DROGAS ALUCINÒGENAS


drogas alucinógenas
Com o nome de drogas alucinógenas denomina-se um conjunto de substâncias naturais ou sintéticas capazes de atuar sobre o sistema nervoso de uma forma ainda não muito bem conhecida. A classificação mais consensualmente aceita para tal classe de substâncias psicoativas foi proposta por Jean Delay que as classifica como Dislépticas (modificadoras) em oposição aos compostos moleculares ou moléculas cujo efeito pode ser considerado como Lépticos (estimulantes) e Analépticos (depressores). A utilização destas drogas com fins recreativos oferecem sérios riscos.
 Distorcem os sentidos e confundem o cérebro e afetam a concentração, os pensamentos e a comunicação. As drogas sintéticas, a exemplo do LSD, Anticolinérgicos e ecstasy Metilenodioximetanfetamina com um grau de pureza maior podem causar a confusão da noção de tempo e de espaço e causar um efeito similar ao sonho e às psicoses. Observe-se porém que nem todas as drogas que causam alucinações são consideradas alucinógenos, a exemplo da clássica visão dupla induzida pela intoxicação alcoólica ou por grandes doses de café tal como recentemente se constatou e foi amplamente divulgado.
As drogas alucinógenas, em Portugal, drogas alucinogénias, são assim chamadas por um de seus possíveis e mais relatados efeitos que é a propriedade de causar alucinações (falsas percepções) e visões irreais ou oníricas aos seus utilizadores. Outros nomes propostos também estão associados a efeitos atribuídos e relatados tais como: Psicotomiméticos e Psicotogênicos por induzir efeitos semelhantes à psicose (mais especificamente as alucinoses e alucinações) ou as causar; Psicodélicos por sua propriedade de fazer aparecer ou revelar a psique oculta; Enteógeno pelo reconhecimento antropológico de que tal classe de substâncias é frequentemente utilizado nas mais diversas culturas em rituais religiosos.
Esse último efeito atribuído também decorre da associação dessas substâncias à capacidade de facilitar a concentração ou meditação também descrita como expansão da consciência. No conjunto de alterações da consciência detectáveis por medidas do eletroencefalograma (eeg) situa-se na faixa das frequências alfa - a ou “sonhos lúcidos” entre a vigília plena e sono.No plano das interpretações psicológicas ou psicanalíticas situa-se entre os fenômenos de modificação das emoções e personalidade, superficialmente descritas como uma relação entre o ego e o mundo exterior/interior, análogo as interpretações que se dá ao satori zen–budista, efeitos da yoga ou transe das religiões de possessão africanas, gregas, indígenas entre outras.
Na descrição da categoria Psicodislépticos, Goodman & Gilman referem-se a efeitos estimulantes e depressores simultâneos em diferentes sistemas (circuitos) de neurotransmissores ou regiões do cérebro, incluem os anticonvulsivantes não barbitúricos e relaxantes da musculatura esquelética narcoanalgésicos e analgésicos e antitérmicos psicotogênicos.
Plantas & moléculas

O inventário de plantas (e elementos ativos) com propriedades alucinógenas proposto por Hofmann (apud: Fontana) inclui:

- Lophophora williamsii (mescalina) da América do Norte e Central;

- Rivea corymbosa - (Ergina) México (América Central)

- Amanita muscaria (Muscimol, ácido ibotênico). Europa, Irã e Ásia

- Psylocybe mexicana (Psilocina, Psilocibina) México A. Norte e Central

- Stropharia cubensis (Psilocina, Psilocibina) México Américas

- Peganum harmala (harmina) da Ásia e América do Sul;

- Banisteria caapi (Harmina, Harmalina) Amazônia / componente da Ayahuasca América do Sul;

- Piptadenia peregrina (Anadenanthera peregrina e Anadenanthera colubrina (Dimetiltriptamina) Orenoco / América do Sul;


A essa lista que originalmente inclui a Cannabis sativa (haxixe) da Ásia, acerca da qual existe grande controvérsia, assim como também é controversa a inclusão da muscarina – substância derivada do cogumelo Amanita muscaria. Quanto à ampliação dessa classificação, nesse grupo deve-se acrescentar um conjunto de outras plantas que contém a N,N-Dimetiltriptamina a saber: Psichotria viridis (Chacrona, Chacruna) utilizada em combinação com a B. caapi por diversos grupos indígenas da Amazônia a Virola calophylla (V. theidora, V. rufula, V. colophylla) o Epena também da Amazônia, a Jurema (Mimosa hostilis ou M. nigra) do nordeste brasileiro incluindo entre estas sapos do gênero Bufos (Bufo alvarius; Bufo marinus ou Cururu) que contém a bufotenina em suas secreções que por sua vez corresponde a uma variação molecular da dimetiltriptamina. Observe-se também que alguns autores discordam quanto a identidade da planta que seria o ololiuhqui dos astecas/toltecas e contém ácido lisérgico são comuns referências à Rivea coribosa e a Ipomoea violácea (glórias-da-manhã). Essa última também utilizada em preparados homeopáticos do tipo floral.
 Efeitos colaterais

