O QUE É O AMOR PARTE FINAL
Natureza do amor
Além dos conceitos acima, a filosofia se ocupa de várias noções acerca da natureza do amor; assim, uma visão epistemológica do
amor envolve a filosofia da linguagem e teorias das emoções: se for
meramente uma condição emocional está no âmbito da inacessibilidade por
outra pessoa, a não ser pela expressão em palavras; já os emotivistas
ponderam que quando alguém afirma estar amando o enunciado independe de
outras declarações: é um enunciado não proposicional, sua verdade está
além de qualquer exame.
Se
o amor não possui uma "natureza" que possa ser identificável, podemos
contudo questionar se temos a capacidade intelectual para
compreendê-lo: o amor pode ser parcialmente descrito, ou insinuado,
numa exposição dialética ou
analítica, mas nunca compreendido em si mesmo. Neste sentido o amor
está na categoria de conceitos transcendentais, aos quais os mortais
mal podem conceber em sua pureza, como dizia Platão; deste filósofo
derivam ainda outros pensamentos, como aqueles que defendem o ponto de
vista em que o amor pode ser compreendido por algumas pessoas, mas não
por outras; novamente se hierarquiza o amor - enquanto uns, iniciados,
artistas, filósofos, o compreendem na sua pureza, outros possuem apenas
a percepção do amor de desejo físico.
Definições dos filósofos modernos
Em Spinoza tem-se
que o amor era o elemento que conduz ao mais elevado grau de
conhecimento ou seja, para este filósofo do séc. XVII, o amor leva o
intelecto a Deus: segundo ele há três formas de saber - opinião, fé e
conhecimento puro. Apenas neste último se percebe Deus - o conhecimento
sobre o todo produz o amor verdadeiro, e este amor inevitavelmente leva
a Deus. O amor, ainda, é uma força que determina o estado de felicidade ou de tristeza: "a felicidade ou infelicidade consiste somente numa coisa, a saber, na qualidade do objeto ao qual aderimos pelo amor.
Para Nietzsche amor
e altruísmo são expressões de fraqueza e autonegação e, portanto, são
sinais de degeneração; em seu pensamento a busca pelo amor é típica de
escravos que, não podendo lutar por aquilo que querem, tentam
consegui-lo por meio do amor.
Ideologias políticas
O
pensamento político trata o amor a partir de uma gama variada de
perspectivas. Assim é que alguns vêem o amor como forma de dominação
social (onde um grupo - os homens - domina o outro - as mulheres); esta
é uma concepção que se revela atraente para as feministas e
os marxistas, que vêem as relações sociais (e todas as suas variadas
manifestações de cultura, língua, política, instituições) como a
refletir estruturas sociais mais profundas que dividem as pessoas (em
classes, sexos e raças)
A seguir um exemplo do que expressaram sobre o amor algumas das grandes correntes ideológicas:
Anarquia
Numa carta dirigida ao irmão Paulo (Pavel), em 1845, Bakunin declara:
- Amar
é querer a liberdade, a completa independência do outro; o primeiro ato
do verdadeiro amor é a emancipação completa do objeto que se ama; não
se pode amar verdadeiramente a não ser alguém perfeitamente livre,
independente, não só a todos os demais, mas também e, sobretudo, àquele
de quem é amado e a quem ama."
Para o anarquismo o casamento, a relação homem-mulher e a família devem ser dessacralizados; a experiência demonstra que monogamia é
algo impossível, assim como a fidelidade; o anarquismo prega o amor
livre (veja abaixo), onde o desejo vence as leis e os costumes: a
pluralidade de afetos é um fato, pois o desejo obedece a uma ordem
natural que antecede e está acima de todo mandamento social
estabelecido.
Nazismo
No nazismo, uma ideologia e estado nascidos da mente de um único homem - Adolf Hitler - sua ideologia parece toda ela impregnada de seu próprio complexo de Édipo; ali a Alemanhaassume
a figura da mãe, ao passo que o povo judeu assume da figura do pai
sádico - imagem esta que se patenteia na leitura de seu livro Mein Kampf, e também em declarações e escritos de outros líderes.
