu zênite incumbir-se-á de incentivar a maturidade necessária às garantias da hombridade. Para o infeliz deseducado e desnutrido, a pátria é seu estômago, pois se ele não estiver em estado de garan-tir-lhe a sobrevivência, de nada lhe adiantará o peda¬ço de terra que tem sob os pés, senão para cobrir-lhe os restos mortais. Astuto como a raposa, o espírito ga¬nancioso do forasteiro fareja a carniça, na qual injeta algumas gotas da vitalidade venenosa do acumplicia-mento para garantir a partilha de haveres que não lhe cabem por direito. E quando nos referimos ao estôma¬go não nos limitamos ao âmbito da sobrevivência físi¬ca; há também aqueles que se julgam completamente cadaverizados em vida se não conseguirem locupletar-se com todos os bens disseminados à sua volta. Mor¬rem de inanição psíquica por não alcançarem a opu-lência material. Não escapam à classificação entre os famintos do corpo e da alma, pois a imaturidade de seus princípios morais clama abertamente sua indi-gência espiritual, como um estado de subnutrição psíquica mais grave, muitas vezes, do que a própria inanição física. São herdeiros da irresponsabilidade implantada como jogo da ganância primitiva dos colo¬nizadores, não sabendo transferir ao plano moral o anseio de maiores lucros.
Aprovamos o clamor que se ergue contra tais fatos, como necessidade educativa de corrigenda. É preciso esclarecer, entretanto, que a fase do desconhe¬cimento da propriedade alheia, do egoísmo total, é mais ou menos prolongada mas sempre existente no desenvolvimento do ser humano, tanto considerado individual como coletivamente. Toda sociedade tem que esmagar os germes desse sentimento doentio an¬tes de avançar segura para melhores realizações, e não será essa uma maldição exclusiva da nacionalida¬de brasileira.


PERGUNTA — Será essa "fluidez patriótica" responsável pelos descaminhos atribuídos ao povo bra¬sileiro? Nesse caso, não será o caldeamento de raças um prejuízo insuperável para o Brasil?
RAMATIS — Usamos a expressão "fluidez patri¬ótica" para classificar os sentimentos da alma coletiva brasileira em relação à Pátria; não com o objetivo de denegrir, mas por nos parecer uma conjugação de termos bem próxima da idéia que desejamos transmi¬tir. Identificamos as nuances inerentes a essa forma especial de sentir, no desejo de defini-la claramente em seus aspectos positivos. Entremeada de graves deficiências, decorrentes de uma concepção ainda ima¬tura da vida, essa atitude mental-emocional dos bra¬sileiros acarreta sérios prejuízos ao ritmo do progres¬so nacional. Examinando, porém, mais detalhadamente a origem de tais contratempos, concluiremos pela inocuidade da "fluidez patriótica" diante da propagan¬da subversiva instaurada na atmosfera espiritual do País e cuja causa não se encontra identificada a essa característica em análise.
Realmente prejudicial ao brasileiro, repetimos, vem sendo, desde os primórdios da formação de seu povo, a aura de irresponsabilidade moral aqui implan¬tada pelos iniciadores da civilização na Terra de Santa Cruz.
Podemos lançar mão de uma imagem simples, a fim de aclarar os conceitos emitidos. O aluvião de deturpações morais, que procura arrastar consigo os valores positivos pertencentes ao povo em formação nessa terra acolhedora, é alimentado como um rio, por duas nascentes. A primeira brota na montanha dos sentimentos elevados e constitui a água abençoada das vibrações fraternas. Simboliza essa "fluidez patri¬ótica" a que nos referimos. É generosa e pura, a todos beneficia, mantendo-se líquida por saber que a água solidificada, em sua rigidez, não consegue servir. Nes¬sa nascente no alto da montanha das verdades espiri¬tuais, onde despontam as mais puras inspirações para a orientação da nacionalidade brasileira, não há pos-sibilidade de contaminação pelas substâncias ácidas do egocentrismo, camuflado nas expressões fatigadas do patriotismo exclusivo.
O brasileiro, espiritualmente orientado pela aura de benevolência para com o próximo, não se apega aos princípios rígidos de um patriotismo míope e egocên¬trico. Dentro da sua alma corre temporariamente, tranqüilo e límpido, o rio da boa-vontade para com o semelhante, como conseqüência da generosidade com que a vida o brindou nesse recanto paradisíaco do globo.
A meio caminho, porém, na baixada onde poderia esse rio fertilizar o solo em prol de uma abundante colheita, levanta-se um nevoeiro que obscurece o pa¬norama espiritual da coletividade. Da floresta próxi¬ma desliza um caudal de detritos, formados de lama barrenta e viscosa. Sua origem é obscura, pois nin¬guém jamais ousou chegar até o seu nascedouro. En-quanto que a primeira nascente brota na montanha da espiritualidade pura, consta que a segunda surge de um pântano a cujo pestilência ninguém pode resistir.
E assim a tradição se incumbe de divulgar o mito apavorante da força insuperável do poder corruptor. Os espíritos pouco valorosos de uma alma coletiva, em fase de adolescência espiritual, conservam-se à dis¬tância da floresta assustadora, suportam-lhe a enxur¬rada de detritos e, coagidos por um terror supersti¬cioso, rendem homenagem involuntária aos princípios implantados pela força do negativismo.
Dessa forma, os anseios inconfessáveis dos inte¬resses mesquinhos deturpam irremediavelmente os sentimentos patrióticos que seriam extraordinaria¬mente sadios por emanarem de uma fonte superior de grande pureza. Podemos mesmo afirmar que maior é o empenho das forças negativas em aproveitar os bene¬fícios dessa nascente, por identificarem a potencia¬lidade generosa de sua origem.
No momento em que esse fluxo de águas claras se tornar consciente de suas possibilidades, conseguirá levantar um dique para deter a enxurrada originária da floresta escura das manobras escusas que turvam a limpidez do leito generoso sobre o qual está destina¬do a correr.


PERGUNTA — Pelo que ficou explanado, pode¬remos concluir que todos os espíritos encarnados no Brasil são almas avessas ao egocentrismo patriótico?
RAMATIS — A formação espiritual de um povo obedece a um esquema previamente traçado, no qual são dosadas as características mais necessárias ao progresso da Humanidade. Inúmeras vezes, sofrem essas características distorções prejudiciais; entre¬tanto, cumprem de alguma forma a missão de introdu¬zir no seio da coletividade terrestre os valores que veiculam.
Cada nação traz a incumbência de administrar ao corpo de idéias sustentadas pelo homem terreno uma determinada "medicação" tônica ou corretiva, de acor¬do com o momento. Todavia, como sucede às drogas preparadas pelos laboratórios ou farmácias, existe um "veículo" no qual se acumulam as doses, em maior ou menor grau de concentração, das substâncias deseja¬das. À medicação preponderante, acrescentam-se ou¬tras também úteis e, algumas vezes mesmo, uma quan¬tidade infinitesimal de antídoto capaz de contrabalan¬çar os efeitos mais intensos do agente principal.
Por conseguinte, haverá sempre essa ebulição nacionalista a clamar, estentoricamente, contra a "in¬tromissão indébita" do estrangeiro, tentando solapar a base do fortalecimento da nacionalidade através do acréscimo de novos valores externos. Como ficou dito acima, entretanto, as doses bem calculadas do antído¬to tornam-se úteis ao equilíbrio psicossomático do enfermo.
Na atmosfera espiritual do povo brasileiro, é preciso que ecoem vozes de exclusivismo nacionalista para contrabalançar o excesso de liberalismo provocado pela imaturidade espiritual, incapaz de aproveitar com sabedoria a tradição de generosidade esclarecida, semeada na aura coletiva dessa nação pelos preclaros mentores do Alto.
Dentro dessa situação contraditória, surgirá aos poucos a afinação necessária à avaliação adequada dos princípios cristãos de uma soberania impregnada das mais puras vibrações de fraternidade.


PERGUNTA — Em virtude de os espíritos mui¬tas vezes se afinizarem especialmente com uma deter¬minada raça, gostaríamos de saber se predominam entre os brasileiros almas afeiçoadas de preferência a uma ou outra nacionalidade do passado.
RAMATIS — Se houver o cuidado de provocar o caldeamento de raças na formação étnica do povo brasileiro, não seria razoável que no Espaço fosse realizada a discriminação de origens.
Como afirmamos anteriormente, o espírito apri¬mora suas tendências ao contato da força constrange¬dora que constitui a aura magnética de cada povo. A mensagem espiritual de uma raça significa um apelo ao desenvolvimento de determinadas aptidões pre¬ponderantes em seu ambiente psicológico. Quanto maior o número de raças nas quais o espírito haja encarnado, mais possibilidades terá recebido para acrisolar suas percepções e habilidades.


PERGUNTA — Entretanto, parece-nos sentir nas expressões da alma brasileira muito pouca afina¬ção com a índole predominante nos países nórdicos, germânicos e anglo-saxões. Estaremos porventura equivocados?
RAMATIS — A formação racial do povo brasilei¬ro vem obedecendo a uma diretriz que visa favorecer o despertamento espiritual da Humanidade. Por conse¬guinte, o anseio dos Mentores espirituais desse povo é provocar a fusão do maior número possível de virtudes que permitam, no futuro, a eclosão de um psiquismo portador da síntese ética mais apurada que já se obteve sobre o planeta. Todos os povos, pois, serão chamados a colaborar com suas aquisições valiosas, a l'im de modelar essa aura-padrão do porvir.
Como numa obra bem planejada, o material deve ser calculado e escolhido, introduzindo-se cada espé¬cie oportunamente. Ninguém poderá utilizar, na cons¬trução de um edifício, o material elétrico e as tintas sem primeiro haver erguido o arcabouço, a estrutura de concreto devidamente emboçada. Assim, procede-se por partes, racionalmente, em toda obra bem plane¬jada e duradoura.
Na composição espiritual do povo brasileiro, não se pode fugir a essa norma inteligente de consolidação do edifício psíquico tão valioso para a Humanidade futura. Escolheu-se o material de acordo com a utili¬dade apresentada.
Do solo brasileiro em repouso foi retirado o ele¬mento índio como na escavação inicial que precede a construção. Afastou-se a "terra" desnecessária para lançarem-se os alicerces. E a estrutura começou a crescer, formada pelos vergalhões da raça negra arga-massada pelo cimento português, fabricado com a areia indígena, isto é, os selvagens acessíveis à colonização.
A proporção que o edifício cresce, surge a neces¬sidade de preservar a estrutura com o revestimento multicor, capaz de dar à construção aspecto agradá¬vel. De acordo com a destinação dos cômodos, a mão-de-obra especializada é chamada a estender as insta¬lações de utilidade específica.
Como decidir qual a parte mais importante no conjunto da obra? Sem a base da estrutura sólida, o edifício não se levantaria; porém, ela por si não satis¬faz às necessidades dos moradores.
As almas afinizadas com um ritmo de vida acen-tuadamente técnico e avançado sob o ponto de vista espiritual, afeitas à disciplina cultivada em existên¬cias anteriores, serão preciosas colaboradoras do burilamento do caráter da nacionalidade em formacão. No momento atual, esses retoques indispensáveis ainda não foram introduzidos no psiquismo brasileiro; tem-se pois a impressão, ao observar o panorama nacional, de uma obra em andamento, cujo arcabouço nu começa a ser trabalhado pelos artífices, empregan¬do o material especializado, disperso em confusão, à espera de utilização adequada.
Por sua vez, as almas afinizadas com as raças eminentemente disciplinadas na conquista dos valo¬res do plano material, ao penetrarem a planta geral da obra em que terão de colaborar, vêem-se tomadas de espanto pelas proporções gigantescas de sua enverga¬dura. Faz-se então necessária uma mudança de méto¬do na aplicação de sua técnica.
Um impulso renovador as impelirá a renderem-se diante da beleza do planejamento "sui-generis" encontrado no mundo novo, representado pela Terra da Promissão.
Os valores preciosos de disciplina e firmeza serão desafiados em toda a sua capacidade de expansão, a fim de alcançarem padrões mais elevados de espiritualidade. A amplitude generosa das raças que moldaram a estrutura obrigá-las-á a aperfeiçoar cada vez mais os processos técnicos na aplicação de seus conhecimentos.
A princípio, sentir-se-ão desajustadas e clama¬rão contra a impossibilidade de pôr em prática, em tais condições, os métodos aprimorados de trabalho que adquiriram. Sentir-se-ão como operários liliputia-nos a retocar o palácio de Gulliver. Entretanto, como exemplificação e experiência úteis a ambas as partes, os artífices do retoque especializado serão forçados a intercambiar valores com as almas a cujo encargo esteve entregue o trabalho penoso de consolidar a argamassa dos sentimentos de amor fraterno, na for¬mação do povo brasileiro.
Coração e intelecto ver-se-ão impelidos a uma colaboração estreita. A técnica será levada a estender seu manto protetor sobre a obra de amparo ao coração aflito da humanidade terrena.


PERGUNTA — Poderemos então considerar tem¬porariamente confirmada a nossa observação ante¬rior?
RAMATIS — Vossa observação é a constatação exata de uma situação passageira. Viveis no momento em que a dosagem de valores eminentemente intelec¬tualizados começa a ser administrada à aura psicoló¬gica do povo brasileiro, após ter sido testado em sua capacidade de resistência ao vírus do orgulho e da vaidade.
O conjunto de almas que vêm encarnando no Brasil desde seus primórdios submeteu-se a um teste do difícil aplicação — a construção de um povo dentro dos princípios da humildade e da caridade cristãs. Hofre o peso da crítica mordaz das "almas evoluídas" do plano material, carregando a cruz característica dos pequenos da Terra. Os olhos humildes da mãe-preta voltados para a tarefa ingrata do serviço sem recompensas, a alma mortificada do indígena escor¬raçado, o espírito inseguro do português expatriado e a instabilidade indefinível do mestiço pairam na tra¬dição espiritual do povo brasileiro, pesando definiti¬vamente em sua formação psicológica. Para essa alma coletiva, assim provada no sofrimento dos párias da sociedade terrestre, chegará o tempo de auferir os benefícios materiais sem grande desvio do rumo ini¬cial.
Os espíritos encarnados com a missão de lançar as bases da nova nacionalidade cumpriram sua etapa e poderão receber em seu seio aqueles que, provenien¬tes de uma formação espiritual intelectualizada e dedicados com afinco aos padrões do progresso mate-rial, fornecerão os valores que veiculam em troca dos que lhes escasseiam.
O entrosamento que já se efetua entre esses dois tipos de alma originárias das raças mais afins às suas respectivas índoles, intensificar-se-á com o tempo e cumprida será a previsão do "paraíso terrestre" capaz de agasalhar as aflições de todo o globo terráqueo.






























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Lutas de formação


PERGUNTA — Continuando a examinar paralela¬mente os aspectos materiais e espirituais da prepara¬ção psicológica do nosso povo, desejaríamos analisar convosco as suas lutas de formação como o "eco espiri¬tual" ou mesmo de "bastidores" do desenvolvimento histórico.
RAMATIS — Organizamos as elucidações conti¬das nos capítulos desta obra de forma a conduzir vossos raciocínios naturalmente, tendo como ponto de partida os acontecimentos do mundo físico, cujo relato já vos é de certo modo familiar. Não podemos, porém, deixar de esclarecer-vos sobre a primazia que deve ser atribuída ao entrelaçamento de fatos sucedidos no Espaço, cujo valor não será menos concreto por não serem assinalados através dos sentidos físicos.
Consideramos adequada a imagem dos "bastido¬res" para classificar o âmbito espiritual, cenário das elucubrações provocadoras do desenrolar cotidiano na "boca de cena" do plano material. Realmente, o autor, o diretor de cena e os atores não alcançarão seu obje¬tivo sem antes se entregarem a um cuidadoso trabalho de bastidores. É aí que se inicia a peça no que tem de mais importante, pois seu êxito ou fracasso ficará condicionado à inspiração do autor, à firmeza da direcão nos ensaios e à escolha dos atores para cada um dos papéis da obra.


PERGUNTA — Poderíamos então considerar certos empreendimentos históricos fracassados como poças mal preparadas nos bastidores?
RAMATIS — O trabalho da Espiritualidade é um esforço de equipe. À semelhança do que sucede no âmbito terrestre, as incumbências são distribuídas, tendo em vista a descentralização capaz de fornecer a cada espírito os meios de exercitar suas aptidões.
Desta forma, só as deliberações de importância capital não permitem deslizes, estando esse setor afê-lo a espíritos de mais alta hierarquia. Eles, como supervisores de uma grande companhia composta de diversos elencos, traçam os planos gerais de ação, entregando aos de capacidade menos ampla a direção dos trabalhos junto aos atores.
Entretanto, como todos os espíritos de aptidões artísticas deverão exercitá-las, nem só os elementos de cúpula recebem papéis a desempenhar e pode suce¬der que haja cenas ou mesmo peças inteiras que não consigam agradar.


PERGUNTA — Desculpai-nos a curiosidade, mas a comparação adotada suscitou-nos uma série de in¬terrogações. Pedimos que nos perdoeis se ultrapassa¬rem o âmbito deste trabalho ou do objetivo deste capítulo. Desejaríamos saber se poderiam os "direto¬res de cena" na Espiritualidade ensaiar peças medío¬cres. Compreendemos que, por motivos vários, isso suceda entre nós; porém, julgamos os orientadores espirituais isentos dessas falhas tão comuns à huma¬nidade encarnada.
RAMATIS — Estamos ao vosso dispor para o diálogo que nos propusemos sustentar e não cremos Cora do âmbito de nosso trabalho uma pergunta en¬cadeada ao assunto, mesmo que não represente a parte principal das considerações que desejamos tecer
Na Espiritualidade também existem experimen¬tações e são recebidas de braços abertos todos os colaboradores de boa-vontade.
Qual a causa de se encenarem peças medíocres? Excetuando o interesse comercial que não poderia vigorar no âmbito do espírito, a resposta encontra-se na impossibilidade de autores, diretores de cena e atores executarem trabalhos num grau de perfeição além de suas habilidades. Essa perfeição, não a atin¬gem os espíritos da noite para o dia, no simples gesto de se dedicarem com amor ao serviço do Bem. Há necessidade de treinamento, até que se faça mais aprimorada sua colaboração. Existe largueza de ação suficiente para corrigir oportunamente os enganos, repondo em seus devidos lugares o entendimento e a ação menos adequada de cada qual. Mas, temporaria¬mente, será insuperável a imperfeição dos planeja-mentos e da execução no cenário das tarefas humanas.


PERGUNTA — Podemos então concluir que os espíritos que orientam os acontecimentos no âmbito terreno estejam sujeitos às mesmas falhas apresenta¬das por nossa humanidade encarnada?
RAMATIS — Não podemos ir tão longe. Prepon-dera entre a maioria, no plano material, a cegueira que atua sem orientação firme, como se estivesse em cena um elenco numeroso, no qual somente alguns atores dispusessem realmente de dotes artísticos, sen¬do os outros capazes de esquecer seus papéis e pertur¬bar o desenrolar do espetáculo. Entretanto, os que permanecem nos bastidores contam com uma cota mais ampla de fidelidade aos objetivos visados, man¬tendo-se mais conscientes da situação, por razões ób¬vias. Os planejamentos só são entregues aos que pos¬suem uma capacidade mínima indispensável. Por con¬seguinte, mesmo que o espetáculo não esteja destina¬do a um. sucesso estrondoso devido à habilidade medi¬ana de seus planejadores, esses permanecerão sufici¬entemente lúcidos para discernir qual a orientação aconselhável a cada ator.


PERGUNTA — Gostaríamos de saber se tendes .il|;o em especial a relatar sobre as lutas de formação do povo brasileiro, no âmbito da Espiritualidade.
RAMATIS — Parece-nos ver ainda o gesto sereno <• amoroso do Mestre quando, após examinar em mai¬ores detalhes as possibilidades de âmbito material da l.erra brasileira, abençoando-a em sua exuberância r.enerosa, deteve-se em ligeira concentração. Sua aten-V.H> voltou-se então para a imagem dos verdes campos onde outrora apascentara tantas ovelhas — a terra de Israel. E, como atendendo ao Seu chamado, destacou-se dentre numeroso rebanho uma das almas que ama¬ra verdadeiramente Seus ensinos e seria capaz de, por sua vez, tornar-se o pastor, o guardião do novo aprisco n se formar.
O eleito sentiu-se renovado em seus sentimentos de humildade e, como o pegureiro repentinamente guindado à situação de condutor e administrador de rebanhos, invocou sua condição ainda tão distanciada do Modelo que se gravara em sua retina espiritual.
O Mestre porém afirmou-lhe que Sua missão con¬sistia em formar novos condutores de almas para garantia da expansão dos sagrados princípios do Amor Crístico. Afiançou-lhe que, como Seu emissário, seria sustentado pelo envolvimento do próprio Amor, que estaria encarregado de pregar por nobres exemplos de l.rabalho e dedicação. Ser-lhe-ia o Amigo e Consultor nos momentos trevosos, pois a Luz teria que se entre¬gar a longos embates antes de conseguir implantar-se altaneira e sublime. O servo, possuidor dos requisitos indispensáveis à tarefa redentora para a Humanida¬de, também colheria novas luzes para seu espírito, na batalha em prol do bem coletivo.
Diante de tais arrazoados, característicos em si¬tuações idênticas, Mestre e discípulos encontram-se envoltos em reconfortante ligação magnética de sintonia com as forças superiores a impulsionar uma nova aquisição na luta gloriosa para o revigoramento espiritual do planeta.
E como tais acontecimentos têm o condão de despertar imediato amor pelas tarefas programadas, dispersou-se a assembléia para a investigação dos princípios em que se basearia a nova ofensiva da Luz em socorro à treva.


PERGUNTA — Podereis dizer-nos algo mais a respeito deste "anjo" em cujas mãos entregou o Senhor os destinos do Brasil?
RAMATIS — Melhor faríeis se o designásseis pela palavra "espírito", pois como tantos outros não deseja contribuir, nem de leve, para alimentar a dife¬renciação entre os seres criados.
Habituai-vos a considerar os líderes como almas submetidas a severa provação, cujo "sim" ou "não" pode gerar o conforto ou o mal-estar de um sem-número de irmãos seus. Embora sejam sempre credo¬res de uma assistência proporcional ao empreendi¬mento que lhes foi entregue, nem por isso encontram-se isentas das duras penas da decisão, onerada de graves responsabilidades.
Envidai esforços a fim de evitar a tendência, muito comum aos seres liderados, de se transforma¬rem em carga amorfa, incapaz de maior parcela de colaboração. A Humanidade caminha para sendas cada vez mais amplas, nas quais os líderes se irão multipli¬cando, extraídos da própria massa antes desprovida de qualquer possibilidade autodiretiva.
Sendo, pois, líderes em potencial, estudai desde já, sob seu aspecto verdadeiro, os problemas dos con¬dutores. São almas provadas, submetidas a experiên¬cias cada vez mais aprimoradas. Todas, porém, so¬frem, em maior ou menor grau, as agruras do teste psicológico em que a liderança sempre se constitui.


PERGUNTA — Houve alguma programação es¬pecial para a nova nacionalidade que surgiria?
RAMATIS — Há muitos milênios, o povo hebreu, embora conhecedor das verdades eternas, desviou-se, por motivos vários, de seu caminho como missionário do Bem. Levado pela vaidade e pelo orgulho, impressionou-se excessivamente com a própria missão, jul¬gando-se privilegiado. Foi quando o domínio egípcio fê-lo curvar-se à escravidão. O sofrimento abateu-se sobre aquela raça vigorosa, cujos sonhos passaram a concentrar-se na "terra prometida", onde lhe seria possível cumprir a gloriosa tarefa que lhe fora desti¬nada. Era preciso que se reagrupasse para consolidar o ambiente propício ao advento do Messias.
Enfrentando lutas inenarráveis, deslocou-se a massa humana através das mais cruentas situações para atingir o seu objetivo. Entretanto, apesar de todo o denodo de que deram prova, viram-se os hebreus vitimados pela exacerbação do seu valor e, novamente derrotado pelo orgulho, deixaram que se lhes escoasse das mãos a oportunidade de se mostrarem à altura da incumbência recebida do Alto. Como eternos frustra¬dos, buscam através das eras o bem que não souberam identificar.
Atualmente, vive a Humanidade uma situação semelhante. Não mais se trata do povo de Israel, mas dela própria, que sofre por haver hipertrofiado o orgu¬lho, desbaratando os valores que lhe foram confiados. A civilização cristã entronizou-se no altar dos missionários e não se constrange em cultivar os senti¬mentos de uma falsa superioridade sobre o semelhan¬te, afastando-se cada vez mais da verdadeira frater¬nidade. Tornou-se então escrava, dispersa na confu¬são do materialismo e longas batalhas e áridos deser¬tos terá que enfrentar, nos quais se repetirão os hor¬rores da fuga do Egito. Sob o guante do sofrimento, muita dor lhe será exigida para a quebra dos grilhões milenares. Muitos sucumbirão por não conseguirem forças para alcançar o local sonhado, pois durante o "cativeiro" entregavam-se à ociosidade dos próprios "senhores".
Como já podeis imaginar, os planos especiais traçados para a nacionalidade brasileira assemelham-se às ordenações preparadas com a finalidade de garan-tir a longa jornada em busca da "terra da promissão".
Nessa batalha sem sangue, do Bem contra o Mal, sucede, muitas vezes, que o Mal se destrói a si mesmo e o cenário conturbado de sua autodestruição, a derro¬cada dos falsos ídolos, mortos pela própria incapacida¬de de sustentarem-se, provocará no panorama um aspecto semelhante à noite negra do rompimento do cativeiro hebreu.
Todavia, é preciso esclarecer que os planejamen¬tos construtivos do Amor Crístico avançam dentro de princípios de pureza imaculada. A ruína e os destroços que restarão após essa nobre batalha serão causados pela inanidade dos processos negativos no anseio de subsistir. O "anjo" constrói ao lado do erro que desmo¬rona.
Ismael traçou os rumos da longa caminhada dos homens terrenos em busca de sua "terra prometida". Há quatro séculos a grande caravana se desloca peno¬samente. Entretanto, devido ao cuidadoso planeja¬mento inicial de seu condutor, chegará à meta na posse dos valores espirituais da humildade que não lhe permitirão desajustamentos deploráveis. E então o Messias poderá ser novamente ouvido sem ser imo¬lado, agregando-se ao povo herdeiro de Sua palavra todas as almas fatigadas, oriundas das estradas empoeiradas dos milênios de trevas.
E o sol de uma nova era brilhará sobre a Terra onde será ouvido um novo Sermão da Montanha, feito sem palavras, pois o século será de comprovação dos princípios lançados na antiga terra da promissão.*


* Durante a transcrição desse trecho, foi lançada diante do médium a imagem do planalto onde se localiza Brasília, com o Palácio da Alvorada, do qual ondas de luz de um novo Sol da Espiritualidade jorravam sobre a Humanidade.


PERGUNTA — A descrição dessa nova era nos empolga o espírito, fazendo-o vibrar de entusiasmo. Poderíeis tecer maiores comentários sobre ela?
RAMATIS — Sois contagiados pela vibração do Amor que então descerá sobre o planeta a "cobrir a multidão dos pecados" da sua humanidade. Já tendes cm vosso Palácio da Alvorada o simbolismo que iden¬tifica essa intuição perfeita do papel representado pelo Brasil no raiar da nova era. Do alto da montanha cm que se situa, rolarão os eflúvios constituídos pelo eco das palavras do Mestre há dois mil anos: — "Bem-aventurados os misericordiosos porque obterão mise¬ricórdia". E todos os que se dispuserem a cultivar sentimentos fraternos ingressarão no aconchego das almas evangelizadas.
Haverá, entretanto, os que se manterão à mar¬gem, surdos aos apelos, cujo tipo de freqüência mais sutil não estarão ainda aptos a registrar. Continuarão a procurar o seu "messias", um enviado que se coadune com seus anseios de vangloria.
Será a era das grandes e irrevogáveis definições. Os dúbios ver-se-ão forçados a tomar uma decisão e cada qual ouvirá o apelo que lhe for afim. Ou o século da Nova Era ou o início de uma era nova nos primórdios de uma civilização cujas etapas se desenrolarão na obscuridade de um planeta rudimentar.
E o pão de alguns será multiplicado novamente. A Terra, como que estremecida em seus alicerces, fecun¬dará o esforço miraculoso da coletividade brasileira, empolgada pelos sentimentos de fraternidade. E, onde o alimento hoje escasseia, surgirá um imenso caudal de fertilidade para erguer, sobre bases sólidas, o celei¬ro da humanidade ensandecida pela dor.
E assim como entre aqueles que foram à monta¬nha ouvir o Sermão multiplicaram-se os peixes, além do pão, alimento do corpo, as almas colhidas pela grande provação do milênio verão multiplicados os bens espirituais, dos quais o peixe é um símbolo.*


Ver Mensagens do Astral, obra de Ramatis, psicografada por Hercílio Mães.


Os brasileiros, à semelhança dos apóstolos, ini¬cialmente se afligirão diante da grande multidão a atender; porém, tocados pelo encantamento do Mes¬tre, tornar-se-ão novos bem-aventurados a distribuir os dons que revelarão a Sua divina presença.


PERGUNTA — Tem Ismael encontrado grandes obstáculos na formação do povo brasileiro?
RAMATIS — O trabalho de síntese, embora seja o mais compensador, por isso mesmo exige atividades de coordenação dirigidas a setores diversos, cuja harmonização requer esforços intérminos e cuidadosa execução. Aqueles que facilmente sintetizam em qual¬quer setor de atividades humanas apresentam, aos olhos de seus contemporâneos, o resultado de intensas fadigas suportadas em etapas anteriores de evolução. A síntese é o produto de infindáveis análises; eis por que se afirma que a simplicidade dos ensinamentos de Jesus revela alto teor de espiritualidade.
A interpretação dos diferentes recursos espiritu¬ais necessários à formação do povo brasileiro exige ainda, no presente, vigilância permanente por parte de seus orientadores.
Em virtude do ambiente heterogêneo em que sobrenada o psiquismo brasileiro, tem-se a impressão de uma fornalha, na qual são introduzidas peças de origens diversas, carregadas de imperfeições capazes de dar ao observador superficial a idéia de uma suca¬ta, valiosa apenas para o especialista na matéria.
O trabalho permanente dos responsáveis pela formação do povo brasileiro consiste em manter está¬vel a temperatura da fornalha, a fim de que não sejam solidificados os valores indesejáveis.
Aqueles que se propuseram transformar retalhos de maquinismos poderosos em uma nova máquina preciosa e, se possível, mais eficiente do que as origi¬nais das quais provieram as peças, devem exercer uma observância fiel de todos os princípios sadios capazes de levar a bom termo essa tarefa "sui-generis".
Novos processos de trabalho são improvisados. Após a elevação do calor a um grau adequado à fusão das substâncias valiosas, uma delicada engrenagem cncarrega-se de afastar as impurezas, para que os novos moldes recebam a matéria-prima liqüefeita, em estado de produzir peças de qualidade superior.
Como podeis imaginar, o trabalho de buscar ma-Léria-prima em origens diversas para adaptá-la a um novo tipo de produção implica em modificações radi¬cais no setor da formação espiritual.


PERGUNTA — Para nós, esse problema se limi¬taria à convocação dos elementos interessados aproveitáveis para a nova missão. Não alcançamos quais sejam esses problemas a que vos referis. Que nos
dizeis?
RAMATIS — Poderemos comparar a situação daqueles que orientam a preparação do Brasil para a missão que o espera, ao problema com que se defron¬taram os especialistas da radiofonia quando começa¬ram a vislumbrar a possibilidade de transmitir, si¬multaneamente, o som e a imagem para a televisão. O mecanismo baseava-se na transmissão de ondas pelo ar; porém uma variedade infinita de adaptações no controle dessas ondas exigia trabalhosas pesquisas e crescente aprimoramento da técnica.
Durante séculos, a civilização vem irradiando pensamentos relacionados com a Verdade, mas nunca se encorajou a representá-la ao vivo. Uma técnica especial precisaria ser desenvolvida, a fim de que essas verdades tomassem corpo e surgissem como mensagem viva aos olhos de todos no planeta. Uma equipe de técnicos foi então mobilizada para estudar os diversos ângulos da questão.
Em primeiro lugar, o material de que se dispunha precisaria ser renovado e, embora baseadas no mesmo princípio de transmissão, novas peças foram molda¬das utilizando-se o instrumental disponível. Sobre um "chassi" semelhante ao do rádio, foi montada a engre¬nagem capaz de projetar a distância imagens convin¬centes. Para essa transmissão, o "faz de conta" não pode preponderar e mais habilidade artística é exigida de todos os componentes da representação. E tão empenhados deverão estar todos em levar a sério o espe¬táculo, que serão forçados a viver seus papéis com verdadeira convicção, identificando-se com eles. Pode¬rão dessa forma contagiar os espectadores, impulsio¬nando-os através da sugestão de idéias benfeitoras para toda a Humanidade, tal como sucede hoje em dia aos telespectadores que, atentos diante do vídeo, aca¬bam, sem sentir, sutilmente sugestionados pela mai¬oria das idéias projetadas em seus aparelhos.
Em se tratando de cenas que despertem realmen¬te o interesse coletivo, podemos imaginar a repercus¬são profunda exercida por esse meio de comunicação.
Assim, almas que já trazem inerentes verdadei¬ros sentimentos de boa-vontade foram recrutadas como artistas aptos a representar "ao vivo" as mensagens do Bem diante da Humanidade. Todavia, para preparar-lhes a admissão no cenário da Terra foi necessária intensa vigília espiritual por parte dos encarregados da projeção do Brasil no cenário mundial. Uma intrincada técnica de transmissão e recepção foi apri¬morada, a fim de introduzir os princípios da Espiritualidade nos bastidores do cenário em evidên¬cia.


PERGUNTA — Gostaríamos, se possível, de co¬nhecer, em maiores detalhes, essa "técnica aprimora¬da de transmissão e recepção a fim de introduzir os princípios de Espiritualidade" na terra brasileira.
RAMATIS — Sempre que desejamos transmitir pensamentos relacionados com a Espiritualidade, para que possam ser mais bem assimilados pelos nossos irmãos encarnados, lançamos mão de comparações que estabeleçam a semelhança, facilitando-lhes assim a compreensão quanto ao critério peculiar de conside¬rarmos os fatos "do lado de cá".
Como já dissemos antes, a missão reservada ao povo brasileiro, no âmbito terrestre, apresenta uma característica especial que pode ser comparada à situ¬ação em que se encontravam os homens ao passar da radiofonia para o processo aperfeiçoado da transmis¬são e recepção da imagem.
Para maior esclarecimento, devemos recordar que iimbos esses processos de comunicação a distância baseiam-se no fenômeno, atualmente tão divulgado, ila transmissão de ondas sonoras e sinais eletrônicos da imagem sobre ondas elétricas irradiadas através dum transmissor de freqüência mais ou menos inten¬sa, de acordo com a finalidade a que se destina.
A Humanidade, desde as mais remotas eras, co¬nhece o poder da palavra e vem utilizando esse dom com a finalidade de disseminar as mais diversas for¬mas de pensamento. Podemos então comparar as on¬das elétricas, emitidas com freqüências diversas, ao poder de expansão que possui a alma humana, essa força íntima que a faz buscar as mais diversas formas de evolução. Sobre essa base vêm sendo lançadas as mais díspares doutrinas, comparáveis às idéias veicu¬ladas pelas ondas sonoras da radiofonia. Educando ou retardando o progresso o homem vem, há séculos, exercendo o poder de convicção da palavra, como quem brinca de experimentar uma força que o inebria, sem, na maior parte das vezes, discernir sobre a responsa¬bilidade que tal força de persuasão lhe traz.
E todos os povos chamados cristãos vêm procu¬rando divulgar pela palavra, porém muito pouco pela ação, os princípios do Evangelho.
Cada nacionalidade tomou a si o dever de irradiar a sua volta esses princípios, embora na prática várias razões fossem alegadas para impossibilitar sua execu¬ção fiel.
Era a radiofonia sem imagens, sem atos comprobatórios. Desligava-se o rádio e a memória das palavras era quase totalmente amortecida, quando a vida real agitada exigia atuação eficaz junto aos pro¬blemas absorventes do dia. O ouvido calejava e habi¬tuava-se a absorver a parcela conveniente dos ensinamentos transmitidos pela força limitada de con-vicção que o som por si só possui. Os próprios atores das peças aí encenadas sentiam dificuldade de externar-se com maior autenticidade, num ambiente em que só o som é realidade e no qual os "truques" da sonoplastia substituem com vantagens os dispendiosos cenários e vestuários.
Desse modo a civilização acostumou-se a um ver¬niz de Cristianismo mas nunca rompeu, a não ser em casos isolados, a dura crosta do egocentrismo para pôr em prática aquilo que pregava.
Porém o progresso proporciona inevitáveis aper¬feiçoamentos e surgiu o momento em que os estudiosos dos problemas angustiosos da Humanidade viram abrir-se um novo campo de ação dentro do seu próprio setor de trabalho. Muitas almas insatisfeitas lutavam nos "laboratórios de pesquisas" para que a capacidade de expansão das verdades evangélicas fosse aumenta¬da e pudessem elas ser "verdade e vida". Os corações de "boa-vontade" foram aumentando em número atra¬vés das longas etapas da evolução humana.
Um verdadeiro "elenco" de almas capazes de re¬presentar ao vivo, de forma mais constante e perfeita as verdades eternas, foi sendo formado e o amadureci¬mento espiritual de uma parcela das criaturas huma¬nas permitiu o aproveitamento sempre oportuno de mais uma nuance do progresso. Os meios sempre são proporcionados para a expansão de uma etapa a mais alcançada na evolução.
Essas almas, ansiosas pela implantação do reino do Senhor na Terra, receberam a incumbência de montar a engrenagem capaz de fornecer um testemu¬nho concreto dos princípios evangélicos na Terra do Cruzeiro.


PERGUNTA — Poderíeis fornecer maiores deta¬lhes sobre essa modificação no processo de expandir o Cristianismo?
RAMATIS — Para a representação "ao vivo" das verdades evangélicas houve necessidade de pesquisar as formas mais adequadas de lançar, sobre o impulso do progresso humano, como sobre a onda elétrica emitida no ar, os "sinais" capazes de produzir as "imagens luminosas" de uma atuação convincente.
Nos primeiros momentos da colonização brasilei-i-;i u matéria-prima existente constava de um "chassi" mais amplo, no qual se começaria a "montar a engre¬nagem nova". Os bons "pesquisadores de laboratório", cm que os defensores da nova nacionalidade se consti¬tuíram no Espaço, propuseram-se à tarefa de iniciar a "montagem do aparelho" que renovaria os princípios da "radiofonia" com resultados imprevisíveis. Essa predisposição consolidou-se através do esforço dos jesuítas para integrar o silvícola de forma atuante na sociedade em formação e na ausência de barreiras racistas por parte dos colonizadores.
E sobre a Terra, como dentro de um estúdio, começou a ser encenada a representação de uma nova Case do Amor Evangélico.
Para que a "imagem luminosa" fosse acrescenta¬da à onda sonora em um novo tipo de transmissão, uma intrincada engrenagem redutora de ondas come¬çou a ser articulada. E nas experiências árduas do Amor Cristão a força nova de um sem-número de "válvulas" foi acrescentada para chegar, enfim, a lan¬çar-se, como verdade e vida, na imagem projetada com a inegável clareza de uma exemplificação cristã admi¬rável!


