Autor de ficção científica Ray Bradbury morre aos 91
anos NOVA YORK, 6 Jun (Reuters) - Ray Bradbury, um gigante da
literatura norte-americana que ajudou a popularizar a ficção científica com
obras como "Crônicas Marcianas", morreu na terça-feira aos 91 anos, informou seu
editor nesta quarta-feira. Bradbury publicou mais de 500 obras, incluindo
"Fahrenheit 451", um romance clássico sobre a censura a livros em uma sociedade
do futuro, e outros favoritos, como "O Homem Ilustrado" e "Something Wicked This
Way Comes". "Bradbury morreu pacificamente, ontem à noite, em Los Angeles,
após uma longa doença", disse um porta-voz da sua editora, a
HarperCollins. e aqui como fan da ficçao cientifica e fan deste escritor que
encantou minha juventude com seus livros falando de foguetes e sensacionais
historias varias do imaginativo mas que muita coisa na ciencia hoje em dia
tornou-se realidade.
a biografia de ray. Waukegan, Illinois, 1920 - Los Angeles,
2012Ray Douglas Bradbury foi romancista e roteirista de televisão e
cinema.Nascido em 1920 em Illinois, ele se formou a partir de Los Angeles.Será
que o vendedor de jornais nas esquinas de Los Angeles 1938-1942, passando as
noites na biblioteca pública e os dias da máquina de escrever.Ele se tornou um
escritor em tempo integral em 1943.Muitas de suas histórias têm aparecido em
revistas antes de serem recolhidos em Dark Carnival em 1947.Sua reputação foi
estabelecida com a publicação de The Martian Chronicles em 1950 (publicado pela
Mondadori na Itália, sob o título The Martian Chronicles, em 1954, traduzido por
George Monicelli, homónimo e parente distante do diretor de Arnoldo Mondadori).A
partir do romance Fahrenheit 451, em 1953 (traduzido em Itália por Giorgio
Monicelli e publicado por Hammer em 1956 sob o título O ano do Phoenix) é
considerado sua obra-prima, François Truffaut foi um filme que se tornou um
cult.Na verdade, a obra nasceu como uma história na edição de fevereiro da
Galáxia 1951 intitulado The Fireman ("O Bombeiro").
Um par de anos mais tarde, Bradbury chegou a viragem no romance Fahrenheit
451.Entre suas outras obras: O jogo dos planetas (O Homem Ilustrado, 1951), País
de Outubro (O País de Outubro, 1955), The End of the Beginning (um medicamento
para Melancholy, 1959), A máquina da Felicidade (The Machineries da Alegria,
1964), I Sing the Body Electric! (Eu canto o corpo elétrico!, 1969), retornando
de pó (Do pó Devolvido, 2001), As Pessoas outono (Algo mau estamaneira vem, 1962), Constance contra todos (Vamos Todos
Constance Kill, 2002), O cemitério dos tolos, Tangerina, muito longe das
estrelas e viagem no tempo (o Convector Toynbee, 1988), todos publicados pela
Mondadori.Bradbury é considerado um dos principais pioneiros do gênero ficção
científica. Seus romances têm renovado o gênero a introduzir elementos de
denúncia e ópera juntos. Em seus planetas e galáxias em sua refletida,
distorcida por um olhar visionário, as memórias da infância perdida de uma
América, e os pesadelos de uma civilização tecnológica.Depois de receber uma
menção honrosa do Prêmio Pulitzer, Bradbury decidiu tornar público, em uma
entrevista com o Los Angeles Times, que o seu objetivo em escrever Fahrenheit
451 não foi para condenar a censura do governo, nem o senador McCarthy. O livro
representa sim uma crítica de televisão, culpado de destruir o interesse pela
leitura.Bradbury nos últimos anos tinha abrandado suas atividades, por motivos
de saúde, mas foi ainda permaneceu ativo, escrevendo novas histórias, peças de
teatro e um livro de poemas.Fontes: Enciclopédia de Literatura Garzanti;
catálogo histórico Arnoldo Mondadori Editore, Arnoldo e Alberto Mondadori
Foundation; Catálogo do Serviço de Biblioteca Nacional; fantascienza.comAbaixo:
Ray Bradbury fotografado em lugares onde nasceram os seus livros.