Em
sua obra, corroborando esta visão edipiana, Hitler clama por um "amor
incondicional à mãe Alemanha"; isto significava, então, usar de todos
os meios para protegê-la de ameaças, seja por um lado conquistando
aliados para a sua causa, seja de outro imputando inimigos a serem
combatidos; neste sentido, a construção individual da anomalia
psicológica de Hitler moldou o estado alemão, numa ótica quase infantil
que se aproxima do amor cortês, onde "o caráter é mais importante que o nascimento"
Isto se reflete ainda na visão determinista de Hitler, e ainda a abolir os sentimentos internos de remorso pois "a consciência é uma invenção do judeu". Esta ideia sobre o amor, consciência e remorso se encaixam na percepção de Nietzsche de que a sociedade deve ter uma "fundação
e andaimes por meio dos quais uma classe seleta de seres pode ser capaz
de erguer-se às suas mais elevadas funções e, em geral, à sua mais
elevada existência.
O
indivíduo deve anular-se e sentir-se parte de um todo, ao qual deve
servir: a raça, o estado, e o líder que o representa; ao suprimir sua
individualidade e amor-próprio, o indivíduo está pronto para matar e
morrer em nome daquilo que o representa e ama: o Führer
Comunismo
Friedrich Engels percebe as sociedades por ele ditas "primitivas", servindo-se especialmente das ideias de Lewis Morgan, para analisar o casamento. Sua premissa, portanto, parte da descrição do que Morgan denominou "casamento sindiásmico",
de fácil dissolução; vendo o comunismo como originário dos estágios
iniciais da evolução humana, Engels propõe que o casamento por
interesse foi uma invenção dos gregos, e contrário às formas comunistas
verificadas originalmente; a monogamia foi um progresso moral que a
sociedade experimentou, naquilo que chamou de "o amor sexual individual moderno, anteriormente desconhecido no mundo."
Engels ressalva: "Mas
se a monogamia foi, de todas as formas de família conhecidas, a única
em que se pôde desenvolver o amor sexual moderno, isso não quer dizer,
de modo algum, que ele se tenha desenvolvido de maneira exclusiva, ou
ainda preponderante, sob forma de amor mútuo dos cônjuges. A própria
natureza da monogamia, solidamente baseada na supremacia do homem,
exclui tal possibilidade. Em todas as classes históricas ativas, isto
é, em todas as classes dominantes, o matrimônio continuou sendo o que
tinha sido desde o matrimônio sindiásmico, coisa de conveniência,
arranjada pelos pais. A primeira forma do amor sexual aparecida na
história, o amor sexual como paixão, e por certo como paixão possível
para qualquer homem (pelo menos das classes dominantes), como paixão
que é a forma superior da atração sexual (o que constitui precisamente
seu caráter específico), essa primeira forma, o amor cavalheiresco da
Idade Média, não foi, de modo algum, amor conjugal. Longe disso, na sua
forma clássica, entre os provençais, voga a todo pano para o
adultério..."
Para
ele o casamento monogâmico na burguesia de sua época tinha duas
variantes: na católica, que não admitia o divórcio, o casamento era
arranjado; no protestante, dentro de sua hipocrisia, o amor era até
admitido como motivo para o casamento, desde que entre pessoas da mesma
classe; o amor sexual só seria uma regra, em seu tempo, entre o
proletariado.[
Conclui que modernamente se pode encontrar a seguinte situação: "Nosso
amor sexual difere essencialmente do simples desejo sexual, do eros dos
antigos. Em primeiro lugar, porque supõe reciprocidade no ser amado,
igualando, nesse particular, a mulher e o homem, ao passo que no eros
antigo se fica longe de consultá-la sempre."
Karl Marx assim se expressou sobre o sentimento: "Se amas sem despertar amor, isto é, se teu amor, enquanto amor, não produz amor recíproco, se mediante tua exteriorização de vida como homem amante não te convertes em homem amado, teu amor é impotente, uma desgraça." Por outro lado, também afirmou: "Mas o amor é materialista, não-crítico e não cristão (...) [é] egoísta porque é a sua própria essência que um procura no outro."
Neo-marxismo
Na década de 1930 os comunistas de Cambridge propunham a eliminação do amor; proclamavam, no dizer de Eric Hobsbawm, que... “Nós, que queríamos preparar o terreno para a bondade, não podíamos ser bondosos” - isto porque numa revolução, que separa, jamais poderiam admitir o amor, que une.
Numa percepção dialética do marxismo, o amor possui uma base ontológica que, contudo, na sociedade mercantil, assume o caráter de fetiche, tornando-se ele próprio uma mercadoria.
