Liev TolstóiLev Nikolayevich Tolstoi, mais conhecido em português como Leon, Leão ou Liev Tolstoi (em russo: Лев Николаевич Толстой; Yasnaya Polyana, 9 de setembro de 1828 — Astapovo, 20 de novembro de 1910) foi um escritor russo. |
Além
de sua fama como escritor, Tolstoi ficou famoso por tornar-se, na
velhice, um pacifista, cujos textos e ideias contrastavam com as
igrejas e governos, pregando uma vida simples e em proximidade à
natureza.
Junto a Dostoiévski, Turgueniev, Gorki e Tchecov, Tolstoi foi um dos grandes mestres da literatura russa do século XIX. Suas obras mais famosas são Guerra e Paz, sobre as campanhas de Napoleão na Rússia, e Anna Karenina, onde denuncia o ambiente hipócrita da época e realiza um dos retratos femininos mais profundos e sugestivos da Literatura.
Morreu aos 82 anos, de pneumonia, durante uma fuga de sua casa, buscando viver uma vida simples.
|
BiografiaInfância e juventude
Liev Nicolaevitch, conde de Tolstoi , nasceu em Yasnaya Polyana (nome da sua casa), que se localiza a 12 km de Tula e a 200 km de Moscovo. Era filho de Nicolas Ilyitch, conde de Tolstoi e de Maria Nicolaevna, princesa de Volkonsky.
Com
a morte prematura dos pais, foi educado por preceptores. Em 1851, na
juventude, o sentimento de vazio existencial levou-o a alistar-se no
exército da Rússia. Tal experiência colaboraria para que, mais tarde,
se tornasse pacifista.
Durante
esta época de sua juventude, Tolstoi bebia muito, perdia muito dinheiro
no jogo e dedicava muitas noites a ter encontros com prostitutas. Mais
tarde, o velho escritor repudiaria esta fase de sua vida.
|
Vida adulta
No
final da década de 1850, preocupado com a precariedade da educação no
meio rural, Tolstoi criou em Iasnaia Poliana uma escola, para filhos de
camponeses. O escritor mesmo escreveu grande parte do material didático
e, ao contrário da pedagogia da época, deixava os alunos livres, sem
excessivas regras e sem punições.
Em 1862, casou-se com Sophia Andreievna Bers,
com quem teve 13 filhos. Durante 15 anos, dedicou-se intensamente à
vida familiar. Porém, o casamento com Sophia seria repleto de
distúrbios e brigas. Foi nessa época que Tolstoi produziu os romances
que o celebrizaram - "Voina i mir" (Guerra e Paz - 1865/1869) e Anna
Karenina. O primeiro consumiu sete anos de trabalho e ambos são
considerados grandes obras da literatura mundial.
Embora
extremamente bem-sucedido como escritor e famoso mundialmente, Tolstoi
atormentava-se com questões sobre o sentido da vida e, após desistir de
encontrar respostas na filosofia, na teologia e na ciência, deixou-se
guiar pelo exemplo da vida simples dos camponeses, a qual ele
considerou ideal. A partir daí, teve início o período que ele chamou de
sua "conversão".
|
Conversão
Seguindo ao pé da letra a sua interpretação dos ensinamentos cristãos, Tolstoi encontrou o que procurava, cristalizando-se então os princípios que norteariam sua vida a partir daquele momento.