capa do livro e do filme inspirado
Em um Estado totalitário em um futuro próximo, os "bombeiros"
têm como função principal queimar qualquer tipo de material impresso, pois foi
convencionado que literatura um propagador da infelicidade. Mas Montag (Oskar
Werner), um bombeiro, começa a questionar tal linha de raciocínio quando vê uma
mulher preferir ser queimada com sua vasta biblioteca ao invés de permanecer
viva.
teve tambem um filme chamado o som do trovao e abaixo pra que tiver paciencia de ler o conto em sua
integra O SOM DO TROVAO O anúncio na parede parecia tremular sob uma película de água
quente. Eckels sentiu suas pálpebras estremecerem sobre seu olhar, e o anúncio
queimava, na momentânea escuridão: SAFARIS NO TEMPO, INC. SAFARIS PARA QUALQUER ANO DO
PASSADO VOCÊ DIZ QUE ANIMAL. NÓS O LEVAMOS LÁ. VOCÊ O ABATE. Uma flegma quente acumulou-se na garganta de Eckels; engoliu e
empurrou-a para baixo. Os músculos ao redor de sua boca formaram um sorriso
enquanto ele estendeu sua mão lentamente pelo ar, e naquela mão, balançava-se um
cheque de dez mil dólares, para o homem atrás da escrivaninha. — Este safári
garante que eu volte vivo? — Não garantimos nada — falou o funcionário —
exceto os dinossauros. — Voltou-se. — Este é o Sr. Travis, seu Guia, no safári
ao passado. Ele vai dizer-lhe o que e aonde atirar. Se ele disser para não
atirar, não se atira. Se desobedecer às instruções, há uma pesada multa de mais
de dez mil dólares, mais um possível processo do governo, quando
voltar. Eckels olhou, através do amplo escritório, numa completa confusão
disforme, de fios entrelaçados e caixas de aço zumbindo, para uma aurora que
agora reluzia laranja, então prateada, e então, azul. Havia um som como uma
descomunal pira queimando todo o Tempo, todos os anos e todos os calendários,
todas as horas empilhadas e incendiadas. Um toque da mão e esta queima,
instantaneamente, se reverteria lindamente. Eckels lembrou-se literalmente das
palavras da propaganda. De carvões e cinzas, da poeira e das brasas, como
salamandras douradas, os velhos tempos, os anos jovens, podem saltar; rosas
suavizando o ar; cabelo branco enegrecendo-se, rugas desaparecendo; tudo
,voltando totalmente à origem, fugir à morte, precipitar-se para o começo de
tudo, o sol nascendo nos céus ocidentais, e pondo-se gloriosamente no leste,
luas devorando-se a si mesmas no sentido oposto ao costumeiro, e tudo se
sobrepondo, como caixas chinesas, coelhos em cartolas, tudo e todos retornando à
morte viva, a morte da semente, a morte verde, ao tempo de antes do começo. O
toque da mão poderia fazê-lo, o mero toque da mão. — Inacreditável. — Eckels
respirava, com a luz da Máquina sobre seu rosto fino. — Uma verdadeira Máquina
do Tempo. — Abanou a cabeça. — É de fazer pensar. Se a eleição tivesse ido mal
ontem, eu poderia estar agora me afastando dos resultados. Felizmente Keith
ganhou. Será um bom presidente para os Estados Unidos. — Sim — falou o homem
por trás da mesa. — Temos sorte. Se Deutscher tivesse ganho, teríamos a pior
ditadura. Há sempre um homem anti-tudo, um militarista, um anti-Cristo,
anti-humano, anti-intelectual. O povo nos requisitou, sabe, como que brincando,
mas a sério. Diziam que se Deutscher se tornasse presidente, queriam viver em
1492. Claro, não é o nosso negócio conduzir Fugas, mas organizar Safáris. De
qualquer maneira, Keth é o presidente, agora. Tudo com que precisa preocupar-se
agora é... — Caçar meu dinossauro — Eckels acabou para ele. — Um
Tyranossaurus rex. O Lagarto Tirano, o monstro mais inacreditável de toda a
história. Assine este termo. O que quer que aconteça com você, não somos
responsáveis. Esses dinossauros são muito vorazes. Eckels animou-se, nervoso.