Raoul Vaneigem, um dos principais pensadores da Internacional Situacionista do final da década de 1960 disse que "Aqueles
que falam de revolução e luta de classes sem se referirem à vida
cotidiana, sem compreenderem o que há de subversivo no amor e na recusa
das coações, esses têm na boca um cadáver."
Positivismo
Ideologia que misturava política e religião preconizada por Auguste Comte no século XIX, o positivismo trazia por lema "o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim";
a visão do amor, contudo, era intimamente ligado à produção de
indivíduos comprometidos com o estado e a sociedade nos moldes de suas
ideias e não, propriamente, ao sentimento; neste sentido, por exemplo,
à mulher cabia o papel de amar e educar os filhos para servir à
comunidade, amar os semelhantes e, finalmente, o amor aos superiores -
tudo voltado para a manutenção da ordem, em total submissão ao marido e
ao estado; de igual forma as crianças deveriam ser educadas para o
patriotismo, a moral e o caráter, sendo peça chave o amor à pátria
Sociologia
Para a sociologia o amor tem interesse na medida em que é um dos motivos para a constituição da família, do casamento; dentre as teorias destaca-se a de Franz Müller-Lyer que
indicou como principais motivos para a união matrimonial: a necessidade
econômica, o desejo de procriar e o amor - evoluindo estes motivos das
sociedades mais primitivas, passando pelas antigas, até a sociedade
moderna onde a mais importante razão da união familiar está no amor.[82] Para
Stevi Jackson a institucionalização do amor no casamento e sua
representação na ficção romântica têm sido o foco de atenção
considerável por estudos da sociologia e do feminismo, enquanto o
significado cultural do amor como uma emoção tem sido negligenciado.
Arlie Russell Hochschild, contudo, é uma das que procuraram consolidar os estudos da sociologia das emoções como
um novo campo dentro desta ciência social; para ela o mundo evoluiu com
base em dois códigos emocionais - o masculino e o feminino; o primeiro
foi dominante e assimilado pelas mulheres que, em contrapartida,
encontram os homens ainda a demorar a assimilar as regras do código
feminino. Isto resulta numa situação em que as mulheres trabalham, os
companheiros também ficam longe de casa e os idosos cuidam de si mesmos
ou são entregues a cuidados comerciais: um cenário onde o capitalismo
acabou por competir também com a família (especialmente no tradicional
papel de mãe e esposa), tornando a família cada vez mínima. Neste
contexto, o amor acaba sendo diminuído nas relações: a intimidade nos
tempos atuais está distante de representar o relacionamento puro e o
amor, nas relações entre os gêneros.
Psicologia
Erich Fromm faz uma crítica sobre a percepção de Freud sobre
o amor, que para este seria uma mera expressão, ou sublimação, do ato
sexual; em sua linha materialista fisiológica, o erro de Freud se
aprofunda, segundo ele, ao ver no instinto sexual uma tensão química
endógena dolorosa, que busca alívio; o sentimento então, tal como em
necessidades fisiológicas como sede ou fome, leva o indivíduo a buscar
o alvo do desejo sexual para a remoção dessa tensão incômoda, levando
enfim à satisfação sexual, quando o consegue - onde a masturbaçãoseria o ideal dessa saciedade.
Embora
a importância dada ao sexo por Freud tenha sido objeto de muitas
críticas, Fromm assinala que isto foi necessário para a sociedade de
1900, mas já superado cinco décadas depois; e que a maior falha do
criador da psicanálise foi, ao contrário, não compreender o sexo com a profundidade necessária
Jung dizia que "o amor é como Deus: ambos só se oferecem a seus serviçais mais corajosos."
Para Raul Mesquita o
amor é um sentimento, em geral duradouro, para com outrem ou em face de
um certo objeto que, para alguns psicólogos, está mais afeito à poesia do que àpsicologia.
O psicólogo Robert Sternberg propõe um teoria triangular do amor,
onde existem três componentes que determinam a forma e quantidade de
amor existente numa relação: Primeiro, o grau de intimidade, que
engloba os sentimentos de proximidade, conectividade, e ligação
experimentadas no relacionamento amoroso; segundo, a paixão presente,
que reúne elementos que levam ao romance, atração física e consumação
sexual; e, em terceiro, a decisão ou compromisso existente - a curto
prazo, a decisão que se toma de amar o outro e, a longo prazo, o
compromisso em manter esse amor.
