Triste Fim de Policarpo Quaresma


Triste Fim de Policarpo Quaresma
Triste Fim de Policarpo Quaresma é um romance do pré-modernismo brasileiro e considerado por alguns o principal representante desse movimento.
Escrito por Lima Barreto, foi levado a público pela primeira vez em folhetins, publicados, entre Agosto e Outubro de 1911, na edição da tarde do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro. Em 1915, também no Rio de Janeiro, a obra foi pela primeira vez impressa em livro, em edição do autor.

O romance discute principalmente a questão do nacionalismo, mas também fala do abismo existente entre as pessoas idealistas e aquelas que se preocupam apenas com seus interesses e com sua vida comum. Com uma narrativa leve que em alguns pontos chega a ser cômica, mas sempre salpicada de pequenas críticas a vários aspectos da sociedade, a história se torna mais tensa apenas quando o autor analisa a loucura e no seu final, quando são feitas duras críticas ao positivismo e ao presidente Floriano Peixoto (1891-1894).

Além de fazer uma descrição política do país no início da República, a obra traça um rico painel social e humano dos subúrbios cariocas na virada do século. Aposentados, profissionais liberais, moças casadoiras, carreiristas, músicos, donas de casa, o mulato - esse é o universo retratado por Lima Barreto na obra. Destacam-se, nesse conjunto, as personagens Ismênia, que, tendo sido educada para o casamento, enlouquece quando abandonada pelo noivo; Olga, sobrinha de Policarpo, que difere da maioria das mulheres por ser mais independente; e o violonista e cantor de modinhas Ricardo-Coração-dos-Outros, amigo de Policarpo.

O autor optou por escrever a narrativa numa linguagem próxima à informal falada entre os cariocas. Ela se desenvolve em torno de Policarpo Quaresma, brasileiro extremamente nacionalista, e é dividida em três partes, cada uma contendo cinco capítulos.

A Epígrafe 

original em francês    
"Le grand inconvénient de la vie réelle et qui la rend insupportable à l'homme supérieur, c'est que, si l'on y transporte les principes de l'idéal, les qualités deviennent des défauts, si bien que fort souvent l'homme accompli y réussit moins bien que celui qui a pour mobiles l'égoïsme ou la routine vulgaire.

 Primeira parte 
A primeira parte da obra se desenrola na cidade do Rio de Janeiro, logo após a proclamação da república brasileira.Buscando saídas políticas, econômicas e culturais para o Brasil, Policarpo passa grande parte de seu tempo enfiado nos livros, pelo que é criticado por parte da vizinhança que não consegue aceitar que alguém sem titulação acadêmica possa possuir livros - uma crítica ao academicismo, muito presente na obra de Lima Barreto - e que o critica ainda mais quando ele decide aprender a tocar um instrumento mal visto pela burguesa sociedade carioca da época, o violão, por considerá-lo um representante do espírito popular do país.E é no aprendizado do instrumento que conhece aquele que será seu grande amigo no correr do romance, o seresteiro Ricardo Coração dos Outros, contratado para lhe ensinar. Porém, cedo, Policarpo se desencanta pelo violão - e pelo folclore - e parte em busca das tradições genuinamente nacionais: as indígenas.

Tal aprendizado leva a alguns momentos cômicos - como quando Policarpo recebe a afilhada e o compadre aos prantos - e à tragédia da loucura: após ter sugerido à assembleia legislativa republicana a adoção do tupi como língua oficial - e ser motivo de chacota de toda a imprensa e dos colegas de repartição -, Policarpo redige, distraído, um documento oficial naquela língua e termina, após uma elipse temporal, internado num manicômio.

Segunda parte 
Na segunda parte, são analisados os problemas enfrentados pela porção rural do país.
São e aposentado, Policarpo vende sua casa e compra, por sugestão da afilhada Olga, um sítio na fictícia cidade de Curuzu, denominado Sossego e onde ele passa a tentar provar a decantada fertilidade do solo brasileiro.
Com a ajuda do empregado Anastácio, Policarpo luta contra saúvas, ervas daninhas e outras pragas na tentativa de incentivar a iniciativa agrícola em outras pessoas e ajudar no crescimento econômico do Brasil e do mundo inteiro. Mas além disso, Policarpo continuava a lutar contra a opinião pública e as autoridades.