— Tentando assustar-me! — Francamente, sim. Não queremos que vá alguém que
entre em pânico ao primeiro tiro. Seis lideres de safári foram mortos no ano
passado, e uma dúzia de caçadores. Estamos aqui para dar-lhe a maior emoção que
um caçador de verdade jamais almejou. Mandá-lo de volta sessenta milhões de
anos, para pegar a maior caça de todos os tempos. Seu cheque ainda está aqui.
Pode rasgá-lo. O Sr. Eckels olhou para o cheque. Seus dedos
retorceram-se. — Boa-sorte — falou o homem atrás da escrivaninha. — Sr.
Travis, ele é todo seu. Moveram-se silenciosamente, atravessando a sala,
levando suas armas com eles, em direção à Máquina, rumo ao metal prateado e às
luzes gritantes. Primeiro, um dia e então uma noite e então um dia e então
uma noite, e então era dia-noite-dia-noite-dia. Uma semana, um mês, um ano. uma
década! 2 055 a. D., 2 019 a. D., 1 999! 1 957! Partida! A máquina
rugia. Puseram suas máscaras de oxigênio e testaram os
intercomunicadores. Eckels inclinou-se no assento estofado, rosto pálido,
maxilar enrijecido. Sentia o tremor em seus braços, olhou para baixo e achou
suas mãos firmes no novo rifle. Haviam quatro outros homens na Máquinas. Travis,
o líder do Safári, seu assistente, Lesperance, e mais dois outros caçadores,
Billings e Kramer. Sentavam-se olhando uns para os outros, e os anos ardiam à
volta deles. — Estas armas podem dar conta de um dinossauro? — Eckels sentiu
sua boca dizendo. — Se os acertar direito — disse Travis pelo rádio do
capacete. — Alguns dinossauros têm dois cérebros, um na cabeça e outro no fim da
espinha. Ficamos longe destes. É abusar da sorte. Atire as duas primeiras vezes
nos olhos, se puder, e cegue-os, e volte a atirar no cérebro. A Máquina
bramia. O Tempo era um filme passado ao contrário. Os sóis voavam e dez milhões
de luas, atrás deles. — Pense só — disse Eckels. — Todos os caçadores que jamais
viveram nos invejariam hoje. Isto faz a África parecer com o Illinois. A
Máquina desacelerou; seu grito caiu para um sussurro. A Máquina parou. O sol
parou no céu. A névoa que envolvera a Máquina dissipou-se e estavam num tempo
antigo, muito antigo mesmo, três caçadores e dois chefes de safári com suas
armas metálicas sobre os joelhos. — Cristo ainda não nasceu — disse Travis. —
Moisés ainda não foi à montanha, para falar com Deus. As pirâmides ainda estão
na terra, esperando para serem recortadas e montadas. Lembrem-se disso.
Alexandre; César; Napoleão; Hitler; nenhum deles existe. O homem fez que
sim. — Aquilo. — Apontou o Sr. Travis — é a selva de sessenta milhões dois
mil e cinqüenta e cinco anos antes do presidente Keith. Mostrou o caminho de
metal que cruzava o verde selvagem, sobre um amplo pântano, por entre fetos e
palmeiras. E aquele — disse — é o Caminho, colocado por Safáris no Tempo,
para seu uso. Flutua a seis polegadas acima da terra. Não toca senão no máximo
uma grama, flor ou árvore. É um metal antigravitacional. Seu propósito é evitar
que vocês toquem, de qualquer maneira que seja, este mundo do passado. Fiquem
no Caminho. Não saiam dele. Repito. Não saiam. Por qualquer razão que seja! Se
caírem, serão multados. E não disparem em nenhum animal que não
aprovemos. — Por quê? — perguntou Eckels. Sentaram-se, na floresta
antiga. Gritos distantes de pássaros vieram com o vento, e o cheiro de alcatrão
e de um velho oceano salgado, grama úmida, e flores da cor de sangue. — Não
queremos mudar o Futuro. Não pertencemos ao Passado. O governo não gosta de nós
aqui. Temos que pagar muita propina para garantir nossa licença. A Máquina do
Tempo é um negócio extremamente delicado. Sem saber, poderíamos matar um animal
importante, um pequeno pássaro, uma barata; mesmo uma flor, assim destruindo um
elo importante, numa espécie em evolução. — Isso não fica muito claro, —
falou Eckels. — Está bem — continuou Travis, — suponhamos que acidentalmente