Direito
A visão tradicional é de que o amor não está afeito ao Direito ou aos fatos jurídicos. Numa célebre decisão do Ministro do Superior Tribunal de Justiça brasileiro,
Ruy Rosado de Aguiar, este cita uma passagem onde dois grandes nomes da
ciência jurídica do século XX se debateram, concluindo:
-
- "Kelsen, reptado por Cossio, o criador da teoria egológica, perante a congregação da Universidade de Buenos Aires,
a citar um exemplo de relação intersubjetiva que estivesse fora do
âmbito do Direito, não demorou para responder: "Oui, monsieur,
l’amour". E assim é, na verdade, pois o Direito não regula os
sentimentos. Contudo, dispõe ele sobre os efeitos que a conduta
determinada por esse afeto pode representar como fonte de direitos e
deveres, criadores de relações jurídicas previstas nos diversos ramos
do ordenamento, algumas ingressando no Direito de Família, como o matrimônio e, hoje, a união estável, outras ficando à margem dele, contempladas no Direito das Obrigações, das Coisas, das Sucessões, mesmo no Direito Penal, quando a crise da relação chega ao paroxismo do crime, e assim por diante."
Num claro exemplo do alheamento do amor pelo direito tem-se que as constituições modernas não o citam, com exceção da controversa Constituição da Hungria, promulgada em 2012, ]em cujo preâmbulo se diz "Nós
sustentamos que a família e a nação constituem a base estrutural de
nossa coexistência e que os valores fundamentais de coesão consistem na
fidelidade, na fé e no amor."
Pensamento
diverso pode ser encontrado, a exemplo do que defende o jurista
Bernardo M. Varjão de Azevêdo para quem a dissociação do amor ao
direito decorre da visão predominantemente juspositivista e que, para ele, este sentimento é o fundamento da própria ciência jurídica; há, também, o jurista Luís Alberto Warat, que entende o próprio direito como "expressão do amor"
Manifestações culturais
Algumas peculiaridades culturais sobre o amor:
- Na China, talvez em decorrência dos ensinamentos de Confúcio ou pela influência do comunismo, os pais são praticamente incapazes de dizerem "eu te amo" (Wo ai ni)
aos próprios filhos; em vez disto, manifestam seus sentimentos através
de ações comuns, como dar-lhes a melhor porção de carne no almoço; a
forma como os pais educam seus filhos evita que manifestem-se-lhes
expressões positivas, como a declaração de amor. Um vídeo feito pelo
canal de televisão Anhui levou universitários a ligarem aos seus pais e
dizerem-lhe "eu te amo" - obtendo respostas como "você está bêbado?" ou
"você está grávida?".[94] [95]
- No Japão existem duas palavras para expressar o sentimento amoroso: "ai" (愛)e "koi" (恋); ambas refletem nuances do sentimento, que podem ser vistos na composição de outras palavras tais como aidokusho 愛読書 (livro favorito), aijin 愛人 (amante), aijou 愛情 (amor, afeto), aikenka 愛犬家 (cão amoroso) ou boseiai 母性愛 (amor de mãe, carinho maternal) - da primeira, e hatsukoi 初恋 (primeiro amor), koibito 恋人 (namorado), koibumi 恋文 (carta de amor) ou koigataki 恋敵 (rival no amor), dentre outras; enquanto koi trata
do amor por outro do sexo oposto, ou o sentimento em relação a uma
determinada pessoa e pode ser traduzido como o amor romântico ou
apaixonado, ai tem o mesmo sentido que koi, mas traduz um sentido mais genérico de amor - em resumo: koi está sempre querendo, enquanto ai está sempre dando; a junção dos dois termos forma a palavra renai (恋愛), e é escrita com os caracteres de ai e koi, significando "amor romântico" (renai, por sua vez, vem a compor outras palavras: renai-kekkon (恋愛結婚) é um "casamento por amor", que é o oposto de miai-kekkon 見合い結婚, casamento arranjado; renai-shousetsu 恋愛小説 é "história de amor" ou "romance").
Artes
Cada
obra artística retrata o amor conforme sua época, sendo uma testemunha
de seu tempo; é o afeto mais ilustrado na arte, e sua representação
começa pelos símbolos mitológicos (deuses, lendas), e também em traços
culturais que remontam à mais remota antiguidade (que vão de imagens
como as cruzes orientais, ao coração estilizado).
