BIOGRAFIA ZUZU ANGEL


Zuzu Angel

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Zuleika Angel Jonesnascida Zuleika de Souza Netto e conhecida como Zuzu Angel, (Curvelo5 de junho de 1921 — Rio de Janeiro14 de abril de 1976) foi uma estilista brasileira, mãe de Stuart Angel Jones, da jornalista Hildegard Angel e de Ana Cristina Angel Jones.
Personagem notória do Brasil da época da ditadura militar, ficou conhecida nacional e internacionalmente não apenas por seu trabalho inovador como estilista de moda mas também por sua procura pelo filho, militante, assassinado pelo governo e transformado em desaparecido político, em que enfrentou as autoridades da época e levou sua busca a se tornar conhecida no exterior.
Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade recebeu de Claudinho Antônio Guerra, ex-agente da repressão que operou como delegado do Departamento de Ordem Política e Social do Espírito Santo DOPS, a confirmação da participação dos agentes da repressão na morte de Angel. 


Biografia 

Moda 

Nascida em Curvelo, Minas Gerais, mudou-se quando criança para Belo Horizonte, onde começou a costurar e criar modelos, fazendo roupas para as primas,2 mudando-se depois para aBahia, onde passou a juventude. A cultura e cores desse estado influenciaram significativamente o estilo das suas criações. Pioneira na moda brasileira, fez sucesso com seu estilo em todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos.
Em 1947, foi morar na cidade do Rio de Janeiro e nos anos 50 iniciou seu trabalho como estilista, quando fazia roupas principalmente para alguns familiares próximos. No princípio dosanos 70, após muitos anos de costura e investindo um dinheiro que teve que juntar a vida toda, abriu uma loja de roupas em Ipanema.
Seu estilo misturava rendaseda, fitas e chitas com temas regionais e do folclore, com estampados de pássarosborboletas e papagaios. Zuzu também trouxe para a moda as pedras brasileiras, fragmentos de bambu, de madeira e conchas. 
Vestidos de Zuzu Angel em exposição sobre a trajetória da estilista, em Brasília. Foto: Luiz Murauskas /Ministério da Cultura
Trabalhando muito, com o tempo fez algumas amizades importantes no bairro e através de ajudas de pessoas ricas e bem intencionadas que reconheciam seu trabalho teve a oportunidade de expandir seus negócios e começou a realizar desfiles de moda nos EUA. Nestes desfiles, sempre abordou a alegria e riqueza de cores da cultura brasileira, fazendo sucesso no universo da moda daquela época. Suas roupas eram bem costuradas e muito coloridas, pois ela passou a, além de costurar, desenhá-las e pintá-las. O anjo, de seu sobrenome, passou a ser uma das marcas registradas de suas criações.3 Foi ela quem trouxe para o Brasil e popularizou no universo da moda nacional o termo "fashion designer". 
Nos anos 1940, Zuzu conheceu o americano Norman Angel Jones em Belo Horizonte, com quem iniciou um relacionamento amoroso e se casou em 1947. Após alguns anos juntos, foram para o Rio de Janeiro, mudando-se depois para Salvador, onde ela morou muitos anos. Lá, Zuzu engravidou e deu à luz seu filho, chamado Stuart Edgar.

Confronto com a ditadura 

Na virada dos anos 60 para os anos 70, Stuart Jones, filho de Zuzu e então estudante de economia, passou a integrar as organizações que combatiam a ditadura militar no Brasil, instaurada em 1964, filiando-se ao MR-8, grupo guerrilheiro de ideologia socialista do Rio de Janeiro. Preso em 14 de abril de 1971, Stuart foi torturado e morto pelo Centro de Informações da Aeronáutica (CISA) no aeroporto do Galeão e dado como desaparecido pelas autoridades. 
A partir daí Zuzu entraria em uma guerra contra o regime pela recuperação do corpo de seu filho, envolvendo os Estados Unidos, país de seu ex-marido e pai de Stuart. Como estilista, ela criou uma coleção estampada com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e motivos bélicos.6 O anjo, ferido e amordaçado em suas estampas, tornou-se também o símbolo do filho. Em setembro de 1971, ela chegou a realizar um desfile-protesto no consulado do Brasil em Nova York, tecnicamente território brasileiro, pois uma lei da ditadura militar impedia que brasileiros criticassem o país no exterior. Fazendo o desfile no consulado – que foi pego de surpreso pelo tema – ela não podia ser acusada de criticar o país fora dele. Em 15 de setembro daquele ano, sua luta chegava aos jornais internacionais, com a manchete no canadense The Montreal Star: "Designer de moda pede pelo filho desaparecido". Cinco dias depois era a vez do Chicago Tribune trazer a manchete "A mensagem política de Zuzu está nas suas roupas".  Uma filmagem deste desfile, de cerca de quatro minutos, feita pela rede norte-americanaNBC e nunca exibida antes, foi achada anos depois nos arquivos da TV Cultura de São Paulo e exibida na mostra "Ocupação Zuzu", inaugurada em São Paulo em 1 de abril de 2014, exatamente 50 anos depois do início governo militar que ela combateu após a morte de Stuart.
Suas roupas passaram a ser vendidas em lojas de renome como Bergdorf GoodmanSaks, Lord & Taylor, Henry Bendell e Neiman Marcus.  Com sua relativa notoriedade internacional, ela envolveu em sua causa celebridades de Hollywood que eram suas clientes, como Joan CrawfordLiza Minelli e Kim Novak,   e durante a visita de Henry Kissinger, então secretário de estado norte-americano, ao Brasil, em 1976, chegou a furar a segurança para entregar-lhe um dossiê com os fatos sobre a morte do filho, também portador da nacionalidade americana. Um ano antes já havia feito a mesma coisa, entregando um dossiê escrito em inglês à esposa do general Mark Clark, comandante das tropas aliadas no front italiano durante a II Guerra Mundial, que estava em visita ao Brasil, no Hotel Sheraton, em São Conrado, Rio de Janeiro, para que entregasse ao marido.  Seu caso também acabou chegando ao Senado dos Estados Unidos através de um discurso do senador Edward Kennedy, a quem Zuzu fez chegar a denúncia da morte do filho. 10 Com um destemor que beirava a temeridade, certa vez tomou da mão de uma aeromoça o microfone de bordo de um voo para anunciar aos passageiros "que desceriam no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, Brasil, país onde se torturavam e matavam jovens estudantes'.  
Foram anos em busca do corpo do filho, sem poder dar-lhe um enterro, pois o corpo de Stuart nunca foi encontrado e consta como desaparecido político brasileiro.  Mesmo depois de Stuart morto, o governo militar espalhava cartazes com o rosto de Stuart e o rótulo "Procurado".  