PERGUNTA — Como podemos compreender melhor essa "engrenagem seletora de ondas" a que vos referis?
RAMATIS — O trabalho do Amor exige uma acuidade psicológica resultante de longo aprendizado i H) trabalho de comparar e discernir valores os mais diversos.
Quanto maior for essa acuidade, maiores serão as possibilidades do espírito para exemplificar as verda¬des eternas.
As lutas proporcionam à alma uma força renova¬da, como se as diferentes ocasiões em que esteve (orçada a encontrar soluções adequadas para os pro¬blemas fossem momentos em que se acrescentassem novas válvulas, sob o efeito de cujo funcionamento "uma amplificação de sinal" fosse proporcionada ao conjunto de suas energias espirituais.
A "transmissão" dos valores movimentados pelo espírito é aprimorada, robustecida pelo acréscimo de situações bem orientadas, como se adicionasse novos elementos: válvulas, resistências, condensadores etc., no intuito de amplificar a voltagem, proporcionando ao seu aparelho a engrenagem receptora-transmissora das forças superiores.
Só um mecanismo assim preparado poderá cap¬tar e selecionar os sinais magnéticos especializados dando-lhes o emprego adequado.
Através das múltiplas experiências vividas ao contato de elementos aparentemente inconciliáveis a alma coletiva brasileira foi constrangida a desenvol¬ver uma capacidade ainda desconhecida na Terra: a mansidão e a humildade cristãs como força preponde¬rante na área nacional.
Essa vibração revela uma alta-tensão espiritual, capaz de desempenhar no panorama da vida material o papel do feixe eletrônico que varre a tela numa sintonia perfeita, possibilitando a projeção fiel da imagem.
A obtenção do fenômeno da projeção da imagem representa a capacidade de selecionar, através de elementos do mecanismo transmissor-receptor, o tipo de onda magnética adequada a cada finalidade, sendo essa aptidão o resultado de despertar de um mecanis¬mo psíquico sutil, porém exato em seu funcionamento.
Ao contato do intrincado panorama psicológico implantado na Terra do Cruzeiro as almas que labu-tam em seu ambiente são testadas na capacidade de se ajustarem à produção de um fenômeno "sui-generis", ainda não apreciado pela maioria dos povos. O mo¬mento espiritual que viveis compara-se àquele em que se ouvia falar da possibilidade de serem lançadas imagens pelo ar, embora para a maioria isso constitu¬ísse ainda um fato de concretização remota.
Quando algumas vozes se levantam para anun-ci;ir diante da humanidade encarnada os efeitos que serão obtidos com as experiências inéditas que se realizam na Pátria Brasileira, as almas céticas reco¬lhem-se à atitude mental de desconfiança, atribuindo talvez a esses arautos da Nova Era uma parcela con¬siderável de sensacionalismo.
Porém, os grandes movimentos renovadores so¬freram sempre esse assédio do descrédito e até mesmo da zombaria, pela audácia que caracteriza tudo aquilo que tende a renovar os rumos da vida no planeta.
Por isso suportaremos, nós também, com absolu¬ta tranqüilidade esses ataques, vendo neles mesmos a maior prova da veracidade do que afirmamos, pois é uma característica de autenticidade de uma idéia re¬novadora ser vituperada pelos que se sentirão prejudi¬cados com a nova ordem a ser implantada.
A esses desejamos afirmar que ainda é tempo de aderir aos novos moldes da vida que vigorarão no planeta após a queda dos falsos valores do orgulho e da vaidade.
O Sol continua a nascer todos os dias possibili¬tando a obtenção de novas aptidões para o progresso.
O cuidado da Espiritualidade, pois, com relação às lutas de formação do povo brasileiro, tem sido introduzir maior soma de valores que, embora hetero¬gêneos, permitam um efeito harmonioso para o objeti¬vo final a que se destinam. Vêm sendo trabalhados, de forma gradativa, elementos ainda não apreciados de¬vidamente, como se os povos contemporâneos fossem testemunhas oculares do serviço de oficina que se efetuou para o primeiro televisor montado e que sérias dúvidas deve ter lançado aos leigos que presenciaram sua confecção.
As raças negra, portuguesa e indígena, acrescen¬tadas de todas as outras que contribuem para a forma¬ção do povo brasileiro, veiculam valores movimenta¬dos por espíritos incumbidos de consolidar uma expe¬riência que resultará na coordenação de todo esse emaranhado de "fios, placas, parafusos, vidros" apa¬rentemente em confusão, para projetar na atmosfera espiritual do planeta as imagens vivas do que pode ser obtido por efeito de uma coordenação irrestrita de esforços com vistas à evolução.
































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Amálgama espiritual


PERGUNTA — Finalizando a primeira parte desta Obra, que se refere à preparação psicológica do povo brasileiro para a sua missão, como poderemos apreci¬ar melhor os conceitos que desejais transmitir sob o título de "Amálgama espiritual"?
RAMATIS — Tornar-se-á simples a nossa troca de impressões se bem definirmos primeiro o que seja um amálgama. Consiste numa liga de mercúrio com outro metal e tem utilidades diversas.
Não apresenta aspecto atraente, nem desperta a cobiça dos menos avisados. Trabalha para exercer funções obscuras como a de permanecer na parte ocul¬ta da face do espelho, garantindo a reflexão da imagem no lado julgado "útil". Representa a associação em seu valor de conjunto, a capacidade de "ligar-se" para melhor servir. Faz o panegírico do serviço obscuro, quando é associado ao minério triturado da prata para depois entregá-la pura a quem desejar. É, enfim, um símbolo do trabalho associativo e modesto, capaz de ser útil sem sobressair.
O mercúrio, sobre cujas virtudes repousam as possibilidades do amálgama, é o único metal líquido à temperatura normal. Transferindo para o plano das nossas considerações os aspectos analisados, encon¬traremos no ambiente espiritual brasileiro uma vibracão associativa, cujas características recordam os méritos apreciáveis do benfazejo amálgama. Pode-se dizer que é o único povo cuja aura encontra-se aberta às vibrações de uma sintonia fraterna irrestrita, qua¬lificando-se como uma coletividade tão estranha entre as outras, como o mercúrio entre os metais.


PERGUNTA — Como poderíamos compreender melhor essa característica e suas conseqüências?
RAMATIS — Acompanhando o desenvolvimento psicológico do povo brasileiro, compreendemos o pro¬cesso pelo qual funciona essa capacidade que age à semelhança do processo utilizado para retirar a prata do minério-bruto triturado, com o auxílio do mercúrio. Às terras brasileiras vêm os mais preciosos valores, envoltos, no entanto, pelos detritos de milenar incom¬preensão humana; lançados na engrenagem da vida brasileira sentem-se triturados por uma força podero¬sa e avassaladora inexistente nos ambientes de ori¬gem. É a fase ciclópica do esmagamento dos valores individuais no mecanismo grandioso de um povo em formação. Os estrangeiros, oriundos de nações secula¬res em suas instituições, sofrem enorme necessidade de reajustamento psicológico ao ingressarem no pano¬rama nacional brasileiro.
Porém, após o trituramento da adaptação ao me¬canismo do colosso, parece que os padrões de avaliação trazidos ressurgem sob novo aspecto e a alma liga-se a uma interpretação estranha, desconhecida até en¬tão. É o período de ajustamento dos valores importa¬dos, quando já não pertencem integralmente a sua origem, mas, também, não se sentem à vontade no ambiente novo.
Parece que a prata preciosa desses valores im¬portados encontra-se degradada.




PERGUNTA — Como identificar melhor essa fase?
RAMATIS — Para vós será simples fazê-lo, pois encontrai-vos em plena expansão do período de amálgama espiritual, no qual todas as concepções de progresso adquiridas parecem dissolvidas, submersas, obscurecidas, provocando um geral pessimismo em relação ao futuro.


PERGUNTA — Haverá transição próxima ou remota?
RAMATIS — Como existe um planejamento a ser cumprido antes de serem atingidos os objetivos, os c feitos só se farão notar quando a transição houver alcançado volume significativo. Os valores importa¬dos e incorporados à nacionalidade brasileira encon¬tram-se dispersos como se fizessem parte do minério triturado, aparentemente inútil e destruído. Real-mente esses valores destacados de seu hábitat perdem o poder de expressão, fracionados e dispersos numa coletividade estranha. Porém, é justamente essa situ¬ação de fracionamento que permite que se "ligue" à aura característica do povo brasileiro, formando com ela o amálgama necessário. Por haverem sofrido a trituração dentro da nova coletividade, essas concep¬ções novas importadas conseguirão libertar-se da "ganga" que traziam consigo; sob o efeito da "pren¬sagem" que sofrerão no grande mecanismo da forma¬ção psicológica brasileira, separar-se-ão de seus pró¬prios detritos, constituídos por reflexos condicionados indesejáveis. Reconhecido o processo de sua liberação, a grande acuidade psicológica cristã desenvolvida na alma do povo brasileiro será volatizada ao calor da provação coletiva do planeta, para cumprir sua função de Amor, contando com o metal puro dos valores intro¬duzidos em seu âmbito de ação pela farta contribuição arrecadada em vários pontos do orbe.
E a Humanidade herdará seus próprios patrimô¬nios através da função modesta do povo brasileiro, cuja missão consiste em retirar, do minério bruto da civilização materialista, os metais preciosos indispen¬sáveis à valorização da vida, numa era capaz de cons¬truir alicerces novos para uma existência mais feliz.


PERGUNTA — Seguindo o rumo dessas compa¬rações, gostaríamos de saber que será feito desses metais preciosos, da "ganga" e do mercúrio após o processo de amalgamação a que vos referistes.
RAMATIS — A resposta seria curta se dissésse¬mos que cada qual seguirá o destino que lhe cabe: a "ganga" das incompreensões alimentadas durante sé¬culos pelas coletividades terrestres, dissolvida pela força restauradora de uma nova interpretação da vida; os "metais preciosos" servindo de esteio às novas cons¬truções do espírito sobre a Terra e o "mercúrio" da boa-vontade, já em fase de maior disseminação sobre o planeta, a proporcionar a constante libertação dos valores preciosos para a consolidação do "reino do Senhor" entre os homens.
Entretanto, por trás de tão singelas afirmações, surge um panorama que não nos seria possível anali¬sar de uma só vez.


PERGUNTA — Para termos uma idéia aproxi¬mada dos acontecimentos subseqüentes à grande amal¬gamação a se processar entre nós, poderíeis, por exem¬plo, exemplificar-nos que será feito da "ganga" das incompreensões humanas em nossa Pátria?
RAMATIS — Como em todos os outros trabalhos nos quais nos temos referido a essa fase do expurgo coletivo da Humanidade, podemos afirmar que a "ganga" miúda poderá dissolver-se, permanecendo misturada ao solo, de maneira inócua. Entretanto as "pedras" que puderem estorvar o caminho serão reco¬lhidas ao depósito para futuro aproveitamento.
Assim, podemos concluir que o ambiente terreno permanecerá ainda por tempo indeterminado, sobre¬carregado das incompreensões de menor porte, haven¬do porém a vantagem de uma seleção em grande esca¬la, como se através de uma peneira só a areia houvesse conseguido passar.
As pedras maiores, porém, em seu primitivismo, não deixarão de encontrar uma aplicação adequada, pois serão necessárias à riqueza de novas civilizações onde o concurso da força bruta ainda é uma forma adequada de expressão.
Nos mundos inferiores, onde os representantes dessa "ganga" da incompreensão em alta escala serão acolhidos, constituirão uma quantidade a mais de argamassa nos alicerces rudimentares de futuras cons¬truções do espírito.


PERGUNTA — Como interpretar a função dos metais preciosos existentes em dispersão na aura bra¬sileira quando chegar o momento das novas realiza¬ções?
RAMATIS — Esses serão atraídos, como por um ímã, para os locais onde as forças positivas do Amor fraterno construírem núcleos de arregimentação para o Bem. Sobre a Terra o problema crucial consiste na liderança, desajustada de seus verdadeiros fins. Quan¬do, por força das circunstâncias, o sistema negativo de chefia cair por terra, aos brandos e pacíficos será entregue o comando da operação-socorro e, mesmo as almas antes ofuscadas pelos valores efêmeros do ma-terialismo, passarão a sentir a premência de uma renovação nos seus processos de trabalho. A queda dos falsos ídolos imprimirá em suas almas o terror da destruição total e, em tal emergência, buscarão instin¬tivamente os núcleos irradiantes dos valores que lhes parecerão novos, embora venham sendo pregados há milênios por todos os emissários do Senhor. Ao obser¬vador capaz de conservar serenidade em tais eventos será dada a impressão de que tais almas despertam de um grande sono hipnótico provocado pelo magnetismo elementar dos prazeres imediatos. Diante de tais su¬cessos não haverá tempo nem vontade de cultivar ainda a vaidade, o amor-próprio, o orgulho; a indocili-dade primitiva será sustada pelo choque emocional de uma evidência sem precedentes na qual se cumprirá a afirmação evangélica: "bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados".


PERGUNTA — Parece-nos um pouco problemá¬tico o aproveitamento de valores positivos veiculados por almas assim traumatizadas nos eventos apocalíp¬ticos. A nosso ver tornar-se-ão tão submersos no horror de uma transformação inesperada, que pouco po¬derão servir aos impositivos do Bem.
RAMATIS — Consideramos bem fundamentada a observação, porém o que afirmamos anteriormente é que serão "atraídas e aproveitadas pela liderança dos núcleos de espiritualização do planeta". Na realidade, a derrocada dos princípios considerados como esteios da civilização há de traumatizar profundamente as almas que neles se tenham apoiado de forma incondi¬cional. Nessas circunstâncias ver-se-ão temporaria¬mente sem direção. Como destroços úteis de um nau¬frágio, serão recolhidas ao bojo da nave capaz de resistir às grandes tempestades no oceano largo, in¬corporando-se ao acervo produtivo dos construtores da nova civilização. Atônitas, por muito tempo ainda sofrerão um reajuste gradual de valores, porém a evidência indiscutível da renovação geral do planeta falará sem palavras da impossibilidade de continuar a vigorar a antiga concepção de vida.


PERGUNTA — Haverá possibilidade de evitar ou atenuar as conseqüências penosas dessa provação coletiva?
RAMATIS — Em virtude de o processo já estar em andamento, não cremos possível sustar seu desen¬rolar. Atenuá-lo será possível na proporção em que cada qual se convencer da necessidade de modificar as próprias concepções. Porém, a medida dessa possibili¬dade poderá ser tomada diretamente por vós, exami¬nando o grau de penetração que os conceitos espiritu¬ais alcançam entre os homens no momento atual.
Somos daqueles que estimulam incondicional¬mente o Bem onde quer que ele surja. Entretanto, reconhecemos como são elementares, ainda, os recur¬sos com que contamos para realizar tais propósitos.
Nossos insistentes apelos à humanidade encar¬nada nada mais representam do que esse desejo de alertar a tempo os espíritos envoltos no processo de "grande amalgamação" inevitável, para tentar amor¬tecer o choque da perplexidade geral em que se verão mergulhados. De alguma forma nos vemos compensa¬dos em nossos esforços, pois abrimos horizontes mais claros àqueles que se predispõem ao Bem, por uma tendência já cultivada e que, entretanto, talvez se encontrassem desorientados se não lhes fossem pro¬porcionados elementos lógicos de reflexão espiritual. Porém, o fator decisivo capaz de atenuar as graves conseqüências de tais choques é a direção impressa ao livre-arbítrio, setor em que de nenhuma forma nos é permitido interferir.


PERGUNTA — Existirá alguma forma de cola¬borar num despertamento maior do espírito humano prestes a se envolver em tão graves acontecimentos?
RAMATIS — Para nós as providências se limi¬tam a influir através do psiquismo humano, transmi¬tindo-lhe mensagens, seja na vigília, seja nas horas de repouso físico. No entanto, para os espíritos encarna¬dos despertos a tempo com relação à realidade do momento, existem maiores possibilidades de influir diretamente sobre seu semelhante por um recurso sugestivo mais potente que o nosso: o exemplo. Bem podeis observar que em uma família a influência do exemplo arrasta seus componentes a uma conduta que, em linhas gerais, traduz uma direção idêntica. Se vários membros de um grupo resolvem conduzir-se em direção a um determinado alvo os outros serão arras¬tados a, pelo menos, meditar em torno do tema provo-cado. Assim, sois portadores de maiores qualificações, no momento, para influir atenuando possivelmente para mais alguns os choques de uma surpresa desa¬gradável.
Pregando pelo exemplo atingireis mesmo aqueles que não se abalariam nunca a meditar, de outra forma, sobre as normas de conduta desejáveis ao homem do terceiro milênio.
Esses espíritos não seriam capazes de crer se lhes afirmássemos que os "brandos e pacíficos herdarão a terra", em virtude do egocentrismo ainda constituir-lhes a única orientação adotada. Em conseqüência da miopia espiritual que os molesta, só serão capazes de sentir algum contato com os conceitos relacionados ao futuro se palpitarem cheios de vida ao alcance de seus olhos. Dessa forma, algum resultado pode ser obtido para o esclarecimento geral em maior escala. Se não forem observadas as modificações de vulto, pelo me¬nos a semente do Bem terá caído em terra estéril que talvez uma eventual chuva benfeitora possa a tempo fazer germinar.


PERGUNTA — Esse processo de amalgamação parece-nos um tanto penoso e prolongado. Não have¬ria outra forma de serem concretizados os planos da Espiritualidade com relação ao futuro que nos aguar¬da?
RAMATIS — A pergunta é bem oportuna para que se faça uma avaliação final dos acontecimentos.
Houve uma época na qual seria possível à Huma¬nidade realizar o seu sonho de liderança para a vitória do bem sem maiores sofrimentos. Todos os planos estavam encadeados para esse fim. Na Espiritualidade todas as falanges ligadas aos destinos da Terra reuni¬ram seus esforços preparando o advento da libertação cármica da humanidade encarnada. Para coroamento desses esforços de higienização espiritual do planeta, ou melhor, como centro de todas essas providências, baixava à Terra o Espírito Excelso de Jesus como força catalisadora capaz de congregar em torno de si os elementos formadores de uma redenção pacífica.
Como veículo das mais altas expressões da Espiri¬tualidade poderia constituir o núcleo indestrutível de uma combinação de valores decisivos para a transfor¬mação da vida sobre o planeta. Porém, para que essa combinação se desse, seria necessário que a Humani¬dade se submetesse, voluntariamente, a uma tempe¬ratura espiritual capaz de fundir sua constituição psíquica a ponto de libertá-la das impurezas e permi¬tir a sua solidificação em torno do núcleo imaculado dos princípios cristãos pregados por Jesus.
Tal empreendimento foi julgado pela maioria como absurdo e dessa forma escapou-se entre suas mãos a oportunidade de diminuir o tributo de suor e lágrimas a ser pago para a conquista da redenção.






































Segunda Parte

REALIZAÇÃO












































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Herança espiritual


PERGUNTA — Inicialmente, gostaríamos de saber a que altura do desenvolvimento histórico do Brasil poderíamos considerar iniciada a fase de "realização", a que a segunda parte desta obra se refere.
RAMATIS — Se desejarmos aprofundar nossas pesquisas, veremos que tudo começou a ser realizado naquele momento grandioso que a Bíblia refere: "no início era o Verbo" cujo poder, ultrapassando o enten¬dimento humano, aciona forças imponderáveis na pre¬paração do cenário por onde se desfiará o longo rosário das gerações sucessivas. Dessa forma deu-se a partida para o desfile de vivências, que se processariam atra¬vés dos milênios, numa realização contínua que, sob o ponto de vista espiritual, pode ser considerado um "moto-perpétuo".


PERGUNTA — Nesse imenso desfile de aconte¬cimentos, porém, como poderemos situar os fatos que serão analisados por nós?
RAMATIS — O momento histórico que deseja¬mos focalizar funciona como um núcleo de situações cujas origens e conseqüências podem ser visualizadas como raízes ou tentáculos a se estenderem em todas as direções. Seria como uma célula gigantesca formada pelo patrimônio histórico do Brasil, cujo núcleo repre¬sentado por um determinado momento a ser estudado lançaria em torno de si longas ramificações. Haveria algumas ligadas à própria formação geológica do pla¬neta, outras às migrações espirituais realizadas atra¬vés dos séculos, inclusive entre os planetas, às catás¬trofes que abalaram as civilizações, aos planos da Espiritualidade em relação ao futuro, enfim uma série interminável de ligações inevitáveis entre um fato qualquer e todos os elementos que contribuíram para que ele surgisse.


PERGUNTA — Já que fatores tão diversos influ¬íram na preparação dos eventos que serão analisados, seria talvez interessante comentar os de maior impor¬tância, não é verdade?
RAMATIS — Os elementos de maior importância podem ser enumerados como em duas linhas parale¬las. Os que se relacionam com a programação geral da evolução humana (determinismo) e os que dizem res¬peito aos fatos nos quais o homem influiu de maneira decisiva (livre-arbítrio). Entre os primeiros encon¬tram-se a formação geológica do planeta, que no caso inclui a situação geográfica do país, os cataclismos causadores de migrações e transformações geográfi¬cas, as migrações espirituais entre os diversos países e até mesmo entre a Terra e outros astros e, finalmen¬te, a progamação particular relacionada com a missão da coletividade em estudo.
Paralelamente, são considerados elementos de importância os eventos históricos, nos quais o homem funcionou como instrumento consciente do enca-deamento de fatos que, semelhantes a uma cadeia de elos interligados, foram plasmando situações básicas para os acontecimentos futuros. Entre estes citare¬mos, como elementos negativos, a escravização do homem pelo homem como fruto do orgulho e da vaida¬de e a sensualidade grosseira que afunda as civiliza¬ções na animalidade ociosa. Entretanto, através de todos esses obstáculos, filtrou-se a energia positiva da centelha divina do espírito humano, permitindo reali¬zações positivas como o surgimento do monoteísmo, do
Cristianismo, da Revolução Francesa, dos grandes descobrimentos, das grandes realizações científicas e do aperfeiçoamento intelectual do homem.


PERGUNTA — Como entender que as raízes ou tentáculos que se irradiam do núcleo de acontecimen¬tos históricos a serem estudados representem, ao mes¬mo tempo, origens e conseqüências?
RAMATIS — Toda célula possui um sistema de trocas característico dos seres vivos. Simbolizamos nas "raízes" os condutos responsáveis pela introdução dos elementos formadores das características pró¬prias do momento histórico a analisar e nos "tentácu¬los" os recursos de expansão dessa vitalidade acumu¬lada para cumprimento de sua missão junto ao meio ambiente.


PERGUNTA — Poderíamos receber maiores es¬clarecimentos?
RAMATIS — Pelos canais endógenos, que deno¬minamos antes "raízes", circula a força interior da célula absorvida das experiências multimilenares, constituídas por fatores os mais diversos. Esses fato¬res são como elementos componentes adicionados ao plasma para formar a corrente sangüínea sustentadora da vida.
Com o desenvolvimento surgem os canais exó-genos capazes de conduzir adequadamente o produto da nova célula, distribuindo-o para o cumprimento das missões que lhe estiverem reservadas.
Analisando os elementos formadores da força vi¬tal circulante nos canais endógenos, encontramos aque¬les pontos característicos de uma herança múltipla, desde os primórdios da formação do planeta, acumula¬da em seus pontos mais representativos.
Numa experiência como a que se processa no a mbiente brasileiro encontram-se, como num cadinho, pequenas ou grandes amostras de todos os fatores decisivos na formação da espécie humana como ser psíquico. Desde o elemento supercivilizado exilado de Capela até o rudimentar originário do planeta e todas as variações decorrentes dos experimentos causados pelas necessidades evolutivas do que se convencionou chamar a humanidade terrena.
Timidamente, à proporção que sua força interior permite, a célula do simbolismo que adotamos desen¬volve seus canais exógenos e os valores produzidos em seu interior começam a regurgitar nesses canais, pre¬nunciando distribuição de sua força vital concentra¬da.
E cumprindo de certa forma a afirmação de que os últimos serão os primeiros, surgirá o momento em que o Brasil, estuante de força regeneradora, estenderá seus tentáculos benfeitores para insuflar vitalidade nova em todas as direções.


PERGUNTA — Poderão essas afirmações ser incluídas no rol das profecias?
RAMATIS — A profecia em última análise é o resultado do bom-senso daqueles que, analisando com maior largueza de idéias, conseguiram estender a visão psíquica além do que a maioria seria capaz. Os espíritos encarnados ou desencarnados que foram ca¬pazes de profetizar eram seres dotados de uma apti¬dão incomum para pressentir o comum num âmbito maior de percepção.
Portanto não nos impressionaria o fato de ser ou não considerado o nosso estudo uma profecia. Para nós ele é simplesmente a análise de uma realidade insofismável. Como sempre acontece, os espíritos que se encontrarem na mesma faixa vibratória na qual nos situamos também serão capazes de receber com natu¬ralidade as nossas afirmações, sem identificarem ne¬las a mais leve sombra de sensacionalismo. Para eles como para nós a profecia é a visão comum do incomum — uma questão de extensão ou elasticidade. Quem se aprofunda em determinados assuntos torna-se capaz de perceber detalhes não captados pela maioria. Esta lei funciona na Terra como no Espaço.
Fomos recebidos com amor junto aos responsá¬veis pelos destinos da Terra Brasileira e nos empenhamos em estudar e divulgar os pontos principais da missão que lhe está reservada no panorama mundial. Não o fazemos por dever de qualquer espécie mas por entusiasmo e amor aos novos tempos que surgirão, plasmados pela coletividade inspirada de um messianismo cristão que fará época. Pedimos ao Se¬nhor o privilégio muito caro ao nosso espírito de par¬ticipar da maior odisséia já escrita com atos de bravu¬ra e amor. Ousaríamos, inclusive, colocá-la acima do surgimento memorável do Cristianismo pois o circo está agora suplantado em seus horrores pela provação apocalíptica do final dos tempos e as conseqüências de tal hecatombe serão comparáveis à aleluia sobre a Terra. Finalmente, a palavra mágica do Cristo será assimilada em espírito e verdade, e nem um só dos espíritos que participarem da reabilitação da Verdade será privado de sentir-se mergulhado em bem-aventuranças intraduzíveis.


PERGUNTA— O presente capítulo inicia-se com o subtítulo — "Herança espiritual". Que tendes a dizer-nos sobre isto?
RAMATIS — Bem pouco teríamos a dizer àque¬les que "sentem" as verdades eternas, pois estes já Cixeram da terra brasileira sua pátria eletiva e sabem por que motivos ouviram o chamado da Terra da Pro-missão. Entretanto, além da agradável troca de im¬pressões que nos seria permitido obter com eles, cum¬pre-nos o dever não menos agradável de esclarecer alguns pontos tendo em vista as almas de boa-vontade que ainda não estejam a par dos planejamentos da Kspiritualidade em relação a essa terra abençoada.
Procuraremos esclarecer os motivos pelos quais consideramos seja ela abençoada.
Bênção significa beneplácito, favor divino, se-i;undo o dicionário. Analisando o sentido real dessas bênçãos que pairam sobre a Terra Brasileira traduzi¬remos bênçãos por — trabalho produtivo no bem.


PERGUNTA — Seria possível analisar com mais detalhes essa herança espiritual?
RAMATIS — Considerando que herança é algu¬ma coisa que se recebe, podemos imaginar que em virtude das imperfeições humanas nem nossos pais que tiveram a ventura de pisar o Éden bíblico nos deixaram uma herança muito agradável. Por aí pode¬mos imaginar que, com o acúmulo de erros daqueles tempos para cá, a herança espiritual da Humanidade, a ser recebida no presente momento pela coletividade brasileira, não poderá constar simplesmente de flores. Desde aqueles remotos antepassados as serpentes se multiplicaram também e, para neutralizar-lhes o ve¬neno, uma habilidade especial vem sendo exigida do homem. De um modo geral as serpentes vivem disfarçadas nos cestos de flores que os homens trans¬portam descuidados pelos largos campos do mundo, tão empenhados em ganhar terreno e usufruir as facilidades da vida que não têm tempo para parar e examinar com cuidado o fardo que transportam. Só os mais sensatos se detêm, de quando em vez, para olhar para trás e surpreendem o panorama entristecedor de muitos viajores mortalmente feridos pelas víboras que transportavam com encantamento em seus cestos flo¬ridos. E então os mais avisados passam a constituir uma patrulha de alerta aos distraídos. Estes servos atentos constituem-se então em testamenteiros do Senhor, com a missão de distribuir os bens que ainda existem esparsos sobre a Terra, acumulando ao mes¬mo tempo as funções de enfermeiros dos menos sensa¬tos.


PERGUNTA — Quais seriam as características principais da herança espiritual recebida pelo povo brasileiro?
RAMATIS — A luz espiritual que paira sobre o planeta consegue escoar-se através da aura de cada povo como por um filtro de malhas mais ou menos densas, conforme o maior ou menor poder de absorção adquirido pela psicologia coletiva. A maior ou menor largueza das malhas componentes dessa rede de filtragem depende do grau de Amor espiritualizado reinante no ambiente. A Paz característica dos ambientes evoluídos é o fator principal capaz de fornecer, à tessitura da rede fluídica do envolvimento psíquico de um povo, a elasticidade, a largueza, responsáveis por um maior grau de permeabilidade para as vibrações dos Planos Superiores.
A maleabilidade do povo brasileiro, característi¬ca em certos pontos responsabilizada pela sua imatu¬ridade cívica, constitui um dos fatores de grande influ¬ência no alargamento das malhas psicológicas através das quais a inspiração superior conseguirá filtrar-se.


PERGUNTA — A que podemos atribuir tal malea¬bilidade?
RAMATIS — Ela é constituída pela convergên¬cia de uma variedade imensa de valores das mais diversas origens. Reuniu-se para formar a aura psico¬lógica brasileira um pouco de todos os aspectos con¬quistados pela "psique" humana através dos séculos formadores de milênios. Assim podeis verificar no carioca a "verve" irônica dos gregos, a sensibilidade refinada do francês, a hiperestesia italiana. No sulis¬ta, o espírito guerreiro do alemão, no nordestino o fatalismo oriental, no paulista a seriedade prática do anglo-saxão, no mineiro o tradicionalismo conserva¬dor do inglês, no baiano o panteísmo africano.
Respeitadas as diferenças individuais que ultra¬passam os valores locais por natureza ou por cultura, paira sobre cada uma dessas partes do povo uma aura coletiva característica.
Por sua vez essas pequenas coletividades reú¬nem-se para influir na formação da aura coletiva do povo que compõem. Pode-se concluir facilmente que, em virtude da multiplicidade de aptidões, surge natu¬ralmente a maleabilidade psicológica a que nos referi¬mos.


PERGUNTA — A impressão que nos vem diante desses comentários é que tal variedade de aspectos psicológicos poderá provocar uma atitude amorfa di¬ante da vida ou mesmo dificultar a necessidade natu¬ral de traçar diretrizes. Que dizeis?
RAMATIS — Concordamos, com certas restri¬ções.
Não chamaríamos "amorfa" uma atitude por não se enquadrar nos moldes conhecidos e não diríamos "mais difícil" a tarefa de traçar diretrizes por ser mais complexa, por contar com maior soma de elementos em causa.
Diante de uma situação a superar, dois indiví¬duos preparados de formas diferentes adotarão atitu¬des diversas. O que contar com menos elementos de avaliação decidir-se-á com maior rapidez por ter me¬nos pontos a sopesar. Sua deliberação poderá ser considerada pronta e eficiente à primeira vista. Po¬rém, outro que haja adquirido maiores aptidões, pos¬suindo percepção mais variada, levará mais tempo analisando e poderá ser julgado temporariamente in¬capaz de decidir-se. Enquanto pesquisa será conside¬rado um indefinido ou amorfo e ao traçar diretrizes com maior meticulosidade e eficiência poderão atri¬buir-lhe maiores dificuldades, quando, na realidade, estará só decidindo com maior conhecimento de causa.


PERGUNTA — Haverá alguma outra caracterís¬tica importante na herança espiritual do povo brasi¬leiro além da maleabilidade?
RAMATIS — Podemos compreender que foi pos¬sível alargar as malhas da rede de filtragem espiritual brasileira pelo motivo simples de que os cordéis utili¬zados eram mais fortes. Um tecido que será submetido a esforço só poderá ser feito de malhas abertas se os fios forem resistentes.
Constando dos planos da Espiritualidade a reu¬nião de elementos diversos para a composição psicoló¬gica brasileira, formou-se um cordel composto de vários fios, o que naturalmente aumentou a resistência obti¬da. Em conseqüência, foi possível tecer uma rede psicológica, ou seja, uma aura, mais aberta, composta de malhas largas, capazes de permitir a passagem da luz em maior escala.
Eis o motivo pelo qual menos sombra paira sobre o território brasileiro.


PERGUNTA — Perdoe-nos a insistência que pode parecer às vezes demasiada, porém o panorama nacio¬nal nem sempre n/os parece tão desanuviado como dizeis. Ao contrário, é voz geral que o Brasil passa por duros reveses no momento.
RAMATIS — De que valeria nossa troca de im¬pressões se não pudésseis contradizer-nos? Conside¬ramos essa atitude de controvérsia a maior prova de confiança e honestidade de propósitos.
No Brasil atual há duas partes a considerar para opinarmos sobre sua situação: o panorama político e o espiritual. No início do nosso trabalho comprometemo-nos a analisar unicamente o aspecto espiritual, pois estamos certos de que, compreendido satisfatoriamen-l.e, contribuirá de forma decisiva para o reajustamen-l,o geral.
Sob este prisma os fatos do plano material decom¬põem-se e podemos analisar as cores reais de que são constituídos, o que modifica radicalmente a opinião a ser emitida.
Por terem sido lançadas sobre a terra brasileira as mais diversas formas de aptidões necessárias ao aprimoramento futuro, seu solo apresenta um aspecto <le confusão, pois ainda não foi possível reunir em "canteiros" apropriados as diversas "sementes". En¬tão nascem as plantinhas tenras ao sabor dos aconte¬cimentos numa desordem aparente. Como a luz da Espiritualidade jorra intensamente através das ma¬lhas largas do psiquismo multiforme, um efeito nega-l.ivo produz-se pela quantidade de sombra projetada pelas inumeráveis plantinhas recém-surgidas. Porém, hastará que seja feita a seleção e colocados em cantei¬ros adequados os diversos grupos de vegetais, para ser ohi.ida a mais polícroma e generosa seara inaugurada pelo homem.


PERGUNTA — Justamente essa parte é consi¬derada no momento como um grande obstáculo à evo¬lução. Julga-se impossível obter ordem, regularidade na expansão dos valores nacionais. Identificamos em alguns espíritos uma espécie de pânico, fruto da falta de fé no futuro que nos aguarda. Não sabemos bem se gerado exclusivamente pela situação nacional, porém, cremos que agravado pelo panorama caótico interna¬cional. Que nos dizeis?
RAMATIS — Ambos os panoramas, o nacional e o internacional, não podem deixar de estar intima¬mente relacionados. Os brasileiros, sem o perceberem, são influenciados pela situação internacional, não tan¬to no que se refere à sua formação psicológica tão peculiar, mas nas impressões que se gravam em seu espírito pela observação dos fatos.
A situação geral da Humanidade é de descrença e onde se insere a esperança em dias melhores, surgem obstáculos enormes, num verdadeiro trabalho de Penélope.
Como a criança que observa os movimentos dos adultos e, sem discernir com maior profundidade, grava as impressões colhidas, os brasileiros "sentem" a atmosfera de incredulidade em relação ao futuro que paira sobre toda a Humanidade. Assinalam essas im-pressões e transferem-nas para o seu âmbito de ação.


PERGUNTA — Notamos, porém, que instintiva¬mente o brasileiro crê mais na possibilidade de reali¬zação nos moldes estrangeiros e não espera do seu próprio ambiente uma reação melhor.
RAMATIS — A civilização e cultura dos povos desenvolvidos impressiona a alma sensível do brasi¬leiro, tanto quanto é tocado sem o sentir pelos valores negativos nelas existentes.
Distrai-se em observar o panorama internacio¬nal, como quem acompanha o desenrolar de uma estó¬ria intrincada e esquece muitas vezes de observar-se a si mesmo. Assim sendo, desconhece praticamente os valores que veicula, empolgado pelo panorama exter¬no que o deslumbra.
Consideramos tênues sintomas de maturidade que começam a despertar na alma brasileira como conseqüência natural de seu desenvolvimento. Por isso ainda não é capaz de agir com inteira autonomia na avaliação da própria conduta ou da conduta alheia. Impressiona-se ainda fortemente pelas aparências; tanto a do progresso dos outros povos como a de sua própria incipiência.
Analisando, porém, com maior conhecimento de causa, no momento em que for colocado em um plano mais esclarecido de julgamento, por força das circuns¬tâncias que hão de surgir, toda essa impressão super¬ficial será modificada.
Há no panorama mundial valores em decadência que não podem inspirar mais do que impressões caóti¬cas e no panorama nacional brasileiro valores em formação ainda incapazes de inspirar confiança à pri¬meira vista.
A fase de renovação total de valores por que passa a Humanidade tem por característica a instabilidade, pois perderam-se de vista os princípios que poderiam oferecer segurança ao homem. Até pouco tempo esses princípios eram venerados em símbolos que se torna¬ram ídolos e foram rejeitados pela mente evoluída do homem moderno. Rejeitados os símbolos, nada restou, nem mesmo a idéia que os inspirou e já empalidecera há séculos.
Sem peias, sem freios, sem apoio, o homem busca desordenadamente a segurança que rejeitou quando "esvaziou" a Verdade no cultivo cômodo das aparên¬cias.
E os brasileiros, que são os "estrangeiros" do passado, colhem também o fruto da insensatez culti¬vada, trazendo consigo uma tendência mórbida para assimilar a descrença no futuro, por ser ainda incapaz de vencer o vezo involutivo da falta de fé.


PERGUNTA — Por estarmos incluídos entre os que erraram muito no passado, consideramos tarefa hercúlea conservar a fé em meio a tantas desilusões. Consideramos que o honrem necessita ser estóico para continuar crendo mesmo envolvido por decepções sem conta. Que nos dizeis?
RAMATIS — O Senhor teve piedade dos Seus filhos, é o que afirmamos. Há uma Força Coordenado¬ra do Universo que não falha ao imperativo de forne¬cer recursos ao homem em sua necessidade de renova¬ção. Porém, é preciso que ele ofereça um mínimo indispensável de sintonia para conquistar a seguran¬ça desejada. Não poderá haver conquistas sem esforço, para não contrariar a lei de acesso à evolução.
Se houvésseis utilizado bem os recursos que vos foram entregues no passado, hoje seria natural crer, pois estaríeis condicionados nesse sentido. Porém, se meditardes na quantidade de bênçãos que descem sobre vós, mesmo nas circunstâncias em que viveis no presente, vereis que não há solução de continuidade no processo de amparo espiritual que vos envolve.
São inúmeras as provas da ação espiritual sobre o ambiente terrestre. Dentro da mais confusa situação em que se encontra o homem, o Senhor permite seja chamada a sua atenção por fatos insólitos, visando alertá-lo. Os fenômenos espirituais desenrolam-se de maneira pública ou particular, de forma a tocar a Humanidade mesmo através de sua rigidez quase ca-davérica dentro do envoltório da ilusão.
Em todas as partes do mundo, a cada momento, o homem é chamado por sinais os mais diversos, de maneira geral ou particular, a cumprir o seu destino glorioso. Porém, ainda são poucos os "iludidos" que se deixam arrastar pelas consolações generosas do plano espiritual, consideradas por muitos como "derivativos para frustrações da vida material".
A herança espiritual do homem, no momento, é caracterizada por uma emissão de valores materiais superior ao lastro moral que a garantiria e o brasilei¬ro, como uma condensação de amostras psíquicas de todas as origens terrestres, não poderia deixar de se ressentir dessa falta de lastro espiritual.
Porém, tem uma grande terra a cultivar, utili¬zando a experiência recolhida e uma imensidão de tempo útil a se projetar pelo futuro. Portanto, constitui-se num elo intermediário entre duas eras: a do materialismo que corrompeu até mesmo as mais puras idéias, conseguindo "desintegrar" no ambiente terre¬no a chama do espírito, e a nova civilização formadora das bases sólidas para a evolução humana.


PERGUNTA — Poderíamos receber mais alguns esclarecimentos sobre as características latentes da herança espiritual do povo brasileiro?
RAMATIS — Já a analisamos sob o ponto de vista de sua composição examinando as origens de seus elementos formadores. Vimos que, na Terra como no Espaço, esses elementos mobilizados reúnem ca¬racterísticas as mais diversas para ser obtida uma síntese humana produtora da herança polícroma capaz de possibilitar um campo mais vasto de realizações.
Entretanto, há necessidade de escoimar o acervo espiritual dos resíduos indesejáveis, para que chegue a constituir aquela massa impregnada do sabor universalista em sua mais perfeita concepção.
Uma força constrangedora proveniente de sua formação mantém ainda em moldes estreitos o imenso potencial do Amor Crístico existente de forma embri¬onária na alma coletiva brasileira.
A impossibilidade de libertar-se dela representa a afirmação de maturidade ainda não desperta total¬mente. Possui duas origens facilmente identificáveis. Uma, a heterogeneidade de suas características, em busca de uma síntese trabalhosa para a manifestação livre de suas possibilidades latentes e, a outra, o entrave representado pela inércia motivada por uma liderança espiritual que, em diversos pontos, mantém freada a expansão dos valores positivos.
Alguns séculos atrás, uma força gigantesca de Amor expressou-se em sua forma mais exuberante, através da catequese dos índios e o consolo adminis¬trado como paliativo aos sofrimentos do escravo. En¬tretanto, essa mesma força era refreada quando ten¬tava desviar os passos rudes do homem branco na posição do "senhor".
Estabeleceu-se assim a norma aceita de maneira tácita, segundo a qual o objetivo da religião era exclu¬sivamente "consolar os aflitos", deixando-se de lado a premência de destruir as causas das aflições. Essa atitude psicológica gerou uma característica peculiar à mentalidade do brasileiro, através da qual parece impossível corrigir o que está estabelecido e mesmo os condutores espirituais da coletividade, homens que levam sobre seus ombros o fardo da orientação do semelhante, acomodam-se, contribuindo, consciente ou inconscientemente, para estimular a continuidade da estagnação.
E a religião, que deveria ser o fator preponderan¬te do estímulo à luta pelo desanuviamento espiritual do ambiente, constitui-se em esteio do bem-estar de uma minoria que se estabelece como tutora da massa permanentemente mantida na estagnação es¬piritual.
Somos livres de preconceitos contra ou a favor de qualquer corrente do pensamento humano. Por esse motivo sentimo-nos à vontade para analisar. Acredi¬tamos que o sentimento religioso expressa-se no ho¬mem de maneira coerente com seu grau evolutivo. Daí não nos colocarmos nunca em oposição a nenhuma das formas pelas quais esse sentimento é externado. Po¬rém, num trabalho através do qual deve ser analisado todo fator de influência positiva ou negativa sobre a formação e a conduta de um povo, torna-se necessário pesquisar de maneira cuidadosa o papel representado pela sua atitude no setor religioso.