Neste sentido, muitos são os que, através dos tempos, procuram retratar o amor; são "escritores,
artistas, músicos e pessoas que não escrevem sobre, mas falam, mesmo
sem saber concretamente o que estão dizendo. Descrevem o que sentem
enquanto amam, são amados, e sentem o prazer do amor"
Literatura
"Amor é um fogo que arde sem se ver, É ferida que dói e não se sente, É um contentamento descontente, É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer, É um andar solitário entre a gente, É nunca contentar-se de contente, É um cuidar que ganha em se perder."
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Camões [97] |
Os autores que vieram a tratar do amor, na literatura ocidental do século XVI (como William Shakespeare em seu Romeu e Julieta), tiveram por base as obras de Ovídio e de Petrarca - neste período floresceram os sonetos de amor.
Portugal
Inês de Castro, vítima do amor com o herdeiro do trono.
Já na Idade Média, quando surge em Portugal sua literatura, tem-se a cantiga de amor,
em que a mulher amada é retratada como um ser inatingível e perfeito, e
como objeto de desejo inatingível, levando ao sofrimento.
Em Camões surge a própria Vênus e a "Ilha dos Amores", a seduzir os lusos às navegações; em Os Lusíadas o poeta relata a história de amor-paixão entre Inês ePedro; durante o romantismo o
amor ocupa o centro das histórias, quase sempre avassalador e, se
contrário às regras, também levando ao sofrimento como nas cantigas
medievas; o modernismo surge
para contraditar aquele amor-paixão, que passa a ser visto como algo
doentio, sobrepujado pela racionalidade, encontrando seus expoentes em Eça de Queiroz e Fernando Pessoa.[97]
Poesia
"Quem nunca escreveu uma poesia de amor?", pergunta Ricardo da Costa; os versos de amor surgiram na Idade Média, lembra ele, onde os poetas "derramavam suas lágrimas e seu sofrimento por amadas - acessíveis e inacessíveis." - de que foram exemplos Abelardo e Heloísa, Dante e Beatriz ou Laura, provável musa de Petrarca
Numa ótica da psicanálise, Nadiá Paulo Ferreira diz que "os poetas sempre souberam que tudo que se diz sobre o amor revela apenas uma face dos seus mistérios"; neste sentido exemplifica com os versos de Fernando Pessoa[nota 7] que dizem: "Porque quem ama nunca sabe que ama/ Nem sabe por que ama, nem o que é amar...".[16]
Fernando Pessoa e Miguel Torga trazem
um amor que é um anseio no homem contemporâneo, unindo Eros a Psiquê,
fruto antes de um "mergulho" em si mesmo para depois voltar-se ao
objeto amado.
Paulo Leminski,
ao comparar a poesia com a carta de amor, assinala esta seria o oposto
daquela por ter um destinatário certo; na poesia não se pode ter um
destinatário conhecido , o poeta escreve - mesmo ao reportar um
sentimento como o amor de Petrarca por Laura, ou de Camões por Dinamene - para a humanidade, para Deus.[99] Ele
lembra que a visão do amor é ocidental, e como forma idílica manifesta
na arte somente na Europa medieval; por fim, afirma que a poesia "é um ato de amor entre o poeta e a linguagem";
algo que se traduz no fato de que há grande dificuldade em tentar-se
transformar poesia em mercadoria, ela não se vende; assim como o amor,
é algo que se dá de graça e que "a paixão do poeta pela linguagem,
da linguagem pelo poeta, é coisa que tem amplas implicações
sociológicas, históricas, transcendentais."
Música
Serenata, por Antoine Watteau
As
emoções podem ser invocadas de forma proposital ou não, e a música é
uma forma em que todas as pessoas experimentam emoções, quando a ouvem;
ela própria retrata a emoção nas letras, nos sons e no desempenho, numa
variação de emoções imensas: predomina entre estas emoções o amor nas
letras das músicas populares.
Os
estudos que relacionam a música com a emoção estão aumentando, e tem-se
por base que as emoções experimentadas enquanto se ouve a música não
são triviais, mas fazem parte da criação da vida social e cultural dos
indivíduos.
