o livro no brasil
História do livro no Brasil
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A História do livro no Brasil relata o desenvolvimento do acesso aos
recursos de editoração e de aquisição do livro no país, num período que
se estende desde o início da atividade editorial, durante a
colonização, até o mercado editorial atual, compreendendo a história
das editoras e livrarias que permitiram a acessibilidade moderna ao
livro.
Período Colonial
Acredita-se que a tipografia só foi introduzida nas colônias pelos
colonizadores, onde havia uma cultura autóctone altamente desenvolvida,
que o poder colonial desejava suplantar ou reprimir. Tal ideia é
defendida por Nelson Werneck Sodré[1] e outros. A tipografia, nos
primeiros dois séculos da colonização portuguesa e espanhola, foi em
parte um auxiliar da evangelização cristã, era implantada por
iniciativa clerical, tanto que sua produção era destinada às
necessidades do clero e das missões.
Os aborígines brasileiros, que
ainda permaneciam na Idade da Pedra, não tinham uma civilização que
precisasse ser superada pelos catequizadores, fato que contribuiu para
que não houvesse a necessidade imediata da tipografia. Quanto às
especulações de que os jesuítas tivessem trazido uma impressora com
eles, na verdade nunca surgiu qualquer indício de material impresso com
tal origem.
A
“História da Companhia de Jesus no Brasil”, de Serafim Leite,informa
que a biblioteca do Colégio Santo Inácio, no Morro do Castelo, Rio de
Janeiro, possuía alguns trabalhos impressos na própria casa por volta
de 1724, o que pode ter sido um engano, pois poderiam estar se
referindo a dois livros da época, “Vocabulário de la lengua guarany”,
de Antônio Luiz Restrepo (1722), e “Arte de la lengua guarany”, os
quais foram impressos numa região que atualmente é brasileira, mas que
na época pertencia ao Paraguai, Pueblo de Santa Maria la Mayor.
Na
maioria das colônias, as necessidades governamentais tornavam
imperativo aceitar a tipografia, e apenas na América portuguesa a
administração permaneceu tão elementar que a dispensava. Tal
necessidade só se tornaria iminente quando o governo da colônia
sofresse as transformações mediante o impacto da invasão napoleônica,
alguns anos mais tarde.
A
primeira tentativa efetiva de introduzir a tipografia no Brasil foi
feita pelos holandeses, durante o período em que ocuparam o nordeste
brasileiro, entre 1630 e 1650.
Durante
a ocupação holandesa, as negociações entre Pernambuco e Holanda
selecionaram um tipógrafo, Pieter Janszonon, como encarregado da
tipografia no Recife, mas consta que ele morreu logo que chegou ao
Brasil, em 3 de agosto de 1643.[4] Dois anos depois, a Companhia
Holandesa das Índias Ocidentais ainda procurava um tipógrafo, sem
conseguir. Na época, Maurício de Nassau já havia partido, e os
holandeses pressionados já não se preocupavam mais com o assunto.
INICIO DA ATIVIDADE
Cerca
de 60 anos depois, Recife teve a 1ª impressora do Brasil segundo os
historiadores Ferreira de Carvalho[5] e Pereira da Costa, mas o
tipógrafo é desconhecido. Serafim Leite, em “Artes e Oficinas dos
Jesuítas no Brasil”, relata que a impressora funcionou de 1703 a 1706,
e defende que o tipógrafo era um jesuíta, Antônio da Costa, mas não há
nenhuma prova, entretanto, da existência de tal impressora.No Rio de
Janeiro, em 1747, há provas definitivas de ter havido uma impressora,
através de folhetos impressos na época. O tipógrafo era Antônio Isidoro
da Fonseca, reconhecido tipógrafo de Lisboa, que vendera lá seu negócio
e viera para o Brasil. Isidoro tivera problemas em Lisboa, com a
inquisição, por ter sido o editor de “O Judeu”, Antônio José da Silva,
carioca nascido em 1703 de uma família de judeus convertidos, e que
acabou sendo queimado, posteriormente, num dos últimos autos de fé da
inquisição, em 19 de outubro de 1739. Na época, o governador do Rio de
Janeiro e de Minas Gerais, Gomes Freire de Andrade, estava interessado
em estimular a vida intelectual da cidade do Rio de Janeiro. Estimulou
a arte criando a Academia dos felizes, em 1736, que se tornou a
Academia dos Selectos em 1752, que se reunia no próprio Palácio do
Governo. Prova concreta da existência da tipografia foram um folheto,
de 1747, cuja autoria é atribuída a Luiz Antonio Rosado, e um volume
denominado “Hoc est Conclusiones metaphysicae de ente real, praeside R.