O
cristianismo do escritor recusou a autoridade de qualquer governo
organizado e de qualquer igreja. Criticou também o direito à
propriedade privada e os tribunais e pregou o conceito de
não-violência. Para difundir suas ideias Tolstoi dedicou-se, em
panfletos, ensaios e peças teatrais, a criticar a sociedade e o
intelectualismo estéril. Tais ideias postas tão explicitamente causaram
confusão nos fãs do famoso escritor e influenciariam um importante
admirador: Gandhi, nesta época ainda na África.
|
Após sua "conversão", Tolstoi deixou de beber e fumar, tornou-se vegetariano e passou a vestir-se como camponês. Jaime de Magalhães Lima que visitou e correspondeu-se com Tolstoi escreveu: “Leão
Tolstoi foi um adepto e um apóstolo do vegetarismo. E não é pouco nem
insignificante que um tal espírito e tão sublimado coração perfilhasse
e praticasse essa doutrina, que a inércia moral e o poder do vício
desprezam ou escarnecem na cegueira própria da sua particular
estreiteza.”3Convencido
de que ninguém deve depender do trabalho alheio passou a limpar seus
aposentos, lavrar o campo e produzir as próprias roupas e botas. Suas
ideias atraíram um séquito de seguidores, que se denominavam
"tolstoianos". Decidiu abrir mão de receber os direitos autorais dos
livros que viria a escrever, só voltou a querer utilizar este dinheiro
quando precisou angariar fundos para transportar para o Canadá uma
comunidade de camponeses perseguidos pelo governo.
Tolstoi
chegou a ser vigiado pela polícia do czar. Devido a suas ideias e
textos, foi excomungado pela Igreja Ortodoxa russa, em 1901. Alguns de
seus amigos e seguidores foram também exilados. Tolstoi somente não foi
preso porque era adorado em todo o mundo como um dos maiores nomes da
arte de seu tempo.
|
Tolstoi,
porém, não conseguia alcançar a simplicidade em que acreditava. Sua
família, especialmente a mulher Sophia, cobrava-lhe os luxos e riquezas
aos quais estavam acostumados. Os filhos davam razão a mãe, a quem
Tolstoi amava e que ameaçava se matar quando o escritor fazia menção de
abandonar a casa.
Sophia,
que havia lhe dedicado a vida, cobrava que o escritor deixasse para
ela, em testamento, os direitos autorais das obras que fez na fase
final de sua vida. Tolstoi, por sua vez, elaborou um testamento
secreto, no qual passaria todos os direitos autorais a um tolstoiano de
nome Chertkov, que tornaria sua obra pública.
Aos
82 anos de idade, Tolstoi decide, enfim, fugir de casa e abandonar a
família para largar aquela vida na qual ele não mais acreditava,para
levar uma vida simples e feliz sem riqueza.
|
Morte
Durante
alguns dias a fuga foi um sucesso. Nos trens e nas estações por que
passava, Tolstoi era reconhecido por todos, já que era o homem mais
famoso da Rússia. Porém, devido a sua preferência em viajar em vagões
de terceira classe, onde havia frio e fumaça, o já debilitado escritor
contraiu uma pneumonia, que foi agravando rapidamente. No dia 20 de
novembro de 1910, o velho escritor morreu durante a fuga, de pneumonia,
na estação ferroviária de Astapovo, província de Riazan.1
O trem funerário que trazia seu corpo foi recebido por camponeses e operários que viviam próximos à propriedade dos Tolstoi.
Seu caixão foi carregado seguido por uma multidão de 3 a 4 mil pessoas.1 O
número teria sido ainda maior se o governo de São Petesburgo não
tivesse proibido a vinda de trens especiais de Moscou para o enterro do
escritor. Sua morte foi noticiada nos principais jornais do mundo.
Encontra-se sepultado em sua casa em Yasnaya Polyana, Oblast de Tula na Rússia.4
|
IdeaisProximidade com o anarquismo
Para
Tolstoi, os Estados, as igrejas, os tribunais e os dogmas eram apenas
ferramentas de dominação de uns poucos homens sobre outros, porém
repudiava a classificação de seus ideais como sendo anarquistas. Foi citado pelo escritor anarquista russo Piotr Kropotkin no artigo Anarquismo da Enciclopédia Britânica de 1911 e alguns pensadores o consideram como um dos nomes do Anarquismo cristão. Outra aproximação com o anarquismo se deu em 1862, quando Tolstoi, em viagem pela Europa, visitou o autor anarquista Proudhon.
