O QUE É O AMOR PARTE 01 Amor
(do latim amore) é uma emoção ou sentimento que leva uma pessoa a
desejar o bem a outra pessoa ou a uma coisa. O uso do vocábulo,
contudo, lhe empresta outros tantos significados, quer comuns, quer
conforme a ótica de apreciação, tal como nas religiões, na filosofia e
nas ciências humanas. O amor possui um mecanismo biológico que é
determinado pelo sistema límbico, centro das emoções, presente somente
em mamíferos e talvez também nas aves - a tal ponto que Carl Sagan
afirmou que o amor parece ser uma invenção dos mamíferos. Para Erich
Fromm, ao contrário da crença comum de que o amor é algo "fácil de
ocorrer" ou espontâneo, ele deve ser aprendido; ao invés de um mero
sentimento que acontece, é uma faculdade que deve ser estudada para que
possa se desenvolver - pois é uma "arte", tal como a própria vida. Ele
diz: "se quisermos aprender como se ama, devemos proceder do mesmo modo
por que agiríamos se quiséssemos aprender qualquer outra arte, seja a
música, a pintura, a carpintaria, ou a arte da medicina ou da
engenharia". O sociólogo Anthony Giddens diz que os mais notáveis
estudos sobre a sexualidade, na quase totalidade feitos por homens, não
trazem qualquer menção ao amor, revelando ambos os autores existir uma
omissão científica sobre o tema.A percepção, conceituação e idealização
do objeto amado e do amor variam conforme as épocas, os costumes, a
cultura. O amor é ponto central de algumas religiões, como no
cristianismo onde a expressão Deus é amor intitula desde uma encíclica
papal até em o nome de uma Igreja, no Brasil - derivadas da máxima de
João Evangelista contida na sua primeira epístola.
Embora
seja corrente a máxima "o amor não se define, o amor se vive", há
várias definições para o amor como: a "dedicação absoluta de um ser a
outro", o "afeto ditado por laços de família", o "sentimento terno ou
ardente de uma pessoa por outra" e aqueles em que também se inclui a
atração física, tornando-o aplicável também aos animais, um mero
"capricho", as aventuras amorosas, o sentimento transcendental e
religioso de adoração, perpassando ao sinônimo de amizade, apego,
carinho, etc. ] Diante desta gama variada de conceitos, os teóricos se
dividem na possibilidade de uma conceituação única, que reúna aquelas
tantas definições e representações do amor. Outros, como André
Lázaro, afirmam que "não há dois amores iguais". Já Leandro Konder diz
que o termo amor possui uma "elasticidade impressionante". Erich
Fromm, ainda, ressalta que "O amor é uma atividade, e não um afeto
passivo; é um "erguimento" e não uma "queda". De modo mais geral, o
caráter ativo do amor pode ser descrito afirmando-se que o amor, antes
de tudo, consiste em dar, e não em receber." Como sentimento
individual e personalíssimo, traz complexidade por envolver componentes
emocionais, cognitivos, comportamentais que são difíceis - ou quase
impossíveis - de separar e, no caso do amor romântico, também se insere
os componentes eróticos. O amor romântico, celebrado ao longo dos
tempos como um dos mais avassaladores de todos os estados afetivos,
serviu de inspiração para algumas das conquistas mais nobres da
humanidade; tem o poder de despertar, estimular, perturbar e
influenciar o comportamento do indivíduo. ] Dos mitos à psicologia, das
artes às relações pessoais, da filosofia à religião, o amor é objeto
das mais variadas abordagens, na compreensão de seu verdadeiro
significado, cujos aspectos principais são retratados a seguir.
Conceitos preliminares e comuns de "amor"
Amor materno, exemplo comum da manifestação amorosa.
Na concepção vulgar o termo amor encontra
variadas significações que devem ser abordadas em sentidos próprios e
respectivos, definidos em sentimentos e ações que muitas vezes se fazem
impróprios à definição do sentimento, mas que podem ter ou não
implicações nas demais percepções, como na filosofia; assim,
considera-se o amor como
- A atração física sexual, na relação entre indivíduos (como quando se diz "fazer amor")
- Para designar as diversas relações interpessoais como a amizade, o amor entre pais e filhos, etc.
- O
sentimento de apego a seres inanimados, que nada mais é senão o "desejo
de posse" - como quando se diz "amor ao dinheiro", ou "aos livros", etc.
