Origem da lenda
Mula
sem cabeça é uma lenda que provavelmente teve sua origem
nos povos da Península Ibérica, trazida para a
América pelos portugueses e espanhóis. No Brasil a lenda
se espalhou na área rural, na zona canavieira do Nordeste e no
interior do Sudeste do país. No folclore mexicano a lenda da
mula sem cabeça é conhecida como Marola. Na Argentina
ficou conhecida com o nome de Mula Anima.
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História
É
a forma que toma a concubina do sacerdote. transforma-se em um forte
animal, de identificação controvertida na
tradição oral, e galopa, assombrando quem encontra.
Lança chispas de fogo pelo buraco de sua cabeça. Suas
patas são como calçadas com ferro. A violência do
galope e a estridência do relincho são ouvidas ao longe.
Às vezes soluça como uma criatura humana.
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O encanto desaparecerá quando alguém tiver a coragem de arrancar-lhe da cabeça o freio de ferro ou se alguém tirar uma gota de sangue com uma madeira não usada. Dizem-na sem cabeça, mas os relinchos são inevitáveis. Quando o freio lhe for retirado, reaparecerá despida, chorando arrependida, e não retomará a forma encantada enquanto o descobridor residir na mesma freguesia. A tradição comum é que esse castigo acompanha a manceba do padre durante o trato amoroso (J. Simões Lopes Neto, Daniel Gouveia, Manuel Ambrósio, etc.). Ou tenha punição depois de morta (Gustavo Barroso, O Sertão e o mundo). |
Existem outras versões para a origem da mula sem cabeça. Conta-se que, se uma mulher não deve dormir com o namorado antes do casamento, pois pode se enfeitiçada e virar uma mula sem cabeça. Essa versão está ligada às tradições das famílias que buscavam o controle dos relacionamentos amorosos de suas filhas. Era uma forma de mantê-las dentro dos padrões morais da época. |
A Mula sem cabeça corre sete freguesias em cada noite, e o processo para seu encantamento é idêntico ao do Lobisomem, assim como, em certas regiões do Brasil, para quebrar-lhe o encanto bastará fazer-lhe sangue, mesmo que seja com a ponta de um alfinete. Para evitar o bruxedo, deverá o amásio amaldiçoar a companheira, sete vezes, antes de celebrar a missa. Manuel Ambrósio cita o número de vezes indispensável, muitíssimo maior (Brasil Interior). Chamam-na também Burrinha de padre ou simplesmente Burrinha. A frase comum é "anda correndo uma burrinha". |
E
todos os sertanejos sabem do que se trata. Em um dos mais populares
livros de exemplos na Idade Média, o Scala Celi, de Johanes Gobi
Junior, há o episódio em que a hóstia desaparece
das mãos do celebrante porque a concubina assiste à missa
(Studies in the Scala Celi, de Minnie Luella Carter,
dissertação para o doutorado de Filosofia na Universidade
de Chicago, 1928). Gustavo Barroso supõe que a origem do mito
provenha do uso privativo das mulas como animais de
condução dos prelados, com registros no
documentário do século XII. |