G. M. Francisco de Faria”, em 1747. Ainda há duas outras obras,
referentes ao bispo Antonio do Desterro Malheyro. Tão logo a notícia da
tipografia chegou a Lisboa, porém, houve ordem para fechá-la, por não
ter sido considerada conveniente, no momento, a impressão na
colônia.Isidoro voltou a Portugal, mas, após 3 anos, solicitou licença
real para instalar novamente sua impressora na colônia, no Rio de
Janeiro ou em Salvador, prometendo jamais imprimir sem as devidas
licenças civis e eclesiásticas, mas sua solicitação foi recusada.A
proibição de Portugal para a impressão no Brasil foi o fator que fez
com que todos os originais brasileiros passassem a ser publicados na
Europa ou a permanecer na forma de manuscritos. Há vários trabalhos
escritos por brasileiros e impressos, na época, em Portugal, entre eles
as poesias de Cláudio Manoel da Costa, trabalhos de José de Santa Rita
Durão, José Basílio da Gama (autor de “Uruguai”, de 1769), Tomás
Antônio Gonzaga (cuja obra Marília de Dirceu teve 4 edições em Lisboa
entre 1792 e 1800).Em 1792, havia apenas 2 livrarias no Rio de Janeiro,
e possivelmente uma das duas era de Paul Martim, natural de Tours e o
1º livreiro carioca. Seu filho, Paulo Martim Filho, manteve a livraria
funcionando até 1823. Os livros oferecidos eram, geralmente, de
medicina ou religião, e a maior parte dos livros que chegavam ao
Brasil, na época, era contrabandeada
CHEGADA DA FAMILIA REAL NO BRASIL
Em
1808, quando a família real, por pressão da invasão napoleônica,
transferiu-se para o Brasil, levou consigo 60 mil volumes da Biblioteca
Real. Instalados na nova capital, Rio de Janeiro, Dom João VI e seus
ministros criaram, entre os demais empreendimentos, a Biblioteca Real,
atual Biblioteca Nacional, criada em 1810. O impacto provocou um
aumento do número de livrarias, de 2 existentes em 1808 (as de Paulo
Martim e Manuel Jorge da Silva), para 5 em 1809 (além das anteriores,
somaram-se a de Francisco Luiz Saturnino da Veiga, Manuel Mandillo —
que após 1814 associou-se a José Norges de Pinho — e João Roberto
Bourgeois); 7 em 1812 (além das anteriores, Manuel Joaquim da Silva
Porto — que em 1815 associou-se a Pedro Antônio de Campos Bellos — e
José Antônio da Silva); 12 em 1816 (além das anteriores, Fernando José
Pinheiro, Jerônimo Gonçalves Guimarães, Fancisco José Nicolau Mandillo,
João Batista dos Santos), e em 1818, mais 3 (Antônio Joaquim da Silva
Garcez, João Lopes de Oliveira Guimarães e Manuel Monteiro Trindade
Coelho). O periódico “Correio Braziliense”, de Hipólito José da Costa
Pereira Furtado de Mendonça, era produzido na Inglaterra. Em Paris,
houve um desenvolvimento do comércio editorial em língua portuguesa,
que iria durar muito tempo, praticamente até 1930.
Há
discordância sobre o fato de haver ou não um prelo no Brasil por
ocasião da chegada da família real. Consta que a imprensa com tipos
móveis foi finalmente trazida ao Brasil pelo próprio governo que antes
a proibira com tanta veemência. António de Araújo e Azevedo, então
Ministro do Exterior e posteriormente Conde da Barca, trouxe e mandou
instalar o prelo no Rio de Janeiro, no andar térreo de sua própria
residência, na Rua do Passeio, 44. O Irmão José Mariano da Conceição
Veloso, religioso mineiro que fora para Lisboa em 1790, voltou ao
Brasil com a família real para trabalhar na impressora do Rio, a
Imprensa Régia. A inauguração do novo prelo foi em 13 de maio de 1808,
com a publicação de um folheto de 27 páginas, acompanhado da Carta
Régia. Nos 14 anos do monopólio da Impressão no Rio foram produzidos
mais de mil itens.
MERCADO EDITORIAL DA PROVINCIA
Minas Gerais
A 1ª
impressão de livro na província foi em Vila Rica, Minas Gerais,
posteriormente Ouro Preto, em 1807, antes do surgimento da Imprensa
Régia. O governador Athayde de Mello, futuro Conde de Condeixa, ficou
tão satisfeito com um poema feito em sua honra por Diogo de
Vasconcelos, que desejou vê-lo impresso. Tal impressão foi feita pelo
padre José Joaquim Viegas de Menezes, em uma pequena prensa para fins
domésticos. Associado ao português Manuel José Barbosa Pimenta e Sal,
aos poucos foram criando a “Typographia Patriota de Barbosa & Cia”,
que ficou pronta em 1821.
