A AFIRMAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE DEUS PROVADA PELAS OBRAS DA CRIAÇÃO Por Bocage Bocage é um poeta muito maltratado. Esquece-se o seu melhor, que é a limpidez de intenções da sua última fase, a adesão sincera ao Cristianismo, o seu arrependimento alto e bom som proclamado: «Saiba morrer o que viver não soube!», «Rasga meus versos, crê na Eternidade!». Ao seu soneto intitulado «A existência de Deus provada pelas obras da criação», acrescenta-se, como um complemento, o «Hino a Deus». |
Os milhões de áureos lustres coruscantes Que estão da azul abóbada pendendo: O Sol e a que ilumina o trono horrendo Dessa que amima os ávidos amantes: As vastíssimas ondas arrogantes, Serras de espuma contra os céus erguendo, A leda fonte humilde o chão lambendo, Lourejando as searas flutuantes: O vil mosquito, a próvida formiga, A rama chocalheira, o tronco mudo, Tudo que há Deus a confessar me obriga: E para crer num Braço, autor de tudo, Que recompensa os bons, que os maus castiga, Não só da fé, mas da razão me ajudo. |
Pelo Visconde de Azevedo Do Visconde de Azevedo (21/1/1809-25/12/1876) escreveu Camilo que “tinha a singularidade fenomenal de ser sábio e rico”. Teve uma intervenção cultural variada e oportuna. Escreveu uma fundamentada e longa carta para prefaciar o livro de Camilo A Divindade de Jesus, que saiu em 1865, ano da Questão Coimbrã, e que refutava principalmente Renan; publicou outra carta dirigida ao seu amigo Alexandre Herculano a refutar a argumentação que ele aduzira contra o encerramento das Conferências do Casino; foi da sua iniciativa o primeiro Congresso dos Escritores Católicos, de que foi orador de abertura; colaborou no Dicionário de Inocêncio; etc. O seu livro Distracções Métricas foi colocado em linha pelo Google. Nele se encontra o soneto seguinte, escrito num período em que vários intelectuais portugueses se começavam a desviar não só da Igreja mas mesmo da crença em Deus. |
A EXISTÊNCIA DE DEUS Essa dos altos céus magnificência, A terra, o ar, o fogo, o mar salgado, O tempo inquieto e o espaço sossegado, De um Criador proclamam a existência. Em vão descrê e nega esta evidência Filósofo atrevido e desvairado, Que a si mesmo e a tudo o mais criado Busca no cego acaso a prima essência! Todos os seres, toda a natureza Mostram Autor eterno e sábio e forte, Que o vício odeia e que a virtude preza. Mas a sempre infeliz humana sorte Faz que somente a um Deus nega ou despreza Quem deve inda viver além da morte! |