- Apreço a valores ideais (amor à justiça, ao bem, etc).
- Apreço por certas atividades ou formas de vida (como quando se diz do amor a uma profissão, ao jogo, à diversão, etc.)
- Sentimento de apreço ao coletivo: amor à pátria, a um partido político, etc.
- Amor ao próximo, amor a Deus.
Amor e conceitos relacionados
O precursor da química no século XVI, o suíço Paracelso, ligava o amor ao conhecimento: "Quem
nada conhece, nada ama. Quem nada pode fazer, nada compreende, nada
vale. Mas quem compreende, também ama, observa, vê... Quanto mais
conhecimento houver inerente numa coisa, tanto maior o amor"
O psicanalista Jacques Lacan relaciona o amor com a verdade,
num de seus seminários, dizendo que ambos possuem uma estrutura
ficcional e são como que artifícios usados para camuflar enigmas que
não podem ser decifrados.
Casamento e o amor
No Ocidente, o amor passou a integrar o casamento a partir do séc. XVIII
O amor, tal como se tem hoje como algo que envolve consenso, escolha e paixão amorosa, não fazia parte do matrimônio até o século XVIII, quando a sexualidade passou a crescer em importância dentro do casamento.
Dos
tempos primitivos até à Idade Média eram os pais quem cuidavam dos
casamentos dos filhos, como um negócio; o casamento tinha bases que
eram mais importantes que o amor, e o sentimento era reservado para as
relações adulterinas.
A Revolução Francesa foi um divisor de águas na visão ocidental do casamento, celebrando o rompimento com a sacralização do ritual pela Igreja;
até ali, não apenas no Ocidente, se distinguia amor de casamento
(textos judaicos e gregos declaram que a função do matrimônio era a
procriação, o amor era desnecessário) ] Quem primeiro expressou a ideia do afeto integrando o matrimônio foi o pastor anglicano Thomas Malthus; segundo ele a amizade, companheirismo e afeto são os principais motes do casamento, e não a procriação.
As
maiores mudanças, contudo, ocorrem com a modernidade, em que a
valorização do amor individual presente na ideologia burguesa, leva ao
predomínio do amor-paixão com erotismo na relação conjugal - criando
uma emboscada já que isto resultou em criação de expectativas e
conflitos decorrentes de suas frustrações.
Ética amorosa
Uma ética do
amor envolve questões morais que se adequam ao sentimento, bem como as
formas que ele pode ou não tomar, abordando questionamentos como: será
aceitável, eticamente, amar um objeto, ou a si mesmo? Amar a si mesmo
ou a outro é um dever? O amor desleal é moralmente aceitável, ou lícito
(ou seja, é errado, mas desculpável)? O amor só pode envolver aqueles
com quem a pessoa tenha um relacionamento significativo? O amor deve
transcender ao desejo sexual ou à aparência física? - indo além para as
questões que envolvem a própria ética do sexo, aquelas que lidam com a
adequação da atividade sexual, da reprodução, das atividades hétero e
homossexuais, etc.
Homossexualidade e o amor
Marcha em Londres (2012) pede legalização do amor homossexual.
Em estudo realizado na década de 1980 a
pesquisadora Sharon Thompson constatou que a diversidade sexual não
interferia na busca do romantismo no relacionamento amoroso entre as
garotas adolescentes: o sentimento era igual, tanto nas experiências
hétero quanto homossexuais.
Simbologia e mítica
A
compreensão dos símbolos que cria sempre fascinou o homem, e por meio
da sua análise pode compreender a origem de sua própria existência,
conhecendo antigos costumes, as crenças religiosas, a medicina
alternativa e a comunicação.
Neste
sentido, o símbolo surge como algo que vem para elucidar, por analogia,
aquilo que ainda está desconhecido ou para antever o que ainda não
ocorreu - e não como o disfarce de algo que já se conhece.
Os
principais símbolos do amor são a maçã, o coração, a flecha e, dentre
sua mítica, está a crença de que forças mágicas podem vir a
controlá-lo, como se verá a seguir:
Maçã
Na mitologia grega a maçã torna-se o pomo da discórdia: a deusa Éris nela inscrevera a dedicatória - "à mais bela" - engendrando assim as razões para a guerra de Troia, após prometer a Páris que se entregasse o fruto à deusa mais bonita lhe daria o amor da mais bela mortal.