PERGUNTA — Poderíamos obter maiores es¬clarecimentos sobre esse fator de refreamento espiri¬tual do povo brasileiro?
RAMATIS — As sementes cristãs lançadas no período de formação do povo brasileiro possuíam a força renovadora característica da árvore de que pro¬vinham — o Evangelho. Eram puras e cheias de vita¬lidade. Foram trazidas com o Amor mais acendrado por almas que se consagraram a Jesus através de sacrifícios respeitáveis. Entretanto, a terra não lhes pertencia e foi preciso render-se à hostilidade de um cultivo inadequado capaz de mirrar a mais promissora safra.


PERGUNTA — Quais as conseqüências dessa característica de nossa herança espiritual?
RAMATIS — Formou-se no panorama espiritual brasileiro um ambiente que dá a impressão muito estranha de uma terra cultivada e fértil sobre a qual se houvesse estendido, a uns poucos centímetros do solo, um sistema de cordas cruzadas, como uma rede ou gradil. Cada uma das inúmeras plantinhas em começo de desenvolvimento precisará enquadrar-se perfeitamente em um dos intervalos das cordas. Caso não o consiga ficará impedida de subir sem maiores iropeços. Como os espaços deixados entre as cordas são estreitos, dois fenômenos podem suceder. Num, o caule tenro que não logrou penetrar por um dos espa¬ços torna-se retorcido e acaba por penetrar no espaço mais próximo para conseguir subir, deixando prejudi-cadas algumas de suas folhas. Noutro, a plantinha l.ern facilidade de encontrar uma saída pela abertura, • l ue lhe está bem acima e, ainda tenra, passa livre¬mente através das cordas, conseguindo desabrochar suas primeiras folhas em posição correta.
Porém, em ambos os casos seu desenvolvimento pleno será perturbado, pois ainda haverá outro teste de resistência. O espaço disponível entre as cordas, para o crescimento do tronco, é pequeno. Se a planta Io r de estatura reduzida poderá vicejar livremente a pôs encontrar saída por entre o gradil. Porém, se sua natureza exigir um porte mais amplo sofrerá as agru¬ras da resistência encontrada nos fios grosseiros das cordas, ferindo-se. Se conseguir formar um invólucro resistente, irá distendendo as cordas constrangedoras e l.erminará por parti-las. Será então apontada como responsável pela destruição da segurança do sistema, por provocar uma ruptura que poderá multiplicar-se em cadeia, pelo enfraquecimento da rede controladora iln crescimento.
No caso de sua constituição ser mais delicada, o caule será seccionado pela resistência das cordas e em pouco tempo estará ameaçada de tombar pelo peso, sem base, de sua estrutura.



PERGUNTA — Poderíamos obter maiores expli¬cações?
RAMATIS — Na imagem de que nos utilizamos, o sistema de cordas controlador do crescimento das plantinhas representa o conjunto de preconceitos e dogmas utilizados como sistema filosófico pelas religi¬ões atuantes no ambiente brasileiro.
O Senhor enviou seus servos para cuidarem de Sua Seara e eles atenderam solícitos, porém esquece¬ram-se de investigar com profundo desejo de acertar, qual o melhor método para servi-Lo. Não consegui¬ram, assim, compreender nem sentir que bastaria adubar o terreno e defender o plantio contra as pragas, pois o sol do Amor Divino combinado com as chuvas generosas das bênçãos espirituais se encarregariam do resto.
Em virtude da incapacidade para uma visão mais ampla, os pobres seareiros terminaram por ameaçar de destruição a safra generosa esperada pelo Senhor. Por sua vez, as almas ainda imaturas sob seus cuida¬dos raramente apresentam a reação adequada. Ao contato rude das cordas constrangedoras, ou se ferem deixando escoar a seiva e definhando ou sustentam-se estranguladas até serem derrubadas por um vento mais forte.
Uma ou outra consegue romper o cerceamento e abre clareira em torno de si. Cresce forte e à sua sombra outras conseguem vicejar livremente. Porém, seu desenvolvimento é considerado monstruoso e anor¬mal.
Com o passar do tempo, porém, tantos casos como este surgirão que, de anormalidade, passarão a ser a regra e a existência da rede constrangedora tornar-se-á perfeitamente impossível.


PERGUNTA — Gostaríamos de receber esclare¬cimentos sobre estes "vegetais que romperam a rede". Como identificá-los?
RAMATIS — Para romper a resistência dos pre¬conceitos uma tempera especial é exigida. Ao contrá¬rio do que poderia parecer à primeira vista, não basta¬rá uma simples tendência natural à insubmissão ou à indisciplina. Geralmente estas tendências são exteriorizações características de almas tíbias, inca¬pazes de submeter-se com valor a esforços mais pro¬longados.
A alma capaz de crescer, formando à sua volta uma camada protetora inviolável, é visceralmente dis¬ciplinada e amante incondicional do Bem e da Verda¬de. Sua capacidade de concentrar-se até ao sacrifício pela vitória desses princípios enobrecedores da alma humana permite a produção de elementos psíquicos tão resistentes que a tornam inatingível de maneira danosa. Sua probidade, mesmo quando aliada às natu¬rais imperfeições humanas, impede a penetração do roçar corruptor, do atrito causado pela rudeza contun¬dente das forças constrangedoras externas.
Ao contrário do que sucede à maioria, essas al¬mas sentem-se numa constante produção de forças benéficas tendo em vista a coletividade. Porém, a progamação de suas atividades ultrapassa as medidas comuns, por força da convicção alimentada na auto-recuperação proporcionada pelas atividades benfa-zejas. Podem declarar-se desligadas de qualquer con-vicção filosófica existente, porém, em seu íntimo sen¬tirão a essência de verdades que não expressam por palavras, talvez para melhor se concentrarem em sua execução.
De alguma forma, ultrapassarão sempre os limi-Uis comuns em maior ou menor escala, pois trazem consigo um selo de autenticidade de suas disposições benéficas, que de nenhum modo lhes permite uma fidelidade restrita a sistemas, por mais perfeitos que possam parecer aos contemporâneos.
Ao que receberam sob a forma de tradição, conhe¬cimentos ou religiosidade, acrescentam sempre a for¬ça de unia convicção irrestrita em relação ao perma¬nente movimento renovador necessário ao andamento do progresso. Por melhor que consigam realizar, nun¬ca permitirão que seja apagada a chama do entusias¬mo por novas formas de trabalho e progresso.
Por essas características reconhecereis como se diferenciam da maioria; por serem impolutas sofrerão as amarguras naturais à superação das próprias defi¬ciências e nisto consiste o seu valor, numa época perturbada pela descrença geral em relação ao futuro.
São os batalhadores do Bem aos quais Jesus se referiu quando afirmou que seriam "reconhecidos por se amarem mutuamente". São os seguidores da Verda¬de cristalina que brotou de Seus lábios e que não poderá ser enquadrada em normas humanas, por mais perfeitas que sejam consideradas. O pensamento do Mestre, revelado na Boa Nova, é tão profundo que através dos milênios os homens encontrarão sempre oportunidade de reinterpretá-lo, à proporção que a evolução lhes permitir maior visão do panorama da vida.
As almas que com Ele sintonizam, muitas vezes negam-se a aceitar as interpretações humanas do Seu Pensamento Puro, preferindo buscá-Lo "em espírito e verdade" através do trabalho no Bem.
Por isso, os servos capazes de romper as barrei¬ras humanas geralmente são olhados com desconfian¬ça. Porém, não poderíamos esperar senão a incompre¬ensão das pobres almas cujo grau evolutivo ainda não permite maiores expansões.


PERGUNTA — Haverá ainda algum comentário a ser feito em torno de herança espiritual de nosso povo?
RAMATIS — Neste capítulo ficou esboçado o panorama espiritual em que atuais, os elementos com que contais para desenvolver a programação generosa que vos está reservada.
Resta-nos afirmar a necessidade de perseveran¬ça, lembrando que nenhuma programação será execu¬tada milagrosamente. E já que tratamos de analisar, é conveniente insistir no significado racional da pala¬vra "milagre". O homem utiliza este termo para desig¬nar o fenômeno regido por leis desconhecidas mas que o tempo revelará em toda a sua racionalidade. Sob este aspecto, o cumprimento da missão reservada ao povo brasileiro poderá ser considerado miraculoso quando descrito no momento atual. Caberá a vós buscardes os meios de concretizar esse fato programado, pelo esfor¬ço de perseverar na busca permanente dos melhores caminhos. Dentro do próprio determinismo constituí¬do pelas linhas gerais impressas ao progresso, existe a margem de segurança, como uma faixa de realiza¬ções entregues ao livre-arbítrio de cada qual, para que possa colher, no cômputo geral dos acontecimentos, a parte de benefícios que lhe cabe.
Vossa coletividade traçará uma linha direcional para o desenvolvimento do seu carma coletivo. Nada porém impede que ela seja seguida com maior ou menor amplitude por vós, dependendo da ação isolada de cada um a maior ou menor fartura de frutos a colher.
Semeai no presente, pois a generosidade da co¬lheita futura dependerá, em grande parte, da prepara¬ção do solo onde as sementes do Amor Evangélico germinarão para socorrer a pobre Humanidade, no momento em que for violentamente despertada de seu sono milenar.
Cuidai com Amor das partes áridas do terreno que herdastes, revolvendo-o, adubando-o e lançando sobre ele as sementes mais puras que fordes capazes de obter. Esta é a vossa parte. O Senhor provera o resto.









2

Liderança


PERGUNTA — Que espécie de liderança poderá caber à nossa terra?
RAMATIS — Mede-se a possibilidade de lideran¬ça através da percepção de um conjunto de aptidões latentes reveladas por sinais externos, perceptíveis a quem desenvolver uma capacidade de análise mais aguçada. Os instrumentos qualificados para essa per¬cepção geralmente estão mais avançados na compre¬ensão do que a maioria e podem "vaticinar", com base nos próprios raciocínios, onde se encontram os futuros líderes.
Para isso torna-se necessário obter uma visão geral do conjunto, suficientemente larga para alcan¬çar uma faixa de realizações a ser concretizada.
A mente humana encontra-se na fronteira, entre a percepção imediata e a abstração, capaz de produzir fenômenos de previsão lógica. Os espíritos encarnados que conseguem vencer essa transição encontram-se, em relação aos seus contemporâneos, como aquelas crianças que vão à escola juntas e recebem objetos para a contagem objetiva. Em determinado momento, os mais amadurecidos conseguem abstrair e automa¬tizam os mecanismos da soma e da subtração. Uma forma de raciocínio abstrato surgiu através do maior grau de amadurecimento interior. Uns continuarão simplesmente a "contar", outros já poderão movimen¬tar elementos de raciocínio mais variado, abstraindo-se da objetivação, para obter maior expansão da lógi¬ca.
Partindo da análise dos fatos, manipulando-os em plena fase de objetivação e contagem, algumas almas chegaram à conclusão de que, somados certos valores existentes no ambiente brasileiro e subtraídos outros tantos, determinadas soluções serão obtidas e o resultado final, como resposta para o problema do progresso coletivo, será a liderança no panorama espi¬ritual e material do planeta.


PERGUNTA — Nossa terra muito querida nos parece ainda tão cheia de deficiências que temos a impressão de estar muito distantes da realização des¬se sonho grandioso.
RAMATIS — A abençoada terra brasileira é como um oásis acolhedor em pleno deserto escaldante dos sofrimentos humanos. Inúmeras caravanas têm che¬gado a ele descarregando seus fardos e deixando-se ficar ao abrigo da sede e do sol. Uma atividade febril estabelece-se logo que o viajor se sente reconfortado, procurando localizar o ponto onde se estabelecerá. Porém, por algum tempo ainda, o conjunto carecerá de coordenação, embora todas as peças de uma engrena¬gem poderosa já façam parte do panorama espiritual e material do Brasil.


PERGUNTA — Temos ouvido comentários sobre o desagrado provocado pelas profecias relacionadas com o futuro da Humanidade, justamente relaciona¬das com os fatos que evidenciarão a liderança do Brasil no futuro. Que nos dizeis?
RAMATIS — A nós, também, essas profecias desagradam, mas nem por isso, infelizmente, serão menos verídicas. Felizes seriam os profetas se em todos os tempos só lessem nos planos siderais eventos favoráveis à sua sensibilidade.
Na leitura de um jornal, o homem moderno pode prever, dentro dos limites de sua capacidade, quais os acontecimentos marcantes nas próximas horas e suas previsões serão realidade na medida da justeza do seu pensamento, sinta-se ele ou não satisfeito com o anda-mento dos problemas. Seus filhos inexperientes, mui¬tas vezes, ouvindo seus comentários, poderão julgá-lo um profeta de mau agouro e desejar que nada se realize como foi vaticinado. Encontram-se coerentes com a psicologia otimista da juventude, útil em sua justa medida.
Porém, por mais que o bom-senso anseie pelas soluções pacíficas e agradáveis, o panorama psicológi¬co conturbado de uma época decisiva no estabeleci¬mento de rumos novos na vida planetária, não permite a suavidade das soluções lógicas e serenas. As expres¬sões teratológicas do psiquismo milenar da humani¬dade terrestre surgem à tona para as decisões finais. Para o estabelecimento de vossos planos de ação é preciso que a época atual tome conhecimento do poten¬cial humano adormecido em sua aura milenar e, atra¬vés do choque traumático da realidade contundente, reaja tão fortemente quanto se faz necessário.


PERGUNTA — Poderíamos obter maiores expli¬cações sobre a necessidade desse traumatismo psico¬lógico?
RAMATIS — A psicologia introduziu conceitos que se tornam úteis para vos explicarmos os fatos em estudo.
Assim como sabemos que o indivíduo reflete em sua evolução biológica as etapas do desenvolvimento da espécie, os fenômenos de reajustamento psicológico coletivos têm semelhança expressiva com as etapas de renovação psíquica do homem desajustado.
Um indivíduo mal-humorado permanentemente revela um problema de desajuste que não está sendo encarado de forma adequada. Muitas vezes, para evi¬tar maiores incômodos, ele se furta à análise de uma situação que, contornada, não deixa no entanto de trazer como conseqüência a insatisfação, isto é, um aborrecimento a longo prazo. Uma quantidade de pequenos problemas se acumulam a sua volta, tumultu¬ando sua existência, porque a mente não se encontra livre para encarar a vida com o otimismo e a disposição adequados. O estado de tensão é agravado com o tempo e, em determinado instante, rompe-se o dique contensor da insatisfação inicial, para causar verdadeira ava¬lanche agravada pelas tensões secundárias.
Transferindo o fenômeno para o psiquismo coleti¬vo da Humanidade teremos uma idéia de como são fáceis as previsões em ambos os terrenos: o coletivo e o individual, desde que se conheça os antecedentes que funcionaram como motivação.


PERGUNTA — Acreditam talvez os opositores das profecias que haja a possibilidade de uma reação coletiva, baseada na evolução intelectual inegável atin¬gida pela Humanidade. Que dizeis?
RAMATIS — Desejamos que possais crer quanto nos é penoso reconhecer a realidade das provações esboçadas na aura terrestre. Seria injusto, desumano e anticristão encarar tais eventos de maneira fria e calculista. Estaríamos totalmente desviados de nos¬sos objetivos se não houvesse de nossa parte uma profunda compreensão ao identificarmos os males que assolam a alma coletiva terrestre.
Os homens sofrem e choram, mas... onde a gran¬deza da fé no futuro que lhes permitirá a reação indispensável? Ao ser desajustado, duas alternativas se esboçam: ou crê em sua recuperação e despende um esforço hercúleo em sentido construtivo, mobilizando todas as suas energias de reação, ou será arrastado pelo desequilíbrio acumulado em camadas sucessivas e cada vez mais agravado pela incapacidade de reação adequada. Neste último caso o próprio desastre servi¬rá como toque de alerta, capaz de recordar-lhe a impraticabilidade da renovação pelos caminhos tri¬lhados.
Não podemos fugir à aplicação desses princípios A psicologia coletiva, pois neles se baseia a reação individual que, multiplicada, forma a comunidade.


PERGUNTA — Seremos nós testemunhas da liderança exercida pelo povo brasileiro?
RAMATIS — Sob o ponto de vista espiritual ela já se efetua, pois a fermentação psicológica em anda¬mento na consolidação das características de vosso povo representa uma etapa importante da liderança que vos está destinada. Portanto, em silêncio já está sendo realizada uma parte desse trabalho, talvez a parte principal.
Quando alguém é preparado para uma tarefa capaz de influir decisivamente sobre muitos, a parte mais importante de sua realização consiste em conso¬lidar os valores íntimos responsáveis pelo equilíbrio que lhe permitirá seguir imperturbável em sua mis¬são. A formação do líder é a fase primordial. Sua atuação sobre o ambiente será a conseqüência inevitá¬vel. Daí em diante poderá liderar mal ou bem, porém jamais deixará de respirar na atmosfera psicológica assimilada, que o situa naturalmente em uma posição capaz de influir de forma decisiva sobre o semelhante, cuja visão ultrapassa.


PERGUNTA — Poderíeis fornecer-nos maiores esclarecimentos?
RAMATIS — A segunda fase da liderança exige que o líder seja reconhecido pelos liderados. Para que isso aconteça torna-se necessário que estes, por sua vez, admitam sua necessidade de liderança. Enquanto a massa ou o grupo não toma consciência de sua incapacidade coletiva para a solução dos problemas, o líder não é reconhecido. Porém, no momento em que a situação é agravada busca-se uma solução. Se ela não existe espontânea entre os componentes do grupo, inicia-se a busca de uma "tábua de salvação".
Embora ela não seja confortável ou ideal, a cole¬tividade em estado de desarvoramento apóia-se de maneira desesperada.
A era atual ainda está caracterizada pelo signo da violência. Os valores construtivos e pacíficos veicu¬lados pela alma brasileira ainda não atraem no mercado da intriga internacional. Constituem mercadoria desvalorizada e inócua como o remédio precioso da homeopatia, incapaz de curar organismos intoxicados que anulam, pela vibração grosseira, a terapia de profundidade.
Só a derrocada dos valores negativos poderá mo¬dificar a atitude do "paciente" e decidi-lo a colaborar, com hábitos sadios, ajustando-se à disciplina necessá¬ria.
Realizada essa transição, surgirá o vácuo nas coletividades estupefatas. Uma forma nova de condu¬ta será valorizada ao extremo e as atenções se voltarão para quem seja capaz de exercer liderança no sentido construtivo, ansiosamente buscado então.
Cremos, portanto, que a liderança que vos está destinada somente será plenamente reconhecida após o período caótico das grandes provações, porque, mes¬mo durante elas, sereis encarados como simples "tá¬bua de salvação". Só a impossibilidade de reajustar os valores negativos da civilização atual conferirá, com o tempo, uma liderança declarada à "Pátria do Evange¬lho".


PERGUNTA — Sentimos verdadeiro entusias¬mo diante dessas afirmações e nosso coração se enche de esperança no futuro da Humanidade, porém em nossa incapacidade de avaliar tais eventos tememos pela situação em que o Brasil se encontrará no ambi¬ente caótico das provações apocalípticas. Não será prejudicado em sua capacidade iniciante de lideran¬ça?
RAMATIS — O gigante, que dizem adormecido, será violentamente despertado de seu sono ao clamor da derrocada dos princípios nos quais inconsciente¬mente se apoiava.


PERGUNTA — Não compreendemos bem esta última afirmação.
RAMATIS — Quem se habituou a ver preponde-rar princípios estranhos aos que veicula, acostuma-se a ser conduzido ou então acomoda-se à margem. Embora seus valores não sejam "vendáveis", é com eles que conta e permanece no segundo plano.
De alguma forma, vive sob a imposição dos valo¬res preponderantes no ambiente, embora não sejam de sua propriedade. E apóia-se, para viver, no sistema em vigor.
Numa sociedade assim constituída, só a derroca¬da dos princípios atuantes obrigará a reserva psicoló¬gica dos circunstantes a preponderar.
Neste princípio baseia-se a evolução da Humani¬dade na ronda incansável das civilizações que se suce¬dem.


PERGUNTA — Por que a liderança espiritual e material do planeta seria entregue a um povo cuja formação tem sido tão acidentada? Havendo uma pro¬gramação no Espaço, não poderia ser constituído um povo selecionado para esse fim dentro de característi¬cas mais harmoniosas?
RAMATIS — Um dos princípios nos quais se baseia a liderança é a necessidade da existência de pontos de contato suficientes entre condutor e condu¬zidos.
A liderança é um processo de deslocamento atra¬vés das trilhas do progresso, no qual o guia funciona como o motor de uma composição cujos vagões preci¬sam estar firmemente ligados à máquina de tração e, simultaneamente, entre si. E qual seria esse traço de união capaz de resistir aos esforços intensos do deslo¬camento penoso por caminhos desconhecidos? Qual a característica suficientemente resistente em tal situ¬ação, quando as amenidades se tornam impossíveis? Somente a provação partilhada pode manter líder e liderados em estreita comunhão.
Pela lei natural o homem se identifica e crê na¬quela que partilha as suas dores. O fato de partilhá-las confere-lhe o diploma de autenticidade na capaci¬dade de superá-las, fornecendo um roteiro vivo para quem mais deseje fazê-lo.
Ora, uma coletividade privilegiada poderia ser semeada na face da Terra, porém tornar-se-ia um exemplo esporádico do perfeccionismo, em muitos ca¬sos motivo para desânimo naqueles povos que se sen¬tiriam inferiorizados a tal ponto que anulariam suas próprias possibilidades.
Podereis observar que, sem haver distância tão grande entre os povos atualmente existentes na Ter¬ra, o maior grau de realização de alguns já é encarado muitas vezes como prova de incapacidade total de outros ainda não amadurecidos. Que sucederia se um povo de elite fosse domiciliado entre vós? Na melhor das hipóteses serviria para justificar a suspeita já tão disseminada de que o Senhor tem "Seus eleitos".
Daí, concluímos que o líder deve estar submetido às mesmas aflições e necessidades, com a diferença de que possua uma visão mais avançada, no limite sufici¬ente para fornecer-lhe diretrizes, sem isentá-lo, tem¬porariamente, por completo, das deficiências caracte¬rísticas de seus liderados.
Em caso contrário, ele mesmo perderia o ponto de contato com a massa que o segue e já não seria capaz de interpretar-lhe as necessidades mais íntimas.


PERGUNTA — A atuação de Jesus entre nós estaria incluída nestas especificações?
RAMATIS — Dentro da concepção normal de liderança como é encarada e vivida entre os homens, concebe-se que condutor e conduzidos caminham jun¬tos, impulsionados pelos mesmos anseios e necessida¬des. Entretanto, à proporção que uma parcela da soci¬edade evolui, por circunstâncias diversas, em tempo mais curto, surgem indivíduos que, na realidade, são mais missionários do que líderes na acepção comum da palavra.
Eles conduzem, colocando-se, voluntariamente, em posição análoga ao grupo que lhes sofrerá a influ¬ência.
Esta é a técnica de tornar-se líder quando as circunstâncias não favorecem a liderança natural, isto é, quando o ser que veicula princípios mais avançados já ultrapassou a massa, num grau de realização que seria capaz de naturalmente desligá-lo do conjun¬to que pretende influenciar.
Se sua identificação com os problemas do grupo for convincente, conseguirá construir o vínculo indis¬pensável à situação de liderança e cumprirá sua mis¬são.
Porém, este tipo de liderança missionária perten¬ce a um número limitado de indivíduos que, apesar de crescerem espiritualmente falando, não desejariam se desligar dos que ficaram na retaguarda. Abraçam missão sacrificial e são admirados como exceções.
Na Terra têm existido casos veneráveis de tais almas abnegadas, principalmente após os exemplos inigualáveis do Cristo, cujos ensinamentos de Amor vieram comprovar, pelo exemplo deixado, a grandio¬sidade do espírito de sacrifício.
Qual a razão de Sua personalidade haver influído de forma tão revolucionária sobre o desenrolar dos fatos marcantes da civilização terrena? Justamente por fornecer exemplos de um tipo de liderança até então desconhecido — aquela na qual o líder está livre dos laços compulsórios de afinidade com os liderados. Eis a causa do impacto proporcionado pelo espírito do Cristianismo. Seus adeptos lutariam daí por diante para seguir-lhe o exemplo — pugnar por uma causa tão ampla que seria considerada loucura. Curvar-se para dar em vez de esforçar-se para conquistar e vencer em causa própria, nos limites da visão estreita de uma existência terrena.
Jesus tornou-se inesquecível porque introduziu o conceito, até então inadmissível, de que sacrifício e doação constituem vitórias comprobatórias de uma liderança ainda desconhecida entre os homens de um modo geral.
Por esse motivo, mais do que um líder, Ele pode ser classificado como o Líder dos Missionários, uma classe de homens que surgiu sob a influência de Seu exemplo.


PERGUNTA — Se nos permitis, gostaríamos de saber se em vossa opinião o Brasil tem conseguido manter-se na programação traçada ou, por condicio¬namentos naturais às imperfeições humanas, tem sido afastado do roteiro preestabelecido.
RAMATIS — As imperfeições humanas são parte do roteiro traçado no Espaço. Portanto, os desvios naturais são previstos e só constituem perigo se pre¬valecem além dos limites admissíveis.


PERGUNTA — Perdoe-nos a insistência, porém nossa curiosidade não nos permite deixar de insistir quanto à vossa opinião pessoal em relação à pergunta anterior.
RAMATIS — Não identificamos propriamente curiosidade e sim ansiedade, muito justificável quan¬do se trata de realizar sonhos de progresso espiritual. Porém, nem vossa ansiedade modificará os fatos nem tampouco nossa opinião pessoal. Sintonizamos, po¬rém, no mesmo desejo de progresso para a Terra Brasileira, receptáculo dos sonhos de evolução para a Humanidade do presente. Tal como para vós, ela re¬presenta para nós o "Eldorado" pleno de tesouros espirituais.
Julgamos ser ainda cedo para opinar sobre a atuação do povo de vossa pátria atual diante da Espiritualidade. Os momentos decisivos para a reali¬zação de sua missão ainda não surgiram. O período que viveis representa uma preparação e, como tal, apresenta uma série de inadequações, tornando de¬sarticulados diversos pontos que serão essenciais no momento da comprovação de seus rumos.
Só quando o panorama espiritual do planeta atin¬gi r os momentos cruciais da provação, a alma coletiva brasileira despertará, sacudida pelo impacto da ne¬cessidade de uma reação de conjunto, capaz de permi-Lir a realização do trabalho para o qual então vos scntireis predestinados, sem sombra de dúvida.
Então será feito o teste definitivo quando, possui¬dor de uma força inequívoca sobre os destinos da Humanidade, os valores evangélicos estarão em jogo, tal como tem sucedido em todas as eras. Povos cristãos e humildes têm perdido a sua rota logo que o poder e a riqueza os faz sentir a embriaguez da glória fictícia do mundo.
Quando o Brasil deixar de ser o selvagem arredio e bisonho, esquecido por seus irmãos no fim das para¬gens da Terra, a prova definitiva estará sendo feita. Se não se inebriar com a força e o poder que lhe serão atribuídos, então terá alma suficientemente aberta para continuar sendo o mensageiro portador das mei¬gas instruções do Nazareno. Levará consigo a mensa¬gem da Boa-Nova que se extraviou há dois mil anos.
Se assim for, então, toda a população terrestre, finalmente, chegará a entender a forma adequada de preparar o panorama do mundo para receber o seu mais importante hóspede — o Amor ao Próximo.
Daí em diante uma Nova Era será marcada na história da Humanidade — Era da Boa-Vontade Entre os Homens. E só então poderá ser afirmado que real¬mente Jesus nasceu entre vós, porque até hoje espera-se o cumprimento da segunda parte da saudação dos Anjos aos homens na noite gloriosa do nascimento de Jesus, sendo esse o motivo pelo qual muitos descrêem que realmente Ele algum dia haja passado pela super¬fície da Terra.
Em sua descrença, gostaríamos de acrescentar, consideramos esses irmãos muito sensatos, pois pode-se medir a causa pelos efeitos e quem não tem senão a visão limitada a uma encarnação só pode admitir que não deve ser tão grandiosa, como se prega, a realidade evangélica, se não conseguiu em dois mil anos conver¬ter, senão por exterioridades, a maioria dos homens. Alargando-se, porém, o âmbito da visão espiri¬tual, única aparelhada para percepções mais exten¬sas, será possível sentir que os séculos são como dias na eternidade e os ciclos da evolução desenvolvem-se quase que dentro de uma previsão matemática. E dizemos quase, porque é comum a idéia de que a matemática seja uma ciência rígida. Só os leigos pode-rão admitir a impossibilidade de ser flexível seja no que for. A própria matemática admite o cálculo dos erros como forma de correção posterior de efeitos que estarão sob controle.
Na Espiritualidade, a matemática dos erros espi¬rituais da Humanidade prevê flexibilidade suficiente para admitir que, por um prazo aparentemente tão prolongado, a segunda parte da saudação angélica permanecesse sem cumprimento. E pela persistência, autorizada na previsão dos resultados, continuou-se a cantar "Glória a Deus nas Alturas" sabendo-se que chegaria o momento no qual seria possível obter "paz na Terra para os homens de boa-vontade".
Eis a diferença entre os que crêem e os que não crêem. Para os primeiros é possível viver dentro de uma programação grandiosa que alcance milênios e vibrar, mesmo encarnados, dentro dessa sintonia. Sem ter perfeita consciência do que se passa no Astral, as almas que vibram na fé sintonizam com a vibração do otimismo, alimentada no Espaço por aqueles que ento¬aram a saudação de Natal sabendo o que faziam. A lógica sideral permitiu-lhes conhecer as conseqüên¬cias remotas do acontecimento que presenciavam e lançaram com aquelas palavras uma "cabeça-de-pon-te" para a ofensiva do Bem sobre a Terra.
Hoje, dois mil anos depois, um povo está sendo preparado para cumprir a previsão angélica. Um povo que, à semelhança do Mestre, iniciou sua jornada terrena entre os humildes, os renegados da sorte. Um povo destituído das tradições do orgulho e da prepotência, rico somente em sentimentos de boa-vontade. Por que lhe seria vedado realizar na Terra o cumprimento da saudação-profecia e obter a paz com os homens de boa-vontade, semeados em seu território sob a forma de almas capazes de acolher a Mensagem do Senhor?
Sobre a terra brasileira baixam, cada vez com m;iior freqüência, as almas afins com o Evangelho, tangidas por um sentimento sublime de sintonia. Des¬de que se esboçou a missão da Terra da Promissão, imensa coluna de peregrinos se movimenta no Espaço para obter a bênção de uma experiência redentora no caminho evangélico do povo brasileiro. Todos os que um dia amaram o Mestre e sentem-se endividados para com Ele, esperam ansiosos o momento de contri¬buir para relembrar junto à nova Terra Prometida o fulgor de Seus olhos puros, a majestade serena de Seu porte espiritualizado, a ternura de Seus gestos de Amor.
Para quem não O viu nem O sentiu jamais, esses são os peregrinos de uma nova loucura — o misticis¬mo, considerado "fuga" pelos especialistas na matéria. E nós não lhes tiramos de todo a razão porque, en¬quanto fogem de si mesmos refugiando-se no atordoa-mento da vida material exclusivamente, aqueles ou¬tros fogem do atordoamento da vida material, interes¬sados em obter alguma forma de compensação no reavivamento da esperança em uma realidade pres-sentida no mais recôndito de suas almas.
E lá, no íntimo do ser, onde buscam avidamente refrigério para a secura causada pelos ventos estonte¬antes de uma civilização enceguecida pelo ódio, ouvem a voz sem som da Espiritualidade que lhes segreda: — "Retempera-te, filho, nas emanações suaves do Amor que o Pai vos envia, porém não te esqueças de teus irmãos que não sabem ainda buscar a paz interior. Ajuda-os, trabalha por eles e encontra a tua paz ser¬vindo-os..."
E aquele que realmente desejava a fuga no misti¬cismo vê-se forçado a retornar à luta por mais árdua que seja, tornando-se um batalhador mais rijo do que qualquer "espírito prático", cuja resistência não vai além das conveniências pessoais.
E dentro desse espírito evangélico, esperamos seja feita a renovação do panorama espiritual da Ter¬ra Brasileira, quando soar a hora da realização de sua missão de liderança sobre o planeta.
























3

Consolidação


PERGUNTA — De que forma serão consolidados os valores capazes de garantir a realização dos empreen¬dimentos que estão destinados ao nosso povo?
RAMATIS — A consolidação será feita através de um conjunto de fatores. Entre eles estarão incluí¬dos os elementos externos, independentes da vontade ou das diretrizes próximas da massa humana que habita o território brasileiro.


PERGUNTA — Que o irmão nos releve a obser¬vação que preferíamos silenciar, porém, em nosso entendimento puramente humano, somam-se as desi¬lusões relacionadas com as características pouco cons¬trutivas da massa humana que gostaríamos de ter motivo para qualificar de povo bem-aventurado, pela missão cristão reservada a seu futuro. Como admitir uma consolidação de valores em tempo útil para o cumprimento de sua tarefa, se tão amargas decepções nos mostram uma realidade em tantos aspectos nega¬tivos no setor da noção de responsabilidade?
RAMATIS — Vossa dificuldade provém do fato de interpretardes erroneamente o sentido da palavra "consolidação".
Consolidar, no caso, significa tornar sólido um conjunto de fatores para atingir um determinado obje¬tivo. Porém, ninguém estabeleceu que espécie de fatorés serão esses somente pelo fato de afirmar sua consolidação.
A experiência tem provado que as realizações mais proveitosas nem sempre vêm precedidas de expe¬riências amenas. Ao contrário, a luta mais árdua caracteriza as conquistas nobres do espírito humano.


PERGUNTA— Examinando profundamente nos¬sos sentimentos, que devem corresponder aos de uma grande parte de brasileiros, não podemos deixar de confessar a desilusão que se apossa de nossa alma diante do panorama espiritual que nos é dado obser¬var entre aqueles que poderiam influir, de maneira decisiva, na consolidação de valores capazes de garan¬tir o advento de uma nova era para nossa terra.
RAMATIS — Se o fenômeno de consolidação ex¬cluísse essas circunstâncias negativas, deixaria de ser a fase característica de transição citada para signifi¬car situação já alcançada em pleno desenvolvimento.


PERGUNTA— Gostaríamos que nos perdoásseis o descrédito no qual instintivamente caímos após cada desilusão mais forte com relação ao andamento do progresso espiritual de nossa Terra. Sabemos que a fé, a esperança e a caridade para com o próximo são as virtudes nas quais nos devemos escudar, na luta pela vitória dos princípios que abraçamos. Entretanto, não nos podemos furtar à revolta que sorrateiramente se insinua em nosso ânimo ao contemplar a derrota, mesmo que temporária, dos ideais abraçados. Nestes momentos compreendemos por que as pessoas que não possuam uma fé muito grande onde amparar-se des¬norteiam-se e desanimam por completo.
Perdoe-nos a divagação, mas são esses os motivos pelos quais não pressentimos ainda a consolidação a que vos referis.
RAMATIS — Por acaso desconheceis que a saú¬de, muitas vezes, é garantida pela reação provocada através da inoculação do mal capaz de promover uma reação em grande escala?


PERGUNTA — Como interpretar melhor essa afirmação no caso atual?
RAMATIS — Em épocas normais filtrais a água que bebeis. Porém, quando há epidemias, é necessário fervê-la. Embora haja uma perda de certas qualidades desse líquido indispensável à vida, a situação de emer¬gência assim exige. Uma certa desvantagem temporá¬ria é aceita como garantia de sobrevivência, com pos¬sibilidade de sanar futuramente os males inevitáveis.
Da mesma forma, às terras brasileiras vieram desembocar coletividades das mais diversas origens, num processo de escoamento psicológico semelhante ao das águas provenientes de diversas enxurradas após grandes tempestades, que ainda continuarão a repetir-se, lamentavelmente. Nessas épocas tormen¬tosas escorrem das montanhas todos os detritos, os rios transbordam, há infiltrações de águas poluídas na rede de encanamentos normalmente defendidas por um saneamento cuidadoso. Então, apesar das van¬tagens da fertilização do solo, da higienização da at¬mosfera e do enriquecimento dos mananciais, graves conseqüências surgiriam se não houvesse o cuidado de ferver a água antes de ser ingerida. Da mesma forma, cuidados especiais são exigidas na preparação psicoló¬gica de um povo cuja missão é servir de escoadouro para todas as correntes migratórias da Terra, no mo¬mento em que grandes tempestades saneiam a atmos¬fera espiritual humana.


PERGUNTA — Quais seriam esses cuidados especiais?
RAMATIS — Para o bom andamento do progres¬so das coletividades, tomam-se as precauções indis¬pensáveis, capazes de estabelecer um processo de tri¬agem ou penetramento, no qual somente as atividades capazes de impulsionar o bem-estar geral são permiti¬das. Essa defesa da sociedade é comparável a uma filtragem, capaz de defender o organismo humano do contágio inevitável de micróbios no trajeto da água entre a fonte e o final da rede de abastecimento. O ideal seria conseguir a água na pureza de sua nascen¬te, sem o perigo das contaminações, mas, de modo geral, isso não é possível às coletividades numerosas. Assim, também, as criaturas, de modo geral, não po¬dem beber a "água da vida" com toda a sua pureza e necessitam de artifícios capazes de defendê-las de males ainda inevitáveis de modo absoluto.
A Humanidade passa por uma fase decisiva, se¬melhante àquelas ocasiões em que a atmosfera se apresenta carregada e, após um período de perigosas tensões, um escoamento dramático se faz sentir. De¬sencadeiam-se as reações da Natureza e há o transbordamento das energias incontroláveis. Surgem à tona negativismos longamente represados individual e coletivamente. Todas as tensões mantidas em segre¬do pelo sistema de contenção necessário à sobrevivên¬cia da sociedade vêm à tona e encrespa-se a superfície do oceano psicológico humano, para denotar as profun¬dezas de uma reação coletiva necessária ao fluxo e refluxo representado no progresso, que muitas vezes é realizado através de aparentes retrocessos.
Em virtude da enxurrada, a rede de saneamento perde seu valor habitual defensivo e o sistema normal¬mente utilizado para a purificação da água torna-se insuficiente. Processa-se então um desajuste geral e a contaminação psicológica generaliza-se.
Esse desencadeamento de forças negativas, até então represadas, provoca uma necessidade de reação e, na medida, em que ela se fizer, consolidam-se as possibilidades de realização positiva.
Confirmando o ditado popular que afirma "há males que vêm para bem", a visão apocalíptica da animalidade desencadeada, com todas as suas conse¬qüências depreciativas dos valores morais, consegue despertar reações psicológicas positivas na alma cuja contabilidade espiritual já revela um saldo favorável de conquistas, por mínimas que sejam. Há uma neces¬sidade premente de definir valores, quando estes en¬contram-se "em xeque". Desencadeia-se uma polêmica geral e a evidência em que o erro se encontra colocado, representando uma aparente preponderância, serve para provocar reações defensivas naqueles que já são capazes de sentir as desvantagens das situações nega¬tivas. Alguns, por convicção gerada por conhecimen¬tos espirituais cultivados conscientemente, outros, por se sentirem como que intoxicados no grau máximo de saturação suportável a espíritos não propensos ao erro deliberado, sentem-se necessitados de "fazer al¬guma coisa" para encontrar uma solução interior ca¬paz de sanar a insatisfação com o panorama geral.
Certo que, numa fase como essa, as reações des¬critas não poderão oferecer um dique suficientemente poderoso para deter o turbilhonar das impressões de retrocesso espiritual que marcam a era apocalíptica. Porém, no panorama interior de cada ser induzido pelo processo de renovação interna, esboça-se uma fase de recapitulação dos valores morais que se sen¬tem, por assim dizer, desafiados a uma definição mais completa, para o sim ou para o não.
Eis por que o desabrochar de uma fase de conso¬lidação de valores não pode realmente ser capaz de imprimir, no panorama externo, as impressões positi¬vas que seriam de desejar. Trava-se uma batalha no plano espiritual que só o futuro será capaz de demons¬trar, através da obra que externamente será uma demonstração da renovação que se fez no silêncio de cada alma.