Morte 

A busca de Zuzu pelas explicações, pelos culpados e pelo corpo do filho só terminou com sua morte, ocorrida na madrugada de 14 de abril de 1976, num acidente de carro na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos (Estrada Lagoa-Barra), Rio de Janeiro, hoje batizado com seu nome. O carro dirigido por ela, um Karmann Ghia TC, derrapou na saída do túnel e saiu da pista, chocou-se contra a mureta de proteção, capotando e caindo na estrada abaixo, matando-a instantaneamente.  Está sepultada no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.
Uma semana antes do acidente, Zuzu deixara na casa de Chico Buarque de Hollanda um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse, em que escreveu:. "Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho". 
Em 1998, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos julgou o caso sob número de processo 237/96 e reconheceu-a como pessoa que, "por ter participado, ou por ter sido acusada de participação, em atividades políticas, tenha falecido por causas não-naturais, em dependências policiais ou assemelhadas".    Em seu relatório final publicado em 2007, a Comissão inseriu depoimentos de duas testemunhas oculares do acidente, sendo um deles prestado indiretamente, que afirmaram ter visto o carro do Zuzu ter sido fechado por outro e jogado fora da pista, caindo de uma altura de cerca de cinco metros.  
Em 2013, a organização independente Wikileaks vazou um documento do governo norte-americano datado de 10 de maio de 1976, que comentava a morte de Zuzu num desastre automobilístico e mostrava preocupação com o fato e sua repercussão no Brasil e no exterior, atentando que, "para qualquer um familiar com o trânsito e em especial os túneis do Rio de Janeiro a hipótese de acidente não seja estranha", embora a hipótese de que possa ter havido "jogo sujo" por parte de forças de segurança não esteja acompanhada de evidências e seja até mesmo esperada, a hipótese não poderia ser descartada.  
Em 2014, Cláudio Antônio Guerra, ex-agente da repressão que operou como delegado do Departamento de Ordem Política e Social do Espírito Santo DOPS escreveu o livro Memórias de uma Guerra Suja, no qual relata diversos crimes dos quais participou e fornece detalhes de fatos históricos daquela época que incluem o Atentado do Riocentro, a morte de Zuzu Angel, a morte do delegado Sérgio Fleury, atentados à bomba à sede da OAB e a redações de jornais e revistas.  Guerra apontou para a presenca do coronel do Exército Freddie Perdigão, agente da repressão e torturador conhecido, em foto do local do acidente que matou a estilista tirada em 14 de abril de 1976. Para a Comissão da Verdade, a foto comprova envolvimento de militares na morte de Zuzu Angel. A foto foi publicada na edição do GLOBO no dia do desastre mas Perdigão não havia sido identificado. 

Na cultura popular 

Depois de sua morte, Zuzu foi homenageada em livrosmúsica e filme. O mesmo Chico Buarque compôs, sobre melodia de Miltinho (MPB4), a música Angélica, em 1977, em homenagem à estilista.  Em 1988, o escritor José Louzeiro escreveu o romance Em carne viva, com personagens e situações que lembram o drama de Zuzu Angel. 
Em 1993, a filha de Zuzu, a jornalista Hildegard Angel, criou o Instituto Zuzu Angel de Moda do Rio de Janeiro, em memória da mãe.  Em 1999 foi homenageada pela escola de samba carioca Em Cima da Hora no Grupo A, com enredo Quem é Você, Zuzu Angel?. Em em 2000, Zuzu foi homenageada pela escola de samba carioca União da Ilha do Governador, com o enredo "Pra não dizer que não falei das flores", então representada por sua filha Hildegard Angel. Também, O túnel que fica localizado  no município do Rio de Janeiro foi registrado em homenagem à estilista mineira Zuzu Angel.
Em 2006, o cineasta Sérgio Rezende dirigiu Zuzu Angel, filme que retrata a vida da estilista, protagonizada por Patrícia Pillar e com Daniel de OliveiraLuana PiovaniPaulo BettiJuca de Oliveira e Elke Maravilha, entre outros, no elenco.

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