matemos um rato, aqui. Isso quer dizer que todos as futuras famílias deste rato,
em particular, serão destruídas, certo? — Certo. — E todas as famílias das
famílias, daquele rato! Com um pisão de seu pé, você aniquila primeiro um, então
uma dúzia, então mil, um milhão, um bilhão de ratos, possivelmente! — Então
estarão mortos; e daí? — E daí? — Travis torceu o nariz. — Bem, e as raposas
que precisariam daqueles ratos para sobreviver? Para cada dez ratos a menos,
morre uma raposa. Para cada dez raposas a menos, um leão morre de fome. Para
cada leão a menos, insetos, abutres, infinitos bilhões de formas de vida são
lançados ao caos e à destruição. Eventualmente, tudo recai no seguinte:
cinqüenta e nove milhões de anos depois, um troglodita, um, de uma dúzia no
mundo inteiro, vai caçar javalis ou tigres de dentes de sabre para comer. Mas
você, amigo, pisou em todos os tigres daquela região. Pisando num só rato. Assim
o troglodita morre de fome. E este homem das cavernas, note bem, não é qualquer
um dispensável, não senhor! Ele é toda uma nação futura. Dele, teriam saído dez
filhos. E destes, mais cem, e assim por diante, até a civilização. Destruindo
este único homem, destrói-se uma raça, um povo, toda uma história. É comparável
a matar um neto de Adão. O pisão de seu pé, num rato, poderia principiar um
terremoto, cujos efeitos poderiam abalar nossa terra e destinos pelo Tempo
afora, até seus alicerces. Com a morte daquele troglodita, um bilhão de outros
ainda não nascidos são mortos no útero. Talvez Roma nunca se erga sobre suas
sete colinas. Talvez a Europa fique para sempre uma floresta espessa, e apenas a
Ásia cresça, forte e saudável. Pise num rato e esmagará as Pirâmides. Pise num
rato e deixará sua marca, como um Grand Canyon, pela Eternidade. A rainha
Elizabete poderá nunca nascer. Washington poderá não cruzar o Delaware, poderá
nunca haver Estados Unidos. Portanto, seja cuidadoso. Fique no caminho. Nunca
pise fora! — Percebo — comentou Eckels. — Então não poderíamos nem tocar a
grama? — Exato. Esmagar certas plantas poderia causar somas infinitesimais.
Um erro mínimo seria multiplicado por sessenta milhões de anos,
desmesuradamente. Claro, talvez nossa teoria esteja errada. Talvez o Tempo não
possa ser alterado por nós. Ou talvez só possa ser alterado de maneiras sutis.
Um rato morto aqui causa um desequilíbrio dos insetos ali, uma desproporção
populacional mais tarde, uma colheita má mais adiante, uma depressão, fome, e
finalmente uma mudança no temperamento social em países remotos. Algo muito mais
sutil, como isso. Talvez algo ainda muito mais sutil. Talvez apenas uma
respiração, um sussurro, um cabelo, um pólen no ar, uma mudança tão levezinha
que se olhasse atentamente, não notaria. Quem sabe? Quem pode dizer que
realmente sabe? Não sabemos. Estamos só adivinhando. Mas até que tenhamos
certeza, se nossos passeios pelo Tempo podem fazer um barulhão ou um barulhinho
na História, seremos cuidadosos.. Esta Máquina, este Caminho, suas roupas e
corpo, foram esterilizados, como sabem, antes da viagem. Usamos estes capacetes
de oxigênio de modo que não possamos introduzir bactérias nesta atmosfera
primitiva. — Como sabemos que animais abater? — Estão marcados com tinta
vermelha — explicou Travis. — Hoje, antes da viagem, mandamos Lesperance aqui
com a Máquina. Ele veio a esta época em particular e seguiu certos animais. —
Estudando-os? — Isso — falou Lesperance. — Sigo-os por toda sua vida,
observando quais vivem mais. Quantas vezes se acasalam. Poucas vezes. A sua
vida é curta. Quando vejo que algum vai morrer com uma árvore caindo em cima
dele, ou um que se afoga num poço de alcatrão, anoto a hora, minuto, e segundos
exatos. Disparo um revólver de tinta. Deixa uma marca vermelha em seus flancos.
Não podemos nos enganar. Então correlaciono com a chegada ao Caminho, de modo
que encontremos o monstro a não mais de dois minutos de sua morte, inevitável.