PERGUNTA —Um sentimento profundo de com¬paixão, em relação às almas que se encontram nessa batalha interior, nos faz perguntar se não haveria outra forma de provocar essa consolidação de valores.
RAMATIS — Em épocas normais os germes das próprias deficiências prolongariam, tranqüilamente, sua tarefa desagregadora e "águas poluídas" em pe¬quena escala não seriam percebidas. Continuaria o processo normal de "filtragem" que não consegue iso¬lar os germes mais sutis e perigosos. Ao contrário, a situação de calamidade pública alerta a coletividade para a necessidade de "ferver a água" destruindo de maneira eficaz o germe do mal causador de moléstias graves e que, em épocas normais, não estaria liberado em toda a sua potencialidade, não deixando, porém, de existir.
A quem tem "olhos de ver" seria mais digno de compaixão o espírito que se estivesse intoxicando, lentamente, sem mesmo o perceber. A situação de choque, embora desagradável, é uma forma de alertar os que por si mesmos não se interessaram a tempo pela renovação necessária. É uma bênção do Senhor esse trabalho de alerta que as próprias forças negativas se incumbem de fazer. A sabedoria popular identificou que "Deus escreve direito por linhas tortas". O festival sombrio do erro é o seu próprio antídoto. O cansaço, a insatisfação, gerados pela predominância das situa¬ções negativas, forçam as almas em posição limítrofe a se definirem.


PERGUNTA — Perdoe-nos a insistência, mas que dizeis sobre os que não se encontram nessa situa¬ção limítrofe e sucumbem por falta de resistência ao erro posto assim em evidência?
RAMATIS — Faz parte da fase de consolidação essa inevitável definição de valores. As almas débeis, porém de boa-vontade, têm nessa época dramática um apoio redobrado. Já deveis ter percebido que, parale¬lamente ao erro que se evidencia, sinais dos tempos são fornecidos de maneira generosa. A batalha é tra¬vada e não há deficiência de recursos para os que escolheram o lado da "direita do Cristo". Só aos que escolherem deliberadamente a oposição aos desígnios eternos será impossível a reação.
As ovelhas ainda não fortalecidas nos conselhos evangélicos mas que, por espontânea vontade, ven¬cendo a própria inércia espiritual, buscarem o aprisco divino, serão recolhidas e assim estarão defendidas do predomínio do mal.
Quanto às que se negarem a mover-se em direção ao abrigo evangélico, terão feito sua escolha. Porém, não poderão alegar falta de socorro. A Justiça Divina, que é toda Amor, por mil modos, espalhou sobre a Terra nessa fase decisiva os chamamentos dentro das características capazes de tocar cada espírito em suas preferências.
Dessa forma, podeis concluir que a consolidação a que nos referimos é essencialmente psicológica. Faz-se no íntimo de cada qual quando o panorama contur¬bado da vida no planeta exige definições íntimas. No plano espiritual "as ovelhas colocam-se à direita e à esquerda do Cristo", cada qual lutando por manter suas posições e dessa forma consolidando-as.
Definido o panorama, surge o momento de pro¬porcionar os meios de desenvolvimento às tarefas es¬colhidas pelas facções no respeito básico e indispensá¬vel ao livre-arbítrio, dentro das leis gerais do Univer¬so.
Proporciona-se a cada um o ambiente propício às suas realizações e como não será possível a coexistên¬cia dos objetivos, com proveito geral, caminhos dife¬rentes são tomados dentro das diretrizes evangélicas de dar "a cada qual segundo as suas obras".
Afastados aqueles que, deliberadamente, perma¬neceram em oposição à realização da Lei, surgirá a fase na qual os obstáculos poderão ser vencidos por um esforço geral no sentido da reconstrução do reino de Deus na Terra, cujo ambiente paradisíaco fora maculado pelo engodo da serpente.
E a paz reinará entre os homens de boa-vontade para que aprendam, à custa do próprio suor, a lição árdua que foi iniciada pelas lágrimas do arrependi¬mento e da dor.
Nessa época, o "gigante" sentirá como um frêmito de vida nova e uma alegria espiritual sem par desper¬tará todos os seus filhos para a tarefa de Amor que há 2.000 anos o Senhor iniciou na Terra. A paz, a alegria, o perdão, a felicidade, enfim, serão encontrados na terra em que o Senhor lançou a semente dos "pequeninos que verão a Deus". E a visão apocalíptica da dor será transformada no campo fértil de uma realidade que não será suficientemente tranqüila para aqueles que desejarem repouso definitivo, mas que oferecerá todas as oportunidades de trabalho renova¬dor às almas capazes de valorizar as bênçãos da par¬ticipação na construção do futuro.
Finalmente, aqueles que, fracos ainda, se ache-garem aos servos ativos, ver-se-ão arrastados pelo contágio do Bem e o Senhor surgirá a seus olhos como o Amigo, o Mestre cuja lição aprenderão a amar e a seguir.














4

Obstáculos



PERGUNTA— Para a realização das tarefas reser¬vadas ao nosso povo, quais os obstáculos maiores a serem vencidos?
RAMATIS — Os maiores obstáculos a serem superados resumem-se todos num único — a falta de conhecimento da Lei de Deus.


PERGUNTA — Como poderíamos interpretar tal afirmação, tendo em vista os séculos de doutrina¬ção cristã introduzida em nossa Terra com seu próprio descobrimento?
RAMATIS — Bem vos expressais com a idéia de "doutrinação cristã" porque o que se tem feito em realidade é intensificar a doutrinação, descuidando-se da observância dos princípios capazes de manter vivo o espírito que vivifica. O aspecto literal do Cris¬tianismo vem sendo esmiuçado das mais diversas for¬mas. Porém, como bem se pode concluir, onde o espíri-to não tem acesa a sua chama, a letra permanece morta, como um cadáver que se putrefaz à proporção que o tempo passa. Então, procuram embalsamá-lo, vesti-lo, colorir suas faces, para dar-lhe aparência de vida. Constrói-se um mausoléu, procurando chamá-lo de "casa", porém, a ausência de vida reinante no ambiente dos templos dedicados ao culto de tais idéias, por mais férteis que fossem inicialmente, contagia de um desânimo irreprimível as almas que recor¬rem às "casas de Deus", onde o calor primordial da fé já desapareceu.
Templos frios, mantêm as almas enregeladas. É verdade que elas, por não haverem conhecido outra interpretação do Cristianismo, sofrem uma desvita-lização congênita sem se aperceberem, como se al¬guém, criado na penumbra, nunca pudesse sentir falta da luz esplendorosa do Sol, a não ser por uma insatis¬fação constante, julgada natural por não conhecer outro estado.
O maior obstáculo, portanto, ao advento da reali¬zação cristã que devereis levar avante encontra-se na característica do apego à "letra que mata" com aban¬dono do "espírito que vivifica".


PERGUNTA— Há alguma causa especial à qual possamos atribuir essa deficiência?
RAMATIS — Sim. A tendência generalizada na Humanidade encarnada para esquecer seus deveres espirituais.


PERGUNTA — Seria este o único obstáculo? Não haverá circunstâncias independentes da vontade humana que também representem obstáculos?
RAMATIS— Os obstáculos naturais representa¬dos pela necessidade de moldar o ambiente físico e social seriam, por assim dizer, o exercício natural das faculdades em desenvolvimento. A atitude displicente em relação a essa necessidade de exercitar capacida-des novas é que representa o verdadeiro obstáculo, ou seja, o desconhecimento da Lei de Deus que é — esforço, doação, dedicação ao Bem em todas as suas manifestações.


PERGUNTA — Em virtude da Humanidade se ter conduzido sempre nesses moldes de "displicência em relação aos deveres espirituais", consideramos que seria necessária uma reforma integral da filosofia de vida reinante na Terra para que o povo brasileiro surgisse como um líder à altura da missão que lhe cabe. Que dizeis?
RAMATIS — Todos esses contratempos estão sendo levados em conta nos planejamentos elaborados no Espaço. Os obstáculos aparentes que, de modo geral, são enumerados como barreiras ao progresso da coletividade brasileira são somente manifestações se¬cundárias de males enraizados no espírito humano há milênios. Acontece que até hoje as coletividades for¬madas têm sido conduzidas de maneira a cumprir missões que, embora falhando parcialmente, não dei¬xaram de produzir alguma forma de progresso. A evolução da coletividade terrestre foi sendo acrescida de valores parciais, falhos quase sempre em seus fundamentos cristãos, mas necessários a uma coletâ¬nea de valores para o progresso material do planeta. Porém, no momento, há uma fase de decisões inadiáveis no setor da "filosofia da vida". É a hora da Humanida¬de renovar seus planos de ação como uma necessidade premente. Aquela possibilidade de realização parcial chegou ao seu termo, pois o acúmulo de displicência no setor filosófico, representado pela reforma de atitu¬des, provocou uma situação de crise, cuja solução não pode mais ser adiada.


PERGUNTA — Qual seria a forma adequada de conduzirmos a situação, para obtermos vitória sobre os obstáculos que se opõem à realização dos planos da Espiritualidade em relação ao futuro de nossa Terra?
RAMATIS — Saber esperar que a vontade de Deus siga seu curso no que diz respeito às situações externas, sem, no entanto, negligenciar a parte de colaboração que diz respeito a cada qual. Dar de si tudo o que for necessário, como o operário que, humil¬demente, carrega alguns tijolos para a construção de uma obra gigantesca, da qual não pode perceber o contorno amplo demais para a sua capacidade de iden¬tificação.
Eis a forma pela qual o cristão sempre foi chama¬do a agir. Em todas as épocas a mensagem do Cristo foi sempre a mesma: Amor a Deus, representado pela capacidade de saber esperar, e Amor ao próximo, pelo sentimento de solidariedade humana.
Como vedes não haverá necessidade senão de pordes em prática os princípios básicos do Cristianis¬mo.


PERGUNTA — Perdoe-nos um comentário mui¬to humano, porém, sentimos que esse é o programa mais áspero que já foi entregue à Humanidade, em virtude da fraqueza espiritual que a caracteriza. Pelos séculos de fracasso total ou parcial, há em nós uma desesperança congênita, capaz de fazer esse programa parecer impossível de ser realizado. Que nos dizeis?
RAMATIS— Realmente, se utilizarmos medidas absolutas, características dos sentimentos extrema¬dos e primitivos, seria perfeita utopia sonhar com a realização de tal programa. Porém, para os que ama¬durecem, espiritualmente falando, nuances aperfeiço¬adas vão surgindo na capacidade de compreensão.
Quando dizemos que o Amor a Deus e ao próximo constituem a solução para o problema da vitória sobre os obstáculos à missão de paz e ventura reservada ao vosso povo, não vos estamos entregando uma fórmula mágica, para cuja manipulação necessitaríeis de inici¬ação especial e cujos efeitos seriam semelhantes a um "abre-te Sésamo". Reafirmamos um princípio básico da Espiritualidade que precisará ser seguido a duras penas, mas que ainda representa o "jugo leve" capaz de conduzir o viajor ao seu objetivo de renovação espiritual.
E muito belo acompanhar pacientemente, como convém a toda obra duradoura, a transformação das coletividades em fases de renovações decisivas. Em meio à espuma dos detritos representados pelo negativismo milenar que em tudo se insere, lampejos de Amor verdadeiro surgem como faíscas nas almas ainda inseguras de suas atitudes cristãs. Pequenos pontos luminosos começam a surgir na longa noite da incompreensão humana, e a treva, em certos pontos vencida, começa a transformar-se em penumbra.


PERGUNTA — Compreendemos esse fenômeno representado por lampejos de espiritualidade nas almas ainda incipientes no Bem. Porém, como sempre sucedeu assim, não sentimos qual o fator que na fase atual promoverá a preponderância desse Bem assim tão "diluído" no erro, decidindo a vitória final.
RAMATIS — Não vos afirmamos uma transição brusca. Justamente por ela não ser possível é que a vitória vos parece obscura. Porém, por sinais esparsos, ela já se anuncia para quem tenha "olhos de ver".
Tendes razão quando considerais impossível uma vitória definitiva do Bem nas condições atuais da Humanidade. Ela só será possível na razão direta da persistência exercitada pelos que se dedicam à vitória dos princípios cristãos. Longe de condenarmos vosso espírito racional, que vos segreda ser impossível rea¬lizar modificações radicais, louvamos a análise clara do problema que viveis. Dela poderá surgir uma capa¬cidade maior de realização, baseada em observações corretas do panorama espiritual em que atuais.


PERGUNTA — Sentimo-nos encorajados pela afirmação de que bastará o cultivo persistente dos princípios básicos cristãos para ser atingido o objetivo do planejamento espiritual, apesar de todas as nossas deficiências. À primeira vista, esse esforço humilde pareceu-nos insuficiente para a conquista de objetivo tão precioso.
RAMATIS— Este esforço humilde será suficien¬te no que diz respeito à vossa participação, isto é, na parte que poderíamos classificar de "lado humano" da situação. Haverá, porém, uma programação paralela constituída pelo desencadear de fatos provocados pela lei de causa e efeito. Tais fenômenos contribuirão para a transformação radical, capaz de influir na valoriza¬ção crescente dos pontos de vista espirituais, para a elaboração das normas de conduta humana. A catás¬trofe — resposta inevitável ao desrespeito das leis cósmicas — desempenhará o papel de detonador psí¬quico capaz de destruir as barreiras opostas até hoje à passagem livre dos caminheiros humildes que levam consigo a chama da boa-vontade.
Inebriados com o brilho falso e ofuscante do intelectualismo inconsistente, os homens têm vivido como à luz de fogos-fátuos que, por muito numerosos, produzem um clarão generalizado, porém, intermiten¬te e incapaz de sustentá-los em uma caminhada mais longa para a espiritualidade. Por serem numerosos e emocionantes os clarões produzidos pelo conjunto des¬ses fogo-fátuos, seus veiculadores riem-se dos peregri¬nos humildes que levam consigo a lâmpada despreten¬siosa dos obreiros do Amor Cristão, ou, simplesmente, ignoram sua participação disciplinada e obscura no panorama terrestre.
Infelizmente, ainda não perceberam que a ale¬gria momentânea e incompleta dos clarões da intelectualidade mal conduzida provém da putrefação dos despojos de uma civilização cuja capacidade vital esvaiu-se. Os habitantes deste cemitério espiritual que é o planeta conduzem-se como os desencarnados incapazes de sentir sua condição. E no panorama formado pelos jazigos das idéias redentoras triste¬mente desprezadas, absorvem-se de tal forma na ale¬gria dos clarões produzidos pela queima de reservas orgânicas provenientes da desintegração, que consi¬deram melancólicos os viajores que cruzam os seus caminhos como seres cansados e muitas vezes desilu¬didos. Estes últimos vêem a situação. Sabem que/cru¬zam um cemitério onde foram enterrados os ideais de fraternidade que se decompõem dia a dia. Por isso trazem o semblante abatido e parecem derrotados na sua insensatez de caminhar com a lanterna de luminosidade frágil, porém persistente — a boa-von-tade cristã. Contemplam a condição de loucura e in-consciência que se apossa de seus irmãos, porém per¬manecem na rota sem poderem influir decisivamente na renovação dos pobres iludidos pela fixação mental do intelecto desorientado.


PERGUNTA — Do que ficou dito, poderíamos concluir que o desenvolvimento intelectual vem sendo um entrave à renovação espiritual do homem?
RAMATIS — Os homens já conseguiram, compre¬ender que um instrumento em si não costuma ser mau nem bom. O uso que dele é feito decide a sua qualifica¬ção.
A mente humana dispõe, em estado latente, de possibilidades infinitas de desenvolvimento que ainda não sois capazes de pressentir. A intelectualidade é o degrau inicial cujo sabor generoso embriaga os menos avisados.
O homem intelectualizado muitas vezes procede como alguém que, tendo aprendido a ler, inebriou-se com a felicidade de armazenar conhecimentos e habi¬tua-se a sorver voluptuosamente o prazer de conhecer cada vez mais dentro do hábito adquirido de analisar, indefinidamente, o panorama da vida em todos os aspectos. A análise caracteriza o labor do intelecto que tudo esmiuça e classifica, proporcionando ao homem uma sensação de satisfação e domínio sobre os fenô¬menos estudados.
Porém, dominar a compreensão dos mecanismos e orientar os fenômenos analisados fornecendo ao planeta o aspecto material aprimorado, embora seja um passo avançado no caminho da evolução, não re¬presenta ainda a vitória máxima a ser alcançada no plano mental. Suas faculdades superiores encontram-se ainda por ser desenvolvidas e, na maior parte das vezes, o sabor inebrianl.e da intelectualidade serve para distrnir o homem que se esquece de que não deve parar aí.
O intelecto e análise e síntese do plano mental inferior. Capacita o homem a investigar os processos mentais relacionados com indagações capazes de mo¬dificar o panorama espiritual a partir de introduzi-lo na responsabilidade de ser participante da economia universal num limite antes nunca imaginado. Porém, para que ele assuma as proporções generosas de um verdadeiro colaborador na vida cósmica, será preciso sentir a natureza íntima de sua constituição total.
Como afirmamos, o intelecto é parte da mente mas não é a mente. Existe um setor inexplorado pela o mental superior — que abre campo à investigação hoje iniciada com o nome pompo¬so de parapsicologia e que nada mais representa do que a multimilenar atividade espiritual do homem, classificada com nome científico ao gosto do século.
Se o homem não se encontrasse tão inebriado com suas possibilidades intelectuais recém-descobertas, poderia sentir, sem sombra de dúvida, de forma imedi¬ata, a unicidade dos conhecimentos espirituais esparsos pelos séculos e reagrupá-los formando um corpo de verdades capazes de orientá-lo em suas in¬vestigações atuais. Infelizmente, por ter obtido suces¬so sem precedentes através do desenvolvimento inte¬lectual, descrê do valor existente em investigações que lhe parecem não ser dignas de crédito, pelo sim¬ples fato de não se encontrarem enquadradas, com perfeição, dentro dos moldes costumeiros de suas elucubrações mentais.
Aquela sublime intuição que foi sempre o "norte" pelo qual se guiaram todos os grandes construtores do mundo, aquela força que inspira e conduz os homens que ultrapassam a medida comum, não pode ser sen¬tida pelos que se fecham em suas bibliotecas apaixo¬nados por sua forma limitada de investigação científi¬ca, incapaz de permitir a abertura de novas portas. Tão inebriados se encontram a contemplar a lombada luxuosa de sua biblioteca mental que se esquecem ou desprezam a possibilidade de haver por trás das es¬tantes de um saber secular compartimentos secretos dignos de serem investigados.
Se fossem capazes de buscar pacientemente os segredos da mente humana, veriam mover-se as es¬tantes e abrir-se por trás delas passagens que os conduziriam a amplas paragens, onde o inverossímil tomaria forma de realidade, para demonstrar que a felicidade do conhecimento começou a ser desvendada de leve pelo homem terreno.
Portanto, a intelectualidade não constitui um obstáculo, mas, sim, a forma pela qual vem sendo usada. Constitui um degrau precioso cujo domínio pode abrir ao homem panoramas mais amplos. Com a experiência e os valores adquiridos nesse setor — o intelecto — poderá mais facilmente avançar nos me¬andros do espírito imortal. Poderá sentir como é gran¬dioso o plano da Criação e estará apto a receber me¬lhor os esclarecimentos relacionados com os outros setores de sua própria constituição espiritual. Isto porém só sucederá se for capaz de afastar a vaidade de que foi possuído desde o momento em que sentiu o valor das ilimitadas possibilidades espirituais exis¬tentes em seu intelecto. Para que não estacione aí, precisa admitir que algo existe a ser explorado no campo da mente, algo que exige uma atitude não ortodoxa, para ser encontrado o fio de Ariadne no labirinto da intrincada psicologia humana.
Enquanto essa atitude de isenção de ânimo não for encontrada, enquanto o desafio da vida for encara¬do como um insulto à sapiência oficializada, realmen¬te a intelectualidade que poderia ser mais um recurso na busca da verdade, será venerada como deusa onipo¬tente e ultrajada pelos "mistificadores que se entre¬gam a práticas absurdas".
Por sua vez, os que se dedicam abnegadamente à investigação dos valores mentais superiores, rasgan¬do os véus que até hoje ocultaram as verdades do espírito, podem, temporariamente, prescindir das con¬quistas intelectuais e penetrar no domínio das forças mentais superiores. Porém, por uma contingência ine¬vitável do progresso, terão que desenvolver a base mental do intelecto para se poderem sentir equilibra¬dos nos altos cumes da espiritualidade.
Os valores do mental superior e do mental infe¬rior devem ser desenvolvidos equilibradamente para ser obtido o efeito harmonioso do equilíbrio espiritual na grande escalada da evolução.
Portanto, consideramos que todos os obstáculos, capazes de impedir a harmonização sonhada pelo homem no paraíso terrestre, são decorrências da falta de humildade encarada em seu verdadeiro sentido de — ajustamento psicológico. Já dizia a lenda bíblica que o fruto do conhecimento do Bem e do Mal fora a causa do afastamento do homem do Paraíso. Ao amadurecer para o conhecimento o homem costuma envenenar-se por imprimir direção inadequada às suas investiga¬ções. Por esse motivo prejudica seu equilíbrio interior por julgar-se acima das leis eternas, somente por haver chegado ao conhecimento e domínio de algumas. Perde então a noção do lugar que lhe cabe na Criação, desajusta-se, privando-se da sublime alegria de uma participação consciente e amorável no plano geral da vida. Fecha-se num mundo de criações mentais parti¬culares que em breve desviam-se do plano geral e o levam a entrar em choque com a harmonia universal. Termina por verificar que o fruto do conhecimento de que se alimenta encontra-se envenenado, quando já os efeitos dos males se fazem sentir em grande escala.
Por esse motivo repetem-se os alertas e todas as almas capazes de voltar sobre seus passos poderão encontrar o caminho da harmonização interior, ven¬cendo os obstáculos íntimos para se lançarem na em¬preitada de construir uma civilização nova, baseada nos princípios cristãos até hoje desvalorizados pela incompreensão dos sábios, limitados no conhecimento restrito de suas retortas, capazes de produzir o veneno da destruição dos ideais humanos de fraternidade e paz.
Precisaríamos, ainda, esclarecer que tais incompreensões não se encontram na dependência do credo político, mas decorrem de atitudes mentais cul¬tivadas pelo homem em todas as condições. São a pesquisa da incompreensão inoculada pelo orgulho, o egoísmo e a vaidade, capazes de sugerir a cada ser a idéia ilusória de que seu valor será medido pela possi-bilidade de sobrepujar seu irmão. A idéia de Caim então encontra guarida e de certa forma penetra sutil-mente através dos sentimentos antifraternos que se ampliam em escala crescente, até atingir os homicídios coletivos como exteriorização daqueles sentimen¬tos de orgulho, vaidade e egoísmo para os quais a ciência material não encontra antídoto.














































5

Realização


PERGUNTA — Gostaríamos de obter orientação para as realizações que nos esperam neste final de século, já que está previsto para o Brasil um tipo de liderança no panorama mundial. Que nos dizeis?
RAMATIS— Vemos no Brasil, realmente, a "Ter¬ra da Promissão" para o "povo de Deus" que é a Huma¬nidade e que tem vivido "exilado" do "paraíso terres¬tre" desde que a discórdia se implantou entre os ho¬mens nas mais remotas eras. O exílio está representa¬do na incapacidade de viver dentro da paz sonhada por todas as almas cansadas de desarmonia gerada pela imprevidência dos espíritos primitivos, cujo prazer é a solução animal, imediata de caprichos primários.
O anseio de paz é uma característica de evolução. A satisfação dos instintos primitivos difere muito do prazer refinado das almas capazes de sonhar com a harmonia.
Exatamente como sucedia entre os hebreus na busca da Terra Prometida, deslocados, psicologica¬mente falando, em relação à sua época, ao povo brasi¬leiro está destinada uma missão que cumprirá em condições idênticas.
Não se poderia dizer que aquele povo fosse cons¬tituído por uma elite espiritual, capaz de sentir a grandeza integral da missão que desempenhava. Porém, apesar das dificuldades características de um aglomerado heterogêneo de almas, cumpriu no con¬junto a tarefa que lhe fora destinada — chamar a atenção da Humanidade para o problema espiritual, de forma mais adequada à evolução.
A mesma ternura desvelada, que era dedicada ao "povo eleito" em sua missão pioneira, é oferecida es¬pontaneamente ao Brasil por todos os espíritos que na Terra ou no Espaço sentem a beleza da missão que lhe está reservada. E os mesmos sentimentos inseguros e dramáticos se esboçam na fisionomia coletiva desse novo povo escolhido, inclusive pelo movimento cres¬cente que já se faz sentir, e que constitui o reconheci¬mento do Messias — Jesus redivivo nos ensinamentos evangélicos da caridade cristã, que vai se tornando cada vez mais uma característica integrada à psicolo¬gia brasileira.
Entretanto, não nos é possível oferecer roteiros de ação senão em planos gerais que talvez sejam considerados insuficientes.
Apesar de respeitarmos profundamente essas opiniões, gostaríamos de lembrar que todas as normas práticas de ação serão deficientes se não se basearem numa estruturação psicológica capaz de sustentar o panorama externo. Se conseguirmos sugerir atitudes mentais e emocionais capazes de inspirar atos renova¬dores no panorama de vida material, sentiremos que cumprimos a contento a missão que nos cabe.
Com a tarefa humilde de trocar impressões convosco, não nos foram delegados poderes hipnóticos ou discricionários capazes de refazer a face do panora¬ma em que viveis. Ao contrário, em vossas mãos encon¬tram-se todos os elementos para essa revisão de valo¬res, que constitui uma necessidade de auto-afirmação que não vos pode ser retirada.
Nossa tarefa seria a de um amigo que comenta convosco os detalhes do caminho de maneira casual e fraterna, sem as características de uma tutela inopor¬tuna.
Se nossas idéias forem capazes de influir em vossas atitudes, ficará demonstrado que realmente já havíeis amadurecido para uma compreensão acima dos objetivos imediatos da vida e que sois represen¬tantes legítimos do "povo eleito" da época atual.
PERGUNTA— Que recomendações faríeis a nós ao abordarmos o aspecto do serviço que consolidaria a liderança reservada ao Brasil no panorama mundial?
RAMATIS — Se levássemos as coisas "ao pé da letra" ninguém jamais ousaria abrir a boca para reco¬mendar o que quer que fosse depois das indefiníveis pregações de Jesus na Terra. E, pelo fato de estar divulgada a norma áurea de vida — "amai-vos uns aos outros como Eu vos amei" — nem mais um comentário seria necessário acrescentar a essa síntese perfeita de todas as normas de bem viver.
Entretanto, por ser ela uma síntese perfeita, representa conceituação obtida por vivências subli¬madas, tal como as fórmulas mágicas, em sua impenetrabilidade aparente, condensam virtudes e conhecimentos adquiridos por longas elucubrações mentais de seus formuladores.
Sua força inequívoca, porém, para ser sentida e vibrada em toda a extensão, exige do aprendiz uma iniciação laboriosa e o fato de ser apresentada em forma tão singela não impede que longos e demorados esforços sejam necessários para serem utilizados os seus benefícios.
Assim, todas as vezes em que temos a nossa frente uma tarefa a realizar, surge a necessidade de estender às novas realizações os benefícios da fórmula mágica e, ao fazê-lo, verificamos que ela é de uma singeleza inigualável, embora, ou por isso mesmo, exija esforços intensos para ser aplicada.


PERGUNTA — Sendo assim, seriam inúteis to¬dos os trabalhos que se tem escrito sobre as atividades humanas, já que existe uma síntese capaz de englobar, na sua simplicidade, todas as normas necessárias ao equilíbrio espiritual?
RAMATIS — A fórmula mágica existe, porém só funcionará quando for aplicada de maneira correta. Uma verdadeira iniciação, prolongada e minuciosa, se faz necessária para pô-la em movimento e nisto se baseia a utilidade dos milhares de tratados que se tem organizado em torno da regra áurea.
Inclusive, existe quem clame por uma nova fór¬mula por ainda não ter conseguido penetrar os misté¬rios da que já existe, trazida por Jesus em uma clareza esplendorosa e meridiana.
Desse fato se depreende a necessidade de uma análise exaustiva de todos os aspectos da vida em função da fórmula preciosa, até que seja possível con¬jugar, gradativamente, cada espírito com os aspectos dessa verdade que mais se afinarem com suas caracte¬rísticas psicológicas. Assim podeis compreender a ne¬cessidade das diversas religiões ou sistemas filosófi¬cos, que traduzem a síntese do Amor Crístico em verdadeiros "idiomas" e até "dialetos" possibilitando-lhe a percepção pelas mais diversas individualidades.


PERGUNTA — Considerando que sejam todas as religiões e sistemas filosóficos provenientes de uma só fórmula, como explicar as divergências existentes entre os cultores desses subprodutos da Verdade?
RAMATIS — Compreende-se que, como subpro¬dutos, não globalizam as características de unidade, o que se reflete na atitude de seus cultores.


PERGUNTA — De que forma esses conceitos podem ser relacionados com a situação brasileira?
RAMATIS — Todas as atividades humanas so¬frem os efeitos dessa desagregação mental e emocio¬nal, característica do processo evolutivo na fase que se distancia acentuadamente do ponto harmonioso re¬presentado pela conquista da fórmula sintética. Essa fórmula, embora tenha sido fornecida com detalhes, exige explicação para ser posta em prática e as tenta¬tivas prolongam-se por um período caracterizado pe¬las contradições em fluxos e refluxos capazes de forne¬cer um panorama aparentemente caótico.
Procuramos, repetidamente, analisar aspectos não identificados à primeira vista por vós, com o objetivo de atenuar a impressão desagregadora produ¬zida pela fase de transição que atravessais. Por sua tonalidade dissociativa, a atuação que viveis poderá fazer-vos duvidar de que o Amor realmente "cubra a multidão dos pecados". E esse esquecimento teria con-seqüências desastrosas. Se não crerdes na misericór¬dia que preside as mais dolorosas transições que viveis, se não vos capacitardes de que sois amados e que vossas lutas são amparadas por um Amor cujos concei¬tos ultrapassam as percepções humanas, como conseguireis servir ao próximo, se estiverdes sucum¬bidos pela dor do desespero?
Há necessidade de ultrapassar os conceitos hu¬manos, a forma de classificar os acontecimentos den¬tro do imediatismo mais corriqueiro e adotar uma conceituação avançada, coadunando os mais nobres objetivos da vida aos valores mais rotineiros da expe¬riência humana.


PERGUNTA — Sentimos que, por mais lógicos que sejam os conceitos emitidos, há grande dificulda¬de em vê-los aceitos pela maioria dos irmãos que se sentem envoltos, sem esperança, em provações como as da época atual. Como conseguir "tocá-los"?
RAMATIS — Um trabalho que se destinasse a congregar todas as criaturas em torno de um objetivo seria incapaz de cumprir sua função na época atual, pelo fato dos condicionamentos psicológicos serem grandemente diversos.
Entretanto, muitas vezes sucede que, após pene¬trar em grandes tempestades, quando o rumo já se acha perdido, os tripulantes de uma embarcação deli¬beram reunir seus esforços e encontrar o roteiro mais adequado. Então, estudam juntos os mapas de nave¬gação que se encontravam abandonados, prestam aten¬ção às previsões meteorológicas, consultam todos os instrumentos norteadores. Daí em diante, passam a evitar eficientemente os recifes, a deslocar-se para mares mais tranqüilos e, disciplinadamente, alcan¬çam com segurança o porto.
Lamentavelmente, a tempestade e os recifes en¬contram-se a perturbar a navegação do vosso "barco", mas as atribulações que sofreis ainda não tiveram o condão de despertar para a realidade a maioria da "tripulação", que somente se sente estorvada pelo mau tempo capaz de estragar-lhe a navegação descuidosa. Tal como em outros tempos igualmente proféticos, a maioria não se convenceu da necessidade de mudar o rumo. Só o "dilúvio" será capaz de despertá-la.


PERGUNTA — Sentimos grande tristeza diante dessas afirmações feitas tão repetidamente. Parece-nos contraditório que o Amor de Deus se revele num ambiente de luta generalizada, que a alvorada de uma nova vida no Planeta precise ser precedida pela derro¬cada de tantos ideais. Que nos dizeis?
RAMATIS — Uma casa construída com madei-rame apodrecido poderá abrigar muitos moradores desavisados e imprevidentes, porém sua duração deve ser curta. A misericórdia de Deus, entretanto, permite que, periodicamente, estes moradores sejam alertados para a situação precária em que se encontram. Cansa¬dos de ouvir tantos alertas, sem que a catástrofe se concretize, passam a julgá-la utópica.
Na realidade, perecer ou não dentro dela é ques¬tão de livre arbítrio, em última análise. A tempestade, ou seja, o novo dilúvio, vem sendo armado, grada-tivamente, há séculos, dentro dos quais nenhuma só vez o Sol se levantou para vós sem que milhares de bocas se empenhassem em repetir a necessidade de aplicar a Lei de Deus. Sob as mais diversas vestiduras o chamado é feito incessantemente.
Desse fato se depreende que os "ideais" que sofre¬rão derrocadas estão bem distanciados das reais ne¬cessidades de evolução da Humanidade.


PERGUNTA — Haveria necessidade de uma re¬novação total de valores no panorama de nossa Pátria para que se cumprisse a missão que lhe cabe? Quais as providências práticas mais urgentes a serem toma¬das?
RAMATIS — Povo generoso, porém em fase de progresso incipiente, vossa missão consiste em prepa¬rar caminhos. Não se espera de vós a realização total do Bem sobre a Terra. Sois pioneiros e não propria¬mente os artífices definitivos da obra a ser realizada. Assim, a contribuição que é esperada de vós é vibrar o Amor incondicional ao Bem e encontrar vossos meios particulares de realizá-lo naquilo que se encontrar ao vosso alcance. Na Espiritualidade existe um senti¬mento profundo de serenidade e paz, pois toda alma esclarecida sabe que a Obra é do Eterno e aos seres criados compete uma parcela humilde e harmoniosa de colaboração.
A sabedoria do Eterno é tão grandiosa que não exige de quem quer que seja atitudes renovadoras drásticas. Seria contrária à Lei uma situação em que a Natureza desse saltos.
Pelos caminhos tortuosos das incertezas os brasi¬leiros acharão seu roteiro. Penando e purgando, os servos fiéis louvarão o Bem com o próprio suor e com as próprias lágrimas. O Éden terrestre será preparado de acordo com a previsão bíblica, suor e lágrimas para concretização da paz.
Não poderia deixar de ser assim. Se o Brasil representa um cadinho onde serão refundidos os valo¬res cultivados pelo homem através dos milênios sua experiência decisiva não poderia deixar de ser uma "operação limpeza" exigindo sacrifícios e lutas.
A grande alegria consiste em sentir que, final¬mente, chegou o momento das abençoadas revisões espirituais de tarefas. Novos valores surgindo como resultado das decepções em torno de ideais acalenta¬dos de forma inadequada. Precisará ser preenchido o vácuo entre as teorias reverenciadas e as atitudes desprovidas de coerência com elas.
Então levantar-se-ão os defensores teóricos dos ideais milenares para afirmar que estão sendo menos¬prezados os objetivos na Verdade, quando na realidade, a aparente involução será fase de teste para estas mesmas verdades colocadas em pedestal de ouro e, por isso mesmo, jamais experimentadas em todo o seu conteúdo de Amor.
Quem ama uma verdade vive-a, testa a sua gran¬deza na experiência sagrada que a vida representa e mesmo que por isso ela pareça amesquinhada pelo contato rude da realidade involutiva do planeta, resta no coração do aprendiz um sentimento sagrado de fidelidade, como se houvesse queimado na ara do coração o incenso do Amor e nele permanecesse o perfume renovador da experiência vivida. Haverá cin¬zas a limpar, porém terá sido incinerado o resíduo inútil do negativismo no ato de dedicar-se de corpo e alma à obra do Bem e permanecerá a alegria do apren¬dizado, como a higienizar o ambiente antes conturba¬do e negativo.
Se o servo fiel souber pôr "mãos à obra", mesmo sem grandes arremedos de louvores altissonantes, como exigiriam as normas pregadas pelos fariseus da época, poderá colher no coração a alegria da fidelida¬de, pois não foi nos templos oficiais que a obra do Mestre encontrou guarida.
Desse modo, todo aquele que amar a obra do Eterno que está programada na Terra Brasileira po¬nha mãos à obra. Se os "fariseus" se indignarem, nem por isso o discípulo fiel se desviará do caminho. Ao contrário, verá nesse fato a confirmação das palavras de Jesus quando disse que enviaria seus discípulos "como ovelhas no meio de lobos".
Se vos acusarem de destruir os valores preexis¬tentes com o vosso zelo, lembrai-vos de que Jesus Lambem sofreu essa incompreensão dos homens, as¬sim como todos os que O seguiram.
Porém, para que vos sintais autorizados a viver cm tal situação, para que vossa prova seja bem vivida, cuidai para que, realmente, vossos objetivos não se¬jam pessoais. Fazei-vos servos de todos, instrumentos da Verdade e jamais utilizeis a Verdade como instru¬mento de vossos caprichos.
Envoltos nesses ideais de desprendimento, podereis ser levados pela onda sublime das realiza¬ções espirituais que não exigem rótulo de nenhuma espécie. Ao contrário, despreocupados de sectarismos, vossos espíritos poderão melhor cultivar os bens eter¬nos do espírito. Cuidareis melhor do que se passa no íntimo do vosso coração se não estiverdes preocupados em fazer luzir caracteres demonstradores do faccio-sismo de qualquer procedência.
O Brasil é a nova Terra da Promissão. Nela qual¬quer verdade pode ser aclimatada, como todo homem circuncidado poderia tornar-se hebreu. A higienização da mente, como nova circuncisão, prepara a alma para integrar-se ao "espírito" da renovação a ser realizada na Terra da Promissão brasileira. Só os que assim agirem, amando acima de tudo a Verdade sem frontei¬ras, poderão sentir integralmente o significado do serviço que é esperado do vosso povo. A universalização, sob todos os aspectos, é a vossa tarefa. Amar o Bem de tal forma que vos façais seguidores do Cristo tal como Ele se apresentou entre vós — respeitando a ordem estabelecida no campo social, mas renovando-a pela implantação cada vez mais eficaz dos princípios gran¬diosos do Amor Universal.
A revolução única possível, o serviço e a realiza¬ção que se espera de cada um de vós será cumprir, o mais estritamente possível, os mandamentos do Amor de Deus. Desse modo toda renovação advirá.
Não podeis prever a que culminâncias sereis con¬duzidos pelo simples fato de vos orientardes pelo ver¬dadeiro espírito de serviço inspirado no Amor Crístico. Será uma renovação social proveniente de transfor¬mação espiritual de cada indivíduo. Sem choques, ela se fará mansamente, pois seus combates se darão no silêncio do coração de cada qual.
Vosso serviço resume-se, pois, na seguinte neces¬sidade — preparar o coração para que o reino do Senhor possa se fazer presente na Terra da Promis¬são.



















6

Harmonia


PERGUNTA — Como obter harmonia no ambiente espiritual da Terra?
RAMATIS — A harmonia tem sido para os ho¬mens uma realização utópica, alguma coisa só obtida nos contos de fadas após imensas batalhas do Bem contra o Mal e, assim mesmo, geralmente, pela inter¬venção de fada providencial. Os personagens símbolos do Bem, possuidores de todas as virtudes, sofrem durante a narrativa os horrores da perseguição dos maus que são inteiramente maus.
Esta forma primitiva de exposição da eterna luta pela evolução, engloba, numa fórmula simplista, o complexo movimento das forças opostas responsáveis pela evolução. Trata-se de um esquema psicológico de grande valor iniciático, se bem atentarmos para o que se encontra oculto sob o aspecto meramente fantás¬tico.
Sabendo que nada existe absolutamente bom nem absolutamente mau sobre a Terra, podemos transpor¬tar o tema dos contos de fada para o terreno do espíri¬to, representando o mal e o bem existentes na alma pelos personagens que, respectivamente, os simboli¬zam.
Teremos então obtido a fórmula necessária à obtenção da harmonia: após a batalha inevitável das forças involuídas e das que já se ajustam ao Bem pela persistência, renúncia, amor e tolerância, o pólo posi¬tivo condensa energias que o sustentam. Em contra¬posição, a desagregação se apossa do elemento incapa¬zes de conduzir-se no sentido da harmonização com o Todo, e que buscava defender-se pela apropriação inédita dos bens da vida.
Em seu conteúdo, os contos de fadas expõem, de forma rocambolesca, a grande batalha em que todos os seres se encontram envoltos. Nesses pequenos relatos o homem encontra a demonstração clara da fórmula capaz de fornecer-lhe o mesmo final feliz — a harmo¬nia.