Após
1807, os primeiros livros impressos em Ouro Preto foram uma coleção das
“Leis do Império do Brasil”, em 1835, por um impressor chamado Silva, e
o “Diccionario da Língua Brasileira”, de Luís Maria da Silva Pinto, em
1832. Surgiram, posteriormente, outras tipografias em São João Del Rei
(1827), Diamantina (1828) e Mariana (1830).
Bahia
Na
Bahia, logo que a família real chegou ao Brasil, um livreiro de
Salvador, Manuel Antônio da Silva Serva, natural de Portugal, pediu
permissão para ir à Inglaterra e conseguir uma impressora para a Bahia;
tal permissão foi concedida em 1809, e começou a imprimir em 1811;
aventa-se que possuía, na época, 2 impressoras. Serva morreu em 1819, e
a tipografia continuou com seu sócio e genro José Teixeira e Carvalho,
ficando conhecida como “Typographia da Viúva Serva, e Carvalho”. Mais
tarde, seu filho Manuel começou a trabalhar na firma.. A publicação
conhecida da Silva Serva é de 176 títulos, e a editora sobreviveu com
várias mudanças de nome até 1846, porém perdeu sua posição de monopólio
em 1823. Durante a luta pela independência do Brasil, as tropas da
junta pró-Portugal invadiram a “Typographia da Viúva Serva”, para
interromper a publicação do jornal nacionalista “Constitucional”; os
editores fugiram para Cachoeira, onde instalaram sua própria gráfica
para imprimir a continuação, o semanário “O Independente
Constitucional”.[16] A tipografia de Serva continuou produzindo a
Gazeta da Bahia, pró-Portugal, mas quando a causa nacionalista
triunfou, em junho de 1823, sua publicação teve que ser interrompida.
Com
a morte de Silva Serva, a produção literária baiana entrou em declínio,
só se recuperando nos anos 1890. Destacam-se, na época, a “Livraria J.
L. da Fonseca Magalhães, editores”, do jurista Clovis Bevilacqua, entre
1895 e 1910, e a Livraria Catilina, fundada por Carlos Pongetti em 2 de
fevereiro de 1835, e que duraria até 1960, ocasião em que se tornou a
mais antiga livraria do Brasil. Em 1864, Serra Teriga assumiu sua
direção, passando-a para Xavier Catilina em 1877. A Catilina era uma
casa varejista, mas teve um grande período editorial, na administração
de Romualdo dos Santos, em que publicou obras de Castro Alves, Coelho
Neto, Ruy Barbosa, Xavier Marques, e Ernesto Carneiro Ribeiro. A
impressão, porém, geralmente era feita em Portugal ou outros países da
Europa, como era costume na época.
Maranhão
O
Maranhão foi uma das primeiras províncias a ter uma tipografia, pois
era uma das mais prósperas do império, devido à produção do algodão,
que valorizara desde a invenção do tear de Cartwright, em 1787. Durante
tal período de desenvolvimento, houve um período áureo de atividade
cultural e intelectual na região, por influência da elite portuguesa. O
período áureo da literatura começa com o aparecimento dos 1ºs poemas de
Gonçalves Dias, na década de 1840, e vai até a partida de Aluísio
Azevedo para o Rio de Janeiro, no início da década de1880. Dois
impressores se destacam nessa época: Belarmino de Mattos e José Maria
Corrêa de Frias.
A impressão foi introduzida no Maranhão em 1821,
pelo governador Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca, quando esse
instalou uma impressora oficial, para produzir o jornal do governo
“Conciliador do Maranhão”. Um prelo “Columbian”, o mais moderno da
época, foi trazido de Lisboa, e formava-se então a “Typographia
Nacional Maranhense”, posteriormente denominada “Typographia Nacional
Imperial”.
As primeiras impressoras de propriedade privada no
Maranhão foram a de Ricardo Antônio Rodrigues de Araújo, que existiu de
1822 até a década de 50, e a “Typographia Melandiana”, de Daniel G. de
Melo, que produziu seu 1º trabalho em 1825. A mais importante, porém,
foi a “Typographia Constitucional”, de Clementino José Lisboa, que teve
início em 1830. Outras foram a de “Ignácio José Ferreira”, fundada em
1833 por João Francisco Lisboa e Frederico Magno d’Abranches; a “J. G.