Desta forma, matamos apenas animais sem futuro, que nunca vão se acasalar de
novo. Vê como somos cuidadosos? — Mas se esta manhã você voltou no tempo,
deve ter cruzado conosco mesmos, nosso safári! Como nos saímos? Tivemos sucesso?
Conseguimos voltar todos... vivos? Travis e Lesperance entreolharam-se. —
Isso seria um paradoxo, — falou este último. — O tempo não permite esse tipo de
confusão; um homem encontrando a si mesmo. Quando há o risco de tais situações,
o tempo desvia-se. Como um avião passando por um vácuo. Sentiu a Máquina pular
antes de pararmos? Éramos nós passando por nós mesmos, a caminho do Futuro. Não
vimos nada. Não há meio de dizer se esta expedição teve sucesso; se pegamos
nosso monstro, ou se todos nós, isto é, o senhor, Sr. Eckels, saiu
vivo. Eckels sorriu, palidamente. — Parem com essa conversa — interrompeu
Travis. — Todos de pé! Estavam prontos para deixar a Máquina. A selva era
alta, a selva era larga, e a selva era todo o mundo, para sempre. Sons como
música, e sons como tendas voando, encheram o ar, e eram pterodátilos planando
com cavernosas asas cinzentas, morcegos gigantescos de delírio e febre noturna.
Eckels, equilibrado no estreito Caminho, apontou seu rifle, bem-humorado. —
Pare! — falou Travis. — Não aponte nem mesmo por brincadeira, idiota! Se a arma
dispara... Eckels enrubesceu. — Aonde está nosso Tyranossaurus? Lesperance
checou seu relógio de pulso. — Logo à frente. Vamos estar no caminho dele em
sessenta segundos. Atenção para a tinta vermelha! Não atire até que eu mande.
Fique no caminho. Fique no Caminho! Moveram-se adiante, pelo vento da
manhã. Estranho — murmurou Eckels. — Lá adiante, daqui a sessenta milhões de
anos, fim das eleições. Keith presidente. Todos celebrando. E aqui estamos,
perdidos num milhão de anos, e eles não existem ainda. As coisas que nos
preocuparam por meses, por uma vida inteira, nem nasceram nem foram
idealizadas, ainda. — Soltar as travas, todos! — ordenou Travis. Você dá o
primeiro tiro, Eckels, Billings o segundo, e Kramer o terceiro. — Já cacei
tigre, javali, búfalo, elefante, mas agora, isto é incomparável — disse Eckels.
— Estou tremendo como uma criança. — Ah — fez Travis. Todos
pararam. Travis ergueu a mão. — À frente — falou, em voz baixa. — Na
neblina. Lá está ele. Ali está Sua Majestade Real, agora. A selva era ampla,
e cheia de gorjeios, farfalhares, murmúrios e suspiros. Subitamente, tudo
cessou, como se alguém tivesse fechado a porta. Silêncio. Um som de
trovão. Da neblina, a cem jardas, vinha o Tyranossaurus rex. — É ele —
cochichou Eckels, — é ele... —Psss! Ele veio sobre grandes pernas, oleosas,
resilientes. Erguia-se a trinta pés, acima da metade das árvores, um grande deus
do mal, dobrando suas delicadas garras de relojoeiro perto de seu peito oleoso,
reptílico. Cada pata inferior era um pistão, mil libras de osso branco,
mergulhadas em grossas cordas de músculos, revestidas por um brilho de uma pele
pedregosa, como a malha de um terrível guerreiro. Cada coxa, uma tonelada de
carne, marfim, e aço trançado. E da grande gaiola arquejante da parte superior
do corpo, aqueles dois braços delicados pendurados para a frente, braços que
poderiam erguer e examinar os homens como brinquedos, enquanto se dobrava o
pescoço de serpente. E a cabeça mesmo, uma tonelada de pedra esculpida, erguida
com facilidade contra o céu. Sua boca escancarava-se, expondo uma cerca de
dentes como dardos. Seus olhos rolavam, ovos de avestruz, vazios de qualquer
expressão, exceto fome. Fechava a boca num sorriso da morte. Corria, seus ossos
pélvicos derrubando para os lados árvores e arbustos, seus pés, com garras,
afundando-se na terra úmida, deixando marcas de seis polegadas de profundidade
aonde quer que apoiasse seu peso. Corria com um passo deslizante de ballet,
muito aprumado e equilibrado para suas dez toneladas. Movia-se, cansado, numa
arena ensolarada, suas mãos lindamente reptilianas tateando o ar. — Ora,
vejam — Eckels torceu a boca. — Poderia esticar-se e pegar a lua. — Pssst! —
fez Travis, nervoso. — Ele ainda não nos viu. — Não pode ser morto. — Eckels
pronunciou seu veredito, quieto, como se não pudesse haver discussão. Tinha
avaliado a evidência, e era esta sua abalizada opinião. O rifle em sua mão
parecia uma arma de brinquedo. — Fomos loucos de ter vindo. Isto é
impossível. — Cale-se! — silvou Travis. — Pesadelo. — Dê meia volta —
comandou Travis. — Vá em silêncio para a Máquina. Podemos reembolsar-lhe metade
de sua passagem. — Não percebia como seria grande, — falou Eckels. — Avaliei
mal, foi isso. E agora, quero desistir. — Ele nos viu! Lá está a tinta
vermelha em seu peito! O Lagarto Tirano levantou-se. Sua carne de armadura
rebrilhava como mil moedas verdes. As moedas, com uma crosta de lama, ferviam.