A fertilidade do solo, no entanto, não se comprova na prática, e sua plantação gerou pouquíssimos lucros, por causa da peste negra e da chuva de areias. Para piorar, Policarpo viu-se envolvido, involuntariamente, na luta política da cidade, sendo atacado com multas e difamações por gregos e troianos, tudo por causa de sua suspeita (para os locais) neutralidade.
Ao saber sobre a Revolta da Armada, nosso protagonista "pede energia" em telegrama ao Presidente Floriano Peixoto e segue para o Rio de Janeiro para dar apoio ao regime e sugerir reformas que mudassem a situação agrária. no entanto

Terceira parte
Última e mais tensa parte do livro, narra as andanças de Policarpo pela Capital Federal durante a revolta da Armada e mostra sua desilusão final. Há aqui uma crítica feroz aos positivistas que apoiavam a Primeira República.
Chegando ao Rio, Policarpo é bem recebido por Floriano Peixoto, que, no entanto, dá pouca atenção às suas propostas de reforma.
Decidido a lutar pela República, Policarpo é então incorporado a um batalhão, o "Cruzeiro do Sul", com o posto de major, embora não tivesse qualquer experiência militar prévia.
Encarregado de um pelotão de artilharia improvisado com voluntariados à força - como seu amigo Ricardo Coração dos Outros -, Policarpo deveria rechaçar investidas dos marinheiros às praias cariocas.

A revolta criava ao mesmo tempo tensão - devido a prisões e violências arbitrárias - e oportunidades de ascensão social e empregatícia a cupinchas e puxa-sacos. Policarpo, enquanto isto, percebe que suas propostas não eram levadas a sério - é chamado, de forma um tanto irônica, de visionário pelo indolente Marechal de Ferro Floriano Peixoto - e desilude ainda mais quando, tendo entrado em combate, acaba por matar um dos revoltosos.
Finda a revolta e encarregado de cuidar de um grupo de prisioneiros, Policarpo chega à conclusão de que a pátria, à qual ele sacrificara sua vida de estudos, era uma ilusão.
Seu destino é selado quando, após presenciar a escolha arbitrária de prisioneiros a serem executados, ele escreve uma carta a Floriano Peixoto denunciando a situação: o maior patriota de todo o livro é injustamente preso, acusado de traição.

Ricardo Coração dos Outros, inteirado da situação, procura todos os antigos amigos e conhecidos de Policarpo para ajudá-lo, mas todos se recusam por medo ou ganância, com exceção da afilhada, Olga, que, no entanto, parece incapaz de fazer qualquer coisa pelo padrinho a quem admira tanto.
No final deste livro, Policarpo, devido às suas críticas, é preso e condenado ao fuzilamento, por ordem do presidente Floriano Peixoto sob a acusação de traição.

 Conclusão 
Policarpo teve, em sua vida, três projetos para o Brasil (nenhum dá certo): O primeiro foi linguístico, em que ele tenta mudar a língua falada no país para o tupi; o segundo foi agrícola, em que compra um sítio e tenta plantar nele - já que, para ele, as terras do Brasil são as mais férteis -, o que também não dá certo (as pragas e saúvas prejudicam seu negócio e não há retorno financeiro suficiente para o reinvestimento nas plantações); o terceiro, que acarretou maior decepção, foi o político, em que ele participa da guerra, vira carcereiro e lá vê oficiais matando prisioneiros. Policarpo, ingênuo, manda uma carta a Floriano Peixoto e é preso e acusado de traição à pátria e isso acarreta a sua morte injusta.

