A chuva benéfica e abundante cai dos céus
Mitigando a sede da terra.
Assim também, o Amado faz chover sobre os homens
Os poderes e as bênçãos.
No entanto, choras e desesperas...
Por que não recolheste a tempo a tua parte?
— Nada vi — responderás...
É porque teus olhos estavam nevoados na atmosfera do sonho.
O Senhor passa todos os dias,
Distribuindo os dons celestiais,
Mas as ânforas do teu coração vivem transbordando de substâncias estranhas.
Aqui, guardas o vinagre dos desenganos,
Acolá, o envenenado licor dos caprichos.
O Amado é incapaz de violentar a tua alma.
Seu carinho aguarda a confiança espontânea,
Seu coração freme de júbilo,
Na expectativa de entregar-te os tesouros eternos...
Mas, até agora,
Persegues a fantasia e alimentas curiosamente a ilusão.
Todavia, o Amado espera.
E dia virá,
Na estrada longa do destino,
Em que estenderás ao seu amor infinito
O cálice do coração lavado e vazio.
O irmão
Por que ajuizas com ironia,
Sobre as obscuridades do irmão que sobe dificilmente a montanha?
Quando atravessava a floresta
O pobrezinho julgou que o Amado lhe falava à mente pela voz do trovão
E lhe erigiu altares
Enfeitados de flechas.
Depois,
Quando penetrou noutros círculos,
Acreditou que o Senhor pertencia somente ao seu grupo
E que as outras comunidades humanas eram condenadas...
Lutou, sofreu, feriu-se em dolorosas experiências.
O Amado, porém, jamais o deserdou por isso.
Deu-lhe novas forças,
Concedeu-lhe oportunidades diferentes.
Por vezes,
Buscou-o no fundo dos abismos,
Como pai carinhoso,
Em busca da criancinha abandonada.
De tempos a tempos,
Fê-lo dormir no regaço,
Ao influxo do bendito esquecimento,
Para que o sol do trabalho lhe sorrisse outra vez.
Não observas em seu caminho áspero a tua própria história?
Não atormentes com palavras amargas o irmão que se eleva
Laboriosamente,
Dando ao mundo o que possui de melhor.
Ama-o, faze-lhe o bem que possas.
Se já atingiste
Algum topo de colina,
Contempla as culminâncias que te aguardam
Entre as nuvens,
E estende as mãos fraternas
Aquele que ainda não pode ver o que já vês.
|
O cálice
0
janeiro 01, 2017
Tags