OS FRUTOS DA FÉ
“ Assim, as Igrejas eram fortalecidas na fé.
e aumentavam em número, dia a dia".
— Atos — Cap. 16, v. 5.
O grande convertido de Damasco, conhecido como
o tufão da nova idéia renovadora do Cristo, passava por
inúmeras cidades, desfazendo todo o pedestal dos anti
gos conceitos embrionários sobre Deus e a vida. Argu
mentava nas praças públicas, nas sinagogas, nas escolas,
nas hospedarias, com a alta filosofia, que rutila, e com
a ciência firme, que espera.
Paulo era doutor da lei. E, como tal, se constituía,
certamente, numa ventania muito forte para aquêles que
ainda ofereciam, em seus mundos mentais, ninho para
os pássaros das idéias, que, comparadas com a menta
lidade cristã, eram assentadas na areia, com fraturas
em todas as suas conjunções.
O gigante do Evangelho, em alta função doutrinária,
passa nas cidades de Listra e Derbe, aldeias onde o
discípulo Timóteo já havia introduzido a palavra de reno
vação do Mestre. Esse companheiro era filho de uma
judia com um varão grego. Enriquecia sua alma, de fi
lho de duas raças, com as qualidades indispensáveis aos
grandes labores. Timóteo, paciente e valoroso, tinha
na oração um sustentáculo para as decisões maiores e,
no ambiente agressivo dos contraditores. lançava mãos
da arma prodigiosa da fé, que soubera herdar do grande
Mestre, vencendo todos os adversários da idéia de Cris
to.
Paulo estava em uma excursão, onde deveria, em
nome de Jesus, percorrer várias cidades e ilhas. Eram
todas distantes da sua terra natal, onde voltara, com
humildade, depois de convertido, a pregar a verdade,
com as qualidades que o coração oferece ao cristão
nascente. As distâncias que o antigo perseguidor do
Evangelho se dispunha a perlustrar eram Imensas, mas
a fé que Paulo havia grangeado do clarão dos céus, no
deserto, e a sua realidade interna, faziam com que o
mundo coubesse nas suas mãos. Com essa mesma fé,
em Cristo e por Cristo, êle poderia ver todas as cidades
o aldeias, com suas respectivas necessidades. Nunca
temeu afronta nenhuma ao ser apedrejado e massacrado
pelos fariseus de todos os lugares e de todas as épo
cas. Era o cálice escolhido, no dizer do Mestre, para
a glória de Deus.
Timóteo também dava ótimos testemunhos em Icô-
nio. Em vista disso, Paulo queria que ele o acompanhas
se e, como todos sabiam da descendência de Timóteo,
prlncipalmente os judeus que ali habitavam, sugeriu Pau
lo que Timóteo fosse circuncidado, obedecendo a lei ju-
dáica. Com a circuncisão estariam dando “a César o que
ó de César”, sem nenhuma necessidade de mudar suas
convicções acerca dos autênticos ensinos de Jesus Cris
to, a quem Paulo havia dado tantos testemunhos.
E um dia, o apóstolo dos gentios, encontrando Ti
móteo meio triste, lendo seus pensamentos, responde,
sem ser Interrogado, nesses termos : Timóteo, não afli
jas o coração por teres sido circuncidado, meu filho.
Tem este fato como um símbolo : cortado algo em tua
carne, estejas livre também das forças inferiores que te
prendem ao mundo, e verás quantos prismas novos se
te abrirão, de valores incalculáveis, nascidos de uma pe
quena contrariedade". E Timóteo, antes tristonho, levan
ta a cabeça e sorri para Paulo, como se fosse uma cri
ança a encontrar um paraíso de fadas.