PERGUNTA — Segundo a linha de vossas com¬parações, em nosso caso especial, qual fato seria tão decisivo que pudesse representar a intervenção provi¬dencial da fada protetora?
RAMATIS — A fada protetora, na lógica perfeita dos contos de fadas, apresenta-se sempre após o perío¬do indispensável, no qual seu tutelado teve oportuni¬dade de dar testemunhos convincentes de bons propó¬sitos. Lutando, sofrendo injustiças, padecendo, enfim, conserva-se o herói da história numa perfeita coerên¬cia com os defensores do Bem. Ora, seria lógico, tam¬bém, que desse modo as forças ocultas, a essa altura do relato, já estivessem numa contingência moral de agir decisivamente, não porque até então se houvessem omitido, porém, simplesmente, porque aguardavam o momento de intervir sem interferir no processo de consolidação das virtudes angélicas de seus tutelados.
Esse sublime mecanismo, apresentado de forma enternecedora nos belos relatos que comoveram vossa infância, transfere-se, de forma perfeita, para a vida e comanda o progresso dos espíritos.
Infelizmente o homem perdeu a fé que o faria capaz de, adulto, perseverar a exemplo de seus heróis da infância. Assim, a geração atual ridiculariza os "contos da carochinha" que "embalam" o espírito cré¬dulo da Humanidade do passado em sua infância ingê¬nua.
Na realidade, viveis uma fase que pode ser com parada ao capítulo no qual a feiticeira cozinha, na retortas, seus filtros peçonhentos. O mau cheiro s exala por todo o ambiente e ela própria se impregn das emanações do veneno terrível. Porém, não long dali, existem, nas páginas seguintes, as impressões d bondade dos personagens que, inocentemente, conti nuam sua labuta no Bem.
Impregnados pelo odor nauseabundo das elucu brações mentais de caráter destrutivo, o homem atua permanece como hipnotizado diante do cenário d feitiçaria onde a discórdia, o medo, a irreflexão e intransigência se filtram através de todas as epider mês. Enquanto a bruxa da discórdia mexe seus caldeirões, as vítimas encontram-se paralisadas de horror.
Porém, alegrem-se os que não aderirem, por fra queza lamentável, aos movimentos da megera. Embo rã em minoria de forças no momento, estarão cata Usando energias positivas responsáveis pela imantaçã de seus espíritos às forças controladoras do Bem Efetivada a necessária polarização, os representante da "magia branca" terão encontrado campo para agi no ambiente, por mais impregnado de "bruxaria" qu ele se encontre.
A paciência, a fraqueza aparente, o sofriment sem nome dos heróis dos contos de fadas, que vo parecem vítimas de um sadismo inexplicável do desti no, simbolizam para vós a necessária força interio que habilita o espírito a escoar, através de si, o recursos superiores que sustentam a vida.
E dessa forma que, realmente, o espírito teste munha seu amor à Verdade que na Terra, ainda, na tem o seu "habitat". Galardoado pelas profundas cia cidades espirituais que então se abrem para ele, rece be a visita da Fada do Bem, a iluminação interio capaz de proporcionar-lhe a harmonia.
O engano em que vêm laborando os homens, geração após geração, é julgar que devem levar ao pé da letra o simbolismo dos contos de fadas. Embora se julguem portadores de mentalidade adulta, ainda não entenderam que o reino conquistado pela princesa indefesa e o amor com que o príncipe a defende no final da estória representam a vitória do espírito sobre a matéria, a conquista do plano superior que esses per¬sonagens simbolizam e a ingênua felicidade que daí por diante passam a desfrutar reside inteiramente nos países interiores do espírito.
Então, como os bons ainda não "herdaram a Ter¬ra", desesperam e negam-se a continuar colaborando pacientemente na seara do Bem.
Desejamos lembrar, no entanto, que, assim como a polarização se faz com o sofrimento, pela perseve¬rança no Bem para cada indivíduo, coletivamente, o mesmo fenômeno se dá.
A Humanidade passa por reveses semelhantes aos dos meninos terrificados diante do caldeirão da bruxa, porém, os que conservam a alma limpa de conivência consciente com a "bruxaria" do mal, contri¬buem para o efeito de polarização da Terra com as forças positivas, que terminarão por conseguir uma "cabeça de ponte" para penetrar de forma decisiva no cenário terrestre.


PERGUNTA — Como transferir esses conceitos para os problemas cruciais de nossa terra?
RAMATIS — Brasil, terra da promissão, celeiro do mundo, pátria do Evangelho, país do futuro — todas essas expressões têm consagrado e resumido as esperanças que intuitivamente os homens de diversas origens terrenas depositam na vida futura.
Nem mesmo a mais obscura realidade espiritual que viveis conseguiu apagar a divina intuição que afirma, no âmago da alma dos seres sensíveis, que o país encantado da felicidade precisa existir em algu¬ma parte sobre a Terra.
As criações do pensamento humano, reveladas sob forma de fantasia, representam uma necessidade íntima de expressar realidades pressentidas em pla¬nos inexplicáveis à mentalidade comum.
Quando os segredos da mente humana forem devassados (e esse dia não se encontra longe) os ho¬mens de ciência poderão comprovar que as fantasias não representam somente uma necessidade de escape à realidade grosseira e indesejável, mas, sim, a ex¬pressão das realidades percebidas num plano que poderíeis chamar de "supranormal".
As fantasias apresentadas nos contos de fadas são roteiros simbólicos fornecidos à alma infantil. Suas representações mentais forneciam, insensivel-mente, à juventude uma base psicológica não identi¬ficada mas incorporada nos moldes mentais. O proce¬der instintivo dos jovens de antanho era marcado pelo dualismo simplista dos contos de fadas — sentiam-se colaboradores de feiticeira ou abençoados afilhados do bem, conforme se opusessem ou não às forças positi¬vas.
Essa base psicológica profunda, embora não ex¬pressa nem identificada, traduzia-se em aspectos mais seguros porque influenciados por forças superiores que na realidade existem, embora escapando à com¬preensão total humana.
Respeitava-se e temia-se a bruxaria do mal, evi¬tando-a para merecer o beneplácito do bem.
Hoje as retortas das feiticeiras tornaram-se ino¬fensivas e ridículas. As emanações fétidas e virulen-tas que elas poderiam exalar encontrariam antídoto nos mais simples laboratórios modernos e ao seu po¬der destruidor o homem oporia um arsenal incalculá¬vel de armas potentes.
Destruiu-se o simbolismo representativo do mal que fornecia a base psicológica para o combate ao erro. Qualquer criança atualmente seria capaz de planejar uma saída estratégica para Joãozinho e Maria, que facilmente teriam um revólver, nem que fosse de brin¬quedo, para obrigar a bruxa a soltá-los.
E, na mentalidade incompleta da infância, a cren¬ça na proteção superior se esvai e mais fé merece a violência contra a própria violência. Os valores da resistência moral desbotaram-se, desde que a força é quem faz os heróis capazes de competir com as bruxas em maquiavelismo destruidor.
Tristes lições são hoje fornecidas à infância, na vida real. O trauma psicológico proporcionado pelo negror das cenas fantásticas dos contos da carochinha empalidecem diante das cenas diárias de atitudes antifraternas servidas "à sobremesa" pelo aparelho televisor. A prepotência intransigente da era patriar¬cal bem pouco deformava a alma infantil em relação ao convívio mental que hoje desfruta com facínoras e criminosos científicos dotados da mais perfeita bruta¬lidade de sentimentos. E nessa era dramática, em que o terror encontrou meios de se concretizar aos olhos da infância, justifica-se o sorriso irônico diante das frá¬geis feiticeiras do passado, não se justificando, porém, o falso puritanismo com que se condena sua influência nociva sobre a mente infantil.
Que substituição está sendo feita na época atual para a intervenção da fada madrinha? Num tribunal pedagógico os autores daquelas fantasias seriam facil¬mente absolvidos, com a condenação conseqüente das realidades atuais mais "negativamente fantasiosas" do que os obscuros eventos do país de ficção.
Os brasileiros encontrarão no panorama mundial a mesma atitude psicológica que se revelaria numa assembléia à qual hoje nos dispuséssemos a introduzir ingênuos contos de fadas, como coisas dignas de aten¬ção.
Quando o desenlace fatal se fizer sentir, sereis conduzidos a reeducar-vos como uma coletividade que, sentindo a gravidade de seus processos de vida, preci¬sa retornar e habituar-se à simplicidade.




PERGUNTA— Por acaso os brasileiros escapam à responsabilidade da situação atual? A desarmonia que impregna a Humanidade não está também entre nós?
RAMATIS — Dissemos que tereis de vos reedu¬car para cumprir aquela tarefa de despertamento espiritual da Humanidade, vós que ainda não tereis cumprido uma missão de âmbito mundial para a qual estareis especificamente destinados pelas possibili¬dades latentes. Sereis as almas permeáveis à influên¬cia que se fará necessária no momento de crise. Não sereis isentos de responsabilidades e a prova é que estareis chamados a desfazer equívocos para os quais influístes em sucessivas ocasiões.


PERGUNTA — Quando nos confiastes os títulos de todos os capítulos da presente obra, imaginamos que em "Harmonia" estaria sendo designada a parte referente à época feliz da plena realização do Bem através de todas as consciências na Terra. Estaríamos enganados?
RAMATIS — Felizes os servos que sonham e amam por antecipação o Reino de Deus. Seus corações se enobrecem na antevisão da Paz espiritual, herança inalienável de Seu Pai Celestial. O Amor é o clima pelo qual suspiram e aos poucos seus espíritos se renova¬rão para concretizar os sonhos que acalentam.
Porém, quando designamos por Harmonia o pre¬sente capítulo referíamo-nos à harmonização dos des¬tinos da coletividade brasileira com os desígnios da Espiritualidade. Harmonia é para nós um conceito essencialmente dinâmico. Jesus estava no pleno gozo da Harmonia quando lutava entre os homens para expandir a Luz entre as trevas. Harmonia é represen¬tada por toda situação em que alguém sintoniza com o Bem, mesmo que a sua volta o caso se faça sentir.


PERGUNTA — Perdoe-nos o nosso irmão mas não conseguimos conceber a felicidade e a harmonia diante de um panorama caótico. A nosso ver, a tribula-ção é contagiante e as duras penas de uns automatica¬mente atingem os circunstantes, especialmente se estes últimos não são insensíveis ao sofrimento do próximo. Sendo assim como compreender vossas afir¬mações?
RAMATIS — Analisando as características hu¬manas, realmente seria impossível aceitardes nossa interpretação dos fatos seja não tivésseis vivido expe¬riências análogas.
Não nos referimos à harmonia perfeita entre os homens. Esta será conquista bem mais adiantada. Surgirá num futuro mais remoto. Referimo-nos à har¬monia de uma coletividade com seu destino, com a missão que lhe compete, com a inspiração do Bem que lhe cabe realizar.
Sucederá então como se um indivíduo, que se visse ameaçado de moléstias, decorrentes de longa estagnação, se erguesse e começasse a agir facilitando a circulação do sangue e conseqüente renovação celu¬lar. Poder-se-ia afirmar que entrou em harmonia seja qual for a tarefa que execute. Essa harmonização, observada sob um aspecto exclusivamente físico, tem seu correspondente espiritual. Uma coletividade que se ergue e inicia a execução de suas funções históricas, harmoniza-se com a Lei renovando-se para um cresci¬mento futuro.
Sob o aspecto individual já tendes suficiente ex¬periência no campo da espiritualidade para saber que a desarmonia interior é decorrente da quebra dos liames do amor e da confiança em Deus. Mesmo as almas ternas compadecem-se do sofrimento alheio sem se desarmonizarem, por acreditarem firmemente na benevolência do Eterno. Para essas almas o sofri¬mento é a escola renovadora e a situação problemática de seu irmão não empana a visão espiritual dos bene¬fícios a serem recolhidos. Em conseqüência, não lhes destroem a harmonia, por mais condoídas que se en¬contrem pelos padecimentos do próximo.
Para comprovarem seu amor ao próximo, não se sentem constrangidas a prejudicar seu amor a Deus, desequilibrando-se pela falta de fé na benevolência do Pai que prove com amor e justiça o processo renovador de cada um de seus filhos.
Desse modo não vemos desacordo possível entre a harmonia interna e a desarmonia ambiente, a não ser nessas almas ainda frágeis, incapazes de se escudarem no verdadeiro Amor.
Alertai-vos quanto à necessidade de reformular-des vossos conceitos de vida à luz de um sentimento esclarecido de amor. Libertai-vos das viciações do sentimento que vos fazem confundir fraqueza com ternura. As almas realmente ternas o são primordial¬mente em relação às bênçãos do Amor de Deus. Sen¬tem, com profunda alegria espiritual, a grandiosidade do Amor que vive esparso sobre todos os seres e não recriminam as Leis desse Amor quando realizam as necessárias correções a bem do equilíbrio.
O Amor jamais será inoperante. Onde haja enga¬no sua missão será corrigir alertando para o Bem.
Quando uma alma ou uma coletividade se im¬pregna dessa consciência grandiosa de colaboradora do Eterno, seja qual for a situação circundante, ela entrará em harmonia.
Será assim que o Brasil crescerá no conceito dos povos, quando todas as suas potencialidades forem mobilizadas a bem da preservação da vida no planeta. Sua missão de harmonia será constituída pelo laço de Amor fraterno em que se constituirá junto a todas as coletividades, sem distinção de raça, credo político ou convicção religiosa.
A Era da Fraternidade terá seu representante legítimo no povo que ampara com amor o ferido, o deserdado, o vencido. Quando o erro implantar seu reinado na Terra, com a bestialidade característica dos instintos não mais contidos, e em todo o seu vigor cavalgar no dorso veloz das civilizações superequipadas sob o aspecto material, o reinado da dor implantado em toda a Terra exigirá renovações só capazes de darem junto à alma acolhedora de quem sabe amar, em silêncio, os aflitos.
Desfeita a capa do egoísmo humano que manti¬nha a venda do orgulho nos olhos das grandes nações pioneiras do progresso material, os "fracos" herdarão n Terra, os que se sentirem desarmados materialmente falando, pois serão capazes de pensar em termos de socorro e renovação. Seus espíritos não estarão seria¬mente empenhados na disputa do ódio, mas serão irresistivelmente atraídos à tarefa do crescimento espiritual da Humanidade.
A Era da Fraternidade já está sendo construída pelas almas que trabalham em silêncio para a conser¬vação das verdades evangélicas. Quando os herdeiros do Cristo tomarem posse da Terra, não haverá preocu¬pações pessoais. Será iniciado o reino do Amor, no qual todos os filhos de Deus servirão a um só objetivo — impulsionar a realização do Bem de maneira impes¬soal.
Firmai-vos nesses conceitos. Vivei por antecipa¬ção o Reino de Deus que foi iniciado há 2.000 anos.















Terceira Parte

CONSEQÜÊNCIAS
PARA A HUMANIDADE











































1

Virtude e cristianização


PERGUNTA — Examinando as conseqüências que surgirão, para a Humanidade, da missão reservada ao Brasil, que comentários desejaríeis tecer neste capí¬tulo intitulado "Virtude e cristianização"?
RAMATIS — Consideramos que esses serão os alvos supremos da nova era que surgirá do caos prepa¬rado com esmero pela atual civilização, enceguecida quanto aos valores da Espiritualidade.
A virtude constituirá o aperitivo necessário, para ser tomado em doses freqüentes e sistematizadas, com o cuidado hoje dispensado à preparação dos grandes banquetes. Estabelecida, por unanimidade, a necessi¬dade absoluta do crescimento dos valores espirituais, o homem começará a agir, como o indivíduo cujo orga¬nismo, atingido por uma inapetência desastrosa, pro¬cura estimular-se para a participação no grande ban¬quete da fraternidade.
Iniciará por ingerir estimulantes do apetite, ca¬pazes de fazer funcionar suas glândulas endócrinas, adormecidas pela viciação do paladar na ingestão de substâncias tóxicas. Na realidade, um período inter¬mediário de jejum será a primeira providência para obrigar o organismo à reação sadia de purificar-se e, em seguida, entrar na corrente da normalidade.


PERGUNTA — Por que sugeristes o título "Vir¬tude e cristianização"? Por acaso a busca da virtude já não representa o processo de cristianização?
RAMATIS — Enquanto a virtude está sendo buscada como um alvo, o processo de cristianização consolida-se gradativamente. Desejamos fortalecer a relação indispensável entre o meio, representado pelo exercício consciente da virtude, e o fim objetivado, ou seja, a cristianização. Sem esta relação, firmemente estabelecida, uma nova farsa estaria em andamento, na qual os homens representariam, no palco da vida social, a triste situação que até hoje os tem infelicitado — pregando o Cristianismo sem desejar realmente cumpri-lo.


PERGUNTA — Que espécie de virtude surgirá como a mais necessária ao processo da cristianização?
RAMATIS — Na sociedade tecnicista do século XX a palavra virtude perdeu grande parte de seu valor. Até um pouco antes do surto da tecnologia ela representava um acervo de normas rígidas de condu¬ta, impostas pela maioria convicta da necessidade social de cultivar os valores apregoados como indis¬pensáveis ao bem-estar geral.
Não passando, de modo geral, de uma atitude externa, foi fácil a transição que a classificou como coisa desprovida de conteúdo. Portanto, sua desvalo¬rização como palavra não implica na conseqüente desvalia do conteúdo, pois este, na realidade, não estava em jogo.
A capacidade de análise destemerosa caracterís¬tica da era do cientificismo soube identificar o fenôme¬no do "esvaziamento" da palavra, porém, ainda, não conseguiu restabelecer-lhe o conteúdo.
Entretanto, os valores representados, originari-amente, pela palavra virtude, continuam a ser insubstituíveis para o bem-estar geral e, assim, tor¬nou-se necessário obter nomenclatura especial para designá-los. Surgiram, então, novas designações para antigas necessidades do homem — autocrítica, ajus¬tamento, introversão, catarse, auto-analise, substituindo, respectivamente — contrição, humildade, medi¬tação, confissão, sendo esta última equivalente à iden¬tificação da própria condição (catarse) e à análise que se segue.
Como vemos, tratou-se da substituição de um vocábulo desgastado pela ação inadequada de seus usuários.


PERGUNTA — Parece-nos um pouco problemá¬tica a obtenção de reações adequadas após as grandes experiências do final do século. Nossas dúvidas basei¬am-se no fato de muitas provações já terem sido vivi¬das sem chegarmos a resultados positivos. Conseguirá o homem a reação necessária?
RAMATIS — A instabilidade humana vem se acentuando. A cada nova crise desencadeada corroem-se os alicerces da segurança fictícia que generosamen¬te o homem se propiciou no plano material. Como a criança, incapaz de sentir suas necessidades mais profundas, cercou-se de conforto, como símbolo do bem-estar almejado. A instintiva necessidade de segu¬rança interior objetivou-se na busca externa de esta¬bilidade. Invertidos os pontos de vista, concretizou seu sonho de felicidade nas garantias de sobrevivên¬cia do corpo físico. Pôs-se a girar em torno de sua segurança, em vez de fazê-la girar em torno de si.


PERGUNTA — Como poderíamos compreender
tal afirmação?
RAMATIS — A segurança tem a função específi¬ca de proteger alguma coisa de especial valor. Justifi¬ca-se como um conjunto de precauções tomadas com o objetivo de preservar o centro vital de uma situação, como meio de levar avante um objetivo visado. O homem, como indivíduo, deveria ser o centro dessas precauções e seu desenvolvimento harmonioso o fim a ser alcançado. Tudo deveria girar, num esquema de segurança bem planejado, em torno do problema de proporcionar a cada indivíduo o desabrochar de suas melhores potencialidades.
Ao contrário do que se poderia supor, providên¬cias foram tomadas, de forma insofismável, no sentido de fazer do homem um escravo e suas próprias cadeias tornaram-se a preocupação capital. Condenou-se, como um feitor iracundo, à tarefa escravizante de forjar e zelar permanentemente pelos próprios grilhões que deve refazer e fixar com a maior firmeza possível.
Tornou-se, então, escravo de sua segurança físi¬ca, impossibilitado de maiores movimentos, obrigado a ser o zelador dos próprios grilhões.


PERGUNTA — Por que sucedeu tal fenômeno?
RAMATIS — A ausência de amadurecimento espiritual, o desprezo pelas recomendações feitas. Pro¬cederam como a criança caprichosa que se nega a atender às recomendações recebidas e prefere brincar indefinidamente sem se importar com as necessidades de submissão às disciplinas educativas.


PERGUNTA — Qual a finalidade de analisar¬mos esse procedimento desastroso na presente obra?
RAMATIS — Se cuidamos de examinar as conse¬qüências, para a Humanidade, de todos os fatos em que o Brasil participa, precisamos conhecer com deta¬lhe o panorama a ser influenciado, assim como a forma de melhor executar a função que lhe cabe.
O que a Terra da Promissão deverá oferecer ao homem colhido nas malhas das provações apocalípticas será a inversão do centro sobre o qual seu desejo de segurança tem girado. Ficará comprovado quão precá¬ria é a segurança material à qual se tem escravizado. A vida, como mãe generosa, acolherá no seu rega-ço o pequeno ser desarvorado e infeliz, que só após o desastre se compenetrará da necessidade de imprimir novos rumos ao seu proceder caprichoso.


PERGUNTA— Perdoe-nos a insistência, porém, permanecemos em dúvida quanto às reações do ho¬mem diante dos eventos apocalípticos. Diante das catástrofes do plano físico, seu desejo de segurança material não será intensificado? De que forma será possível inverter o centro de gravidade de seu anseio de segurança?
RAMATIS — Perdoar-vos não seria necessário. As dúvidas que vos ocorrem assaltarão a coletividade brasileira quando tomar consciência de sua missão. Sem o necessário preparo espiritual, o brasileiro do futuro buscará avidamente os meios de socorrer, visto que permanecerá como a tábua de salvação para onde os náufragos se dirigirão.
Desse modo, desempenhais, ao nos interrogar, a função preciosa de repórter a colher impressões do plano espiritual com o objetivo de informar a coletivi¬dade brasileira atual e futura. Nossas sugestões per¬manecerão como um tema para meditação. Aos que nos ouvirem a tempo será possível consolidar atitudes benfeitoras para a colaboração no presente, tendo em vista as situações futuras. Esta seria a forma de ate¬nuar e mesmo evitar catástrofes, caso o homem não estivesse irremediavelmente atrelado à roda implacá¬vel de seu carma.
Futuramente, porém, será maior o número dos que rejeitarão como inoportuna a literatura produzida pelo tédio em que o homem moderno mergulha, como num b inho capaz de produzir efeitos semelhantes aos de mumificação cadavérica. Nossas palavras então surgirão como um eco longínquo capaz de despertar a alma humana semi-anestesiada para os novos rumos espirituais.


PERGUNTA — De que forma os brasileiros po¬derão utilizar as advertências que vêm sendo feitas?
RAMATIS — A nós não cabe traçar roteiros. Por mais que amemos a Humanidade, nosso trabalho se resume em tecer comentários, que seriam desnecessá¬rios caso o homem estivesse realmente empenhado em buscar-se a si mesmo, como já recomendava a sabedo¬ria grega, há milênios.
Se tantos milênios de recomendações proveitosas não afastaram o homem do labirinto da dor, não se¬riam nossas palavras ou mesmo todo o Amor que pudéssemos verter sobre as criaturas que os demoveriam de suas incongruências.
Entretanto, no caos que se formou, e que se agra¬vará, a virtude para uns significará o trabalho aparentemente inútil de pregar aos sonâmbulos que pas¬sam em atitudes semiconscientes, desvairados pela dor e pelo desânimo. Os revoltosos tentarão destruir o pequeno patrimônio obtido com sacrifícios inauditos pelo punhado de servos fiéis ao Senhor. Estes, por sua vez, serão tentados a se deixar arrastar pela voragem do desencanto ao tentarem, sem remédio, deter a onda avassaladora da dor sem limites. O caos será soberano no plano material. Não vos iludais para que estejais preparados. Só uma força de fé proporcional ao desequilíbrio geral será capaz de permanecer como virtude sustentadora do espírito humano.
Habituai-vos a exercitar a virtude positiva da fé como contraposição normal ao império aparente do erro. Exercitai a visão espiritual de tal forma que na derrocada do plano físico possais identificar as cons¬truções do espírito. Só aqueles que souberem ver com "olhos de ver" conseguirão manter-se à tona, sobre-pairando os abismos de dor.
A mente e o coração equilibrados sustentarão o homem na grande transição. Notai bem que dizemos a mente e o coração, pois a simples capacidade de sentir a dor do próximo não será suficiente se a fé não sustentar, com a compreensão necessária, o desejo fraterno de servir.
Armazenai fé e confiança. Buscai na razão dos fatos desencadeados a compreensão dos meios de sobreposição. Jesus, como o Guia da Humanidade, precisará de servos capazes de permanecer de pé sem desfalecimentos, quando a maioria tombar vencida. Na Terra e no Espaço coortes de almas rijas executa¬rão os serviços de enfermagem indiscriminada. Para isso, no entanto, precisarão sentir, em toda a sua extensão, as razões justas dos males que acometem a Humanidade, para saber de que forma socorrer, sem mergulhar no oceano avassalador do dilúvio apoca¬líptico.
Os servos avisados agirão desta forma. Que vir¬tudes, porém, recomendar para os que tiverem permanecido anestesiados diante de seus deveres morais? Sabemos que buscarão em todas as fontes o socorro necessário e não poderíamos deixar de endereçar-lhes palavras encorajadoras que os auxiliem, oportuna¬mente, a iniciar a reação tão retardada!
Bênçãos do Senhor estarão por toda parte. Po¬rém, que fazer se permaneceram, inadvertidamente, a cuidar das coisas perecíveis? Seu esforço para "ouvir" precisará ser proporcional à "surdez" que alimenta¬ram voluntariamente. Precisarão, em primeiro lu¬gar, reconhecer a responsabilidade que terão nos fatos desencadeados. Se ainda tentarem permanecer como cegos, a acusar o destino, nenhuma solução positiva poderão alcançar.
Só aqueles que despertarem em si a virtude da Humanidade, mesmo que tardia, conseguirão susten¬tar-se na grande transição. A "revolta dos anjos" deve ter um fim, para conseguirem a misericórdia que ne¬cessitam. Em lugar de sentirem em tal fato a humilha¬ção, sintoma de orgulho em franca proliferação, preci¬sarão analisar, com isenção de ânimo, a contribuição que seus atos representaram na determinação das causas desencadeadas. Pesquisando com imparciali¬dade os fundamentos da destruição aparente, poderão sentir o ressurgimento do espírito imortal, pairando sobre o pedestal onde haviam entronizado a imagem caricatural do "eu" desvirtuado. Substituído o ídolo de barro pela imagem fulgurante do espírito eterno, não lhes será difícil compreender de que forma conduzir os acontecimentos.
A virtude será, pois, em ambos os casos — para as almas despertas e as anestesiadas — proporcional à capacidade que desenvolveram, de se ajustarem à realidade, ou seja, às possibilidades que desenvolve¬rem de serem humildes diante de Deus e do Universo.
Dessa forma serão engrandecidas pelas verdades eternas, mesmo quando a destruição imperar em tor¬no. Nela verão a força renovadora da Providência que tudo transforma para a necessária evolução.












2

Abertura dos canais espirituais


PERGUNTA — Lamentamos que o Brasil faça sua "estréia" na liderança mundial numa época tão con¬turbada. Que significa, dentro do drama mundial que viveremos, essa "Abertura dos canais espirituais"?
RAMATIS — Significa a porta única por onde, ainda, na Terra, será possível canalizar Amor espiri¬tual sobre os homens e que será formada através dos canais espirituais constituídos pela aura do povo bra¬sileiro.


PERGUNTA — Não compreendemos perfeita¬mente. Se, de acordo com o que já foi profetizado, a dor se abaterá em grande escala, sob a forma de guerras e catástrofes, sobre toda a Humanidade, acreditamos que onde ela se fizesse mais intensa aí a misericórdia do Senhor seria mais fortemente sentida. Estaremos errados?
RAMATIS — Sim e não. Onde a dor se abater mais fortemente o Senhor já estará fazendo baixar Sua misericórdia, pois ela representa a correção auto¬mática dos erros praticados e mesmo as comoções geológicas sofrem um determinismo psíquico. Não vos escandalizeis. A vida é espírito e a matéria não é senão conseqüência do espírito. Os homens não sofrerão indiscriminadamente a influência dos ele¬mentos em fúria. O reencarne obedece a uma lei. Há uma previsão "palpável", por assim dizer, aos espíri¬tos capazes de auscultar em grande escala as forças geológicas, e que são produto do psiquismo ou aura da Terra. As zonas mais afetadas pelo negativismo terre¬no serão zonas de depuração, aonde os mais necessita¬dos serão conduzidos para eliminarem, coletivamen¬te, a desarmonia acumulada em suas próprias auras. Essa eliminação será feita, simultaneamente, pelas mesmas descargas que se farão sentir no psiquismo humano e terráqueo.
O magnetismo terrestre, hiperativado em cho¬ques sucessivos, funcionará como os remoinhos na água, atraindo ao centro do vórtice negativo os ele¬mentos necessitados da consumição áurica das forças contrárias ao progresso. O Senhor não destinará nin¬guém ao fim trágico; os próprios espíritos dos homens já se imantaram ao torvelinho que lhes esteja conso-ante às necessidades cármicas.
A misericórdia do Senhor é inalterável. Atrai a si, permanentemente, aqueles que a Ele se imantam por força de suas próprias predileções.


PERGUNTA— Perdoe-nos, mas, ainda sentimos as coisas sob um ponto de vista muito humano e essa concepção mecânica dos fatos que regem a vida espiri¬tual não se coaduna facilmente com nossa índole. Como compreender melhor?
RAMATIS — Se os homens fossem capazes de sentir a vida espiritual como ela é, tais eventos apocalípticos seriam sustados em suas conseqüências mais graves.


PERGUNTA— Seria possível evitar as catástro¬fes previstas para o final dos tempos?
RAMATIS — As previsões se baseiam na auscul-tação feita pelas mentes capazes de comportar a sínte¬se dos fenômenos relacionados com as vivências da Humanidade. Fixando a aura terrestre "lêem", como num painel, presente, passado e futuro.
Para melhor compreender esse fenômeno podeis imaginar o que sucede a um cirurgião experiente ao examinar os órgãos do paciente. Abrindo-lhe o abdô¬men pode compreender de imediato sua situação, o que não sucede a um leigo.
Desse modo as almas capazes de "ler" a aura terrestre sentiram, também, o estado psíquico da Humanidade. As características da coletividade ter¬restre são a força responsável por tal estado de coisas. Só removendo-se a causa seria possível evitar os efei¬tos ou mesmo atenuá-los. O processo de desagregação psíquica da Humanidade terrestre vem se desenvol-vendo há séculos. Encontra-se no estado semelhante ao do doente cujos tecidos vêm sendo trabalhados pela desarmonia por um longo período. Para que houvesse cura, uma reação profunda e prolongada seria neces¬sária, proporcional ao andamento da proliferação ne¬gativa.
Sabemos que os milagres não são mais do que a aplicação de leis ignoradas pelo homem. Seria neces¬sário conhecer essas leis para procurar movimentá-las em sentido oposto ao que têm sido conduzidas. Uma reação coletiva precisaria ser desenvolvida tão fortemente como se dá nas curas repentinas obtidas pela fé. O mecanismo desses fatos que assombram a ciência baseia-se na predisposição do espírito para uma retificação vibratória, que permite o fluxo irresistível da vibração harmoniosa.
A nós não cabe fornecer premonições sobre a existência da possibilidade de uma reação coletiva da Humanidade diante dos fatos que estão previstos. Comentamos os mecanismos espirituais que regem a misericórdia divina. Cabe aos homens escrever, com suas próprias convicções, os destinos que escolheram.


PERGUNTA — Pelo que temos observado, seria possível obter reações isoladas de almas que, repenti¬namente, encontrassem o caminho, sem terem força para modificar o rumo dos fatos. Que dizeis sobre isto?
RAMATIS— Caso isto não fosse possível, estari¬am fechadas todas as portas para o progresso espiritu¬al. A reação coletiva teria que ser feita pela soma das reações individuais e, esta sim, seria capaz de remo¬ver as causas dos grandes eventos negativos gerados pela maioria.
Os homens que, isoladamente, reagirem influi¬rão sobre o seu próprio destino, na medida em que essa modificação for capaz de penetrar as causas profundas de seus desajustes anteriores.


PERGUNTA — Procuramos o mais possível en¬carar os fatos neste trabalho sob o ponto de vista daqueles que nos lerão, exercendo função semelhante à dos modernos repórteres. Desse modo sentimos opor¬tuno comentar que, se tudo suceder como dizeis, esta¬ria em pleno vigor o princípio de prêmios e castigos tão condenado pela moderna pedagogia na Terra. Que nos dizeis a isto?
RAMATIS — A moderna pedagogia deu um pas¬so avançado quando retirou das mãos do educador o arbítrio dos prêmios e castigos, para alertar o discípu¬lo quanto às conseqüências mais graves que a própria vida lhe infligiria. Não fez mais do que ampliar o âmbito de ação das conseqüências dos atos voluntá¬rios, exercitando o espírito da Humanidade para uma visão mais ampla. Deslocou o centro dos conflitos do âmbito mestre e discípulo, para fazer dos dois aliados na procura dos rumos mais convenientes. Tirou da mão do mais velho a palmatória, tornando-o capaz de compreender as deficiências do seu semelhante que desperta na alma infantil, colocando-o a investigar no pequeno universo da alma do educando as grandes leis da causalidade que regem o universo psíquico.
Este fato, porém, não impediu nem impedirá nun¬ca que cada qual responda diante da Vida pelos rumos que imprimir ao próprio destino.
Uma interpretação mais real surgiu para a edu¬cação quando se deslocou o eixo do equilíbrio educaci¬onal das mãos do educador para o próprio âmbito da consciência individual.
A Humanidade cresce em responsabilidade de tal forma que os homens do futuro precisam ser preparados para sofrer, em larga escala, a influência de sua própria orientação interior.
Prêmios e castigos eram arbítrios isolados da realidade global do espírito, proporcionais, em sua exatidão, à capacidade de seus administradores. Re¬presentavam, muitas vezes, um desestímulo ao pro¬gresso real do educando, por mais bem-intencionados que fossem os educadores.
As leis irrevogáveis que regem o universo são absolutas em sua exatidão e, num grandioso sistema de compensações positivas, erguem os seres para a consciência de suas realidades interiores e eternas.


PERGUNTA — Por que foi escolhido para este capítulo o título "Abertura dos canais espirituais"? Qual o significado real dessa "abertura"?
RAMATIS — Se cogitarmos de abrir os canais espirituais, podemos concluir que antes permaneciam fechadas as vias de acesso à Espiritualidade. Como sabemos, a Força Criadora existe onde quer que esteja a vida. Logo, seria absurdo compreender que haja um só momento no qual os seres estejam privados dessa Força Sustentadora. Ela os envolve e protege em sua evolução.
Porém, há, para cada ser como para cada coletivi¬dade, o imperativo de uma imantação consciente com essa energia criadora. No momento crucial de renova¬ção terrena, podeis facilmente concluir, essa imantação à Força Superior de Vida será buscada com grande empenho por todos. As grandes hecatombes desperta¬rão os espíritos do torpor em que se haviam mergulha¬do e buscarão algo, fora de suas cogitações habituais, onde se amparar.
Esse fenômeno se fará sentir em todas as consci¬ências. Numa casa onde tudo permanecia aparente¬mente estável, todos passam a tomar conhecimento das impurezas acumuladas quando uma limpeza maior é tentada. O dia reservado à limpeza geral incomoda os moradores, retira-os de seus hábitos rotineiros e obriga-os a perceber o acúmulo de poeira e detritos que, imperceptivelmente, existia pela casa toda. Para terem sossego alguns colaboram na limpeza geral e outros se retiram para local mais tranqüilo.
Sucede, porém, que quando a renovação atingir um estágio coletivo não haverá para onde se retirarem as criaturas desejosas de tranqüilidade, pois em toda parte se fará sentir o eco das grandes transições e a única solução será buscar resposta para as angústias humanas numa real abertura dos canais espirituais, já que toda a carne estará mergulhada na mais aflitiva provação e os recursos humanos, para explicar a "débâcle", serão insuficientes e notoriamente desacre¬ditados.


PERGUNTA — Parece-nos um pouco severo o julgamento que fazeis dos seres humanos, embora reconheçamos suas deficiências. Que dizeis?
RAMATIS — Assim vos parece porque vos esqueceis que emitimos conceitos relacionados com a coletividade, abstendo-nos de referir-nos às exceções como ponto de referência e estímulo à minoria capaz de enfrentar os sacrifícios necessários à auto-renova-ção, que tornará desnecessária a transformação com¬pulsória do final dos tempos. Estes serão como as testemunhas de Deus, a fonte de amparo e de esperan¬ça para seus irmãos. Porém não representam maioria nem é para eles que nosso trabalho se dirige especial¬mente, em virtude de por si mesmos já haverem encon¬trado o Caminho.
Quando se cuida de beneficiar uma coletividade é preciso planejar e estudar em termos de maioria.


PERGUNTA — Gostaríamos de obter maiores esclarecimentos.
RAMATIS — Está em pauta o julgamento de um passado desprimoroso para a coletividade terrena. Mesmo aqueles que no momento já se acham a cami¬nho acertarão suas contas com a Vida, servindo de esteio para os que sofrem as conseqüências da tradi¬ção negativa que contribuíram para consolidar na Terra.
Desse modo, espíritos afeitos ao bem encarnaram em missão de despertamento espiritual. Em toda par¬te exercerão o papel de canais espirituais para as concepções positivas que devam ser despertadas para a liderança futura do mundo.
Porém, essas almas não terão a força de deter os eventos apocalípticos porque, inclusive, elas têm seu carma entrelaçado com os de seus irmãos menos escla¬recidos, pela responsabilidade que lhes cabe na forma¬ção do panorama histórico da Humanidade. Surgirão como servos da maioria desnorteada, servindo como condutores do rebanho desarvorado.


PERGUNTA — Onde estarão localizadas essas almas?
RAMATIS — Em toda parte onde o nome do Senhor for realmente venerado por meio de vivências cristãs.


PERGUNTA — Que papel estará reservado ao povo brasileiro nessa batalha renovadora?
RAMATIS — O Brasil sofrerá fortes abalos sís¬micos, como todo o planeta, porém permanecerá como um oásis de verdura acolhedora, simbolizando a espe¬rança de renovação. Por suas condições especiais, históricas e geográficas, representará a reserva psí¬quica mais proveitosa com que a Humanidade poderá contar.
Nada poderemos prever de grandioso para os primeiros tempos dessa provação coletiva. A própria Terra de Promissão representará um cadinho, onde grandes renovações precisarão ser feitas, a fim de ser cumprida sua missão.
Aos abalos sísmicos corresponderão profundos embates morais e o próprio "povo eleito" permanecerá estarrecido perante as responsabilidades novas que lhe serão imputadas.
A princípio não se julgará capaz de cumprir tare¬fa tão complexa, qual seja, liderar o mundo mergulha¬do no caos. Quando todas as fontes de segurança hajam falido, para bem cumprir tal missão será necessário improvisar novo sistema de ação, que mais pare¬cerá um anti-sistema, tendo em vista as característi¬cas diametralmente opostas a tudo quanto antes im-perava como norma de trabalho.


PERGUNTA — Que mais nos podeis adiantar sobre essa fase renovadora e difícil para nossa Huma¬nidade?
RAMATIS — Os brasileiros permanecerão como samaritanos a socorrer os feridos e náufragos que virão bater às suas portas. Em seguida, cessada a mais acirrada fase de provações, sairão pelo mundo a espa¬lhar socorro ao panorama desolador da Terra, crestada pelo fogo, abalada em sua própria estrutura geográ¬fica.
Porém, com a ternura natural de sua índole sen¬timental, esquecerão suas próprias necessidades para atender, de alma condoída, aos remanescentes da ca¬tástrofe renovadora.


PERGUNTA — Tão envoltos nos problemas ma¬teriais da Terra em provação apocalíptica, de que forma lhes sobrarão energias para se transformarem em canais espirituais?
RAMATIS— Do final do século em diante, Espiri¬tualidade será sinônimo de Vida e Ação. Ao signo do "time is money" seguir-se-á o lema "Vida é Amor" e todo aquele que, pela ação, se integrar na corrente do Amor Universal por seus atos bem conduzidos, contri¬buirá seguramente para a restauração da Espiri¬tualidade na Terra.


PERGUNTA — Intrigou-nos a palavra "restau¬ração". Por acaso tratar-se-á de uma restauração ou do início da Espiritualidade na Terra?
RAMATIS — Esqueceis que a Espiritualidade já imperou perfeita em sua harmonia nos graus inferio¬res da evolução terrena. Quando o homem ainda não havia tomado o comando consciente da Vida no plane¬ta, a harmonia aí imperava estabelecendo-se suas leis sobre toda a Criação. As comoções geológicas repre¬sentavam alvitres renovadores com vista ao aperfeiçoamento do panorama material onde imperaria o espí¬rito humano e o Éden terrestre era conduzido em suas transformações pelas mais altas entidades da Enge¬nharia Sideral. Havia um cadinho de forças espiri-tualizantes a modelar com carinho o palco das vivências futuras. Uma aura de paz presidia a todos os cataclis-mos que visavam criar o panorama onde o Amor seria vitorioso no futuro, como mais uma célula viva de radiosa vibração do Eterno.