Diversos gêneros musicais (como pop, rock, R&B ou hip hop)
têm em comum o ritmo lento, letras sobre o amor e performances
emocionais dos artistas - geralmente acompanhadas por vídeos com
imagens que ilustram o amor ou o amor perdido (provocando assim a
tristeza).[
Cinema e televisão
A
representação do amor em novelas e filmes pode variar, mas suas
histórias parecem atrair sobretudo as mulheres, no sentido de
construírem sua feminilidade preocupadas com os sentimentos, sobretudo
o amor – que seria então a chave para sua felicidade.[100]
Na sociedade moderna o amor surge como um elemento essencial à felicidade do indivíduo e, como tal, passa a ser retratado pela indústria cinematográfica;
neste sentido, qualquer que seja a história narrada - desde na Roma
Antiga ou em qualquer tempo, todas as tramas ilustram a busca da paixão
amorosa.
Movimentos sociais
Amor livre
Os anarquistas defendiam o divórcio, e que a prostituição fosse tratada em casas de recolhimento, onde as mulheres seriam cuidadas, e espaços destinados à prática do sexo livre
Considerando
o casamento como "túmulo do amor", pregavam os anarquistas que o amor
deveria ser "livre"; o amor e o desejo fogem às regras morais que a
sociedade burguesa ergueu a partir do século XIX.
Combatendo não a política em sim, mas a moral instituída, o anarquismo
defendia novas formas de relacionamento, quer sociais, quer sexuais; Malatesta então
pregava que o anarquismo resulta das vontades pessoal e coletiva, com
um amor ao próximo tão profundo que não poderia ser percebido pelas
teorias científicas.
A despeito disso, já em 1932 Federica Montseny questionava este assunto tão "delicado e difícil": "quem, até agora, pôs de fato em prática o verdadeiro amor livre?"
Segundo ela, a mulher continuava seu papel submisso na relação, além da
condição frágil perante a sociedade caso assuma sua liberdade,
denunciando um "outro amor livre" - que é o do homem servir-se das
mulheres como grande sedutor, ou uma forma disfarçada de prostituição -
negando assim o "comunismo amoroso" pregado por Émile Armand
Adeptos do amor livre o casal Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre viviam em casas separadas, e muitas mulheres seguiram a máxima "nem família, nem filhos, nem lar, nem marido" pregada por ela em suas obras; Beauvoir escandalizou a sociedade francesa, e pregava às feministas que a fecundidade da mulher era o obstáculo à sua liberdade.
Desprovido das ideologias políticas, o amor livre encontrou seu ápice nos anos 1960 e 1970, no chamado movimento hippie.
Paz e amor
Jovem em trajes hippies faz o sinal de "paz e amor"
Com o crescimento da Guerra Fria, colocando como grandes antagonistas no cenário mundial as potências nucleares União Soviética e Estados Unidos, neste último formou-se uma série de movimentos de contracultura que, embora sem vinculações políticas partidárias, questionavam o chamado american way of life, ações do governo como o Macartismo, a Guerra do Vietnã, a sociedade de consumo, etc.
Pregando valores que entravam em choque com o status quo vigente, tendo o rock'n roll por fundo, surgem os movimentos beatnik (já nos fins dadécada de 1950) e hippie, em que o uso de drogas (especialmente o LSD), o amor livre, e as atitudes anti-sociais são a tônica, expressas na máxima "paz e amor.
Num discurso proferido em 1961, Martin Luther King Jr. analisa
a visão do amor então pregada pelos jovens segundo a divisão
filosófico-teológica dos gregos em eros, philia e ágape - sendo que a
ética amorosa dos estudantes estaria nesta última categoria (ágape): "Eu
acho que era isto que Jesus queria dizer quando falava para amar ao
inimigo, porque é bastante difícil gostar de algumas pessoas. Isto é
sentimental, e é muito difícil gostar de alguém que bombardeia a sua
casa; é bastante difícil gostar de alguém que está ameaçando seus
filhos; é difícil gostar de congressistas que gastam todo seu tempo
tentando derrotar os direitos civis. Mas Jesus dizia para os amar, e
com um amor maior do que outros. O amor é compreensão, é redentor,
criativo, boa vontade para com todos os homens. E é essa a ideia, é
toda a ética do amor que forma a ideia que está na base do movimento
estudantil"
Em meados da década de 1970 o movimento enfim decaiu, transformando-se em mais um modismo.
Base biológica do amor
Substâncias envolvidas no processo amoroso.
