A reivindicação


Há muito aspirava Saturnino Peixoto ao interesse de algum
homem público para favorecê-lo na abertura de certa estrada.
Para isso, conversou, estudou, argumentou...
Concluiu, por fim que a pessoa indicada seria o deputado Ota-
viano, recém-eleito, homem ao qual se referiam todos da melhor
maneira, pela atenção e carinho com que se dedicava à solução dos
problemas da extensa região que representava.
Depois de ouvir o escrivão da cidade, Saturnino redigiu longa
carta-memorial, minudenciando a reivindicação.
E ficou aguardando a resposta.
Correram dias, semanas, meses.
Nenhum aviso.
Revoltado, Saturnino começou a exprobrar a conduta política
do deputado que nem sequer lhe respondera à carta.
Sempre que se lembrava do assunto, criticava o político, cen-
surando-o asperamente, a envolver todos os homens públicos em
condenação desabrida.
Nada valiam ponderações da companheira, Dona Estefânia,
espírita convicta, que lhe pedia perdoar e esquecer.
Transcorreram três anos, até que a solicitação caducou.
Saturnino, obrigado a desistir da idéia, guardou, contudo, pro-
fundo ressentimento do legislador que terminava o mandato.
Certo dia, porém, revolvia os guardados de velha prateleira no
escritório, quando encontrou, surpreendido, entre livros e papéis
relegados à traça, o memorial que escrevera ao deputado, dentro de
envelope sobrescritado, selado e recoberto de pó.
Saturnino se esquecera de enviar a carta...
Francisco Cândido Xavier / Waldo Vieira – O Espírito da Verdade
Hilário Silva

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