Magalhães e Manuel Pereira Ramos”; a “Typographia Temperança”; a de
Francisco de Sales Nines Cascais; a “Typographia Monárquica
Constitucional”, que foi vendida em 1848 a Fábio Alexandrino de
Carvalho Reis, A. Theophilo de Carvalho Leal e A. Rego, e que
produziria “O Progresso”, o 1º jornal diário do Maranhão, iniciado em
1847. ]
Belarmino de Mattos tem sido considerado por muitos
historiadores como um dos melhores impressores que o Brasil já
teve.[19] Criou um sindicato, a “Associação Typographica Maranhense”,
inaugurada em 11 de maio de 1857, uma das primeiras organizações de
trabalhadores do Brasil fora do Rio de Janeiro (foi precedida, no Rio
de Janeiro, pela “Imperial Associação Typographica Fluminense”, fundada
em 25 de dezembro de 1853).
Pernambuco
Em
Pernambuco, Recife teve a 1ª tipografia, a “Oficina Tipográfica da
República restaurada de Pernambuco”, em 1817, que logo foi fechada pelo
governo, por motivos políticos. Em 1820, o governador Luís do Rego
Barreto ordenou que se construísse uma “prensa de parafuso”, de modelo
tradicional, no arsenal local, ou no trem, ficando então conhecida como
“Officina do Trem de Pernambuco”, e o professor francês de desenho,
Jean-Paul Adour, foi nomeado para dirigi-la. Quando Rego foi
destituído, passou a se chamar “Officina do Trem Nacional”, em 1821, e
depois “Typographia Nacional”. Ainda em Recife havia o concorrente
Manuel Clemente do Rego Cavalcante, que se estabeleceu com um
equipamento recém-trazido de Portugal, associando-se depois a Felipe
Mena Calado da Fonseca e ao inglês James Prinches; o ex-padre e
professor de português Antônio José de Miranda Falcão aprendeu com
Prinches a arte da tipografia. Além dessas, outras duas tipografias
foram a “Typographia Fidedigna” de Manuel Zeferino dos Santos, de 1827
a 1840, e a Typographia do Cruzeiro”, iniciada em 1829.
Em Olinda,
Manuel Figueiroa de Faria abriu, em meados de 1831, a “Pinheiro Faria e
Companhia”, que se mudou em seguida para Recife, e que talvez seja
responsável pelos primeiros livros de Pernambuco; publicava o “Diário
de Pernambuco”, tendo comprado seus direitos de Antônio José de Miranda
Falcão, em 1835. Na época, havia 14 firmas impressoras e 4
estabelecimentos de litografia em Recife, e uma das mais importantes
foi a “União”, de Santos e Cia., fundada em 1836, pelo padre Ignácio
Francisco dos Santos.
Talvez a publicação mais interessante de
Pernambuco, na época,[20] foi o trabalho de Nísia Floresta (pseudônimo
de Dionísia Gonçalves Pinto), “Direitos das Mulheres e Injustiças do
Homens”, adaptação livre da obra Vindication of the rights of women, de
1792, de autoria da feminista Mary Wollstonecraft Godwin.
Outras
tipografias a salientar são a do cônego Marcelino Pacheco do Amaral,
que instalou um prelo em sua própria casa, só para publicar seu
“Compendio de theologia moral”, em 3 volumes produzidos entre
1888-1890, e depois vendeu sua “Imprensa Econômica” a um editor local,
e a de Tobias Barreto, em 1847, que fundou em Escada, interior de
Pernambuco, a “Typographia Constitucional”, que durou até 1888.
Paraíba
Na Paraíba, destacou-se a “Typographia Nacional da Paraíba”, que imprimiu o 1º jornal da província.
Pará
No
Pará, o impressor João Francisco Madureira fabricou seu próprio prelo.
Já em 1822, a Imprensa Liberal publicou o 1º jornal paraense, e o 5º do
Brasil, “O Paraense”, pelo mestre impressor Daniel Garção de Melo. A
“Typographia de Santos e Menor”, de Honório José dos Santos, ofereceu a
1ª publicação local importante, o “Ensaio corográfico sobre a província
do Pará”, de António Ladislau Monteiro Baena. Depois, a tipografia
mudou o nome para “Santos e Filhos” e, posteriormente, “Santos e Irmão”.
Outras províncias Depois do Pará, a tipografia chegou nessa ordem nas províncias:Ceará em 1824, São Paulo em fevereiro de 1827, Rio Grande do Sul em junho de 1827, Goiás em 1830, Santa Catarina em 1831, Alagoas em 1831, Sergipe em 1832, Rio Grande do Norte em 1832, Espírito Santo em 1840, Paraná em 1853 (Rizzini defende que foi em 1849[22]), Amazonas em 1854, Piauí em 1832, Mato Grosso em 1840 |