PERGUNTA — Em virtude de vossas palavras se endereçarem à Humanidade em transições tão marcantes, gostaríamos de lembrar que o lema "Vida é Amor", que regerá a Humanidade do futuro, tem sido trazido à baila por correntes modernas e tumultuadas da nossa juventude. Como compreender esses surtos filosóficos tão chocantes para a sociedade constituída?
RAMATIS — É grandemente oportuna a análise de tais fatos, quando tratamos de analisar a abertura dos canais espirituais e portanto, de forma a chegar a sentir o Amor "em espírito e verdade".
Tais correntes de pensamento, veiculadas em sua maioria por espíritos que iniciam a fase de reafirmação da personalidade no grau de adultos, apresentam as¬pectos contraditórios cuja análise é profundamente oportuna.
Como jovens que são, trazem em suas atitudes as marcas indubitáveis do espírito renovador. Sentindo grandemente a insegurança e o negativismo de sua época, seus espíritos permanecem estarrecidos, sem esperança. Dessa desordem interior, reflexo do ambi¬ente caótico em que vivem, percebem vagamente a ausência de valores que não podem definir com clareza classificando-os, no entanto, pela palavra sagrada que realmente seria capaz de unir e redimir toda a Huma¬nidade, caso esta conseguisse imunizar-se contra o veneno do ódio, o antídoto do Amor.
Esses jovens sentem, só muito vagamente, a premência da renovação real necessária, sem meios de levar a cabo as suas reivindicações de Paz e Amor.
Limitam-se a agredir, através de comportamentos exóticos, a sociedade que adormeceu sob o efeito hip¬nótico dos valores dourados, mas sem conteúdo.
Realmente, como fruto que é dessa mesma socie¬dade antifraterna, a juventude não sabe neutralizar o ódio com Amor, embora clame, num esgar do subcons¬ciente angustiado, contra a ausência do alimento espi¬ritual que lhe foi negado — o Amor em suas caracterís¬ticas de bondade, fraternidade, compreensão, renún¬cia e tolerância. E quanto mais agridem mais feridos se sentem na essência espiritual que recebe o choque de retorno da reprovação geral. Destroem em si os remanescentes de paz que os faria felizes, colocando-se na antípoda do Amor que buscam através do proces¬so de multiplicação das divergências.
A fraternidade e o perdão permanecem como o único meio legítimo de protesto dos que buscam o Amor em sua essência revitalizadora. Desse modo só um caminho existe para a abertura dos canais espiri¬tuais para o advento da era do Amor Universal — servir e amar ao próximo como a si mesmo.
Se os jovens conseguissem ultrapassar seus con¬temporâneos em percepção da realidade que buscam avidamente, organizar-se-iam em falanges de socorro ao próximo infortunado e, esta sim, seria a forma adequada de afirmar que são adeptos do Amor. Na forma pela qual se conduzem, conseguem reafirmar aos olhos de seus contemporâneos que são mendigos do Amor e não propriamente seus arautos, despertan¬do profunda compaixão em toda alma equilibrada, capaz de sentir o verdadeiro significado da sublime
vibração do Amor.


PERGUNTA — Gostaríamos de receber mais alguns esclarecimentos sobre a missão grandiosa que nossa terra cumprirá no futuro. Que nos poderíeis
ainda dizer?
RAMATIS— O século passado preparou um gran de mecanismo propulsor dos avanços técnicos. Comi uma máquina de grande força, o progresso matérial desembocou no século XX arrastando consigo as cria¬turas sem que elas soubessem para onde estavam sendo conduzidas, sem saberem também como deter ou modificar a direção da engrenagem. Como uma locomotiva que arrasta os vagões, a força do progresso carregou as nações que por sua vez não chegam à conclusão do rumo a ser tomado nem de como designar os indivíduos capazes de, por unanimidade do consen¬so universal, tomar a si a responsabilidade do coman¬do da locomotiva.
Com a cabine vaga, a máquina no entanto não pára e as equipes que se reúnem para deliberar sobre a composição que se lança para a frente, em velocidade estonteante, não conseguem chegar a uma conclusão capaz de satisfazer a todos. Não se sabe, inclusive, até onde haverá trilhos para serem percorridos e se conti¬nua a corrida às cegas.
Nessa incerteza, uns choram e outros gritam e um terceiro grupo toma atitude de estudada indiferen¬ça, com a falsa superioridade, cujo único triunfo reside na imperturbabilidade aparente. Bem poucos são lúci¬dos quanto à tragédia de que participam, como se a maioria se houvesse contagiado pela loucura da com¬posição desgovernada.
Nos campos vazios e férteis da vida, no entanto, chegará o momento no qual a tragédia terá chegado ao seu clímax, para dar lugar à era de reconstrução dos valores desprezados, quando a corrida insana teve início. Como ninguém previra a necessidade de usar com moderação os freios para conduzir a bom termo a viagem, a certa altura dos acontecimentos não haverá mais trilhos capazes de conduzir o comboio e, desequi¬librado, projetar-se-á ao solo causando morte e des¬truição.
Os vagões mais próximos à caldeira serão os mais atingidos pelo fogo e a destruição que se alastrará. Serão os carros onde se acomodavam os passageiros de primeira classe. No final da composição vinham os que transportavam a carga juntamente com os passageiros de segunda classe. Para estes o choque será amor¬tecido, pois viajavam desconfortavelmente entre sa¬cos armazenados de mantimentos e suas vidas serão poupadas em maior número.
Receberão porém uma tarefa ingrata. Recolher dos escombros os sobreviventes, procurar reanimá-los e adquirir da catástrofe as lições necessárias à recons¬trução da composição para a continuidade da viagem.
Porém, o tempo necessário a essa reconstrução permitirá a meditação prolongada sobre as falhas que causaram a catástrofe e o reinado curto e trágico do progresso material absoluto servirá de lição para os que se incumbirem dos novos planos.
Caberá aos países que hoje designais "em desen¬volvimento" reunir seus esforços na confirmação de que os "últimos serão os primeiros" e liderar a recons¬trução do progresso em novas bases. Como vem suce¬dendo em fases sucessivas, a Humanidade passará por mais um retrocesso profundo para, em seguida, res¬surgir das cinzas de seus próprios excessos, liderada por aqueles que herdarão o amargo rescaldo de uma era de profundo negativismo espiritual.
À folia inconsciente dos sentidos hiperativados em bacanais orgíacas, sucederá a dor superlativa do retrocesso à era das cavernas, quando o homem não saberá onde se ocultar dos dragões vociferantes da dor. E ao aceno débil da bandeira branca da paz, ansiosamente erguida para fora das cavernas onde a Humanidade acuada se recolherá, responderá o troar desesperador do flagelo apocalíptico. A fera do orgu¬lho e do egoísmo, pelo próprio homem alimentada nos dias infindáveis de sua soberba, não compreenderá o acesso tímido da bandeira branca na paz agitada para fora dos subterrâneos do terror. O monstro inconsci¬ente por ele criado e fortalecido visualizará, no frágil sinal da bandeira branca, a existência de carne huma¬na para seu repasto destruidor. Desconhecendo seu próprio senhor, continuará impassível a tarefa a que se destinou desde o berço — o ódio tentará até as últimas energias obter vitória sobre o Amor, incremen¬tando ao extremo a destruição.
Porém, no próprio desgaste por ele produzido, o mundo se verá livre do reinado do erro. Na fúria avassaladora de que se encontrará possuído, o mons¬tro fará com que desabe sobre si mesmo o mundo que ajudará a construir.
Soterrado e moribundo, de suas carnes se nutri¬rão os vermes e da deteriorização resultará mais fer¬tilidade para o solo que sustentará a Humanidade futura.
Como em todas as estórias de dragões e heróis, o bem vitorioso se compadece dos fracos e injustiçados e o dia surge, no qual só os da "direita do Cristo" perma¬necem para "herdar a Terra". Já então o descrédito dos bem-aventurados será coisa do passado, e o equívoco do predomínio material da vida terá sido ultrapassa¬do.
Aos mansos e pacíficos será dada a supremacia na Terra, onde não haverá uma só voz capaz de clamar pelo desforço das lutas fratricidas, já que estará exau¬rida a capacidade de destruição existente em estado latente durante séculos na aura psíquica da Terra. Reencarnados no final dos tempos todos os que se afinavam com o baixo psiquismo terráqueo, como for¬ma de vazão ao erro que cultivaram em suas almas, receberam a última oportunidade de reabilitação cole¬tiva no planeta, cuja vibração já se encontrava em vias de deteriorização pelos desvios psíquicos alimentados por sua humanidade cega e degradada.
Desencadeada a última etapa desse negativismo pela encarnação em massa dos responsáveis pelos rumos tenebrosos dos destinos da Terra, haverá como uma descarga fluídica em massa, responsável pela tempestade psíquica que se acumulava há milênios e que precisava desabar como chuva benfeitora de lágri¬mas e dores renovadoras.
Aqueles espíritos cujas auras nem assim se te¬nham purificado deixarão a Terra e uma era de paz espiritual proporcionará alívio à temperatura psíqui¬ca da Terra.
Como num desanuviamento, conseqüência de chu¬vas benfeitoras, a aura terrestre proporcionará aos homens um desafogo, permitindo a recapitulação de lições em clima de serenidade e bem-estar geral.
Nessa nova fase, os valores espirituais serão revitalizados, valorizando-se ao extremo, com natura¬lidade inadmissível nos tempos atuais, os fatos relaci¬onados com o advento do Cristo na Terra.
Um reavivamento espontâneo se fará em todas as tradições populares nas quais o Amor Crístico seja o conteúdo máximo e uma aura de ternura espiritual irá sendo consolidada à proporção que os choques psíqui¬cos do final do ciclo sejam amortecidos.
O homem do terceiro milênio despontará debil-mente no sobrevivente do século XX, que sairá à busca do irmão em sofrimento para pensar-lhe as feridas e falar-lhe de Deus. E o Santo Nome do Senhor encon¬trará eco na alma fustigada pela dor, como não encon¬trou no espírito locupletado pelo bem-estar material. Rejubilai, todos vós que fordes chamados à tarefa grandiosa de assistir a Humanidade enferma na sua hora máxima de provação! Daí o testemunho do Amor com o nome de Jesus nos lábios, invocando Sua pre¬sença excelsa para o conforto à alma dos aflitos.
Porém, não vos aflijais, por vossa vez, pois os frutos do Amor verdadeiro são colhidos na Árvore da Vida à custa de suor e lágrimas somente enquanto não se tornarem na Terra uma realidade as palavras de Jesus — "o meu reino não é deste mundo" mas "os brandos e pacíficos herdarão a Terra" — "veja quem tem olhos de ver, ouça quem tem ouvidos de ouvir..."






































3

Tradição e fraternidade


PERGUNTA— Iniciando, desejaríamos compreen¬der a que tradição vos referis ao trazer-nos o título deste capítulo. Não conseguimos identificar facilmen¬te uma tradição em nosso povo, tão instável ainda em suas normas de vida.
RAMATIS — Tradições representam costumes enraizados por maior ou menor espaço de tempo, seja ou não consciente este enraizamento. Vosso povo, em sua maior parte, é inconsciente de sua tradição, por não haver desenvolvido a capacidade de auto-analise. Suas tradições são vividas de forma espontânea, pois encontram-se ainda em fase de formação instintiva.
As tradições de outros povos iniciaram-se da mesma forma. Sem que soubessem, aglomeravam-se dentro de princípios afins, que eram conservador, por força do hábito transmitido de pais a filhos. A aura espiritual de cada aglomerado humano incumbe-se de despertar ou avivar disposições íntimas capazes de preservar o tipo de vida característico de sua coletivi¬dade.
Desse modo, cada comunidade que se distinga das outras por suas tradições, funciona, na fisionomia coletiva da humanidade terrestre, como um ser indivi¬dualizado, com suas simpatias e antipatias, capazes de distingui-la nitidamente das outras, exatamente como sucede com o caráter de cada indivíduo em rela¬ção aos que o cercam.
Nem sempre o indivíduo tem consciência de suas características. Sente-se tão naturalmente que estra¬nha haja outros seres capazes de perceber a vida de forma diferente.
Assim como há tantos caracteres quantos são os indivíduos, há tantas tradições nacionais quantas fo¬rem as coletividades organizadas, sejam ou não cons¬cientes da mensagem psíquica que veiculam.


PERGUNTA— Compreendemos então que a tra¬dição será a mensagem psíquica inconsciente transmi¬tida pelos povos, podendo tornar-se consciente e culti¬vada com o tempo, não é assim?
RAMATIS — Exatamente. No cadinho da Espiritualidade não há "acasos". Assim como numa escola moderna, avançada em seus métodos pedagógi¬cos, planeja-se para conduzir o conjunto a um objetivo previsto, a orientação espiritual do planeta fornece meios aos homens para obter seu aprimoramento cole¬tivo.
O que hoje buscais nos educandários como novi¬dade absoluta — a orientação coletiva para um fim visado — representa "filtragem psíquica" de princí¬pios há longo tempo esposados pelos mentores da grande escola que é a Terra.
Cada "classe", representada pelas diferentes co¬letividades, envia ao conjunto sua mensagem no mo¬mento oportuno. Silenciosamente, durante séculos, preparam-se os valores necessários, previstos pelos Planejadores Siderais. Chegado o momento oportuno a massa humana, fermentada adequadamente, cresce em consciência espiritual e "serve o alimento que preparou" à alma faminta de seus contemporâneos.
Tal fenômeno é identificado como providencial. Os místicos agradecem a Deus Sua sabedoria infinita; os céticos louvam a capacidade de superação e pro¬gresso do homem. Infelizmente, porém, nem uns nem. outros encontram-se a par da realidade, muito mais sublime e laboriosa, que se desenrola por "trás dos bastidores".
E os grandes pedagogos do Espaço continuam sua tarefa anônima, amando e servindo à Humanidade, que, na maioria dos casos, serviu-lhes de berço para o despertamento espiritual.


PERGUNTA— Saberá a nossa gente tomar cons¬ciência de sua tradição e usá-la adequadamente?
RAMATIS — Não compreendemos bem o que designais por "nossa gente". Como sabeis, os corpos são receptáculos de espíritos que encarnarão também em obediência a um planejamento geral. A aparência caótica do final dos tempos não vos permite perceber esse planejamento. Porém, para preservar a tradição de um povo e mesmo para iniciá-la, são orientados para encarnar em seu ambiente espíritos em sua mai¬oria capazes de velar, instintivamente, pelos princí¬pios a serem conservados.
Uma seleção discreta e não ditatorial é feita de modo a que preponderem as almas afins com os ele¬mentos dominantes na aura daquele povo. Há também a dosagem dos "destoantes", natural em toda coletivi¬dade em escala inferior de progresso, onde existe sempre a necessidade dos opostos para se contraba¬lançarem.
E como na Terra não existe "virtude absoluta", mesmo o "dom" que aquele povo deve transmitir aos seus contemporâneos precisará ser corrigido em seus excessos pelo futuro.


PERGUNTA — Na hora da provação coletiva prevista para a Humanidade, de que forma a tradição brasileira será útil às outras coletividades?
RAMATIS — Pensando no panorama que então se descortinará podereis concluir que só conseguirá ser útil quem souber se colocar na postura do enfer¬meiro dedicado, capaz de todos os sacrifícios pelo bem do próximo.
A primeira providência para socorrer uma casa em pânico será desvelar-se pelos que sofrem, pois nada mais será possível realizar em tal situação. O "Amor que cobre os pecados", ensinado por atos quan¬do de Sua passagem pela Terra, fez de Jesus o modelo a ser imitado todas as vezes em que as conseqüências desses "pecados" se abatem sobre os seres humanos. Por esse motivo, a aura de ternura e compaixão, característica fundamental das raças sofredoras que aportaram à Terra da Promissão constitui fator deci¬sivo de sua tradição de fraternidade. Por esse aspecto psicológico, o Brasil será capaz de reacender na alma torturada do final do século a chama da esperança.
Desvelando-se pelo próximo mergulhado nos pa-roxismos da dor, fará reviver no espírito coletivo da Humanidade a imagem luminosa do Puro dos puros quando se deslocava pelas estradas da Galiléia a amar e a exortar ao Bem.


PERGUNTA— Gostaríamos de maiores explica¬ções. Não compreendemos essa comparação, pois não sentimos a relação entre a realidade rude de nossas condições como homens terrenos e a pureza do Amor vibrado por Jesus em Sua passagem junto aos seres humanos.
RAMATIS — "Todas as vezes que amparardes a um desses pequeninos será a Mim que o fareis." Assim se referia Ele ao trabalho da compaixão e da caridade. Facilmente concluireis que Ele se fará presente quan¬do a alma solícita do brasileiro se compadecer dos estertores da convulsionada coletividade terrestre e, mesmo imperfeita, buscar multiplicar seus parcos re¬cursos para permitir a sobrevivência de seus contem¬porâneos.
Sereis como mordomos da casa do Pai assaltada pelos vendilhões das Verdades eternas, responsáveis pela guarda do tesouro da espiritualidade que eles permitiram fossem desbaratados pela sua conivência com o erro. Aqueles a quem o Senhor confiou suas ovelhas comportaram-se como cegos que conduzem outros cegos e o abismo das trevas os vai tragando gradativa e inexoravelmente.
Por força de circunstâncias aparentemente casu¬ais sereis portadores de recursos capazes de mobilizar os sentimentos de compaixão latentes na aura coletiva de vosso povo, habituado à provação encarada nos moldes de um certo "fatalismo cristão?, se assim pode¬mos nos expressar.


PERGUNTA— Como podemos compreender essa expressão "fatalismo cristão"?
RAMATIS — As raças formadoras do vosso povo eram propensas a uma atitude passiva com relação aos desígnios do chamado "destino". Por sua impotên¬cia diante dos fatos, o negro escravizado, o índio priva¬do de autonomia sobre a terra de origem e o português profundamente impregnado do espírito mouro, canali¬zaram  suas  tendências  consolidando   a   atitude "acomodatícia" do brasileiro. Simultaneamente, afir¬mando que "Deus é brasileiro" emitis a certeza no amparo espiritual que, intuitivamente, se gravou em vossos espíritos pela formação cristã imposta, embora em moldes deficientes, mas conseguindo gravar certos princípios fundamentais de compaixão e benevolência. Dessa mistura, nem totalmente salutar nem com¬pletamente prejudicial, será possível extrair valores responsáveis pela reação benéfica de socorro e dedica¬ção. Só então a consciência coletiva do povo brasileiro começará a despertar para a necessidade de discipli¬nar-se para o constante estado de alerta em que preci-sará viver, visando o aproveitamento integral de suas possibilidades então tornardes no esteio para a conti¬nuidade do processo evolutivo na Terra.


PERGUNTA — Em nossa compreensão limita¬da, julgaríamos necessária uma alta qualificação para nos tornarmos guardiães do Bem sobre a Terra. Que nos dizeis?
RAMATIS — Vosso ponto de vista encontra-se distorcido pelo hábito de julgar pelas aparências. Esquecei-vos das palavras abençoadas do Senhor — quem não se fizer como um deles não verá o reino do Céu — referindo-se às crianças. Que qualificações teria o Mestre identificado nos pequeninos para apontá-las como medida padrão de entrada no Seu reino?
A pureza de intenções, a ignorância do mal pre¬meditado, a incapacidade de ferir o próximo em larga escala, existem na alma ainda não contagiada da cri¬ança no semi-adormecimento em que o espírito se envolve durante a infância. Por não se encontrar ain¬da na posse de todas as suas capacidades no plano físico, o espírito infantil movimenta-se como numa sonolência espiritual que não lhe permite tomar cons¬ciência de todos os problemas humanos que o cercam. Desse modo, encontra-se preservado das dolorosas revivescências de aprendizados anteriores e usufrui de uma relativa bem-aventurança, capaz de sentir o plano material como aquele Éden onde as almas ingê¬nuas de nossos antepassados bíblicos usufruíam a paz da ventura celestial.
No entanto, apesar de tal estado de ventura espi¬ritual, por estar ainda isento das responsabilidades que testam as realizações interiores, as almas que iniciam sua encarnação na Terra não se encontram, obrigatoriamente, nimbadas de claridades celestiais. Sua felicidade temporária reside no fato de não se haverem entrosado ainda no emaranhado das paixões humanas, por não se encontrarem totalmente desper¬tos os seus espíritos.
Sob este aspecto, a alma coletiva brasileira apre¬senta pontos de contato evidentes com a alma infantil. Embora rica em potencialidades, embora imitando os povos adultos, sente-se claramente que o Brasil ainda permanece na fase preparatória de sua participação no panorama espiritual da Humanidade.
Sendo assim, também possui, como os pequeninos, aquela pureza, fruto da ingenuidade infantil, no trato dos graves problemas que assolam a Humanidade. Abre os olhos para a Vida e tem a intenção de pôr em prática os belos ideais de fraternidade característicos da juventude, não contaminada pelas sofisticações do adulto.
Inseguro, porém desejoso de afinar-se, o jovem colosso, sentindo sua força potencial, desejaria dar plena expansão aos recursos imensos que lhe adorme¬cem na alma coletiva. Surgirá como o gigante que foi despertado para a tarefa grandiosa de amparar, com sua  imensa  força  física,  seus  irmãos mais  velhos depauperados pelas batalhas inadmissíveis em que se empenharam insensatamente. Não será o conselheiro experimentado mas terá a alma receptiva ao Bem, ainda não contaminada e capaz de erguer-se acima das vicissitudes do momento para servir de esteio ao Bem, que se utilizará de sua posição providencial para orientar os fatos no sentido de reconstrução do pano¬rama geral da Terra.
O Brasil não será o mentor nem o árbitro de seus irmãos desolados pela catástrofe. Simplesmente mo¬vimentará recursos armazenados no plano físico e no espiritual como celeiro da Terra envolto na mais feroz provação de todos os tempos. Não julgueis ingenua¬mente que o povo brasileiro poderá improvisar recur¬sos imprevisíveis capazes de solucionar milagrosa¬mente todos os impasses, diante dos quais a Humani¬dade tem estacado sem capacidade de superação.
A alma humana coletiva também não dá saltos. O homem retornará a uma fase na qual a segurança material será sua preocupação exclusiva, não mais como fruto de sua adoração ao "bezerro de ouro", mas pela dor da catástrofe que o libertará das cadeias do materialismo cego. No entanto, esse contratempo do¬loroso não terá o condão de conduzi-lo prontamente ao degrau evolutivo  imediato.  Será  preciso  socorrê-lo antes, estendendo-lhe a mão amiga ao espírito derro¬tado. E nem sempre são os mais sábios aos olhos do mundo que conseguem ser a tábua de salvação para o próximo. Será sempre o que possuir amor para dar, seja ou não capaz de se alçar aos píncaros dos conhe¬cimentos humanos.


PERGUNTA — Em que aspectos, mais precisa¬mente, a tradição brasileira contribuiria para o atendimento às necessidades do homem na fase apocalíptica mais penosa?
RAMATIS — Entre os povos do chamado "tercei¬ro mundo" o Brasil é aquele no qual se reuniram as qualificações capazes de favorecer uma cruzada socorrista em maior escala.
A tradição pacifista no setor político torna-o imu¬ne aos azedumes que costumam denegrir as relações diplomáticas e a alma sofredora de suas raças tradici¬onais incutiu na aura brasileira uma capacidade de se compadecer pelos reveses alheios. O espírito aventu¬reiro dos primeiros descobridores ainda vibra na me¬mória espiritual do brasileiro e os grandes feitos em prol da Humanidade encontram eco no idealismo de seu povo.
Por não ser uma nação organizada nos mais mo¬dernos moldes do progresso, não se encontrará impe¬dida de se curvar compadecida pela dor do próximo. Os homens cegos pelo culto de Mamon perderam a medida do serviço realmente desinteressado, no qual os mais simples recursos são o sacrifício e a dedicação capazes de superar todos os impasses na base do — "ama o teu próximo como a ti mesmo".
Quem compreender de que recursos é capaz o verdadeiro Amor poderá admitir sem ressalvas a mis¬são evangélica do povo brasileiro, pois nunca se ouviu dizer que Jesus tivesse requisitado os seus discípulos usando como medida de seleção a capacidade intelec¬tual ou os recursos materiais de que dispusessem. Seus seguidores sempre foram aqueles que se dispuse-ram a amar e servir como Ele recomendou e exem¬plificou.
Estamos certos de que a tradição de fraternidade, embora denegrida pelas inevitáveis falhas humanas, será capaz de superar essas deficiências na medida indispensável para permitir ao brasileiro dividir com o próximo os bens que o Senhor haja confiado à Terra da Promissão.
E uma nova aurora há de raiar do planalto onde profeticamente foi colocado o Palácio da Alvorada, para onde convergirão os olhos de uma humanidade combalida nos últimos estertores de uma era assinala¬da pelo suor e sangue, nos quais todo um período de iniqüidades, prolongadas por milênios, virá se chocar, como o retorno dos males provocados pela cobiça, pelo desamor, pela ignorância voluntária das Leis do Uni¬verso.











































4

Paraíso terrestre


PERGUNTA — Não desejaríamos embrenhar-nos no terreno das utopias, pois temos sentido quanto a Espiritualidade se tem mostrado realista e capaz de aproximar-se, cada vez mais, do que denominamos "realidade objetiva". Como interpretar o conteúdo deste
capítulo?
RAMATIS — Realmente, a Espiritualidade vem sendo traduzida, dia a dia, em linguagem cada vez mais acessível ao entendimento humano, à proporção que este adquire conhecimentos capazes de proporci¬onar pontos de referência entre o plano que habitais e as realidades que o ultrapassam.
Por sermos adeptos de uma introdução gradativa do homem nas realidades extraterrenas, buscamos sempre verter, em conceitos acessíveis, os fatos e leis da esfera espiritual.
No entanto, consideramos o título sugerido como perfeitamente adequado, se deixarmos de lado as fan¬tasias que costumaram envolver os conceitos bíblicos. Quem haja estudado o noticiário espírita, deten-do-se nas verdadeiras "reportagens" do Além que vêm sendo filtradas através de diversos médiuns nos últi¬mos tempos, concordará conosco na concepção atuali¬zada do paraíso, já divulgadas por inúmeras obras, e compreenderá em que sentido empregamos o termo no presente capítulo.


PERGUNTA — Gostaríamos de obter maiores esclarecimentos.
RAMATIS   — A Terra de Promissão para  os hebreus era o paraíso terrestre, no qual penetrariam após purificar-se no degredo pelo deserto. Só uma geração nova seria digna de iniciar a vida na terra em que "jorrava leite e mel". As profecias exigiam daquele povo a conduta ilibada capaz de reter em suas mãos os bens ansiosamente esperados por gerações no exílio. Como no processo evolutivo, os simbolismos são sempre utilizados com o objetivo de estimular a reno¬vação interna. Tanto a Terra de Promissão, encarada como paraíso terrestre pelo povo hebreu, como o para¬íso de nossos "primeiros pais" Adão e Eva, represen¬tam estímulo psíquico colocado diante do homem ter¬reno tanto mais eficiente quanto ele se sinta afinado com a idéia apresentada.
Para o homem atual, porém, aquele tipo de para¬íso capaz de sensibilizar o hebreu ou o terrícola de alguns séculos atrás, torna-se uma possibilidade cien¬tificamente improvável, retirando do seu poder suges¬tivo toda força capaz de conduzir o espírito humano a rumos mais acertados.
Porém, a grande realidade do espírito continua a mesma — a evolução através de diferentes etapas efetua-se silenciosamente no íntimo de cada ser e os grandes pedagogos do astral planejam novas fórmu¬las, mais próximas da realidade, para traduzir de maneira acessível o programa traçado.
Foi-nos, então, entregue a tarefa de reformular conceitos já divulgados das mais diversas formas, como sementes esparsas sobre o espírito humano, segundo os quais uma nova concepção de paraíso ter¬restre estaria sendo esboçada.




PERGUNTA — Quais as características desse novo Éden?
RAMATIS — Nenhum homem perfeitamente in¬tegrado ao espírito dos tempos atuais poderia conceber uma fórmula paradisíaca não baseada em estados psíquicos. A era da eletrônica desatualizou por com¬pleto o céu e o inferno de vossos avós. Porém, as mesmas realidades que eles representavam continu¬am como pano de fundo das interpretações atualizadas da vida espiritual.
Os caldeirões de Satanás foram substituídos pelo subconsciente torturado e no L.S.D. os espíritos ima¬turos de vosso tempo procuram as compensações oníricas buscadas por seus ingênuos avós nas lendas de Adão e Eva.
Entretanto, os espíritos equilibrados sentem a necessidade de ver traduzidas em palavras as realida¬des interiores do processo evolutivo, num grau de compreensão satisfatória ao seu desenvolvimento psí¬quico.
Buscamos atender a essa necessidade como mais um dos seareiros do Senhor junto ao homem do século XX.
Com a liberdade de uma concepção puramente literária, achamos adequado denominar o Brasil de Paraíso Terrestre, tal como os autores da Bíblia se sentiram autorizados a traduzir em lendas o exílio espiritual que parte da humanidade de Capela 1 sofria na Terra e, também, como os condutores do povo hebreu acenaram com aventuras paradisíacas numa terra a ser conquistada.
Em todos estes casos, foram fornecidos pontos de referência nos quais o espírito humano pôde firmar-se para avançar na senda interior.


1  Ver Os Exilados de Capela, de Edgard Armond.


PERGUNTA — De que forma poderá contribuir para a evolução humana o fato de apontarmos o Brasil como paraíso terrestre?
RAMATIS — Todas as vezes que apontamos a meta a ser alcançada, estamos contribuindo para esti¬mular o desejo de progresso que é uma força latente no espírito humano. Nas almas em que o negativismo não haja criado um envolvimento dessensibilizante, o ape¬lo repercute automaticamente. O processo da propa¬ganda subliminar baseia-se na capacidade receptiva inconsciente do espírito. Mesmo aqueles que se julgam "espíritos práticos" não deixam de possuir sua cente¬lha espiritual e esta, à revelia das teorias apregoadas para uso externo, é atingida por mais um sinal "super¬sônico" da espiritualidade. Esse apelo grava-se e vem à tona no momento oportuno.


PERGUNTA— Poderíamos concluir que os espí¬ritos práticos que repudiariam o que classificam de fantasias nossas, na realidade só o fazem aparente¬mente?
RAMATIS — Nossos irmãos estão sinceramente empenhados em repudiar o que seu intelecto classifica de "fantasias", tal como o homem moderno repudia a puerilidade da propaganda comercial, terminando por se submeter às imposições da moda.
É assim que, embora não se confesse católico, espírita, protestante etc., ele pede ao amigo religioso que reze por ele ou recorre ao passe ou ao terreiro para solucionar sua dor de cabeça. E se muitas vezes não o faz é para impedir que sua reputação de "espírito esclarecido" fique abalada diante de si mesmo, embora ninguém mais do que ele próprio conheça sua necessi¬dade de arrimar-se em alguma coisa.
A própria sofreguidão com que os espíritos "mo¬dernos" buscam atualizar-se em cursos de todas as espécies reflete a insegurança interior diante do pano¬rama cada vez mais extenso que a vida lhes apresenta. Se se sentissem seguros, contentar-se-iam em saber o que lhes fosse necessário à realização de suas tarefas, nas quais estariam empenhados satisfatoriamente, a ponto de sentirem seu poder criador extravasar-se poderosamente a cada instante.
A ânsia de informação reflete deficiência de for¬mação. Busca-se sofregamente adquirir quando não se sente possuir satisfatoriamente. Uma alma cujos va¬lores profundos foram despertos não despreza a aquisição de novas capacidades, porém sente-se tranqüila com o que extravasa de si, deixando que o tempo acrescente ou não os conhecimentos a sua volta, pois seu empenho está voltado para a grande fonte de conhecimento que mora em seu próprio ser.
Compreendemos o repúdio das "fantasias" relaci¬onadas com o espírito, como reação natural aos exces¬sos da tirania intelectual religiosa e da supervisão que escraviza o espírito e constatamos, com satisfação, a impermeabilização do homem às crendices, às quais tornou-se avesso por afeiçoar-se ao rigor científico. Quando acordar do seu horror generalizado ao que não pode comprovar por processos objetivos, estará mais apto a defrontar-se com as realidades superiores que exigem espírito tenaz de perquirição e objetividade em plano mais profundo de realização.


PERGUNTA— Quais as repercussões que pode¬rão advir de apontarmos o Brasil como paraíso terres¬tre?
RAMATIS — As repercussões psicológicas são óbvias em vista de tudo que expusemos. Visamos assi¬nalar mais um marco de espiritualização para a Hu¬manidade neste final de século. No plano físico essa repercussão foge à nossa competência, pois as pró¬prias realidades objetivas se incumbirão de assinalar como um Éden terrestre o território onde o alimento será possível e onde o ressecamento espiritual dos horrores da guerra se fizerem sentir em menor escala.


PERGUNTA — Os brasileiros serão influencia¬dos em seu comportamento por saberem sua terra assim predestinada?
RAMATIS— Sejam ou não notificados da missão de sua terra os brasileiros acordarão no tempo oportu¬no pelos clamores da realidade. Em Brasília um pugilo de almas será responsável pelo socorro à alma huma¬na contorcida pela dor. Os Anjos responsáveis pelo Brasil diante do Compassivo já providenciaram os rumos adequados para os espíritos capazes de atender aos reclamos do final dos tempos com o espírito cristão redivivo, capaz de ultrapassar as fronteiras dos credos políticos ou religiosos, para sentirem na alma a reper¬cussão nítida do Amor Crístico na Terra.
Nos tempos apocalípticos sobrarão poucos lazeres para as vaidades dispersivas e grandes falanges se formarão na Terra e no Espaço para socorrer e ampa¬rar.
Nosso trabalho despretensioso representa somen¬te mais uma das "notas" vibradas no Espaço com o objetivo de atingir a consciência coletiva do povo bra¬sileiro. Como toda mensagem, atinge somente os que estiverem preparados psiquicamente para senti-la.
Desconfiados da propaganda mal conduzida e de seus efeitos desastrosos, muitos espíritos sensatos já se habituaram a "pôr de quarentena" as campanhas de divulgação de idéias, por mais respeitáveis que sejam. Não condenamos tal atitude, pois representa uma defesa necessária a quem se orienta pelos ditames exclusivos da razão. E como aquele "sexto sentido", representado pela Intuição Pura, ainda é faculdade bruxuleante no homem terreno, sabemos que nossas afirmações em torno da missão espiritual e material do Brasil serão recebidas com naturais reservas e até mesmo com certo descrédito por grande parte dos homens encarnados.
Nosso propósito, porém, é reforçar os arquivos etéreos com afirmações positivas capazes de se grava¬rem no subconsciente do leitor, seja ou não capaz de aceitar conscientemente o que afirmamos.


PERGUNTA — Perdoe-nos a franqueza, mas vossas palavras suscitam a pressuposição de uma sugestão capaz de violentar o livre-arbítrio. Será as¬sim?
RAMATIS — Procuramos usar o direito comum de divulgar o pensamento, colocando-o ao alcance de todos, em pé de igualdade com as idéias antagônicas às esposadas por nós.
Tudo que atinge o homem, conscientemente ou não, grava-se em sua sensibilidade. O livre-arbítrio consiste em selecionar, no momento em que a impres¬são gravada se torna consciente. Desse modo podeis concluir que a sublime faculdade do espírito adulto, que é o livre-arbítrio, ainda é exercida em escala bastante reduzida pelo homem terreno, que mal come-ça a admitir seu acervo espiritual subconsciente.
Assim, encontra-se como joguete de forças ainda desconhecidas, de seu próprio arquivo espiritual e do "homo sapiens", em cuja escala se classifica e que possui muito limitadas atribuições conscientes.
Submerso nesse conjunto de forças antagônicas, características da polarização evolutiva, não seríamos nós os responsáveis pela violentação de sua faculdade
seletora.
No campo vasto da mente humana caem todos os dias as mais diversas sementes e lá permanecem em processo de hibernação, à espera de que o terreno se torne propício à germinação. Cabe à Vida, de modo geral, realizar essa semeadura. O momento da germi¬nação varia com os indivíduos e sua maturação. Em seguida, só após longas experimentações, vem a co¬lheita e a seleção.
A ninguém seria lícito deixar de semear o que possa beneficiar futuramente o próximo.


PERGUNTA — Quais as considerações que desejaríeis ainda fazer sobre este capítulo?
RAMATIS — A humanidade terrena vem sofren¬do um longo processo capaz de disciplinar sua fértil imaginação infantil. Assim, a pouco e pouco a ciência cerceou os vôos desregrados da mente imatura. Po¬rém, como era natural, a inabilidade de sua situação evolutiva provocou um corte violento que atingiu a capacidade de "sonhar acordado" com as sublimes realidades do espírito. E o homem que desejava voar como ícaro no passado, sem a menor base mecânica, hoje pode realmente alçar-se materialmente em vôos supersônicos, sem se permitir a mais leve sombra de devaneio. Atrofiou as asas do espírito ao doá-las ao corpo material.
Desse modo passou a sentir, com desconfiança, a mais leve sombra de fé em algo que escape aos exames de laboratório.
Tornou-se assim impermeável aos apelos da es¬perança, olhando firmemente para o solo onde pisa, sem coragem de levantar os olhos e apreciar o horizon¬te. Teme que, por sonhar acordado com as paisagens verdejantes que se estendem ao alcance de sua mão, possa ser vítima da vertigem que derreteu as asas de ícaro. E um ser alado que, possuindo a mais portento¬sa de todas as capacidades de superação, se fixou nos fracassos da infância espiritual e negou a si mesmo o direito de trazer à tona, através dos sonhos, a consci¬ência de suas capacidades latentes.
Uma das mensagens mais insistentes e necessá¬rias, que nos cabe repetir constantemente, é a que visa acordar no homem atual a fé em seu futuro próximo e remoto. Que desate os grilhões do medo ao que julgar inconsistente porque não material. Para corroborar¬mos em termos atuais esta afirmação, lembraríamos que a própria matéria já foi promovida a "energia condensada" e que os sonhos tão desmoralizados pelo espírito prático do homem terrestre, foram reabilita¬dos pelo mais rigoroso espírito científico, quando Freud baseou a reconstrução do equilíbrio psicofísico em suas interpretações.
Diríamos, então, que as asas de ícaro começam a despontar timidamente na mente do homem moderno, que retorna à crença no valor dos sonhos, autênticos gritos da alma contra as imposições do meio hostil.
E quando a alma souber ouvir com atenção os ecos desses sonhos recalcados no subconsciente, che¬gará à conclusão de que não nasceu para rastejar no solo da Terra e que é capaz de substituir as "asas artificiais de cera" com que hoje sublima o seu anseio angélico nas grandes aeronaves, por uma capacidade de volição compatível com seu vigor espiritual. E que o combustível capaz de sustentá-la em tal empreendi¬mento será sempre a força eterna e renovadora do Amor que pregou o Mestre Nazareno.
Para este homem, assim sensibilizado, a Terra onde possa emergir de seu pesadelo psíquico de milê¬nios será realmente o paraíso sonhado, pois saberá valorizar adequadamente a oportunidade de renovar seus testemunhos, dentro de uma compreensão dilata¬da da Vida espiritual. E será esta compreensão, fruto da sensibilidade aprimorada, que lhe proporcionará a sensação paradisíaca dos que partilham com o Senhor as bênçãos da Criação.
Sejam quais forem suas atividades externas, a paz dos justos habitará seu espírito e se cumprirá a profecia da renovação psíquica do homem para "entrar na posse da Terra Prometida".


























5

Trampolim espiritual


PERGUNTA — Já que o índice completo da obra nos foi entregue no momento em que nos anunciastes o presente trabalho, cremos oportuno iniciar este capí¬tulo pedindo-vos que nos esclareçais o significado do seu título.
RAMATIS — Ao ditar o índice completo da obra visamos proporcionar maior unidade ao contexto da exposição de idéias e estimular a confiança no espírito do médium intuitivo de que nos servimos. Ao receber de forma segura e imediata um planejamento comple¬to de trabalho que jamais cogitara realizar, visamos provar-lhe a autenticidade do fenômeno inspirativo a que está submetido. Os médiuns costumam intimidar-se quando se trata de divulgar idéias para um público maior. Compreendendo que seus escrúpulos são base-ados no respeito tributado à Espiritualidade, vez por outra, julgamos oportuno fornecer-lhes maiores estí¬mulos.
Num fenômeno de abertura psíquica completa, o médium recebeu o índice desta obra em alguns minu¬tos, sentindo claramente o conteúdo de cada capítulo, assim como a nítida interligação entre eles, como seja houvesse estudado a fundo o planejamento realizado no Espaço. Na realidade, isto já sucedera em seus momentos de sono na Terra e bastaram ser obtidas as condições psíquicas adequadas para que se reavivasse o conteúdo de cada item que lhe ditávamos.
Estranhou não ser capaz de conservar na memó¬ria física a percepção, em profundidade, que lhe foi possível conseguir naqueles instantes, sobre o signifi¬cado de cada parte. Porém essa é mais uma prova da realidade psíquica extra-sensorial a que se submete no trabalho mediúnico.
Recorda-se, vagamente, do relacionamento de cada capítulo como que "sentiu" no momento em que o trabalho lhe foi ditado, porém, necessita submeter-se novamente ao esforço de hiperativação do campo espi¬ritual para voltar a "perceber" este relacionamento num grau de realidade que ultrapassa o campo do intelecto. São os momentos em que se amortecem as impressões físicas e a mente espiritual ganha novas dimensões, inexplicáveis ainda ao homem comum.
Não desejamos afirmar que o médium, como ou¬tros medianeiros da Terra, sejam espíritos excepcio¬nais. Ao contrário, ao descrever o processo de trabalho a que se submetem como prova renovadora, desejamos chamar a atenção dos leitores para a realidade espiri¬tual que vivem todos os homens na Terra, como espí¬ritos que são. Basta que o cuidado de cada qual se concentre no proceder evangelizado para que o Senhor encontre meios de utilizá-lo no Seu trabalho de Amor, segundo as aptidões apresentadas, sem que isto repre¬sente um atestado de beatificação.
Os homens costumam medir realidades extensas com medidas inadequadas e classificá-las de inexatas, em virtude da desproporção inevitável entre a estreita bitola humana e os padrões da Espiritualidade. Desse modo torna-se necessário analisar devidamente situ-ações simples, mas que à primeira vista apresentam dificuldades.
Um trampolim é um local onde alguém se apoia em exercícios atléticos para lançar-se, das mais diver¬sas formas no espaço, em direção prevista e com deter¬minado objetivo. Tratando-se de um esportista, procura-se obter destreza capaz de proporcionar prazer ao próprio e aos assistentes. No caso particular que analisamos o significado não se distancia muito do anterior.
O atleta representa o povo brasileiro. Apoiado na tábua estreita e movediça de valores ainda não total¬mente consolidados, lançar-se-á no "espaço" do pano¬rama espiritualmente conturbado da Humanidade deste final de século para auxiliar seus irmãos imersos na dor da mais amarga provação.