Embora haja outros frutos, como a uva ou o figo, que representem a alegoria do pecado original citado na Bíblia, foi a maçã quem, a partir do século XII assumiu o papel principal de representar a transgressão vivida por Adão e Eva, o motivo de sua expulsão do Éden.
A maçã traz em si os símbolos da fecundidade no amor, da eternidade, da sedução mundana, do pecado, da traição e da culpa.[20] Por
outro lado, tem ainda a simbologia que a liga, como vegetal, à árvore
que, no caso do saber espiritual, é representada ao contrário - com as
raízes para o céu e o galhos para a Terra, sendo Jesus o fruto mais belo enviado pelos céus.
Essas
representações ambíguas da maçã surgem em quadros - ora simbolizando o
pecado original, ora sendo trazido nas mãos da Virgem Maria e do Menino
Jesus; a maçã muitas vezes está associada ao coração, tido como a sede
do amor.
A ligação da fruta com o amor é universal, sendo ingrediente em muitos feitiços amorosos, além de seus licores terem função estimulante; finalmente, é feito com ela o doce chamadomaçã do amor, onde a fruta é mergulhada em uma calda açucarada.
Coração
Coração estilizado, símbolo universalizado do amor.
Para Santo Agostinho o coração é o recipiente do amor divino, e o conhecimento deve ser buscado através do amor. ] É ele o órgão central do corpo humano, estando assim simbolicamente ligado como o centro do homem, e do mundo.
O desenho estilizado do coração teria surgido em França para representar um dos naipes do baralho que, originalmente, representaria uma das classes sociais - Choeur, ou clero, que logo se tornou couer, coração; o símbolo universalizou-se e modernamente representa não o órgão em si, mas o amor.
Flecha
Kama alveja Shiva com sua flecha, no mito hindu.
No Ocidente, a flecha é o instrumento com que o deus grego do amor, Eros (ou Cupido,
na versão latina), alveja os corações das pessoas, fazendo-as se
apaixonarem. É assim, por exemplo, que ocorre quando, por capricho,
este alveja Apolo fazendo o deus se apaixonar pela ninfa Dafne,
enquanto a ela acerta com uma flecha de ponta redonda e de chumbo,
capaz de assim torná-la avessa ao sentimento; tem início ali uma
perseguição que termina quando a ninfa é transformada num árvore de louro.[26]
Também como no mito grego os hindus possuem a figura de Kama, bastante similar a Eros e, como este, um dos primeiros deuses a nascer; representado com arco e flecha, teria acertado Brahma com
uma das suas setas fazendo-o apaixonar-se por uma das suas filhas e
este, raivoso pelo feito, amaldiçoou-lhe dizendo que morreria por uma
das vítimas de suas flechadas - o que efetivamente veio a ocorrer
quando atinge Shiva: o deus, perturbado na sua meditação, pune Kama com um raio, reduzindo-o a cinzas.[27]
Poção do amor
Tristão e Isolda bebem a poção do amorIlustração de Dante Gabriel Rossetti
A existência de um elixir capaz de infundir no objeto dos desejos o sentimento amoroso é relatada porHorácio, num dos seus Epodos (Epodo V), onde se elabora a poção do amor a partir do fígado de uma criança que as bruxas fizeram morrer lentamente.
Ressurge com o mito medieval de Tristão e Isolda,
onde o casal que dá nome à história se apaixona após beberem da poção
por engano, engendrando-se ali um caso de adultério: nas primitivas
versões da história o elixir teria efeito temporário, ao passo que nas
versões da literatura cortês seu efeito seria duradouro, perene.
A
versão cavalheiresca do mito dá a conotação do conteúdo trágico que
envolve o amor-paixão, servindo portanto de propaganda contra esse
"mal", que contradiz a propaganda da obediência estrita às leis e
códigos morais.
A ópera L'elisir d'amore, de Donizetti, também traz a poção como plano principal do enredo, que dá título à obra.
Na versão de Goethe do mito de Fausto, Mefistófoles dá ao personagem-título de beber, na cozinha de uma feiticeira, a poção do amor.
