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História
Crença dominante entre os pescadores e homens do mar, no estado de Pernambuco, nas cidades de Barreiros, na Praia do Porto e principalmente na ilha de Itamaracá, dizendo-se que esse duende marinho é a alma penada de um caboclo, que morreu pagão, acaso conhecido por João Galafuz. A superstição tem curso também em outros estados, notadamente emSergipe, com o nome de Jean de La Foice, Fogo-fátuo ou Boitatá. (Gustavo Barroso, Terra de Sol).
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Imenso, poderoso, muitas vezes dadivoso, outras vezes aterrador, monstruoso. Assim o Oceano Atlântico é captado pelo imaginário das populações litorâneas de nosso país, particularmente dos pecadores. Homens que são fortes antes de tudo, tal e qual os sertanejos vistos por Euclides da Cunha. Trabalhadores acostumados às agruras da labuta diária no mar, feita de ondas traiçoeiras, tempestades, animais perigosos, incertezas de todo o tipo. E como se não bastasse, esses mestres das linhas, anzóis, redes e velas têm que enfrentar uma das mais misteriosas e assustadoras assombrações que vagam em terras brasileiras.Aqui falamos de João Galafuz, ou João Galafoice, conhecido em muitas das praias e portos de Pernambuco. Embora apareça na água, é uma entidade ligada ao fogo como o Boitatá do Sul. João Galafuz é sempre visto como um halo de fogo azulado, um fogo-fátuo, que brilha em rochedos, corre pelas ondas saído, quem sabe, do mar. Aparece, sinistramente, para prenunciar tempestades, afogamentos, mortes, naufrágios, medo. Muitos dizem que ele faz isso por conta de um fado.Galafuz teria sido um caboclo, um indígena, que morreu no mar antes de ser batizado. Ainda hoje os pescadores mais velhos da ilha de Itamaracá tentam se prevenir com amuletos e rezas contra esse macabro duende. Mas não só os profissionais da pesca deparam-se com João Galafuz. |
Segundo contou o meu dileto amigo Raimundo Godoy, na praia de Maracaípe - no litoral sul de nosso estado - alguns veranista conhecidos dele passaram por uma situação vexatória provocada pela referida assombração. Numa manhã de verão, três rapazes entraram nos mangues do lugar em busca de pequenos crustáceos que iriam servir de isca numa pescaria futura. Enquanto caminhavam, um deles contou histórias de João Galafuz. Outro, que era incrédulo por natureza, riu dos relatos e, em voz alta, desafiou o abusão a aparecer. João Galafuz não apareceu, mas fez pior: fez com que o grupo se perdesse no mangue. Por mais que tentassem, não conseguiam achar o caminho de volta. Era como se os arbustos e a lama se movessem para encobrir os rastros. A noite chegou e eles só puderam sair depois que o sujeito metido a "São Tomé" pediu desculpas ao Galafuz |
Por isso, prezado leitor, se você for um daqueles habitantes da metrópole que gostam de veranear numa praia distante, deserta, não pense que estará sozinho. Ali, bem pertinho, por entre as ondas e os arrecifes, se esconde João Galafuz, a quem se deve temer e respeitar assim como ao próprio oceano. Desista de uma vez por todas de idéias pouco sensatas como tomar banho despido à noite, mesmo que a água esteja "quentinha" e a lua, convidativa. |