PERGUNTA — Gostaríamos de obter maiores esclarecimentos.
RAMATIS — O Senhor, em Sua infinita miseri¬córdia, ampara Seus filhos por intermédio de seus próprios irmãos. Na noite angustiosa do sofrimento coletivo, quem poderá amparar senão o que possuir um pouco mais de paz e disponibilidade de valores evangélicos?
Como já afirmamos, o povo brasileiro permanece como a agremiação mais jovem capaz de socorrer em larga escala a tragédia do final dos tempos. A potencialidade a ser desperta, simbolizada na classi¬ficação do "gigante adormecido", representa por intui¬ção o arsenal material e espiritual que gravará para sempre a estréia do Brasil como líder das nações para o Terceiro Milênio.
A civilização transplantada para a Terra do Cru¬zeiro será como o repositório de onde se retirarão as "amostras" de progresso humano, quando a maior parte do planeta se transformar num ermo calcinado pelo cataclismo em que as forças da Natureza se suble-varão diante dos dragões da dor, despertos pelo desa¬mor entre as criaturas.
O Inferno de Dante parecerá ter encontrado sua representação ao vivo no plano material e o Mestre Nazareno será invocado pelas almas estarrecidas pelo pavor. Do subconsciente virão à tona as recordações do Pastor que se desvela pela ovelha tresmalhada e mes¬mo os que riram de forma escarninha do Galileu, imolado "por nada", lembrar-se-ão Dele na hora extre¬ma, esperando que Sua mão se estenda compassiva, como tantas vezes fizera na Terra, aos maiores peca¬dores.
Os vapores da fermentação dos "caldeirões de Satanás", que então parecerão estar queimando sobre a Terra, atingirão o povo brasileiro como um eco en¬surdecedor que não lhe permitirá repouso. A lava incandescente derramada pela provação coletiva da Humanidade atingirá suas praias e a dor superlativa também fará vergar a alma brasileira.
No entanto, ela será ainda capaz de mobilizar energias em seu solo não totalmente atingido para "subir" ao trampolim da espiritualização, protegida pela imunização da caridade e da compaixão, para lançar-se em socorro de seus irmãos.


PERGUNTA — Não compreendemos como pode¬rá lançar-se, mergulhando na fervura das lavas incandescentes para socorrer.
RAMATIS— Materialmente falando, um tal mer¬gulho seria suicídio. Porém, em espiritualidade, a imunização contra o fogo da provação é perfeitamente viável, desde que o espírito possua as qualificações necessárias.


PERGUNTA — De que forma o povo brasileiro poderia imunizar-se para melhor amparar seus ir¬mãos na Terra?
RAMATIS — Afirmamos que a dor no final dos tempos atingirá o povo brasileiro como um "eco", não só do caos reinante a sua volta como na forma de um choque de retorno relacionado com as provações liga¬das ao carma particular de cada espírito. Obedecendo à lei de causa e efeito, os espíritos cuja reabilitação depende de um expurgo, representado pela dor, serão atraídos irresistivelmente para os cenários onde esse tipo de provação estiver programada, sem que possam ter a menor idéia do que sucederá, pois a Natureza não dá sinais de aviso quando programa seus cataclismos. A única imunidade  possível seria obtida pela neutralização do que está escrito na aura de cada espírito endividado, o que seria impossível de ser obtido por métodos apresentados. Aos que julgarem que espalhamos o terror, responderemos que não de¬vem ser espíritas nem espiritualistas, pois, se o fos¬sem, saberiam que mais vale estar preparado para a provação inevitável do que sucumbir diante dela intei¬ramente despreparado. Poderão escandalizar-se com nossas palavras os espíritos imaturos, capazes de ver na morte do corpo físico a maior catástrofe que pode suceder. Porém, aos que compreendem a utilidade da provação bem vivida, só gratidão será desperta pelas palavras de alerta que lhes têm chegado sobre o final dos tempos. Nossas palavras seriam intempestivas, se o final dos tempos não estivesse realmente próximo.
Entretanto, há imensas possibilidades de atenu¬ação do programa de provações organizado pelas for¬ças desencadeadas pela cegueira humana. Nossa in¬sistência sobre este tema visa alertar e não aterrori¬zar. E preciso que os homens compreendam que Deus não castiga. As forças da Natureza sublevam-se quan¬do seus princípios são contrariados.
Durante milênios o "homo sapiens" acumulou sobre o ambiente etéreo-físico do globo os miasmas de suas poluições mentais. O melhor aparelho eletrônico torna-se impedido de funcionar se constantes atritos e sobrecargas quebram fios, oxidam metais, desajustam engrenagens.
O mecanismo físico e astral do planeta vem sendo atingido cada vez mais violentamente pelos impactos atômicos e mentais da Humanidade enlouquecida. Como um animal, torturado em sua sensibilidade por parasitas e ungüentos que o afligem, sacode-se para expulsar tais perturbações e sai satisfeito por liber¬tar-se do incômodo, o planeta estremecerá para sacu¬dir de sua crosta os males que ameaçam seu equilíbrio. E aquilo que parecerá uma catástrofe irremediável aos parasitas nocivos, funcionará como a necessária renovação para a vida planetária.


PERGUNTA — Não julgais demasiado severa a classificação dos homens como parasitas?
RAMATIS — Até certo grau, a utilização dos recursos que a vida nos proporciona é justificável pois ela é a doação do Criador à criatura em evolução. Entretanto, os que abusam dos bens obtidos são como os filhos que crescem e não desejam tomar as respon¬sabilidades que lhes cabem, tornando-se parasitários em relação à seus pais.
Portanto, só se enquadram naquela classificação os espíritos rebeldes que, conscientemente, têm des¬prezado as Leis da evolução, distorcendo o sentido da Vida.


PERGUNTA — Isto não sucederia pela grande dificuldade que representa definir os caminhos verda¬deiros?
RAMATIS — Ninguém precisa ser um profundo filósofo para entender o "amai-vos uns aos outros como eu vos amei", ou seja, "fazei aos outros o que desejais para vós".


PERGUNTA — Não estando imunizado, de que forma nosso povo conseguirá socorrer?
RAMATIS — Quando muitas zonas da Terra se transformarem num inferno dantesco, quem tiver um pé em terra firme poderá estender mão protetora, tanto no setor físico como no espiritual.
A provação será mais rude nas zonas conflagra¬das e às terras brasileiras aportarão seguidamente os náufragos que poderão ser socorridos em local de menor aflição.
Simultaneamente, os brasileiros, alertados pelos fatos, serão impelidos a confabular sobre novos rumos a serem impressos aos destinos da coletividade terrena e assim esboçarão, em hora de profunda aflição, um programa de trabalho capaz de imprimir certa modifi¬cação aos destinos humanos. Para isso, encarnam-se atualmente no Brasil almas preparadas para a fase transitória do planeta e espíritos de alta envergadura comprometeram-se em assisti-las para esse fim.
Que não sejam interpretadas essas palavras como a profecia de novos líderes sectaristas de movimentos exclusivos desta ou daquela religião. O homem do terceiro milênio será fraterno por excelência em sua fundamentação, sem influência de credos políticos ou religiosos, pois o Amor ao próximo será a única Lei reconhecida por infalível, depois do fracasso apocalíp¬tico das idéias separatistas.
Reconhecereis os novos líderes da Humanidade pelo espírito anti-sectário no campo da religião, da política, da ciência. Podemos identificá-los nos seres aparentemente descompromissados com tudo, mas pro¬fundamente acessíveis às idéias renovadoras. Não os vereis invectivando o comportamento alheio, pois sa¬berão intuitivamente que essa é uma atitude geral¬mente inútil e dispersiva se cada qual tem coisas mais importantes a fazer. Serão aqueles que constróem sem preocupação de aparecer e, se as circunstâncias evi¬denciam seu esforço, não se perturbam, pois encon¬tram-se tão empenhados no que realizam, que julgam
uma perda de tempo parar para contemplar seus efei¬tos.


PERGUNTA— Que mais nos poderíeis informar sobre esses espíritos que conduzirão os destinos do Brasil em tais circunstâncias? São eles almas eleitas?
RAMATIS — Aquele servo que escondeu o tesou¬ro debaixo da terra sabe que o possui, mas se decorrer muito tempo, desde que o escondeu, corre o risco de o ter perdido ou de demorar a encontrá-lo e desenterrá-lo, inclusive, porque o solo se tornou endurecido sobre o tesouro escondido.
O povo brasileiro possui o tesouro da Espiritua¬lidade representado pelos valores cristãos.  Outros povos esbanjaram-no,  perdendo a oportunidade de aplicar devidamente os princípios da civilização cristã de que se julgam dignos representantes. Como coleti¬vidade, nenhum ainda representou o papel do servo da parábola, que foi capaz de aplicar os bens do Senhor e multiplicá-los sem desperdício.
Ao Brasil, por circunstâncias naturais de evolu¬ção,  não  coube  ainda  oportunidade  de  ser testado integralmente na aplicação em larga escala dos bem recebidos. Como servo bisonho, conserva timidamen¬te seu tesouro oculto, com receio de esbanjá-lo, nãc sabendo aplicar tudo que possui. Como alma coletiva, o povo brasileiro encontra-se naquela fase da segunda infância, na qual o jovenzinho propala suas possibili¬dades afirmando que não as põe em prática adequada¬mente por não lhe ser dada oportunidade, pois já se considera capaz de ombrear, em pé de igualdade, com os adultos e até de superá-los.
O vigor da puberdade desperta na alma brasilei¬ra os pruridos de hegemonia, observados pela Espiri¬tualidade como sinal de consciência coletiva em vias de despertamento.
Porém, como sabeis, o jovem púbere ainda será submetido a experimentações exaustivas até chegar o momento de sua realização efetiva e equilibrada no plano adulto a que se julga destinado prematuramente.


PERGUNTA — Como compreender melhor vos¬sas afirmações?
RAMATIS — Força, saúde, entusiasmo, idealis¬mo, desejo de vencer os velhos tabus das incom-preensões humanas serão as características dos novos líderes que se esboçarão no panorama brasileiro e a derrocada dos valores estabelecidos suscitará na men¬te da maioria a hipótese de serem novos profetas da libertação humana.
Desconfiai, porém, de todos os excessos, pois será preciso atenuar o choque da projeção em pólos opostos, para ser encontrado o real equilíbrio após as atitudes extremadas de toda sorte.
Lembrai-vos da necessidade que tem o jovem ser de tornar-se um pouco mais circunspecto e maduro, compreendendo que a Natureza não dá saltos e será preciso retornar sempre que avançarmos excessiva¬mente. Toda realização prematura carece de base e tanto maiores serão os perigos do açodamento quanto mais importantes forem os empreendimentos previs¬tos.
A visão apocalíptica do final dos tempos influirá sobre os condutores do povo brasileiro como se o jovem ser, estuante de vida, recebesse uma casa desbarata¬da para dirigir. O pânico generalizado o fará observar tudo de tal forma que um amadurecimento prematuro começará a ser esboçado. Um menino sobre cujos om¬bros são colocadas responsabilidades muito grandes e que se vê forçado a cumprir deveres quase superiores às suas forças, embora inicialmente a inadvertência natural da idade o faça sentir-se senhor da situação, logo vergará sob o peso de tal realidade e passará a meditar com ponderação maior sobre as decisões ne-cessárias.


PERGUNTA — Porém, não afirmastes que os espíritos adequados para esse transe estariam encar¬nados entre nós? Sofrerão também estas dificuldades?
RAMATIS— Se a Lei é evolução, todos os espíri¬tos estão permanentemente sendo induzidos a situa¬ções novas, onde possam ser estimulados a crescer espiritualmente.
As almas que se destinam a influir sobre a orien¬tação do povo brasileiro e, conseqüentemente, sobre o panorama mundial contam com potencialidades que as qualificam para uma realização adequada. Isto, porém, não significa que também não estejam sendo testadas no seu valor, em suas disposições voluntárias para realizar bem ou negligenciar seus deveres.
Não existe predestinação absoluta, pois isto seria a negação do livre arbítrio. Os homens adequados são colocados no panorama que convém desde que o pro¬cesso histórico iniciou seu desenvolvimento. Porém, a grandeza inigualável da Lei reside no seu patrimônio mais belo — o homem é com o Senhor. Ele cria a sua vida o seu mundo particular e com as emanações por ele sustentadas voluntariamente, influencia o univer¬so a sua volta.
Como numa escola avançada em seus processos pedagógicos, o' Senhor prepara o panorama e coloca os filhos nos locais onde sua aprendizagem será proveitosa. A assimilação das lições depende do aluno e não do mestre.
As almas capazes de realizar com equilíbrio não serão imunes às influências desconexas de seu tempo. Seu teste de auto-afirmação consistirá, inicialmente, na sobreposição íntima dos valores positivos sobre os negativos. Como todos os espíritos que já baixaram à Terra para prover a Humanidade de mais alguns dons, serão provados intensamente, pois a treva não se compadece, não é da natureza do erro saber ceder e só a grandeza inabalável do bem consegue sobrepor-se ao mal.
As almas capazes de orientar para o caminho adequado os destinos da coletividade brasileira serão assediadas intensamente, como todos os espíritos dis¬postos a velar pela Lei do Amor Crístico. O panorama caótico não lhes facilitará em nada a realização, a não ser no amortecimento da ferocidade humana, quando for atingida a fase de exaustão.
E da Lei que, até que o missionário tome consci¬ência de sua missão, seja assediado de mil formas para se definir. As provas iniciáticas do passado visavam preparar o espírito do neófito que a elas resistisse, para a segurança interior de sentir-se só com sua consciência nos momentos em que as batalhas espiri¬tuais pretendessem derrubá-lo.
E da Lei do cosmo interior da alma que ela se submeta primeiro ao teste do sofrimento, que repre¬senta sua adesão incondicional aos princípios do Amor ao bem que abraçou como norma de vida. Só assim toma consciência de que seus atos não são praticados por amor a si mesma, pois, se assim o fosse, deixaria em meio a tarefa por ser demasiadamente desagradá-vel. O teste do amor ao bem fica decidido quando o ser sofre por um ideal e neste próprio sofrer encontra seu conforto espiritual. Rompem-se então as comportas do egocentrismo e a alma passa a ser veículo da Espiritualidade, mesmo quando detém em sua aura inequívocos sinais das imperfeições pretéritas, pois já sabe vergar-se sob o "jugo leve".


PERGUNTA — Que mais poderíeis dizer-nos sobre o "Trampolim espiritual" que se formará entre nós?
RAMATIS — Quem se atira de um trampolim, lança-se numa aventura; embora demonstre coragem e predisposição para grandes atitudes, poderá ser bem ou mal sucedido.
A espiritualidade é um treino permanente, tão rigoroso quanto a preparação dos atletas para grandes competições.
O Brasil não receberá gratuitamente missioná¬rios miraculosos pelo simples fato de estar destinado a cumprir papel de tanta importância na evolução do planeta. Lembrai-vos de que, se esse fosse um compro¬misso viável, a Espiritualidade já teria providenciado o milagre há mais tempo, para evitar os desastres sucessivos a que a Humanidade tem sido submetida. Não seria lógico que os mentores da Humanidade esperassem o final dos tempos para fazer o que já poderiam ter providenciado há séculos, com maior proveito geral.
As leis evolutivas não serão nunca postergadas, pois o objetivo não é acertar o panorama externo, mas proporcionar a cada espírito a oportunidade de se corrigir. A normalização da situação geral depende da harmonização de cada célula do grande organismo espiritual e material do planeta.
O trampolim espiritual representado pela coleti¬vidade brasileira possui, como é natural, uma base sólida onde se faz o ponto de apoio. Ela é representada por dois elementos, comparáveis à pedra britada e à argamassa de cimento que a possa consolidar.
Poderemos atribuir aos recursos materiais, de que o país está bem provido, o papel da pedra bruta que exige esforço para ser preparada e tornar-se útil. Os valores cristãos ainda não bem sedimentados re¬presentam a argamassa em preparação. E, finalmente, para a construção firme do ponto de apoio, as hastes de ferro que armam o cimento são constituídas pelos aperfeiçoamentos técnicos importados de outros países e aqui colocados como os recursos que, no futu¬ro, se multiplicarão para apoiar seguramente a nova civilização, cuja técnica deverá estar a serviço do Amor Crístico.
Sobre esta base deverá ser apoiada a tábua flexí¬vel da instabilidade humana, na qual o homem do final dos tempos aprenderá a equilibrar-se, arrojando-se em saltos harmoniosos para realizações que o condu¬zam a um futuro melhor.
Dessa forma, haverá sobre a Terra um verdadeiro trampolim espiritual, porque o fato de viver sobre o plano físico não impedirá mais a consciência eterna de se projetar em atividades que reflitam com fidelidade os esplendores da fase áurea do Amor Crístico na
Terra!




PERGUNTA— Parece-nos tão otimista esta vos¬sa afirmação que não conseguimos refleti-la com segu¬rança em nosso espírito. Que dizeis?
RAMATIS — Avançamos em projeções de nosso pensamento aos objetivos visados. É natural que não nos possais acompanhar integralmente, pois vossa sensibilidade encontra-se descondicionada em relação a tais eventos. Procuramos lançar uma visão global do fenômeno que é esperado há dois mil anos na Terra. Pelo seu valor e significado, podeis facilmente com-preender que não se concretizará por ato de magia, e, sim, pelo esforço continuado da coletividade terrestre em longas etapas de provação. Uma readaptação gradativa de hábitos condicionados há milênios será necessária para que a pureza integral do Amor Crístico passe a ser buscada por todos os homens na Terra.
Conseguida essa reversão de objetivos, restará ainda o trabalho penoso e gradativo da renovação dos reflexos condicionados, trabalhando como entraves naturais a essa renovação total.
Porém, o Senhor permanece como a Fonte de toda esperança. As mesmas leis de repetição que condicionaram no sentido negativo o livre arbítrio mal-conduzido, funcionarão, com igual eficiência, quando o espírito, desejoso de progresso, se voltar para a harmonização com a Lei. A partir de então, a mão poderosa do Pastor será esteio seguro para a ovelha que, tresmalhada, volveu seu olhar súplice ao Amigo que a estivera velando à beira do abismo.
































6

Desligamento gradativo


PERGUNTA — A que espécie de desligamento vos referis neste capítulo?
RAMATIS — A Humanidade acumulou, durante milênios, determinados condicionamentos psicológi¬cos relacionados com suas predileções materiais. Um sistema complexo de reações que se desenvolvem em cadeia, pois os seres humanos são fundamentalmente gregários e se associam baseados no princípio do mimetismo. Quanto mais capazes de se copiarem reci¬procamente mais seguros se sentem na repercussão aprovativa de seus próprios atos e predileções.
Este mimetismo, que funcionou para criar as reações coletivas características de uma civilização materialista, precisará ser movimentado em sentido
oposto.


PERGUNTA — Pelo que podemos perceber tra¬ta-se de processo laborioso exigindo largos espaços de tempo e sofrimento para ser concretizado. Que dizeis?
RAMATIS — O mecanismo psíquico movimenta¬do para o restabelecimento da harmonia exigirá maior esforço do que o empregado para o desenvolvimentc desregulado do espírito humano até ao ponto atual¬mente atingido.
Como a criança que aprende a "brincar de viver3 nos bem-aventurados momentos de "faz de conta", o homem até hoje tem ensaiado os primeiros passos de uma atividade que somente serviu para provar que, se levar a sério sua necessidade evolutiva, poderá reali¬zar grandes coisas. Porém, assim como as brigas e desavenças intempestivas dos pequeninos, muitas vezes, trazem prejuízos imensos, as incompreensões dos homens nesta fase inicial da evolução desenca¬deiam graves conseqüências que obrigam os "mais velhos" a interferir.


PERGUNTA— Gostaríamos de maiores esclare¬cimentos.
RAMATIS — Os homens não se conhecem a si mesmos. Como afirmou Jesus, é mais fácil verem o "argueiro, no olho do irmão que a "trave" no seu". Tal como a criança desejosa de viver a vida, lançam-se, sob o efeito de poderosas forças instintivas, sobre o pano¬rama terrestre e só quando seus desejos são contrari¬ados conseguem sentir que ultrapassaram a fronteira dos seus direitos. Na realidade, a visão egocêntrica do homem atual ainda ignora que existem direitos iguais para todos os filhos de Deus, crendo, sem se darem conta disso, na aberração do uso de dois pesos e duas medidas para a distribuição dos bens da vida. Desse modo, geralmente, sucede que, sem necessidade de premeditações maquiavélicas, o homem não evoluído, inconsciente da beleza e harmonia do conjunto que o sustenta na Criação, avança sobre os valores que não lhe pertencem, pois seu egocentrismo não vê frontei¬ras. Sua sensibilidade psíquica embotada "ignora" o terreno alheio. Se defronta outro ser mais sensível, geralmente este se encontra ameaçado de ser lesado seriamente, se ainda não adquiriu os valores evangé¬licos da resistência feita de amor e firmeza inquebran-táveis. Se o terreno sobre o qual avançou é de propri¬edade de um ser ligado ao mesmo padrão vibratório, choques destruidores se farão sentir.
No primeiro caso é possível que haja desistência de uma das partes, sem maiores choques destrutivos. No entanto, o que ocorre mais freqüentemente é a descoberta dolorosa, das partes em litígio, de que algo está errado e, até que concluam pela renovação de seus próprios métodos de conduta, muitos séculos, às vezes, se escoam.


PERGUNTA — Como interpretaríamos aquela "desistência de uma das partes"?
RAMATIS — Há duas formas de interpretar a sublime lição do Mestre de Nazaré, quando aconse¬lhou que se desse a "outra face" a quem nos fere.
Esta advertência não significa inércia e incapaci¬dade de ação equilibrada, como já se tem interpretado. O verdadeiro cristão não é incapaz de tomar atitudes adequadas. Por isso mesmo não se rebaixa ao nível do ofensor, mas também não foge dele. Por permanecer estoicamente no campo de batalha, sujeita-se a ser ferido novamente, mas o faz por saber que sua posição correta poderá terminar por "contagiar" seu opositor. Como valoriza pouco os agravos materiais, a dor que o prejudique física ou moralmente, pela ação desor¬denada de seu irmão, será suportada sem revide.
Sabe que dos próprios atos o agressor colherá a sensação degradante da injustiça que comete e a esta¬tura moral de sua vítima falará mais alto do que qualquer desforra que os situaria no mesmo plano.
Crescido interiormente pela observação serena do desregramento moral de seu contendor, o cristão saberá esperar que seus direitos sejam atendidos no tempo em que o Senhor julgar adequado à sua evolu¬ção, pela prova de paciência e de tolerância. Sabendo que o "seu reino não é deste mundo", não busca nas compensações imediatas, a realização de seus anseios de espiritualização. Espera, porque crê. E enquanto espera consolida sua fortaleza íntima.
É a este mecanismo que o homem terreno precisa¬rá ser conduzido, após duras provações, para conse¬guir "herdar a Terra".


PERGUNTA — Já estará sendo processado este desligamento gradativo?
RAMATIS — Como está bem claro, este será um desligamento gradativo, realizado por fases sucessivás e complementares. Não existem milagres no pro¬cesso de harmonização da centelha espiritual com o Todo. A alma coletiva da Humanidade desenvolve-se dentro das mesmas leis aplicadas à alma individual do homem. A dor funciona como toque de alerta para acordar a consciência em relação aos desvios do cami¬nho evolutivo.
Considerando a dor como a grande mestra que descondiciona as almas dos erros a que se habituaram, podeis concluir facilmente que sua ação corretiva já se faz sentir fortemente sobre os homens. Observai o panorama social do planeta e sentireis onde as dores apocalípticas já se fazem sentir.


PERGUNTA — As dores traumatizam o espírito coletivo da Humanidade, porém de que forma contri¬buirão para a sua recuperação?
RAMATIS — A recuperação só se faz, como a convalescença, após a enfermidade. A dor moral funci¬ona como o processo de reação orgânica na defesa contra corpos estranhos ao equilíbrio da saúde. As inflamações, a febre, os tumores são formas de expul¬sar, pela formação de antídotos no organismo, as subs¬tâncias desagregadoras que geram moléstias.
A alma encarnada guarda em sua mais recôndita essência uma espécie de registro dos fatores saudá¬veis que devam nortear seu desenvolvimento. Por mais apagados que se encontrem sob os escombros das criações negativas do espírito imortal, um choque permanente existe entre a "voz" interior que o afirma capaz de alcançar a paz pela harmonização do ser e os ruídos confusos das exigências desconexas da evolu¬ção malconduzida.
Inicialmente, essa divergência é mínima, geran¬do desconforto suportado sem maiores incômodos. Porém, com o acúmulo de resíduos maléficos, o descon¬forto aumenta. Os choques entre o que é e o que não é, entre o positivo e o negativo, a que os homens se habituaram denominar bem e mal, terminam por sensibilizar pela dor a alma que se vê obrigada a pesquisar a causa do desconforto generalizado. E o mal funciona como um bem, pois, finalmente, por se tornar tão incômodo, obriga a ser a desligar-se dele.


PERGUNTA — Não compreendemos como se desenvolve esse processo entre nós no presente, pois parece-nos identificar somente o recrudescimento da dor sem proveitos visíveis. Que dizeis?
RAMATIS — Quando a febre invade o organismo humano, a impressão que se tem é de desarmonia e perturbação. Porém, já se reconhece entre vós que não é importante combater a febre e sim a sua causa. Ela é uma reação positiva do organismo a um desequilíbrio orgânico. Quando todas as reservas de saúde são mo¬bilizadas, a temperatura sobe, a mente às vezes delira sob o processo que eleva a temperatura além do nor¬mal. Se não houvesse essa reação, o corpo sucumbiria, pois os elementos desagregadores estariam com livre acesso aos centros vitais do organismo.
No organismo coletivo da Humanidade encarna¬da, o mesmo processo se desenvolve para defendê-la da "doença", representada pelo desequilíbrio espiri¬tual.
A centelha espiritual se incumbe de produzir os anticorpos das reações positivas contra os elementos desagregadores da corrupção dos costumes que afe¬tam seu desenvolvimento harmônico. O panorama es¬piritual da Humanidade encarnada apresenta todos os sintomas do enfermo em alto grau de reação aos males acumulados durante séculos. Atingindo a idade adulta, sofre as conseqüências de seus desregramentos no campo material e psíquico, este último influindo sobre o primeiro, como já identifica a medicina psicossomática.
Inicialmente, o enfermo nunca atribui a seus enganos as causas de seu mal. Só o médico, bem orientado, poderá esclarecê-lo. Ao medicá-lo, se in¬cumbirá de mostrar-lhe a conduta que, de então por diante, precisará adotar para vencer a enfermidade de forma decisiva. Se os condicionamentos dos excessos como a gula, a preguiça, a devassidão forem desfeitos, então os desequilíbrios serão superados, gradati-vamente. Se, porém, cessada a crise, o comportamento que a gerou não se modifica, os desequilíbrios ressur¬girão em maior intensidade, até causarem deformida¬des de extirpação mais difícil.


PERGUNTA — Qual a explicação, nesse caso, para o processo evolutivo da Humanidade?
RAMATIS — Não podeis identificar as vanta¬gens do momento que viveis, como o doente não se sente confortado em sofrer a febre que poderá curá-lo. Ela é sinal de que o organismo espiritual coletivo do homem terreno já reage à inércia com a qual acolheu seus próprios males durante milênios. A inquietação social representa a saturação máxima a que o desamor conduziu o espírito coletivo, sujeito às pressões mais diversas da fome, da ignorância, da prepotência. Aque¬les mesmos que contribuíram para o império do egoís¬mo projetam-se contra as instituições que criaram, tentando derrubá-las como células de um organismo que se sente envenenar a todo momento.
Não conhecem a reação harmoniosa do Amor, pois são fruto do desamor. Porém, em última análise, sua reação ainda é uma prova da existência do Amor aos bens de que se sentem expoliados, pois não podem identificar que são os mesmos causadores dos prejuí¬zos de que se sentem vítimas ao reencarnar.
A Revolução Francesa deveria estabelecer a jus¬tiça social como reação à dominação e à prepotência dos soberanos absolutistas. Porém, o absolutismo não se encontrava nas coroas reinantes e sim na alma das criaturas humanas. Removidas as coroas, restaram os homens, o que foi suficiente para que a situação so¬fresse modificação apenas aparente.
No momento atual, de nada adiantará a modifica¬ção de regimes políticos pela violência, semelhante à daquela Revolução, pois violência gera violência pelo reforço dos automatismos negativos do subconsciente. A cura para a enfermidade coletiva da Humanidade deve ser realizada como se fosse um remédio ingerido que tocasse célula por célula sem destruí-las, mas corrigindo-lhes os excessos.


PERGUNTA— Qual esse remédio e como aplicá-lo?
RAMATIS — Contra as influências desagrega-doras, só um antídoto proporcionalmente agregador. Para que a Humanidade crie em si esse reflexo, tem sido utilizado o processo do "semelhante cura o seme¬lhante" — o desamor, o sofrimento, o egoísmo têm funcionado como o remédio homeopático estendido, gradativamente, a todos os seres na Terra, em doses cada vez mais dinamizadas para despertar as reações dos anticorpos, representados pelo desejo de paz, de harmonização, já esboçados externamente na criação de comissões internacionais de pesquisa dos meios para a superação dos males coletivos, com esqueci¬mento, pelo menos teórico, do egoísmo nacional. Os órgãos e células já sentem que precisam de esforços coesos para resistir à desagregação causada pela mo¬léstia da indiferença pelos destinos do próximo. Po¬rém, enquanto o vizinho não for fraterno com seu irmão mais próximo, a fraternidade entre as nações será um desejo impossível — não se fará em grande escala o que não se consegue em menor proporção.


PERGUNTA— Que devemos concluir do que nos dizeis?
RAMATIS — O desligamento gradativo da Hu¬manidade em relação ao passado será realizado à proporção que entender e aplicar o Evangelho, na máxima que expõe claramente toda a Lei da Espiritualidade — "ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo". "Ama o Bem acima de tuas próprias conveniências individuais, pois o Bem, embora não atinja teus desejos momentâneos, é a garantia de tua paz futura e permanente pela eterni-dade e reconhece que esse Bem é também o Bem de teu irmão, pois ambos, mergulhados na mesma Lei, têm os mesmos direitos e necessidades e entre todos deve ser repartido o Bem que seja acessível no momento, sem, desigualmente, desejarmos para nós mais do que po¬derá caber ao nosso irmão."
Sentida essa lei, que restará fazer? Só dar tempo para que seus efeitos se reflitam na renovação do panorama externo da vida planetária, como conse¬qüência das transformações básicas que se tiverem efetuado no psiquismo humano, como garantia de con¬tinuidade do processo irreversível de renovação do planeta.


PERGUNTA — Será muito prolongado esse pro¬cesso de desligamento?
RAMATIS — Descondicionar implica na percep¬ção inicial do condicionamento e na compreensão de sua inconveniência. Infelizmente, o homem ainda acu¬sa seu próximo dos males que estão em si igualmente. Quando conseguir ver "a trave que está em seu olho" e se despreocupar do argueiro de seu irmão, por uma coincidência feliz, verá que tudo se renovará porque não será perdido tempo com a identificação dos males que não lhe incumbe retificar, estando em busca do reajustamento que lhe diz respeito. Empenhado em realizar sua parte, o tempo se escoará e, surpreso, muito mais tarde, perceberá a diferença do panorama terrestre. Isto, porém, não sucederá sem que passe pelas grandes dores que o acordarão do sono hipnótico da indiferença pelos destinos coletivos da Humanida¬de.
PERGUNTA — Compreendida a inconveniência dos condicionamentos negativos a Humanidade esta¬rá livre de suas conseqüências?
RAMATIS — Seria o mesmo que perguntar se quando o homem encarnado se arrepende está livre de tornar a errar. O reconhecimento do erro não significa descondicionamento. É uma percepção mental que pouco tem a ver com os automatismos a não ser na possibilidade de orientá-los para o futuro. Os reflexos condicionados tão bem estudados por Pavlov repre¬sentam a capacidade de automatizar a aprendizagem para possibilitar maior rendimento. O que foi aprendi¬do aos poucos passa a fazer parte dos automatismos, pela repetição. Esta lei de economia espiritual, porém, não implica em seleção dos automatismos. Funciona indiferentemente para o que é proveitoso como para o que não o é e um automatismo indesejável só será descondicionado pela substituição por outro, o que, geralmente, leva tempo para ser feito, tanto mais quanto tenham sido gravados profundamente na me¬mória espiritual.
O mecanismo do descondicionamento prevê uma fase de coexistência de ambos os fatores — o novo e o antigo — no qual a consciência que preside o processo como que compara e escolhe, decidindo-se pela nova fixação de valores. A sensibilidade oscila e se decide a batalha quando, pelo reconhecimento claro das des¬vantagens, a situação antiga passa a estar condiciona¬da a reflexos de desagrado. Só então o psiquismo consegue, realmente, repelir o erro, automaticamen¬te, por representar algo indesejável. É assim que se consegue pelos antídotos erradicar o vício do álcool. Enquanto a bebida se associa ao desgosto causado pela droga antígena, o alcoólatra não desejará beber, pois o condicionamento do prazer momentâneo desapare¬ceu. Antes, poderia "compreender" os efeitos des¬trutivos do álcool mas não os "sentia".
A consciência, desperta pela dor causada pelos choques sociais, alertará o homem do século XX para a compreensão dos erros que vem cometendo, mas, em seu íntimo, ainda não está incompatibilizado com as formas de conduta que já é capaz de condenar.
Portanto, cremos que esse processo ainda será prolongado, não pelo que poderia ser considerado "um castigo de Deus", mas pelo mecanismo das Leis natu¬rais desrespeitadas pelo homem, que deverá primeiro aprender a utilizá-las em si mesmo.


PERGUNTA — Qual o papel representado pela nossa Terra nesse processo renovador?
RAMATIS — O papel das estações de repouso para onde o doente é conduzido ao convalescer.


PERGUNTA— Não compreendemos como pode¬rá haver estações de repouso no panorama tumultua¬do do final dos tempos.
RAMATIS — Um organismo que se refaz, real¬mente, não está em repouso e sim em processo intenso de renovação. A pausa refere-se somente às atividades habituais do ex-enfermo.
As atividades habituais do homem moderno vol¬tam-se marcadamente para a conquista de mais con¬forto material para si mesmo em detrimento do essen¬cial para o próximo. Sob este aspecto, haverá pausa em suas atividades, pois não restarão lazeres para fabricar objetos de luxo numa época para a qual o pão de cada dia será a preocupação máxima. O espírito enfermiço que buscava sorver os venenos do egoísmo no plano material ficará em choque com a vida, que lhe negará a oportunidade de continuar a prejudicar sua evolução. Pausa obrigatória será imposta às civiliza¬ções materialistas, para, em grande parte, recorrerem ao sanatório em que o Brasil se verá convertido, posi¬ção esta que já começou a ser esboçada no panorama mundial desde as conflagrações anteriores.
Através da simbiose gradativa entre o psiquismo utilitarista do estrangeiro atormentado e a indolência poética e risonha do brasileiro, desperta repentina¬mente para novas realidades sociais, uma força reno¬vadora deverá surgir — o panorama da Terra da Pro-missão em que o Brasil se verá transformado. Já não será a terra dos brasileiros mas o porto seguro da Humanidade conflagrada e infeliz em busca de novos rumos para a existência planetária.
As dificuldades coletivas, representadas pelo desajuste dos náufragos e pela mediocridade dos meios de seus hospedeiros, serão o dínamo que os impulsionará à fusão dos valores existentes em estado latente em seus espíritos. E essas mesmas dificulda¬des que tentarem tolher seus passos, funcionarão como o antídoto para os males que até então haviam alimen¬tado. O desgosto causado pelas deficiências, então tornadas evidentes, estimulará o cultivo dos bens até então desprezados. O estrangeiro contagiará o brasi¬leiro com sua cultura avançada e o brasileiro se senti¬rá estimulado a envidar todos os esforços no sentido de cumprir sua missão, sobre a qual então não lhe restará a menor dúvida.
O tempo então se incumbirá de permitir que sejam realidade na terra do Cruzeiro as doces pala¬vras do Nazareno — "Bem-aventurados os mansos e pacíficos porque herdarão a Terra"...






























Quarta Parte

CONCLUSÃO












































1

Testemunhos valiosos


PERGUNTA — Que espécie de testemunhos serão valiosos para a realização das tarefas destinadas a nossa gente, como responsáveis pelos destinos da Ter¬ra da Promissão?
RAMATIS — Examinai a Bíblia com "olhos de ver", no Antigo e Novo Testamento.


PERGUNTA — Depois de tantos séculos de aná¬lise ainda haverá algo de novo a ser encontrado nos textos sagrados?
RAMATIS — O que será novo não serão os textos em si, mas as disposições diferentes surgidas por força das circunstâncias. Assim como a semente traz consi¬go a vitalidade que a fará expandir-se um dia, os ensinos, aparentemente singelos e às vezes contradi¬tórios dos relatos do "povo de Deus", representam uma pujante realidade espiritual ainda não compreendida em toda a extensão. Nós vos afirmamos que os textos sagrados ainda não conseguiram verter toda a força de que são dotados. Como a semente, encontram-se na fase em que, enterrada, começa a amolecer o envoltório externo para tentar fixar-se e crescer.


PERGUNTA — Não compreendemos tal afirma¬ção. Os princípios espirituais não estão como base da civilização chamada cristã?
RAMATIS — "Chamada cristã", por seus "invó¬lucros", como a semente ainda não liberta em sua potencialidade. A semente já foi lançada à Terra pela mão do Grande Jardineiro. Por terem visto sua pre¬sença, afirmam que o "jardim" Lhe pertence mas o "perfume" produzido pelas sementes transformadas em árvores e flores ainda não se faz sentir.


PERGUNTA — Que espécie de interpretação será preciso fazer para que "germinem" os princípios contidos nos textos sagrados? Teria sido inútil todo o esforço feito pelas diferentes correntes religiosas nes¬se sentido?
RAMATIS — Os pais ensinam aos filhos a reli¬gião que lhes agrada, adaptando à compreensão dos pequeninos os ensinamentos demasiadamente pro¬fundos para o entendimento infantil.
Ao crescerem, esses mesmos jovens irão interpre¬tando aquelas lições e ajustando-as às suas idéias e vivências pessoais.
Assim, a Humanidade tem vivido no sono letár-gico de uma infância espiritual, embalada pelas "len¬das" dos textos sagrados, hipnotizada pelo que neles existe de fantasioso, sem penetrar o âmago da mensa¬gem do Amor Crístico. Ao se tornar mais amadurecida pelo sofrimento, agirá como o jovem que, de repente, descobrisse, surpreso, toda a força latente contida no interior da semente com a qual brincara descuidado durante longo tempo.
As diferentes correntes religiosas têm feito o papel dos adultos que conservam, pela repetição, as lendas deliciosas que encantam a criança nos anos tenros da infância. Só quando crescem compreendem o simbolismo do "lobo mau" e das "fadas" protetoras.