Histórico e historiografia
Virginia Woolf declarou
que os historiadores tendiam a ignorar as experiências privadas; a
despeito disto, Stephen Kern é um historiador que foge a esta máxima,
abordando a temática do amor; segundo ele, apesar do sentimento ter uma
natureza amorfa, multifacetada e até invisível por vezes, também "tem
uma história" - ideias que tomam por base as premissas existencialistas em Heidegger, argumento que o amor no Ocidente é uma experiência mais "autêntica" entre 1847 até1934 - propondo que os amantes modernos são mais livres e mais auto-reflexivos do que os da era vitoriana.
Antiguidade clássica
Eros em terracota (c. -400 a.C.)
O historiador Will Durant conta que "o amor romântico existia entre os gregos, mas raramente determinava os casamentos". Foi assim que Homeroregistra que Agamenão e Aquiles tomaram para si Críseis, Bríseis e Cassandra movidos por um apelo físico somente; apesar de os antigos contarem de amores como o de Orfeu por Eurídice, o amor de que geralmente falam é o apetite sexual.
É uma exceção, assim, a história narrada por Estesícoro, onde uma donzela morre de amor; entretanto, Teano, esposa de Pitágoras, registrou que amor era "a doença de uma alma saudosa" - uma definição que em tudo se aproxima à visão romântica.
Daqueles
primórdios a civilização evoluiu para além do mero desejo sobre o
objeto amado, fazendo com que sobre ele também pairasse o sentimento da
ternura, a poesia passou a ter mais espaço sobre o desejo; Sófocles declara, assim, que "o amor faz o que quer dos deuses" eEurípedes proclama em várias passagens o poder de Eros.
Além dos poetas, dramaturgos falam com frequência de rapazes apaixonados por moças e Aristóteles diz de "amantes que olham nos olhos da amada, nos quais o pudor habita" - mas quase sempre em relações pré-nupciais, não no casamento propriamente: o romantismo era-lhes, aos gregos, um tipo de "possessão maligna", uma sandice, e ririam de quem usasse tal sentimento como meio de escolha para o casamento.
Assim,
o matrimônio fazia-se antes pelo dote, escolhido por meio de
profissionais casamenteiros; uma mulher sem dotes raramente se casava,
e a instituição servia tão-somente à perpetuação da família e do estado. Tão pouco convidativo era o casamento que após Péricles o número de homens solteiros tornou-se um problema; em 415 a.C. a lei permitia casamentos duplos, e foi o que fizeram Sócrates e Eurípedes; as concubinas eram aceitas.
Flecha
Kama alveja Shiva com sua flecha, no mito hindu.
No Ocidente, a flecha é o instrumento com que o deus grego do amor, Eros (ou Cupido,
na versão latina), alveja os corações das pessoas, fazendo-as se
apaixonarem. É assim, por exemplo, que ocorre quando, por capricho,
este alveja Apolo fazendo o deus se apaixonar pela ninfa Dafne,
enquanto a ela acerta com uma flecha de ponta redonda e de chumbo,
capaz de assim torná-la avessa ao sentimento; tem início ali uma
perseguição que termina quando a ninfa é transformada num árvore de louro.
Também como no mito grego os hindus possuem a figura de Kama, bastante similar a Eros e, como este, um dos primeiros deuses a nascer; representado com arco e flecha, teria acertado Brahma com
uma das suas setas fazendo-o apaixonar-se por uma das suas filhas e
este, raivoso pelo feito, amaldiçoou-lhe dizendo que morreria por uma
das vítimas de suas flechadas - o que efetivamente veio a ocorrer
quando atinge Shiva: o deus, perturbado na sua meditação, pune Kama com um raio, reduzindo-o a cinzas.
Poção do amor
Tristão e Isolda bebem a poção do amorIlustração de Dante Gabriel Rossetti
A existência de um elixir capaz de infundir no objeto dos desejos o sentimento amoroso é relatada porHorácio, num dos seus Epodos (Epodo V), onde se elabora a poção do amor a partir do fígado de uma criança que as bruxas fizeram morrer lentamente.
Ressurge com o mito medieval de Tristão e Isolda,
onde o casal que dá nome à história se apaixona após beberem da poção
por engano, engendrando-se ali um caso de adultério: nas primitivas
versões da história o elixir teria efeito temporário, ao passo que nas
versões da literatura cortês seu efeito seria duradouro, perene.
A
versão cavalheiresca do mito dá a conotação do conteúdo trágico que
envolve o amor-paixão, servindo portanto de propaganda contra esse
"mal", que contradiz a propaganda da obediência estrita às leis e
códigos morais.