 Filme 

Intitulado Policarpo Quaresma, Herói do Brasil, o filme de 1998 tem roteiro de Alcione Araújo e foi dirigido por Paulo Thiago. Embora respeitando em linhas gerais o enredo de Lima Barreto, esta adaptação toma algumas liberdades (como criar uma relação amorosa entre Policarpo e Ismênia e mostrar o fuzilamento final do protagonista, que não é descrito no livro) e satiriza aspectos da política brasileira atual, como quando um grupo de sem-terras invade o sítio do Major Quaresma, "Sossego" na cidade de Cazuru.

MAIS SOBRE O PERSONAGEM
Major Policarpo Quaresma era como era conhecido. Vivia no Rio de Janeiro e sua irmã morava junto com ele. Tratava-se de um homem extremamente patriota, fiel e adorador de do Brasil. Na vizinhança achavam graça dele, de como pontualmente chegava em casa sempre à mesma hora e como ficava horas em meio a livros estudando sem ser formado em faculdade alguma.


A última história que comentavam era a visita que ele recebia de Ricardo Coração dos Outros. Tratava-se de um músico, apaixonado pelo violão e que vinha ensinar a Quaresma a arte de tocar tal instrumento.


Tinha dentre as relações de sua casa o General, seu vizinho. Este tinha uma filha noiva que esperava ansiosamente pelo seu casamento, bastando apenas que o noivo concluísse sua faculdade de Odontologia. Tinha ainda um rico italiano e sua filha, de quem era padrinho.

Quaresma, nacionalista como era, estudando os nativos do país, acreditou que o mais certo fosse que todos na pátria falassem tupi. Assim aprendeu a língua e levou às autoridades o seu ideal! Como era de se esperar, tornou-se motivo de riso e escárnio. Mas o máximo de tudo foi quando irritado, sem sequer notar, escreveu um dos documentos públicos todo na língua dos nativos.

Depois disso restou a Quaresma ser levado ao hospício! Lá ficou por um bom período, e recebia visitas de sua afilhada e seu pai e de Coração dos Outros; sua irmã não ia muito bem para lhe fazer visitas.Ao final de sua “estadia” no hospício, tomou um conselho que lhe foi dado. Comprou um pedaço de terra e foi viver de agricultura no interior. Seu forte sentimento nacionalista o enchia de esperanças, como a terra fértil do Brasil lhe seria bastante para viver e como uma reforma na agricultura do país poderia ocorrer...

Os projetos eram muitos, mas Quaresma teve que ver a verdade. Lucros pequenos, as demais terras todas mal tratadas e as malditas formigas. 
Neste tempo, sua afilhada se casara com um egocêntrico médico e a filha do coronel, seu vizinho, sofria com o noivo, que fora para o interior e nunca mais mandara notícias.
Foi então que uma rebelião nasceu. Quaresma prontamente se ofereceu a serviço da pátria e foi feito de fato major. Coração dos Outros também teve que lutar a serviço do país, no entanto fora quase que obrigado.

Por um longo tempo Quaresma ficou sem ver sua irmã, esta ficara nas terras dele no interior que, sem sua supervisão e amor, já se tornava como as demais terras abandonadas – o ajudante que tinha não sabia levar o trabalho de forma que rendesse.Ao decorrer da rebelião, a filha do coronel, sempre presa na idéia do casamento e de ter sido abandonada, abalou-se profundamente e o desespero levou-a à loucura e posteriormente à morte. Nesse tempo Quaresma pôde ver como se iludira com o Brasil e acima de tudo com os seus governantes.

Seu último ato, já findada a rebelião, foi escrever uma carta às autoridades do país, onde declarou tudo o que pensava a respeito do Brasil, suas vantagens, suas chances de glória e seu governo que o afundava. A conseqüência foi ser levado preso, sem chances de defesa. Ricardo Coração dos Outros procurou ajuda, mas todos só afirmavam que o louco do Quaresma não tinha chances, e ainda a afilhada tentou salvá-lo. Por fim, concluíram que era mais digno ao Major Policarpo Quaresma aquele fim.
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