PERGUNTA — Qual a relação existente entre essas lendas e as realidades históricas contidas nos textos bíblicos?
RAMATIS — O processo evolutivo, em síntese, pode ser representado por uma permanente superação de obstáculos à liberação das forças latentes da cente¬lha espiritual, através de todos os estágios da longa jornada, até à integração com o Todo. Este fenômeno toma as formas compatíveis com a posição na qual o espírito se encontra, mas, em essência, é sempre o mesmo — a liberação dos invólucros ou obstáculos, processo responsável pela "conscientização" na indivi¬dualidade eterna.
Os povos primitivos exercitam-se no domínio des¬se fenômeno, combatendo os obstáculos externos que são acessíveis à sua percepção. Então configuram suas próprias deficiências na personalidade satânica objetivada pelos "maus espíritos", que devem "comba-ter" ou pelo inimigo desejoso de lhes arrebatar a "terra abençoada" que por direito lhes pertence.
Vemos nesta batalha uma clara representação do processo renovador do espírito, pois, na realidade, a centelha espiritual é a semente da Vida Eterna, que deve crescer e germinar na "terra", representada pelo Universo. Para isto precisa ser defendido e conquista¬do o "terreno" onde possa se expandir.
Reduzindo ao âmbito acanhado das realidades materiais a batalha portentosa do Espírito eterno para sua liberação, veremos que, apesar das distorções inevitáveis no plano acanhado do início da evolução, a alma encarnada exercita suas potencialidades espiri¬tuais, mesmo quando só vê o inimigo fora de si — nos gênios infernais que teme ou no conquistador feroz de suas vantagens materiais.


PERGUNTA — Como se processa a transição entre a batalha objetiva e a subjetiva para a renovação dos processo evolutivos?
RAMATIS — Atingida a fase de saturação, o espírito desiste de buscar fora de si as recompensas só possíveis no plano interior.


PERGUNTA — Que poderíamos compreender como "fase de saturação"?
RAMATIS — Os preceitos impostos pelo meio e pela educação podem conduzir as atividades externas do espírito, dando-lhe falsa noção de segurança no processo evolutivo. Porém, só a vivência comprova e grava no subconsciente as reações indispensáveis aos reflexos duradouros. Só as decepções repetidas confirmam os automatismos capazes de afastar o espí¬rito de uma interpretação errônea com relação ao seu processo renovador. Eis a função corretiva da dor, tão mal compreendida.


PERGUNTA — Em que sentido essas considera¬ções se aplicam aos "testemunhos valiosos" que deve¬rão ser aproveitados pelos nossos espíritos na fase de transição do planeta?
RAMATIS — Olhastes até hoje o Mestre como um personagem generoso dos contos de fadas. Desejais ainda que vos "toque" e que vossa situação exterior se renove. Pedis, em vossos anseios mais íntimos, a paz das bem-aventuranças eternas, sem coragem de "su¬bir" ao Calvário onde Ele exemplificou. Quereis obter uma grandeza incompatível com o temor pelos teste¬munhos ásperos. Louvais a grande odisséia bíblica e o destemer dos apóstolos, mas não dizeis uma palavra que vos possa comprometer com o Cristo diante dos homens desavisados. Se vossos atos forem causa de "escândalo" para aqueles que vivem distraídos das realidades eternas, não vos dispondes a ser a ovelha sacrificada a exemplo do Mestre — "ai daqueles por quem o escândalo vier" também pode ser interpretado como o sofrimento dos que "escandalizam" os homens incapazes de ver com os olhos da alma.
Ninguém escandalizou mais Sua época do que Jesus. Até hoje seu nome é motivo de escândalo, de debates, de controvérsias, de incompreensões. Quem desejar segui-Lo causará o mesmo clamor e sofrerá em si a crucificação das mais diversas formas de incom¬preensão. Porém, só será "vítima" do escândalo de seus irmãos na medida em que, também, se escandali-zar. Pois, se seguir o exemplo do Mestre, compreende¬rá e perdoará a natural reação involutiva de seus irmãos, aprendendo a amá-los sem nenhuma forma de exigência.
Interpretações cada vez mais profundas da Men¬sagem Crística do Amor irão surgindo à tona da consciência esclarecida do homem à proporção que "cres¬cer" espiritualmente falando.
As palavras dos textos sagrados serão como "pe¬dras de toque" para que Ele, o Mestre, lhe fale no silêncio do espírito, independente de condições exter¬nas.
Então, compreenderá o sentido esotérico das es¬crituras, pois viverá a buscar as correlações entre os fatos narrados, as palavras pronunciadas pelos perso¬nagens bíblicos e as realidades internas, onde as mes¬mas batalhas se travam, em outro plano — o plano dos reajustamentos conscienciais progressivos.
O Mestre, como grande pedagogo, irá repetindo a lição com interpretações cada vez mais profundas, à proporção que o discípulo avança. E Sua passagem solitária sobre a Terra, incompreendido embora vene¬rado externamente por tantos, deixará de ser o simbo-lismo do fenômeno que se passa hoje, ainda, na alma coletiva da Humanidade. Ele é citado e venerado, mas ainda está Só entre os homens.
À proporção que cada alma evoluir saberá entendê-Lo e Ele ganhará um seguidor sincero e cons¬ciente, capaz de sentir que mais um discípulo deve segui-Lo até ao Gólgota. Já não será preciso imolar o corpo perecível mas o "corpo de idéias" materiais que vem sendo objeto dos maiores cuidados do homem encarnado. Quando for capaz de sacrificar essas con-cepções materialistas em busca da ressurreição "em espírito e verdade" então o aprendiz ultrapassará o reino das lendas bíblicas em que se tem embalado à semelhança dos hebresu que só podiam compreender um Deus todo-poderoso se fosse capaz de massacrar-lhes os inimigos externos.
Quando o povo brasileiro sentir que o Mestre continua a caminhar solitário sobre a Terra da Pro-missão que o Brasil representa; quando o mundo desarvorado acorrer ao celeiro do futuro para buscar agasalho; quando por ambas as partes for sentida a mensagem de Amor que o Mestre veio trazer com Seu sacrifício inesquecível entre os homens, então começa¬rão a germinar os princípios do Amor Evangélico, que arrebatou a um estado de êxtase extraterrestre os discípulos após o Pentecostes. Só então o homem se extasiará com o conteúdo indefinível de palavras e atos descritos com a maior singeleza nos textos sagra¬dos, pois terá sido "tocado pelo Espírito Santo", uma força interior capaz de lhe mostrar o real conteúdo da mensagem espiritual que o Evangelho ou qualquer outro texto sagrado pode conter.
Até então, será necessário repetir a lição, como o aluno que decorou o texto procura conformar com ele seus atos mas, ainda, não pode senti-lo integrado ao seu modo de ser.
A Terra Brasileira será o palco de uma nova "odisséia bíblica". Vista como a nova Terra da Promis-são, terá na Humanidade "desterrada" dos princípios espirituais uma réplica do povo hebreu sedento de paz no paraíso terrestre. Desarvorados, os homens pisa¬rão o solo abençoado e dadivoso e de novo se dará o encontro entre o divino Rabi e o homem tresloucado pela dor. Os que conseguirem reconhecê-Lo na tradi¬ção espiritual veiculada pelo povo brasileiro, avesso às intransigências seculares de outras civilizações, terão oportunidade de se inscrever entre os "mansos e pacíficos" e "herdarão a Terra". Os inconformados não poderão fazer parte da "nova geração" criada no "de¬serto" e capaz de usufruir a bem-aventurança do novo Éden, conforme a determinação mosaica.
"Naufragarão" às praias da Terra de Promissão sendo recolhidos à comunidade involuída de outro planeta. Em consonância com seu grau espiritual, permanecerão "no deserto" das vibrações involutivas de outra comunidade planetária, onde seus desajustes não terão conseqüências tão desastrosas.
Os testemunhos valiosos se resumem em dois aspectos, interligados pela força de realização inte¬rior. Há o aspecto objetivo, simbolizado na situação caótica da coletividade terrestre, que muito se assemelha à posição do povo hebreu após a travessia do deserto. Em escala agigantada, toda a coletividade terrestre é uma raça "desterrada" em busca do paraíso perdido. Observando o simbolismo da Bíblia, o homem do final dos tempos poderá recolher orientação segura para a nova experiência decisiva de seu reencontro com a essência espiritual que paira sobre a Terra. Aproveitará a oportunidade renovadora das experiên¬cias apocalípticas na medida em que for capaz de corrigir seus erros milenares. Porém, os testemunhos objetivos descritos na Bíblia só serão úteis na propor¬ção em que seus novos testemunhos, como personagem da repetição agigantada daqueles fatos, forem condu¬zidos por repercussões subjetivas capazes de orientar os passos trôpegos do homem atormentado.
Não será na vaidade intelectual do século XX que encontrareis o roteiro seguro para as renovações ne¬cessárias. Se ouvirdes as palavras meigas e enérgicas do Pastor da Galiléia — "vinde a mim, vós que vos encontrais aflitos e cansados e Eu vos aliviarei" — se este chamamento encontrar eco em vossas almas, en¬tão os testemunhos subjetivos serão dados e uma linguagem espiritual comum vos fará interpretar os escritos sagrados "em espírito e verdade" para serem conduzidos os feitos na medida exata esperada pelos Mentores Espirituais da coletividade terrestre.
Fazei-vos humildes e pequenos na interpretação da grandiosidade da vida. Nessa pequenez ainda vos sobrarão doses imensas de felicidade e paz, por vos haverdes sentido como parcelas vivas de uma estrutu¬ra universal indescritível em palavras humanas. Ser pequeno é a chave de grandiosidade que possibilita a inclusão consciente da centelha espiritual ao amplo conjunto de que participa. Ser pequeno é ser feliz, não pela anulação, na interpretação errônea de tantos séculos de cegueira espiritual e sim porque sentir-se pequeno desta forma é o reflexo interior de percepções avançadas no plano do que é eterno. Nesse ponto a experiência do místico é comparável à dos grandes homens de ciência que sentiram, pelo intelecto, a grandiosidade do conjunto que pesquisavam, decla¬rando-se pequenos e perplexos. O homem será madu¬ro, espiritualmente falando, quando o simples fato de "viver" o conduza a essa experiência interior de integração com o conjunto das forças universais de que participa. Pequeno mas feliz, parcela de um gran¬de Todo, força criadora em constante evolução, a paz de um novo Éden será entrevista por seu espírito como coroamento dos testemunhos valiosos vividos objetiva e subjetivamente.
Que o Mestre seja a Luz de vossos caminhos.


PERGUNTA — Poderíeis fornecer detalhes so¬bre os testemunhos que serão vividos pela coletivida¬de brasileira em tal época?
RAMATIS — No início do presente estudo nos propusemos analisar convosco as repercussões psíqui¬cas de fatos externos, em torno dos quais não nos deteríamos. Consideramos os fatos objetivos como sim¬ples detonadores psíquicos das capacidades de reali¬zação interior de cada ser. Por esse motivo não são eles, os fatos, que nos interessa analisar. Detemo-nos no esforço de preparação psicológica daqueles que "se conduzirão" dentro dos acontecimentos. O que impor¬ta é a "repercussão" espiritual dos problemas exter¬nos. Só isto permanece e merece nosso cuidado.
Existem suficientes profecias divulgadas, capa¬zes de esboçar o panorama do futuro. Detivemo-nos neste trabalho a dialogar em torno de causas e efeitos psicológicos. Pretendemos analisar as reações atuais e pretéritas com o objetivo de reajuste dos testemu¬nhos renovadores. É a mente e a sensibilidade do homem que constróem o seu futuro. Por seu mundo interior poderá "profetizar" seu destino particular e só isto deve interessá-lo.
O homem constrói seu destino. Sede vós os artífi¬ces de vossa felicidade eterna. O panorama externo em que viverdes será consoante com vossas criações interiores. Da soma dos destinos individuais reajustados surgira a destinação coletiva para o planeta regenerado.










































2

Mensagem de esperança


PERGUNTA — A que mensagem de esperança desejais vos referir neste capítulo?
RAMATIS — Evoluindo o planeta para uma fase de reformulação em escala agigantada, formou-se todo um ciclone capaz de subverter todas as idéias e des¬truir todos os padrões nos quais o homem se apoiara até então. O sofrimento se agravou de tal forma sobre a Terra que o maior anseio do homem é ouvir uma palavra capaz de lhe restaurar a esperança em melho¬res dias. Por esse motivo pode-se observar um aumen¬to progressivo de esforços, de despertamento espiri¬tual da Humanidade, tanto na busca febril do maravi¬lhoso, como no surgimento de apelos à espiritualização. Tal fenômeno toma o aspecto nítido de uma revi¬são de valores, tanto nos ângulos positivos como nos negativos.


PERGUNTA •— Gostaríamos de obter maiores esclarecimentos.
RAMATIS — A Espiritualidade disseminou, atra¬vés dos tempos, os valores veiculados pelos mais di¬versos mensageiros. É chegada a época de realizar uma revisão geral de todas as mensagens de esperan¬ça já trazidas aos homens. Atingido o ponto de amadu-recimento em que ele deve definir-se sobre os cami¬nhos que deseja seguir conscientemente, nenhuma tutela será mais compatível com tal degrau evolutivo.
A humanidade do Terceiro Milênio precisará apreciar, com toda clareza, as realidades espirituais dentro das quais será chamada a viver e atuar.


PERGUNTA — Compreendemos que assim seja para os espíritos que atuarão na fase renovadora do Terceiro Milênio, porém parece-nos prematura essa atitude de escolha consciente em relação aos homens do século XX. Que dizeis?
RAMATIS — Os homens do século XX encon¬tram-se na posição do sonâmbulo que caminha auto¬maticamente para o abismo. Será preciso procurar detê-lo. Embora não se encontre em condições de discernir com toda clareza, é preciso tentar reconduzi-lo a local seguro, mesmo que este esforço não seja totalmente proveitoso. Nem todos despertarão diante de nossas palavras e muitos passarão inalteráveis diante dos mais fortes apelos. Porém, qual dos traba¬lhadores da Seara do Bem se sentirá tranqüilo na posição de indiferença em relação ao panorama do final dos tempos?
Os degraus sobre os quais os homens do Terceiro Milênio se apoiarão estão sendo preparados, por es¬tranho que pareça, na posição contraditória do mo¬mento que viveis. Há uma riqueza de valores espiritu¬ais imensa na desordem aparente do atual panorama terrestre. A fermentação de idéias pelo acúmulo de provas coletivas, o intercâmbio generalizado pelos meios de comunicação que permitem avaliação instan¬tânea dos fatos mais longínquos, a sede do conheci¬mento representado pela verdadeira maratona inte¬lectual de vossa época e o contraste do conforto mate¬rial mais aperfeiçoado com o desconforto psíquico ge¬neralizado, tudo isso contribui para a fermentação espiritual indispensável ao crescimento da maturida¬de futura do homem terreno.
A alma coletiva da Humanidade cresce em fases sucessivas. Do mesmo modo que o homem como indiví¬duo, ressurge retemperado das grandes batalhas espi¬rituais, a espécie humana sofre os efeitos de seus atos impensados para crescer em capacidade de discer¬nimento e Amor.
PERGUNTA — Não compreendemos de que for¬ma a alma humana, ainda tão desarvorada, poderá dispensar a tutela dos mais capazes de orientá-la. Como interpretar tal afirmação?
RAMATIS — Uma orientação livremente busca¬da não representa, a nosso ver, uma tutela e sim um apelo espontâneo às fontes do Saber. Sendo uma atitu¬de voluntária, representa um amadurecimento para compreensões e atitudes renovadoras. Vosso século está possuído de uma reação extremada contra a con¬ciliação e a assimilação de valores, em virtude de imposições milenares que têm pesado sobre os homens encarnados. Desse modo, associou-se a ausência de tutela à impossibilidade de recorrer ao auxílio do mais ponderado.
Quando afirmamos que o homem do Terceiro Mi¬lênio dispensará tutela espiritual não desejamos sig¬nificar que será um produto acabado de auto-suficiên-cia. A atitude espiritual que lhe dará característica já se esboça toscamente na rebeldia e descrédito existen¬te hoje com relação às imposições desarrazoadas de outras mentes. Embora os saudosistas afirmem que eram melhores os tempos passados, acusando o século em que viveis de desatinos imperdoáveis, se pudessem ter "olhos de ver" compreenderiam que esta atitude extremada representa uma reação lógica, no grau evolutivo em que vive o homem terreno, diante das imposições extemporâneas que caracterizam a socie¬dade do passado afeita às exterioridades.
O descrédito da autoridade não é monopólio de vosso século. Ele vem sendo semeado através da His¬tória pelos próprios incumbidos de zelar por ela. O homem do século XX somente constatará a evidência desse descrédito que vem sendo consolidado, passo a passo, ao longo do processo histórico.
Portanto, embora as aparências testemunhem em contrário, vemos com os olhos da esperança a transição presente da Humanidade. Se as instituições caducas, estribadas no desamor, não sofressem do descrédito geral, então sim, seria difícil crer no futuro da Humanidade.


PERGUNTA — A que "instituições caducas" vos referis?
RAMATIS — Dentro da boa "técnica de reporta¬gem" torna-se necessário definir esta expressão, que foi utilizada no sentido mais genérico possível. Tudo em que o homem toca toma as características do seu espírito. Se o homem como coletividade é espírito em grau deficiente de evolução, suas criações se ressen¬tem deste mal. Para nós, neste estudo, não existem fronteiras de raça, credo político ou religioso. As fron¬teiras entre os países só existem na imaginação dos homens. A Humanidade é uma alma coletiva e os males que encontraremos num país ou raça terão seus equivalentes nos outros locais, onde seres humanos estiverem submetidos às experiências redentoras da evolução.
Portanto, quando nos referimos a "instituições caducas", queremos focalizar a incapacidade revelada pelo homem para criar um padrão espiritual capaz de revitalizar e espiritualizar tudo que lhe seja entregue aos cuidados. Da reformulação interior surgirá a paz no panorama externo. Bem podeis avaliar o que dize¬mos, se vos lembrardes de que as mesmas tarefas diárias que vos cabe executar, como atividades de rotina, em determinados dias são realizadas a conten¬to e noutros vos parecem incapazes de proporcionar satisfação e bem-estar. Neste fato podeis identificar o reflexo de vosso estado de espírito, demonstrando que não são os fatos exteriores que determinam o bem-estar ou a insatisfação dos homens, mas que seus desajustes em relação ao panorama externo têm ori¬gem no bom ou mau andamento de suas reações evolutivas internas. Desse modo, consideramos que as realizações humanas "caem" e são substituídas à pro¬porção que a coletividade terrestre evolui, para serem criadas outras, que nada mais são do que a refor¬mulação das anteriores com denominações diferentes, mais compatíveis com o grau de maturidade dos indi¬víduos de cada época.
Sendo assim, não poderíamos considerar como mais "certas", em definitivo, nenhuma das expressões de progresso humano, já que este processo evolutivo, sendo infinito, provocará o surgimento de novas con¬cepções de vida, à proporção que a alma humana amadureça. Nossa atitude de não nos definirmos por esta ou aquela corrente do pensamento humano ba¬seia-se num mecanismo racional de observação dos fatos em maior amplitude. Diante da Espiritualidade, todos os credos políticos ou religiosos são positivos, enquanto correspondem à necessidade de experimen¬tação do homem no grande amadurecimento em que se encontra. Esta flexibilidade é produto da grande rea¬lidade interior, que precisa ser atendida em primeiro lugar. Assim, explica-se que, mesmo quando esses sistemas são falhos, devem permanecer, enquanto atendem à necessidade de experimentação psíquica da Humanidade. Tornam-se "caducos" quando o grau evolutivo do espírito encarnado atinge, coletivamen¬te, um nível capaz de ultrapassar os princípios em que tal sistema se baseia, ou da forma pela qual vem sendo praticado pelo conjunto dos povos, pois nem sempre, em sua incoerência, vivem de acordo com os princípios que pregam. Neste caso a prática cairá em desuso e a teoria poderá sofrer um surto renovador, conduzindo o espírito humano a novas formas de experimentação dentro das mesmas idéias.


PERGUNTA — Poderíeis exemplificar esse pro¬cesso renovador "dentro da mesma teoria"?
RAMATIS — As idéias capazes de impulsionar o progresso humano são fundamentalmente as mesmas. As necessidades básicas do espírito humano podem ser definidas, em linhas gerais, como necessidade de "intercâmbio" e "auto-superação". Desde a célula físi¬ca até o espírito angélico, a Lei do Amor que rege a Vida, inocula os mesmos anseios básicos — trocar, pela polaridade, os valores capazes de impulsionar o crescimento.
Se os homens fossem capazes de "sentir" essa realidade e vivê-la, todos os sistemas se resumiriam num só — Amar a Deus e ao próximo, num intercâmbio espiritual ilimitado das forças positivas do progresso. Porém, como essa visão de conjunto só é obtida pela superação dos graus evolutivos inferiores, uma quan¬tidade imensa de sistemas vai sendo criada para su-prir, parcialmente, as necessidades evolutivas da alma humana, que, por sua vez, torna-se insatisfeita com o panorama acanhado dos seus sistemas, para substi¬tuí-los por outros que tornarão a ser reformulados até que a simplicidade cristalina do Amor Crístico seja sentida pelo espírito ansioso de evolução.
Os grandes espíritos, que passam pela Terra e formulam sistemas capazes de estimular a imantação com este Amor Crístico, são almas capazes de deixar brechas na muralha da cegueira humana. Porém, logo que se afastam do panorama terrestre suas idéias decaem na aplicação prática, geralmente acima da capacidade da maioria.
Foi assim que os ideais de liberdade e fraternidade apregoados pelos sábios em todos os tempos tornaram-se dísticos de fachada, incapazes de conduzir segura¬mente as coletividades — a democracia grega, a Revo¬lução Francesa e o próprio Cristianismo como o Budis¬mo, também, vão sofrendo esse processo de experi¬mentação, pela vivência insegura e aflita do espírito encarnado.
O desaponto gerado pela "degradação" das maio¬res mensagens trazidas ao espírito humano represen¬ta o teste, não para as idéias em vigor, mas para a capacidade de consolidação da maturidade espiritual.
Por esse motivo, julgamos desnecessária a cria¬ção de novos sistemas. E urgente que os que já existem sejam vividos integralmente, em toda a sua pureza e isto só pode ser obtido pelo surgimento de uma coerência interna, que até hoje só foi obtida por um número reduzido de almas encarnadas no panorama terrestre. Já existem suficientes "recomendações", sistemas so¬ciais, filosóficos e religiosos e a pluralidade dessas concepções de progresso demonstram a incapacidade revelada, até hoje, da sua execução por parte da cria¬tura encarnada que, se estivesse empenhada em vivê-los, não teria lazeres para criar novos ideais para serem acrescentados aos anteriores, não vividos ain¬da.
Porém, a insatisfação com os ideais externos re¬vela a existência da inquietação interior e, enquanto esta existir, será útil e salutar reformular sempre. No momento em que o âmago da questão for atingido, isto é, quando o espírito sentir que a reformulação deve partir de "dentro para fora", uma quietude exterior substituirá os debates e pesquisas externas, para pro¬porcionar a concentração dos esforços na construção interna que se refletirá em todos os mais insignifican¬tes gestos, pensamentos e palavras. Daí em diante, qualquer que seja a confissão filosófica, política ou religiosa da criatura, ela terá encontrado o seu cami¬nho interior e a paz estará em seu espírito. Cessará a busca externa de sistemas, pois seu grau evolutivo lhe permitiu "ouvir" o chamado do espírito eterno para as realizações infinitas do crescimento, em direção à Verdadeira Vida.
Desde então saberá purificar e revitalizar todos os mecanismos do progresso dos quais estiver fazendo parte. Não discutirá se o processo político, filosófico, social ou religioso em que vive é o mais correto, pois as expressões externas do progresso serão sentidas por essas almas como o reflexo e não a causa impulsio-nadora da evolução. As exterioridades não a impressi¬onarão, mas saberá identificar de pronto onde seu concurso seja útil ao conjunto de que participa, cola¬borando sem indagações estéreis.


PERGUNTA — De que modo poderíamos sinteti¬zar as mensagens de esperança que desejais transmi¬tir-nos nesta obra?
RAMATIS — A esperança é uma vibração positi¬va da alma, que nasce do pressentimento de melhores perspectivas. Ela não pode ser transmitida simples¬mente, pois precisa basear-se no surgimento de bases em que se apoiar. Quem for capaz de identificar, no panorama revolto da humanidade presente, o proces¬so renovador da coletividade terrestre, naturalmente poderá aliar a observação dos males aparentes aos benefícios subjacentes. Estes sentirão a mensagem de esperança que está inscrita de forma indelével no "sacudir da poeira milenar" das incompreensões hu¬manas.


PERGUNTA — Como enquadrar esta mensagem em relação ao Brasil?
RAMATIS — A própria presença do Consolador prometido, em tão grande escala entre vós, fala bem alto da esperança depositada no papel que o Brasil representa, na mensagem da esperança tão avidamen¬te desejada pela Humanidade. Quem for capaz de ver através daquela "poeira" do final dos tempos o "espíri¬to que se derramou sobre toda a carne" em tão grande quantidade entre nós, verá ressurgir em sua alma a chama da fé no destino espiritual da Humanidade, em meio aos escombros da civilização materialista.
Não pretendemos despertar sentimentos de naci¬onalismo exclusivistas, o que estaria em total contra¬dição com os princípios da fraternidade que devem reger os destinos da coletividade terrestre no futuro.
Futuro deve ser sinônimo de Amor para a reformulação permanente das diretrizes incapazes de assegurar a eclosão grandiosa da civilização do Ter¬ceiro Milênio. Pelo Amor será realizada a profilaxia de todas as instituições terrenas que até hoje foram inca¬pazes de assegurar a paz entre os homens. Pelo Amor Crístico a esperança renascerá em todas as almas que souberem sentir que amar ao próximo não é lamentar-se e acusar as instituições vigentes e sim desdobrar-se no seu âmbito de ação pelo bem alheio, a começar pelo seu irmão mais próximo, esquecendo-se dos gestos grandiosos e públicos que atraem a admiração geral, para crescer em gestos silenciosos e anônimos de Amor ao bem incondicional.
Com essas palavras não estamos condenando quem se dedica ao bem coletivo, mas esclarecemos que o bem em grande escala só é benéfico, para quem o pratica, na medida em que souber fazer a si mesmo a caridade de aprender a amar e sofrer pelo próximo em silêncio. Do contrário, sua constituição espiritual não possuirá envergadura para suportar as dores íntimas da auto-renovação. Poderá estender benefícios imen¬sos no panorama social, mas fracassará no convívio diário com suas provações particulares.
Que o rumo seguido pelo brasileiro, empenhado em auxiliar o advento do Cristianismo redivivo na vibração pura e singela do Amor Crístico sobre a Terra, seja o caminho interno da auto-renovação. Não existe para o espírito maior mensagem de esperança do que iniciar a abertura dos canais do espírito imor¬tal para a recepção das vibrações Crísticas do Amor.
Quando, individualmente, o homem, na Terra do Cruzeiro, se empenhar na busca dessa sintonia poderá sentir que o solo em que pisa possui condições para se tornar o cenário de uma apoteose de bênçãos para o reconforto e recuperação da humanidade espiritual¬mente mutilada do final dos tempos.
Desejamos reforçar esta mensagem espiritual de esperança para que seja maior o empenho dos espíri¬tos que então deverão tomar em suas mãos os rumos da Humanidade e conduzi-la ao porto seguro da recu¬peração espiritual.
Deverão sentir que o Mestre transplantou para a nova "Galiléia" as pregações de Sua divina palavra concitando os novos discípulos a darem seus testemu¬nhos. E a epopéia do Amor que o Cristianismo repre¬senta poderá escrever suas mais belas páginas quan¬do, em uníssono, os filhos da Terra da Promissão enunciarem para o mundo as doces palavras do Mestre: — "Vinde a mim, vós que estais cansados e aflitos e Eu vos aliviarei".
Material e espiritualmente o Brasil está apare¬lhado para cumprir essa missão histórica. E daí em diante será introduzido, no registro dos eventos deci¬sivos do planeta, o nome abençoado do Cristo como o Conselheiro mais alto de todos os momentos decisivos na vida planetária.
Nada deve tolher os passos dos novos apóstolos. Que deixem para trás os erros da civilização materia¬lista e se proclamem os arautos do Bem incondicional, capaz de defrontar todas as vicissitudes para a conso¬lidação da Nova Era de paz que se esboçará em novo solo.
Sede fortes e lembrai-vos de quando os Apóstolos temerosos, após o Calvário, não se decidiam a tomar sobre seus ombros a tarefa que lhes fora confiada pelo Mestre. Este lhes apareceu para afirmar que iria adiante e, quando Pedro fugia de Roma, Ele se encami¬nhava a ela para ser sacrificado novamente.
Alistai-vos entre os precursores da Nova Era com a humildade dos que se predispõem aos maiores sacri¬fícios. O panorama terrestre não será modificado se¬não à força de suor e lágrimas. Alegrai-vos se esse "suor e lágrimas" puderem ser vertidos por vós, pois estareis inscritos entre os que "herdarão a Terra".
Já vos encontrais vivendo esses tempos promis¬sores. Bendizei a luta em que vos mergulhais para manter as diretrizes traçadas no caminho evolutivo. Semeai hoje com sacrifício para uma colheita futura baseada na esperança de realizações sonhadas, há séculos, pelos espíritos famintos de luz.
É chegada a hora das grandes renovações. Daí o testemunho de fidelidade ao Bem para que vossos espíritos possam redimir-se e lançar-se alegres no seio da Eternidade!







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Exortação


PERGUNTA — Qual a mensagem final que nos enviaríeis para encerrar esta obra?
RAMATIS — Não haveria muito mais a dizer, senão um ligeiro retrospecto das condições em que viveis na Terra da Promissão.
Quando os hebreus penetraram o "solo sagrado", iniciaram a consolidação das profecias relacionadas com o seu povo.
Mirai-vos nos testemunhos que viveram então e transplantai-os ao vosso ambiente espiritual na Terra do Cruzeiro. Como zeladores da herança espiritual da Humanidade, tereis a responsabilidade de escrever as páginas de uma "nova Bíblia". Estudai com atenção os erros cometidos no passado pelos arautos do Senhor junto aos homens, para não recairdes nas mesmas falhas e iluminai vossos espíritos com o clarão da fé que os impulsionava.
Ouvi as palavras de Samuel, quando os concitava a se entregarem de preferência à orientação de Deus do que à dos homens, permitindo que vosso Senhor não seja um "rei" da Terra, escolhido dentre vós, homens imperfeitos. Rendei culto à Verdade de tal forma que ela vos liberte, como recomendou Jesus. Fortalecei-vos para as lutas interiores esquecidos das disputas com os vizinhos. Não vos impressioneis com a Terra material que o Senhor vos entregou. Zelai pelo terreno espiritual onde vicejam as sementes do Amor.
Se os hebreus houvessem estudado as escrituras sem os pruridos do orgulho nacional, teriam sentido, na mensagem do Cristo, a sua salvação espiritual, ao invés de desejarem um Salvador para o seu terreno material.
Desapegai-vos da letra que mata e buscai em tudo o espírito que vivifica.
Detende-vos na meditação em torno da figura mansa e pacífica do Meigo Nazareno. Meditai na potencialidade de Seu Amor pelos homens e buscai imitá-lo, não por palavras e atos, mas pelo espírito de renúncia que proporciona à alma os mais belos galardões.
Vós que tiverdes a missão de dirigir os destinos da Terra do Cruzeiro, fazei-vos servos de todos e lembrai-vos de que o Senhor só poderá penetrar em vós, com Sua inspiração, na medida em que intima¬mente vos situardes na posição do humilde aprendiz da Verdade, sem fronteiras, sem sectarismos, sem outro objetivo que não seja aplicar na prática os mais sadios princípios da Espiritualidade, que devem cons¬tituir o mais alto objetivo dos homens, em cujas mãos o Senhor entregou Suas ovelhas.
Libertai-vos do personalismo doentio que envai¬dece e torna o espírito cego para os largos rumos da espiritualização. Sede fortes e capazes. Fazei do Mes¬tre o vosso verdadeiro Modelo e então a paz poderá reinar entre os Homens, porque só assim o Messias terá sido "recebido" entre os Seus e "reconhecido" como o Amigo de todas as horas, para que "Jerusalém seja libertada" e implantado na Terra o "Seu Reino" que não era desse mundo.
"Paz aos homens na Terra" então não será um hino de alvíssaras a ser respeitado como algo inatingí¬vel, pois passará a ser entoado de modo objetivo pelos atos de Amor ao próximo, que então se tornarão a concretização da Lei no cumprimento do — "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei".






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A FRATERNIDADE DO TRIÂNGULO,
DA ROSA E DA CRUZ (FTRC)
E SEU TRABALHO NA TERRA



     "Venho concitar-vos a que vos arvoreis patronos do vosso próprio pro¬gresso espiritual. Não espereis que ele vos venha de fora. Se em vós não crerdes, quem o fará por vós?"
RAMATIS





A Fraternidade do Triângulo, da Rosa e da Cruz (FTRC) é uma escola de iniciação espiritual. A FTRC surgiu em 1962 como um grupo espírita empenhado em proporcionar a abertura dos canais interiores do Ser com a sua Essência Divina. Tomou como orientação básica os ensinamentos ditados a Allan Kardec pelos Orientadores Espirituais da Humanidade, e orientações específi¬cas trazidas pelos Guias Espirituais da FTRC: Ramatis, Luiz Augusto, Rama-Schain, Akenaton e Nicanor.

Busca-se incentivar o ideal de confraternização entre as Forças Espirituais do Oriente e do Ocidente. A FTRC conjuga Princípios da Doutrina Espírita, do Evangelho do Mestre Jesus, da Psicologia Abissal e do Mentalismo Oriental. Assim contribui para o caldeamento dessas quatro grandes fontes de conhecimen¬to, e abre caminhos a todos que, sentindo a inquietação da busca de uma Verdade Maior, desejarem submeter-se às disciplinas internas indispensáveis ao surgimento do Homem Novo.















Roteiro para Alcançar a Vitória Espiritual
no Esforço Mediúnico.

 Domínio da Mente Triângulo Dourado
Modificar totalmente a atitude espiritual de receio diante do trabalho mediúnico. Rece-ber e transmitir, confiante, o Amor que é tra¬zido como prova de benevolência do Pai. O médium bem intencionado penetra a esfera de ação que lhe é destinada como um amparo excepcional, como crédito relativo às boas in¬tenções que alimenta.


 Domínio da Sensibilidade Rosa Cor de Rosa
Dominar a emotividade, evitando alimen¬tar a alma com vibrações negativas que a viciam num padrão vibratório muito poderoso junto a situações penosas. A alma sensível deve evitar a tensão emocional capaz de prejudicá-la no exercício da mediunidade. Esta requer um campo sereno e equilibrado, sensí¬vel às vibrações harmoniosas e sutis.


 União com a Vibração Crística Cruz Roxa
As duas primeiras recomendações são ne¬cessárias para que o espírito se predisponha favoravelmente ao trabalho e consiga realizar com êxito a recomendação máxima da Lei: Ame a Deus sobre todas as coisas, desejando pôr-se a Seu Serviço incondicionalmente, por ideal, com alegria; e ame ao próximo como a si mesmo, por considerá-lo parte do mesmo todo de que provém e sendo portanto merecedor da mesma caridade, paciência e amor que deve¬mos dedicar a nossa individualidade eterna.
ATIVIDADES DA FTRC


O processo pedagógico da FTRC operacionaliza-se através do permanente acompanhamento do aprendiz em sua escalada de comprometimento com o trabalho em três níveis.


I — Educação Espiritual e Mediúnica


·    Grupo de Estudos Ramatis (GER)
Aberto ao Público. Todas as 2-Feiras das 19:15 às 21:30 h. * Exercícios de Educação Mental. Preces. Passes Magnéticos. Estudos dirigidos e Palestras com dinâmica participativa. Análise e debates de Temas do Evangelho, de Obras Es¬píritas e de Lições ditadas por Ramatis e outros Guias Espirituais da FTRC.

Práticas de Yoga. Desenvolvimento da sensibilidade para as artes (teatro, música, etc.).
*Informações pelos telefones: (061) 591-8052, (061) 982-8567 ou (061) 274-3580

·    Grupo Rama-Schain (GRS)
Exclusivo para membros do Círculo Interno da FTRC. De¬senvolve todas as atividades do GER, citadas anterior¬mente, com uma Programação Especial acrescida de Desobsessão, Regressão Espontânea de Memória e Ligação com os Guias da FTRC. Reuniões de Orientação Espiritual para aprimoramento dos médiuns.

·    Grupo de Evangelização Pai Tomé (GEPT)
Grupos de jovens e crianças de diferentes faixas etárias: filhos de membros do Círculo Interno, de Famílias assisti¬das do Grupo Pai Francisco e de freqüentadores assíduos do GER, mediante entrevistas e inscrição prévia. Exercícios de Educação Mental. Preces. Estudos dirigidos e palestras com dinâmica participativa. Estudo especial dos temas aborda¬dos no GER, ajustado às características de cada grupo.


II — Trabalho no DCR — Departamento Cultural Ramatis
Oportunidade de aplicação prática de aprendizado obtido no nível I. Compromisso dos membros do Círculo Interno. Aberto também a cooperação dos freqüentadores assíduos do GER. Existem 10 setores de trabalho de natureza comu¬nitária, cultural, assistencial e administrativa.


III — Vivência Comunitária
Oportunidade de intensificação do aprendizado obtido nos níveis I e II. Compromisso dos membros do Círculo Interno que vivem na Comunidade Lar Nicanor (CLN). Algumas atividades são abertas ao público.

A CLN representa o último grau de iniciação para os mem¬bros da FTRC. Visa a preparação de uma Nova Era, plantan¬do as sementes da Família Universal, pela vivência de um Amor Expandido, que transcende os laços consangüíneos.




ATIVIDADES COMUNITÁRIAS

Mutirão
Trabalhos de organização e conservação das instalações. Participação dos membros do Círculo Interno e de Cooperadores.


Reunião Geral do DCR
Avaliação mensal do andamento dos trabalhos pelos mem¬bros do Círculo Inteno.


Agricultura Natural
Trabalhos em rodízio de plantação, manutenção e colheita de horta e pomar, visando o abastecimento interno e futura fonte de renda.


Bazar
Venda de utensílios novos e usados doados à FTRC e confec¬cionados pelas mães das famílias assistidas.



ATIVIDADES CULTURAIS

Biblioteca e Documentação
Empréstimo de publicações e fitas de palestras a sócios, mediante inscrição prévia.

Fundo Editorial Nicanor
Edição de obras mediúnicas de autoria dos Guias da FTRC ou de membros da FTRC sobre temas de interesse espiritual.

Livraria
Venda de obras espíritas e espiritualistas, livros e apostilas com estudos orientados pelos Guias da FTRC. Na sede da FTRC ou por reembolso postal.


Núcleo de Estudos Universitários
Programação de cursos, seminários e palestras abertas ao público sobre temas que visem o entrosamento entre Ciência e Espiritualidade. Pesquisa Científica. Realização de palestras externas a convite.



ATIVIDADES ASSISTENCIAIS

Visa dar ajuda semanal a famílias carentes (adultos e crian¬ças) inscritas no Grupo Pai Francisco e no Grupo de Evange¬lização Pai Tomé.


Assistência Espiritual
Passes, Prece, Exercício de Educação Mental, Estudo e Comentários do Evangelho, Espiritismo e Princípios Filosóficos da FTRC.


Assistência Material
Distribuição mensal de saca básica de mantimentos obtida através da Campanha do Quilo. Lanche no dia de atendimento. Distribuição de utensílios de acordo com doações.


Assistência Médica*
Atendimento clínico através de terapias alternativas. Ra¬diestesia, homeopatia, florais, cromoterapia, fitoterapia e orien¬tação alimentar. Esse serviço é também aberto ao público em geral mediante entrevista prévia.


Assistência Psicológica*
Atendimento Terapêutico, individual ou grupal, orientado pelos princípios da Psicologia Abissal.


Assistência Pedagógica e Social
Orientação Psicopedagógica para as turmas do Grupo de Evangelização Pai Tomé (jovens e crianças) e Grupo Pai Francisco (adultos), visando o seu desenvolvimento espiritual e socialização de seus membros.


INFORMAÇÕES GERAIS S/ A FTRC

·    Endereço para correspondência: Caixa Postal 6214 Cep: 70749-970 — Brasília — DF
·    Fone/Fax: (061) 591-8052 — Recados: (061) 982-8567 (061) 274-3580


* Esses serviços também são utilizados pelos membros do Círculo Interno da FTRC e seus familiares.


MAPA DE ACESSO À SEDE DA FTRC EM SOBRADINHO:
SE VOCÊ ESTÁ EM BRASÍLIA, PROCURE-NOS.
VEJA COMO É FÁCIL CHEGAR


1.    Seguir a Estrada Plano Piloto — Sobradinho até o Posto Colorado.

2.    Entrar à esquerda no retorno em frente ao Posto.

3.    Tomar a 11t à direita, conforme indicado na placa CIPLAN¬TOCANTINS.

4.    Seguir DF-150

5/6. Após curva à esquerda procurar a placa com indicação DF-425.

7.    Entrar à direita na DF-425.

8.    Entrar à direita em ponte localizada em frente ao Condomí¬nio Vivendas da Serra.

9.    Virar à direita.

10.    Portão da Chácara da Fraternidade. Fim de linha!





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