A ópera L'elisir d'amore, de Donizetti, também traz a poção como plano principal do enredo, que dá título à obra.
Na versão de Goethe do mito de Fausto, Mefistófoles dá ao personagem-título de beber, na cozinha de uma feiticeira, a poção do amor
Histórico e historiografia
Virginia Woolf declarou
que os historiadores tendiam a ignorar as experiências privadas; a
despeito disto, Stephen Kern é um historiador que foge a esta máxima,
abordando a temática do amor; segundo ele, apesar do sentimento ter uma
natureza amorfa, multifacetada e até invisível por vezes, também "tem
uma história" - ideias que tomam por base as premissas existencialistas em Heidegger, argumento que o amor no Ocidente é uma experiência mais "autêntica" entre 1847 até1934 - propondo que os amantes modernos são mais livres e mais auto-reflexivos do que os da era vitoriana.
Antiguidade clássica
Eros em terracota (c. -400 a.C.)
O historiador Will Durant conta que "o amor romântico existia entre os gregos, mas raramente determinava os casamentos". Foi assim que Homeroregistra que Agamenão e Aquiles tomaram para si Críseis, Bríseis e Cassandra movidos por um apelo físico somente; apesar de os antigos contarem de amores como o de Orfeu por Eurídice, o amor de que geralmente falam é o apetite sexual.
É uma exceção, assim, a história narrada por Estesícoro, onde uma donzela morre de amor; entretanto, Teano, esposa de Pitágoras, registrou que amor era "a doença de uma alma saudosa" - uma definição que em tudo se aproxima à visão romântica.
Daqueles
primórdios a civilização evoluiu para além do mero desejo sobre o
objeto amado, fazendo com que sobre ele também pairasse o sentimento da
ternura, a poesia passou a ter mais espaço sobre o desejo; Sófocles declara, assim, que "o amor faz o que quer dos deuses" eEurípedes proclama em várias passagens o poder de Eros.
Além dos poetas, dramaturgos falam com frequência de rapazes apaixonados por moças e Aristóteles diz de "amantes que olham nos olhos da amada, nos quais o pudor habita" - mas quase sempre em relações pré-nupciais, não no casamento propriamente: o romantismo era-lhes, aos gregos, um tipo de "possessão maligna", uma sandice, e ririam de quem usasse tal sentimento como meio de escolha para o casamento.
Assim,
o matrimônio fazia-se antes pelo dote, escolhido por meio de
profissionais casamenteiros; uma mulher sem dotes raramente se casava,
e a instituição servia tão-somente à perpetuação da família e do
estado. Tão pouco convidativo era o casamento que após Péricles o número de homens solteiros tornou-se um problema; em 415 a.C. a lei permitia casamentos duplos, e foi o que fizeram Sócrates e Eurípedes; as concubinas eram aceitas.
Amor romântico
Detalhe de "O Beijo", do pintor romântico Francesco Hayez.
Durante o Romantismo o
amor passou a ser o fator essencial da própria vida; nenhum outro
período histórico teve o amor tão presente na literatura; o amor, suas
angústias - "a paixão sobrepondo a razão, a insatisfação com a vida, o
prazer no sofrimento, o arrebatamento da imaginação e o desejo de
morte" sempre foram retratados nas artes - contudo, foram incorporados
ao cotidiano dos românticos do século XIX.
Os
românticos constroem um melancólico e nostálgico mundo imaginário, e
trazem como principais características um distanciamento da realidade
social, experiência da perda e procura pelo que se perdeu; a poesia e o
amor se tornam a própria vida
Em autores como Álvares de Azevedo esse estado de espírito melancólico leva ao paradoxo de aproximar o amor com a morte, também uma característica dos românticos, patenteados nos dois últimos versos do poema "Amor" deste autor brasileiro "Quero viver um momento, Morrer contigo de amor!
O componente trágico do amor é então revelado: Eros se aproxima de Tanatos,
a morte; o amor significa também sofrer; a dualidade se manifesta
também na contradição entre a adoração e o prazer carnal; o romântico
busca a plenitude dos sentimentos, quer ser possuído pelo amor e, não o
conseguindo, experimenta o mais atroz sofrimento.
