CURIOSIDADES DA ERA MEDIEVAL 02.
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QUEM FOI PEDRO ABELARDO?
Abelardo, Pedro (1079-1142) Filósofo e teólogo, natural de Le Pallet,
perto de Nantes. Sua carreira foi incomumente variada para um mestre
escolástico: foi educado em Loches ou Tours sob a orientação de
Roscelino de Compiègne, estudou em Paris com Guilherme de
Champeaux e em Laon com Anselmo de Laon. Polemizou violentamente
com todos esses mestres. Lecionou em escolas de Paris, Melun e Corbeil
até 1119, quando casou secretamente com Heloísa, sobrinha do cônego
Fulbert de Paris. Após o nascimento do filho de ambos, Astrolábio,
Abelardo foi castrado à força por agentes de Fulbert. Tendo
providenciado o ingresso de Heloísa como freira no convento de
Argenteuil, Abelardo tornou-se monge no vizinho mosteiro abacial de
Saint-Denis. Mas não tardou em voltar ao ensino e em 1121 sofreu sua
primeira condenação como herético em Soissons.
A partir de 1122, lecionou num retiro rural em Quincey, na
Champagne, e desde cerca de 1127 foi abade de Saint-Gildas-de-Rhuys,
na sua Bretanha natal. Em ambos os lugares Abelardo viu-se
perseguido por dificuldades mas, enquanto abade, providenciou para
que Heloísa iniciasse um novo convento em Quincey, dedicado ao
Paracleto. Por volta de 1136 reapareceu nas escolas de Paris, onde teve
dentre seus ouvintes João de Salisbury. Uma segunda e mais
devastadora condenação ocorreu num Concílio realizado em Sens, em
1140, e essa foi confirmada pelo papa Inocêncio II. A derrota veio após
veementes debates entre, de um lado, Abelardo e seus adeptos, que
incluíam Arnaldo de Bréscia, e, do outro, Bernardo, o influente abade
de Claraval, e muitos bispos da França. Abelardo retirou-se então para
a abadia de Cluny, onde contou com a amizade do abade Pedro, o
Venerável. Morreu no priorado de Saint-Marcel, em Chalon-sur-Saône,
em (ou logo após) 1142. Pedro, o Venerável, transferiu os restos mortais
de Abelardo para o Paracleto, onde Heloísa permaneceu como abadessa
até falecer em 1164.Retratar Abelardo como um paladino da emancipação intelectual
do domínio de monges que eram inimigos do saber, da cultura e da
pesquisa, é simplificar as tensões que culminaram nas duas
condenações de Abelardo por heresia. Dentre seus críticos estavam
homens de indiscutível talento, não só Bernardo de Claraval mas
também Guilherme de Saint-Thierry e Hugo de Saint-Victor, enquanto
que Abelardo (ele próprio um monge na maior parte de sua vida) se
deliciava em disputas provocantes. Na História Calamitatum [História
das Minhas Desgraças], Abelardo responsabiliza a inveja de seus rivais
e o seu próprio orgulho por seus fracassos. Mas conquistou o interesse
e a devoção de mais de uma geração de estudantes por ter tornado a
lógica de Aristóteles clara e por ter explorado com brilhantismo as
funções e limitações da linguagem.
Como filósofo, Abelardo foi corretamente descrito como um não-
realista. No início de sua carreira, afastou-se da concepção
predominante que via os universais (por exemplo, gênero, espécie) como
coisas existentes (res). Distinguiu-se mais por suas penetrantes glosas a
textos de Aristóteles do que pela criação de uma síntese filosófica. Em
teologia, Abelardo examinou criticamente as tradições recebidas do
pensamento cristão; sua obra Sic et Non é uma tentativa de resolver as
aparentes contradições existentes no âmbito do ensino cristão através
da aplicação da dialética. Seus métodos não eram incomuns para a
época, mas suas conclusões foram julgadas imprudentes por muitos.
Seus ensinamentos teológicos refletiram seu não-realismo dialético;
apresentou a Trindade em termos de atributos divinos (poder, sabedoria
e amor) e não de pessoas divinas. Considerou o trabalho de redenção do
Cristo menos como um fato objetivo (a libertação do homem do pecado
ou do demônio) do que como um exemplo de ensino e sacrifício que
provoca uma resposta subjetiva ao amor divino. Na ética, Abelardo
afastou-se da preocupação com ações para dedicar-se ao estudo da
intenção e do consentimento. Sua tendência para a interiorização
também ficou evidente nas substanciais contribuições literárias,
legislativas e litúrgicas que fez para o estabelecimento do convento do
Paracleto, tendo Heloísa como abadessa: as monjas eram exortadas a
estudar e orar, e a não se sentirem tolhidas, mais do que o necessário,
por observâncias externas. Abelardo admirava as figuras contemplativas
que tinham sido modelos de sabedoria e virtude, fossem eles pagãos,
como Sócrates ou Platão, Cícero ou Sêneca, profetas, como Elias ou
João Batista, ou monges cristãos primitivos, como Antônio e Jerônimo.
Todos eles amaram a sabedoria e todos, portanto, como Cristo,
mereceram o nome de filósofos.
As avaliações sobre o que, em termos gerais, Abelardo realizou são,
inevitavelmente, complacentes ou críticas em excesso. Suas
contribuições originais para a ascensão da Universidade de Paris e do
movimento escolástico medieval receberam por vezes uma atenção
exagerada, mas ele produziu urna impressão muito forte sobre os
escolásticos de seu tempo, mesmo que rapidamente seus interesses e
livros tenham sido rejeitados ou, na melhor das hipóteses, podados por
seus sucessores. As suas principais obras são, na lógica, Dialectica, e os
comentários sobre a lógica aristotélica; na teologia, o já citado Sic et Non
e a Theologia (tendo ambas as obras passado por sucessivas revisões), a
Ethica o Scite te ipsum [Ética ou Conhece-te a Ti Mesmo], comentários
sobre o início do Gênese e sobre a Epístola aos Romanos, e o Dialogus
inter Judaeum, Philosophum et Christianum [Diálogo entre um Judeu,
um Filósofo e um Cristão]. Hoje, sua popularidade deve-se
principalmente à correspondência com Heloísa. As cartas podem não ter
circulado antes de meados do século XIII, e sua autenticidade é
contestada algumas vezes, sobretudo por causa da dificuldade em
interpretar as letras dos autores. Mas o seu caso de amor despertou
considerável interesse não só imediato mas ao longo de toda a Idade
Média. Abelardo foi também um talentoso poeta e músico.