Estudos antropológicos ou etnofarmacológicos com resultados consistentes sobre a utilização ritual e efeito dessas plantas ainda são incipientes. Mesmo os estudos de psicofarmacologia ainda não produziram resultados definitivos. Os relatos de psicose são escassos e se contrapõe as frequências observadas nas populações que tradicionalmente fazem uso. Estima-se para a esquizofrenia, por inquéritos epidemiológicos, uma incidência em torno de 1% em populações urbanas das diversas Américas.O mesmo pode ser dito quanto a segurança de uso para gestantes, ou seja, seu potencial mutagênico e teratogênico há referência à diminuição da quantidade mobilidade de espermatozóides e fertilidade feminina com o uso de maconha (Cannabis sativa) um planta que, para muitos autores, não deveria ser incluída nessa categoria de substâncias e há referências à efeito clastogênico (quebra de cromossomos) em pesquisa com LSD in vitro e aumento do número de abortos (Goth, Mota). Deve-se ressaltar que esses estudos são isolados e não há quaisquer estatísticas massivas para comprová-los.
 Mecanismos de ação

A semelhança das substâncias psicodélicas (como recomendamos designá-las no lugar de alucinógenas) com a Serotonina (5-HT) e Noradrenalina (NA) tem sido a maior pista para explicação do seu efeito. O LSD e a Psilocibina tem em comum a semelhança o núcleo indoletilamina da 5-HT e a Mescalina é um derivado da feniletilamina que por sua vez figura na NA. Contudo por ciclização, isto é fechamento da cadeia lateral, a mescalina pode gerar um composto semelhante a 5-HT. (Graeff; Barron et all)Estudos bioquímicos do composto da B. caapi e P. viridis presentes na bebida dos remanescentes indígenas do império inca a Ayahuasca ou Hoasca como é conhecida no Brasil apontam uma interação entre os inibidores da monoamina-oxidase I-MAO e o composto indólico.
 Farmacologia do DMT / Efeito ayahuasca

A NN,Dimetiltriptamina (DMT) foi sintetizado pela primeira vez em 1931 (Manzke), isolado de duas plantas distintas por investigadores independentes, em 1946 (Gonçalves) da Mimosa hostilis e em 1955 (Fish, Jonson and Horning) da Piptadenia peregrina.
O efeito da Jurema, Chacrona e outras plantas podem ser atribuídos presença pode ser atribuída a presença da O N,N-DMT ou N,N-dimethyltryptamine (C12H16N2). (Ott; Gomes)Estudando rapés epena (paricá) de uso mágico medicinal entre tribos do norte da amazônia (Tukano, Waika, Araibo, Piaroa e Surara) Holmsted e Lindgren (1967) revelaram a presença de triptaminas (5 Metoxi-N,N, Dimetiltriptamina [5Meo-DMT] e N,N-Dimetiltrptamina [DMT]) e, apenas em 1 amostra (o parica dos Piaroa da região do Orinoco da Venezuela), encontraram além do N,N-DMT, e 5-Meo-DMT a bufoteina 5-OH-DMT junto com o alcalóide beta-carbolínico harmina. Na época observaram que essa composição molecular de triptaminas e betacarbolinas atua sinergicamente para o efeito psicoativo “...as betacarbolinas são inibidoras da monoamina-oxidase e podem potencializar a ação de indóis simples.”... (Holmsted e Lindgren, 1967). Nessa concepção não basta a presença do anel indólico para se obter o efeito psicodélico ou psicodisléptico dos rituais xamânicos.


Psicotomiméticos e serotonina

LSD, Psilocibina e Mescalina, variam quanto ao tempo de ação, produzem tolerância e tolerância cruzada, não produzem dependência fisiológica, as duas últimas estão associadas a vômitos como efeito colateral. Esse último efeito pode estar relacionado a alta concentração de 5HT (90% do disponível no organismo) é encontrada nas células enterocromafins do trato gastrointestinal ou a uma ainda não bem conhecida interferência nos centros de vômito e postura do bulbo.Em grandes doses esse neuro-hormônio é sedativo, sua ação depressiva entretanto é bloqueada pela clorpromazina (Himwich). É antagonizado pelo LSD o que levou a elaboração de teorias serontoninérgicas sobre a esquizofrenia, contudo outros antagonistas da serotonina não são alucinógenos (himwich, Barron et all).Há pesquisas que diferenciam os efeitos do LSD e Psilocibina nos diversos receptores da 5-HT e estudos com pontes radioligantes e experimentos funcionais apontam para o efeito agonista dessa classe de substancias sobre a serotonina (receptores 5-HT1a e 5-HT2). (Brito)Segundo Graeff o LSD combina-se também com receptores da Dopamina reforçando por sua vez as hipóteses dopaminérgicas da esquizofrenia, pois diversos agentes antipsicóticos antagonizam competitivamente com a dopamina.


A depressão e os Distúrbios Obsessivos Compulsivos (DOC) também estão associados aos níveis de serotonina e ambos os quadros psicopatológicos tem sido tratados (farmacologicamente) de modo - nem sempre - eficiente com bloqueadores de recaptação sináptica (fluoxetina) que aumentam a serotonina ativa. O surgimento e a explosão de vendas de novos anti-depressivos/anti-psicóticos demonstram que há certo fracasso no tratamento de milhares de casos.
Pesquisas neuroetológicas associam os níveis desse neurotransmissor ao comportamento de liderança e agressividade. As funções da serotonina e seus diversos sítios receptores, portanto permanecem como o grande enigma para explicação do efeito psicodélico.
O sucesso da utilização de substâncias alucinógenas no tratamento de depressão, alcoolismo e outras drogadições tem explorado a compreensão dos sistemas bioquímicos referidos além dos efeitos psicossociais do contexto (set) de sua utilização ritual.


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