Para
o Ocidente o amor romântico passou a ser o "amor verdadeiro"; deste
modo selou de forma definitiva a ruptura com a visão então dominante do
cristianismo de que o amor servia à procriação, e manteve em seu legado
conquistas como o fato de que todos têm liberdade de escolha de seu
parceiro, e ainda o ideal de que para o amor não devem existir
barreiras.
Numa
análise sociológica, Anthony Giddens pondera que o amor romântico teve
dois impactos na situação feminina: serviu para colocar a mulher "no
seu lugar" - o lar. Segundo o autor, por outro lado, o romantismo
também estabeleceu um compromisso ao machismo da sociedade moderna,
estabelecendo um vínculo emocional duradouro.
Compreensão moderna do amor
Grandes Amantes, pintura de Ernst Ludwig Kirchner
O século XX assistiu a uma preocupação teórica da compreensão do amor, sob as mais variadas óticas; Denis de Rougemont, ecologista suíço, publica em 1938 seu O Amor e o Ocidente, ganhando diversas traduções, análises, críticas, despertando polêmica.
A conselheira sentimental Betty Milan diz
que sem o amor não existiria a vida, mas que o assunto nunca é tratado
entre os homens, que falam apenas do sexo, ao passo em que o tema é
comum entre mulheres - e isto porque elas são "marginalizadas", sendo
então o amor é neutralizado na modernidade, em detrimento do prazer
sexual; para esta autora, amor é uma paixão.
Erich Fromm constrói a seguinte definição: "O amor é uma força ativa no homem;
uma força que irrompe pelas paredes que separam o homem de seus
semelhantes, que o une aos outros; o amor leva-o a superar o sentimento
de isolamento e de separação, permitindo-lhe, porém, ser ele mesmo,
reter sua integridade. No amor, ocorre o paradoxo de que dois seres
sejam um e, contudo, permaneçam dois."
O
modelo ocidental capitalista, contudo, segundo Fromm, apresenta uma
desintegração do amor na sociedade; o homem torna-se um ser alienado de
si mesmo, de seus semelhantes e da natureza; no mundo feito de e para o
negócio, torna-se um mero autômato - um ser incapaz de amar; em troca,
o sistema oferece paliativos que diminuem esta sensação de solidão: o
estímulo ao "espírito de equipe", o sexo visto como sinônimo de amor
que, se apresenta disfunções, é passível de ser "solucionado" por meio
de técnicas que resolvam estes "problemas".
Estudos
recentes de psicologia social dão conta de que o amor romântico
(heterossexual) é universal, ou quase universal: em 166 sociedades
analisadas, foram encontradas referências ao amor romântico em 88,5%
dos casos (canções, folclore, relatos de nativos ou de pesquisadores
etnográficos)
Num
outro estudo publicado em 2009 foi revelado que, enquanto pesquisadores
e a mídia coloquem que o amor romântico tende a diminuir com o tempo,
isto não é verdade: o amor romântico (com intensidade, envolvimento e
interesse sexual) pode persistir num relacionamento longo, trazendo
consigo benefícios saudáveis ao indivíduo, mesmo estando ausentes
sentimentos percebidos no estágio inicial (como a euforia, por
exemplo), com o fator benéfico de que desaparecem a ansiedade e
insegurança; os estudos relataram também que quanto mais românticos
eram os relacionamentos, maior o índice de satisfação
Era digital, pós-moderna
O mundo atual é fruto de rápidas transformações ocorridas após o final da II Guerra Mundial,
que assistiu ao processo de emancipação feminina e seu controle da
concepção, tudo isto levando a um estado individual de permanente crise
derivada da insegurança diante das novas realidades que rapidamente
surgem. [
Neste
contexto, as informações veiculadas pela mídia referem-se muito mais
aos casos de violência e sexo do que propriamente ao relacionamento
amoroso; por outro lado na propaganda o amor romântico é usado como
plano de fundo para se vender de tudo, desde dentifrícios a seguros de
vida.
Para Zygmunt Bauman vive-se
uma era de "amor líquido". Pela internet os relacionamentos virtuais
ganharam maior fluidez em comparação aos laços reais (pesados, lentos e
confusos), onde sempre há a alternativa de "deletar" uma relação com o
simples apertar de uma tecla; isto torna os compromissos irrelevantes,
as relações não se fundamentam sobre a honestidade e é pouco provável
que se sustentem; assim, se por um lado romper os laços é algo fácil,
por outro não reduzem os riscos - apenas os distribuem de modo
diferente.
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