Um pioneiro estudo sobre o funcionamento do cérebro foi feito em 2000, procurando por um lado identificar as áreas corticais e
periféricas envolvidas no complexo sentimento do amor romântico, e por
outro traçar um paralelo com as emoções causadas pela amizade.
Embora
encontrando diferenças nos resultados entre os estímulos provocados
pelo objeto amado e por amizades, estas não seriam notadas por um
observador pouco familiarizado com as imagens; as áreas do cérebro
envolvidas se revelaram especialmente pequenas, e nalguns casos
guardando grandes diferenças com sentimentos negativos - estes como o medo, raiva,depressão,
etc, muito mais estudados - por outro lado guardou semelhanças curiosas
nas áreas desativadas, inclusive com o estado psíquico após uso de
substâncias como a cocaína ou derivados do ópio.
Um
fato surpreendeu os pesquisadores: um sentimento tão complexo envolve a
ativação de uma área total relativamente pequena do cérebro - mas a
quantidade de áreas ativadas reporta a uma complexa rede de
funcionamento integrada, cuja compreensão deve ser objeto de estudos
posteriores. Ao contrário de alguns sentimentos negativos, não há uma
área específica do cérebro responsável pela caracterização do amor
romântico.
Escolha do(a) parceiro(a)
No
processo inicial dos relacionamentos a visão procura parceiros que
apresentem beleza física; neste sentido, quanto maior a simetria das
formas corporais, maiores as chances de aceitação - sendo constatado,
por exemplo, que mulheres em ovulação ficam com as mãos, orelhas e
seios tornam-se mais simétricos; homens com o tronco triangular, ombros
largos e barriga e cintura magras são mais resistentes a vírus e
bactérias - gerando naturalmente um aspecto atrativo.
Na
escolha do parceiro a reprodução também dita as regras; em um
experimento pessoas foram levadas a escolher roupas que outras do sexo
oposto usaram por vários dias; o resultado foi que, ao cheirarem e
selecionarem aquelas que mais lhes tenham atraído, foram escolhidas as
que apresentavam uma maior diferença genética.[106]
Outro
experimento, contudo, levou a uma conclusão aparentemente contrária à
anterior: indivíduos apresentados, sem saber, a uma versão modificada
do próprio rosto como sendo do sexo oposto tenderam a escolhê-los como
"parceiro ideal" em meio a outros; isto se deve à busca por confiança,
que um rosto similar proporciona.
Processo neuro-químico da paixão
Estudos demonstraram que o indivíduo apaixonado ativa as seguintes estruturas cerebrais: núcleo caudado, área tegmental ventral e córtex pré-frontal, justamente as mais ricas nas substâncias endógenas de recompensa (com efeitos similares aos da morfina) - a dopamina e a endorfina; isto levou à conclusão de que o estar perto da pessoa amada leva a uma maior sensação de prazer e recompensa
Também estão associadas à sensação outras substâncias orgânicas: a feniletilamina (espécie de anfetamina natural); a noradrenalina, que serve para a fixação na memória dos fatos vividos; hormônios como oxitocina e vasopressina (presentes
no estabelecimento dos laços afetivos permanentes, como entre mãe e
filho) aumentam também durante a fase aguda do relacionamento, como a
preparar a pessoa para uma convivência duradoura.
A dopamina, liberada durante os orgasmos, tem o mesmo efeito de doses de cocaína ou heroína -
fazendo com que a pessoa sinta-se ainda mais ligada ao parceiro; por
outro lado, sua ausência num relacionamento torna-o mais frágil e
propenso à busca pelo prazer com outra pessoa
Alterações comportamentais
Algumas das substâncias envolvidas no amor, como o fator de crescimento neural (conhecido pela sigla em inglês NGF e
cujos efeitos foram publicados inicialmente em 2005), experimentam um
aumento substancial na fase aguda do relacionamento; já outras, como a serotonina, experimentam uma diminuição sensível, similar aos que sofrem de transtorno obsessivo compulsivo - o que explicaria o pensamento sem controle, a fixação no objeto amado e algumas atitudes insanas.
Se
na doença estes níveis permanecem alterados, no amor eles tendem a se
normalizar em semanas ou meses; se persistirem, os efeitos podem ser
danosos - donde a pesquisadora italiana Donatella Marazziti ter
afirmado que: “No auge, as alterações químicas são tão intensas e tão estressantes que, se durarem tempo demais, o organismo entra em colapso”.
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