Este estava a escrever um texto chamado "La guerre et la paix", cujo
título Tolstoi propositalmente utilizou em seu maior romance.
O
escritor não acreditava em guerras e revoluções violentas como solução
para quaisquer problemas, mas sim em revoluções morais individuais que
levariam às verdadeiras mudanças. Afirmava que suas teses se baseavam
na vida simples e próxima à natureza dos camponeses e no evangelho e
não nas teorias sociais de seu tempo.
|
A busca pelo natural
Apesar
de afirmar ter-se convertido no último período de sua vida e de renegar
seus trabalhos mais famosos, encontram-se nestes mesmos textos diversas
referências sobre a busca do autor por uma vida simples e próxima à
natureza. Segundo o escritor George Woodcock em "A História das ideias
e movimentos anarquistas", em todos os romances que Tolstoi escreveu
quando mais novo, ele "considera a vida tanto mais verdadeira quanto
mais próxima da natureza".
Vários
foram os personagens criados nesta época que representavam o ideal de
vida simples e natural. Em "Os Cossacos" são os camponeses meio
selvagens de uma área remota do Cáucaso; Em Guerra e Paz é
o personagem Platão que é descrito no livro como a personificação da
verdade e da simplicidade: "Suas palavras e ações brotam dele com a
mesma espontaneidade que o aroma brota da flor". Em Anna Karenina outro
camponês, também chamado Platão, é o símbolo desta aspiração de Tolstoi.
Ainda
antes, na infância, Tolstoi alimentava, junto aos irmãos, um sonho de
fraternidade total. Eles acreditavam que o círculo fraterno que
formavam poderia ser expandido e englobar a humanidade inteira,
eliminando todos os problemas. O local onde esta utopia foi idealizada,
sob a sombra de uma árvore em um bosque da Rússia, é o local onde foi
enterrado Tolstoi, conforme ele pedira, e também mais um seu irmão.
|
Pacifismo
Tolstoi ficou famoso por ser um pacifista. Nas palavras de Gandhi,
com quem Tolstoi trocou correspondência, o escritor foi o maior
"apóstolo da não-violência". No livro "O Reino de Deus está em vós",
Tolstoi baseia-se no Sermão da Montanha para afirmar que não se deve resistir ao mal utilizando-se do próprio mal.
No
mesmo livro, continuando seu raciocínio pacifista, o escritor afirma
ser contrário ao serviço militar obrigatório (e ao militarismo como um
todo). Ele também defende e exalta povos como os Quakers, que buscam a simplicidade, a autonomia e não utilizam de violência.
|
Religiosidade sem dogmas
Foi excomungado pela Igreja Ortodoxa Russa, religião dominante
no seu país, depois de tanto criticá-la. O escritor entendia como
dogmas irracionais, que serviam para dominar o povo, alguns dos
conceitos mais caros à Igreja. Considerava e seguia a doutrina de
Jesus, mas achava impossível, por exemplo, que Jesus pudesse ser um
homem e Deus, ao mesmo tempo. Para Tolstoi, Deus estava nas próprias
pessoas e em suas ações e Jesus teria
sido, para ele, o homem que melhor soube exprimir uma conduta moral que
gerasse justiça, felicidade e elevasse espiritualmente a todos os
homens.
Seu
cristianismo exacerbado, no fim de sua vida, assemelhava-se ao
cristianismo primitivo. Em alguns trabalhos publicados, seus textos
foram muito mais longe que suas atitudes pessoais, como em "Sonata a
Kreutzer", que mostra uma tendência a exaltar o celibato, porém o
escritor ainda teve filhos depois desta obra. Pouco antes de sua morte,
seus amigos o aconselharam a se retratar com a Igreja, este porém,
recusou-se.
|
Obras mais relevantes
|
|