No lodo, pequenos insetos esperneavam, de modo que todo o corpo parecia
retorcer-se e ondular, mesmo enquanto o monstro não se movia. Expirou. O cheiro
de carne crua foi soprado pelos ermos. — Deixe-me sair daqui — disse Eckels.
— Nunca foi como isto, agora. Eu sempre estava certo de que poderia sair vivo.
Eu tinha bons guias, bons safáris, e segurança. Desta vez, enganei-me. Encontrei
algo que me supera, e reconheço. É demais para eu enfrentar. — Não corra —
falou Lesperance. — Dê a volta. Esconda-se na Máquina. — Sim, — Eckels
parecia entorpecido. Olhou para seus pés, como que tentando fazê-los mover-se.
Deu um grunhido, incapaz. — Eckels! Deu alguns passos, piscando,
hesitante, — Não por aí! O Monstro, ao primeiro movimento, impulsionou-se
para a frente com um grito terrível. Cobriu cem jardas em seis segundos. Os
rifles ergueram-se rapidamente e iluminaram-se, com o fogo. Um vendaval da boca
da besta engolfou-os na fedentina do lodo, e sangue envelhecido. O Monstro
rugiu, dentes brilhando ao sol. Eckels, sem olhar para trás, caminhou
cegamente para a borda do Caminho, sua arma carregada frouxamente em seus
braços, saiu do caminho, e andou, inadvertidamente, pela floresta. Seus pés
afundaram em musgo verde. Suas pernas o carregavam, e ele se sentia só e
afastado dos eventos lá atrás. Os rifles dispararam de novo. O som perdeu-se
no grito e no trovão do lagarto. O grande volume da cauda do animal lançou-se
para cima, e para o lado. Árvores explodiram em nuvens de folhas e ramos. O
Monstro torceu suas mãos de joalheiro para acariciar os homens, para dobrá-los
ao meio, para esmagá-los, como frutinhas, para empurrá-los para seus dentes e
sua garganta ruidosa. Seus olhos, quais rochedos, estavam ao nível dos homens.