Sua mente foi tocada pela luz, e, de fato, encontrou
um novo céu, onde sua fé se firmou, fulgurante e sem
par. Batendo, de leve, no ombro do campeão do Evange
lho, articulou baixinho em seu ouvido : irei com o Se
nhor, para onde for e para onde desejar. Pisando na
terra, mas vivendo no céu, porque agora compreendí que
os nossos irmãos em Cristo não existem somente em
Listra, Derbe e Icônio, mas em todo o mundo”. Deixan
do escorrer nos grandes olhos lágrimas incontidas de
grandes emoções espirituais, remata sua conversa : “de
0 valoroso discípulo cambaleou de emoção, alvo de
tremendo impacto. Considerar alguns animais imundos
vinha de Moisés, mas ele achava bom aquele preceito.
Por outro lado, se todas as coisas foram feitas por Deus,
pertenciam também a Jesus; como fazer agora ? Já havia
o Mestre falado antes a todos os discípulos que nada há
imperfeito na criação de Deus, que as imundícies e as
imperfeições estavam em cada um de nós, na maneira
pela qual sentíamos e observávamos as coisas. Por que
leria o legislador separado alguns dos animais, qualifi
cando-os como imundos em relação aos que figuravam
passivamente nas mesas dos que temiam a Deus ?
O espírito do mal queria confundir a Pedro, mos
trando contradições nas leis espirituais de Moisés e Je
sus. É o mesmo que alguns menos avisados querem fa
zer hoje com Jesus e Kardec, mostrando confusão on
de nunca existiu, esquecendo-se de comparar as neces
sidades de duas épocas, separadas por vários séculos.
Quem viaja com Cristo e Kardec no bôjo da lei,
sentirá, no Espiritismo, o mesmo calor, o mesmo ambi
ente do Cristianismo primitivo, a renascer no mundo
com maiores esplendores. Mas nunca deixam de apare
cer os espíritos do mal, nos caminhos dos discípulos,
para confundir as coisas de somenos importância. Os
céus o permitem, no sentido de testar quem se propôs
a seguir o Mestre.
Pedro, a sós, passeia os olhos molhados pelo céu —
dlr-se-ia mais uma estátua do que um homem — e abre
os lábios, compassivamente : "Senhor, queria saber a
verdade sobre o que acabo de ver e ouvir; não posso
ir ter com os meus antes disso. Se necessário, ficarei
aqui, qual Moisés, horas a fio, ou dias incontáveis, mas
quero conhecer a verdade sem rasuras, estar contigo
em Deus; faze de mim o que te aprouver".
Diante de uma grande pedra, Pedro debruça como
menino faminto, a esperar um pedaço de pão. Aguarda a
resposta do Mestre, porquanto, raciocinando, descon
fiara de tudo o que acontecera. Uma luz profusa parte
do alto, divide-se em três, bafeja o velho apóstolo, bri
lha com variações nunca vistas em matéria de luzes,
torna a se fundir, serenamente, perdendo-se no infinito.
Pedro fica em lugar destacado no meio das coisas,
e uma voz, muito sua conhecida, fala : “Pedro, acalma
teu coração, desperta teu interesse pela obra de Deus e
segue-me; não confundas amor, com seperação; ser-teá
dado tudo para viveres; o teu e o nosso Deus, de amor
e bondade, nunca deixa nada sem valor. Os que queres
afirmar como imundos são os que te dão, na verdade, a
vida. Foram qualificados como imundos, vindos de ou
tras bandas, mas se não fosesm eles, a vida seria im
possível; abençoemos, pois, esses animais. A velha
proibição visava a que eles não diminuíssem em quan
tidade, para uma operação limpeza completa, entendeste?'
E a voz, meiga, terminou : “se não queres, não comas,
mas não odeies aqueles que, nos rudimentos da vida,
fazem os melhores dos bens’ .
Pedro, chorando, agora de alegria, entendeu qus
deveria orar, mas acima de tudo, vigiar. Com a ajuda da
razão, selecionar os alimentos espirituais e não os ma
teriais, porque destes está encarregado o organismo.
"No dia seguinte, indo êles de caminho e
estando já perto da cidade, subiu Pedro ao
eirado, por volta da hora sexta, a fim do
orar” .
Alguns Angulos dos Ensinos do Mestre (psicografia Joao Nunes Maia - espirito Miramez)