Viram-se espelhados. Dispararam nas pálpebras metálicas e na luminosa
íris. Como um ídolo de pedra, como uma avalanche de montanha, o Tyranossaurus
caiu. Trovejando, agarrou árvores, e puxou-as consigo. Agarrou e cortou o
Caminho. Os homens precipitaram-se para trás, e para longe. O corpo abateu-se,
dez toneladas de carne fria e pedra. Os rifles dispararam. O Monstro brandiu sua
cauda blindada, crispou suas mandíbulas de serpente, e imobilizou-se. Uma fonte
de sangue jorrava de sua garganta. Em algum lugar lá dentro, um saco de fluido
estourou. Borbotões nauseantes inundaram os caçadores. Lá estavam vermelhos,
brilhantes. O trovão dissipou-se. A selva estava silenciosa. Depois da
avalanche, uma paz verde. Depois do pesadelo, o amanhecer. Billings e Kramer
praguejavam pesadamente, com seus rifles ainda fumegando. Na Máquina do
Tempo, face abatida, Eckels tremia. Tinha conseguido voltar ao caminho, e
subira na Máquina. Travis chegou, olhou para Eckels, pegou gaze de algodão e,
virou-se para os outros, que estavam sentados sobre o Caminho. —
Limpem-se. Limparam o sangue de seus capacetes. Começaram a resmungar,
também. O Monstro jazia ali como uma montanha de carne. Dentro dele, podia-se
ouvir os sopros e murmúrios, enquanto seus recessos iam morrendo, os órgãos
parando de funcionar, líquidos circulan do um último instante, de saco para a
bolsa, para vesícula, tudo desligando-se, parando para sempre. Era como ficar
perto de uma locomotiva acidentada, ou uma escavadeira a vapor, no momento de
desligar, com todas as válvulas sendo desativadas. Ossos estalavam; a tonelagem
de sua própria carne, desequilibrada, peso morto, quebrava os delicados braços,
do lado de baixo. A carne se assentava aos tremores. Outro estalido. Mais
acima, um enorme galho de árvore partiu de sua pesada ancoragem, caiu. Golpeou
certeiramente a fera morta. — Pronto. — Lesperance verificou seu relógio. —
Bem na hora. Essa era a grande árvore que deveria cair e matar este animal,
originalmente. — Olhou para os dois caçadores. — Querem tirar a foto de
troféu? — Quê? — Não podemos levar o troféu para o Futuro. O corpo deve
ficar aqui, aonde deveria originalmente morrer, de modo que os insetos,
pássaros, e bactérias possam devorá-lo, como devem. Tudo equilibrado. O corpo
fica. Mas podemos tirar uma fotografia de vocês a seu lado. Os dois homens
fizeram força para pensar, mas desistiram, abanando as cabeças. Deixaram-se
guiar ao longo do Caminho de metal. Afundaram cansados, nos assentos da Máquina.
Olharam de novo para o Monstro arruinado, o montículo em estagnação, aonde já
estranhos pássaros reptilianos e insetos dourados estavam ocupados com a
fumegante armadura. Um som no chão da Máquina do Tempo deixou-os tensos.
Eckels estava lá, tremendo. — Lamento muitíssimo — disse. — Levante-se! —
gritou Travis. Eckels levantou-se. — Vá para o Caminho sozinho — falou
Travis, com seu rifle apontado. Não vai voltar para a Máquina. Vamos deixá-lo
aqui! Lesperance agarrou o braço de Travis. — Espere... — Fique fora
disto! — Travis desvencilhou-se de sua mão. — Este louco quase matou-nos. Mas
isso não é tanto assim. Vejam seus sapatos! Vejam! Ele saiu do Caminho. Isso
nos arruína! Seremos multados! Milhares de dólares de seguro! Garantimos que
ninguém deixa o Caminho, e ele o deixou. Ora, o louco! Terei de informar o
Governo Poderão cancelar nossa licença para viajar. Quem sabe o que ele fez
ao Tempo, à História! — Calma, tudo o que ele fez foi pisar em alguma
sujeira. — Como saber? — gritou Travis. — Não sabemos nada! É um mistério!
Saia, Eckels! Eckels mexeu em sua camisa. — Pago qualquer coisa. Mil
dólares! Travis olhou para o talão de cheques de Eckels e cuspiu. — Saia. O
Monstro está perto do Caminho. Afunde os braços até os cotovelos na boca dele.
Então poderá voltar conosco. — Isto é irrazoável! — O Monstro está morto,
seu idiota. As balas! As balas não podem ser deixadas para trás. Elas não
pertencem ao Passado; poderão mudar alguma coisa. Aqui está a minha faca.
Cave-as! A selva estava viva de novo, cheia de antigos tremores e do barulho
dos pássaros. Eckels voltou-se lentamente para olhar o monte de carniça
primordial, aquela montanha de pesadelos e terror. Depois de um longo tempo,
como um sonâmbulo, arrastou-se ao longo do Caminho. Voltou, tremendo, cinco
minutos depois, com seus braços ensopados e vermelhos até os cotovelos.
Estendeu as mãos. Cada uma segurava algumas balas de aço. Então caiu e ficou
lá, imóvel. — Você não precisava obrigá-lo a isso — comentou Lesperance. —
Não? É cedo ainda para dizer. — Travis tocou o corpo, com o pé. — Viverá. Da
próxima vez não vai sair para caçar este tipo de caça. OK. — Ergueu o polegar
para Lesperance. — Dê a partida. Vamos para casa. 1492 . 1776 . 1812
. Limparam suas mãos e faces. Trocaram de roupa. Eckels estava de pé de novo,
mudo. Travis olhou para ele por dez minutos. — Não olhe para mim, — exclamou
Eckels. — Não fiz nada. — Quem pode saber? — Apenas saí do Caminho, foi
tudo, um pouco de lama em meus sapatos; que quer que eu faça? Que me ajoelhe e
reze? — Talvez precisemos disso. Estou lhe avisando, Eckels! Posso matá-lo,
ainda. Minha arma está engatilhada. — Estou inocente. Não fiz nada! 1999 .
2000 . 2055 . A Máquina parou. — Saia — ordenou Travis. A sala lá
estava, tal como quando saíram. Mas não exatamente a mesma. O mesmo homem atrás
da mesma escrivaninha. Mas o mesmo homem não parecia estar sentado exatamente
atrás da mesma escrivaninha. Travis olhou em volta, depressa. — Tudo em ordem
por aqui? — foi logo perguntando. — Claro. Bem vindos ao lar! Travis não
relaxou. Parecia estar olhando para os próprios átomos do ar, e para o modo
pelo qual o sol entrava pela janela alta. — OK, Eckels, saia. E nunca mais
volte. Eckels não podia mover-se. — Ouviu-me, — falou Travis. — Para o quê
está olhando? Eckels ficou, cheirando o ar, e havia algo no ar, uma substância
tão tênue, tão sutil, que apenas um fraco aviso de seus sentidos subliminares
avisavam-lhe que estava ali. As cores, branco, cinza, azul, laranja, na parede,
na mobília, no céu, pela janela, eram... eram... E havia uma sensação. Sua carne
crispava-se. Ficou bebendo aquela estranheza com os poros de seu corpo. Em algum
lugar, alguém devia estar soprando naqueles apitos que só os cães podem ouvir.
Seu corpo gritava silenciosamente, em resposta. Além deste aposento, além desta
parede, além deste homem, que não era exatamente o mesmo homem que estava
sentado àquela mesa, que não era bem a mesma mesa... estava todo um mundo de
ruas e gente. Que espécie de mundo era agora, não havia como dizer. Ele podia
senti-los mover-se ali, além das paredes, quase, como peças de xadrez por um
vento quente... Mas a coisa mais imediata era o anúncio pintado na parede do
escritório, o mesmo que havia lido hoje ao entrar. De alguma forma, o anúncio
havia mudado: SEFARIS NU TENPO, INC. SEFARIS PRA QUALQUER ANO PAÇADO. CÊ
DIS QUI ANIMAU. NÔIS LEVAMOS CÊ LÃ. CÊOABAT. Eckels sentiu-se caindo numa cadeira. Ficou mexendo, como louco,
na lama em suas botas. Ergueu um pedaço de algo enlameado, tremendo. — Não, não
pode ser, não uma coisinha assim, não! Embebida na lama, brilhando em verde e
dourado e preto, havia uma borboleta, muito bela, e muito morta. Não uma
coisa assim! Não uma borboleta! — gritou Eckels. Caiu ao chão, uma coisa
exótica, pequena, que poderia desmanchar equilíbrios e derrubar uma fila de
dominós pequenos, e então grandes dominós, e então dominós gigantes, por todos
os anos através do Tempo. A mente de Eckels turbilhonava. Não podia mudar as
coisas. Matar uma borboleta não podia ser tão importante! Ou poderia? Seu
rosto estava frio. Sua boca hesitava, ao perguntar: — Quem... quem ganhou a
eleição presidencial ontem? O homem atrás da escrivaninha riu-se. — Está
brincando? Sabe muito bem. Deutscher, claro! Quem mais? Não aquele maluco
pusilânime do Keith. Temos um homem de ferro, agora, um homem de peito! — O
funcionário parou. — O que há de errado? Eckels gemeu. Caiu de joelhos.
Examinava a borboleta dourada com dedos trêmulos. — Não podemos — implorava ao
mundo, a si mesmo, aos funcionários, à Máquina. — Não podemos levá-la de volta,
não podemos fazê-la viver de novo? Não podemos recomeçar? Não
poderíamos... Não se moveu. Olhos fechados, esperou, abalado. Ouviu Travis
ofegando, na sala; ouviu Travis apontar o rifle, destravá-lo. Houve um som de
trovão.