DOSSIE CALIGULA BIOGRAFIA DETALHADA
CALIGULA
RETIRADO DO WIKPEDIA E EDITADO
CALIGULA
Caio
Júlio César Augusto Germânico (em latim Gaius Julius Caesar Augustus
Germanicus; 31 de agosto de 12 d.C. - 24 de janeiro de 41), também
conhecido como Caio César ou Calígula (Caligula), foi imperador romano
de 16 de março de 37 até o seu assassinato, em 24 de janeiro de 41. Foi
o terceiro imperador romano e membro da dinastia Júlio-Claudiana,
instituída por Augusto. Ficou conhecido pela sua natureza extravagante
e cruel. Foi assassinado pela guarda pretoriana, em 41, aos 29 anos. A
sua alcunha Calígula, à qual significa "botinhas" em português, foi
posta pelos soldados das legiões comandadas pelo pai, que achavam graça
em vê-lo mascarado de legionário, com pequenas caligae (sandálias
militares) nos pés. Era o filho mais novo de Germânico que, por sua
vez, era sobrinho do imperador Tibério. Germânico é considerado um dos
maiores generais da história de Roma. Já a mãe de Calígula era
Agripina. O futuro imperador cresceu com a numerosa família (tinha dois
irmãos e três irmãs) nos acampamentos militares da Germânia Inferior,
onde o pai comandava o exército imperial (14 – 16). Após a celebração
em Roma do triunfo do seu progenitor, marchou com ele para o Oriente.
Germânico viria a falecer durante a sua estadia em Antioquia, em 19.
Após enterrar o seu pai, Calígula regressou com mãe e os irmãos para
Roma, onde a incomodidade que a sua presença gerava no imperador
degenerou em inimizade, causadora provável das estranhas mortes de uma
série de parentes do futuro imperador, entre os quais, dois dos seus
tios. As suas relações com Tibério pareceram melhorar quando este se
mudou para Capri e foi designado pontifex maximus. À sua morte —a 16 de
março de 37—, Tibério ordenou que o império devia ser governado
conjuntamente por Calígula e Tibério Gemelo. Após
desfazer-se de Gemelo, o novo imperador tomou as rédeas do império. A
sua administração teve uma época inicial pontuada por uma crescente
prosperidade e uma gestão impecável; porém, a grave doença pela qual
passou o imperador marcou um ponto de inflexão no seu jeito de reinar.
Apesar de que uma série de erros na sua administração derivaram numa
crise econômica e numa fome, empreendeu um conjunto de reformas
públicas e urbanísticas que acabaram por esvaziar o tesouro. Apressado
pelas dívidas, pôs em funcionamento uma série de medidas desesperadas
para restabelecer as finanças imperiais, entre as que se destaca pedir
dinheiro à plebe. Militarmente, o seu reinado esteve caracterizado
pela anexação da província da Mauritânia (a cujo monarca assassinou
numa das suas visitas a Roma), pelo insucesso na conquista da Britânia
e pelas tensões que açoitaram as províncias orientais do império. No
Oriente, deu amostras da sua graça mediante a concessão dos territórios
de Bataneia e Traconítide ao seu amigo Herodes Agripa, e da sua
megalomania ao ordenar que fosse erigida uma estátua na sua honra no
Templo de Jerusalém; enquanto no Ocidente deu-as da sua demência ao
pedir o exército que em vez de atacar as tribos britanas se pusesse a
recolher conchas, o tributo que segundo ele essas águas lhe deviam ao
monte Capitolino e ao monte Palatino. Segundo
determinados historiadores, nos seus últimos anos de vida esteve
envolvido numa série de escândalos entre os quais se destacam manter
relações incestuosas com as suas irmãs e até mesmo obrigá-las a
prostituir-se. A 24 de janeiro de 41, foi assassinado pelos executores
de uma conspiração integrada por pretorianos e senadores, e liderados
pelo seu praefectus, Cássio Querea. O desejo de alguns conspiradores de
restaurar a república viu-se frustrado quando, no mesmo dia do
assassinato de Calígula, o seu tio Cláudio foi declarado imperador
pelos pretorianos. Uma das primeiras ações de Cláudio como imperador
foi ordenar a execução dos assassinos do seu sobrinho. Existem
poucas fontes sobreviventes que descrevam o seu reinado, nenhuma das
quais refere de maneira favorável. Pelo contrário, as fontes centram-se
na sua crueldade, extravagância e perversidade sexual, apresentando-o
como um tirano demente.[1] Embora a fiabilidade destas fontes seja
difícil de avaliar, de acordo com o conhecido com certeza a respeito do
seu reinado, trabalhou incansavelmente a fim de aumentar a autoridade
do princeps; tendo de fazer face a várias conspirações surgidas com o
objeto de derrocá-lo e lutando a fim de reduzir a influência do senado,
esmagando a oposição que este órgão legislativo continuava exercendo.
Tornou-se o primeiro imperador em apresentar-se frente do povo como um
deus.
A FAMILIA
Nascido com o nome de Caio Júlio César Germânico a 31 de agosto de
12 nas imediações de Anzio,Calígula era o terceiro dos seis filhos
sobreviventes do matrimônio entre Germânico e Agripina.[3] Os seus
irmãos foram Nero e Druso, e as suas irmãs Júlia Livilla, Drusila e
Agripinila.[3] Por parte do seu pai era sobrinho do futuro imperador
Cláudio.Germânico, o
seu pai, era um importante membro da dinastia Júlio-Claudiana; e é hoje
em dia considerado como um dos maiores generais do Império Romano.[5]
Era filho de Nero Cláudio Druso e Antónia, a Jovem, neto de Tibério
Cláudio Nero e Lívia; e sobrinho neto e filho adotivo de Augusto.Agripina era filha de Marco Vipsânio Agripa e Júlia a Maior, e neta de Augusto e Escribônia.
INFANCIA E JUVENTUDE
Durante a sua infância (com apenas dois ou três anos)
acompanhou o seu pai nas campanhas que este liderou a norte de
Germânia; tornando-se o mascote do exército.Aos soldados divertia-os o
fato de ir vestido com um uniforme militar em miniatura que incluía
botas e armadura, e por isso deram-lhe a carinhosa alcunha de
"Calígula" ("botinhas").Aparentemente, o futuro imperador odiava a sua
alcunha. Quando tinha sete anos acompanhou a Germânico a uma
expedição a Síria. Nessa expedição faleceu o seu pai a 10 de outubro de
19. Segundo Suetônio, Germânico foi envenenado através de um agente
contratado por Tibério, que via ao general como um perigoso rival
político. Após a morte do seu pai, mudou-se a Roma com a sua mãe até
deteriorarem-se as relações entre ela e Tibério. O imperador não podia
permitir que Agripina se casasse, por medo a que o seu marido se
tornasse um possível adversário político, e ela e Nero César foram
exilados em 29 sob cargos de traição. Calígula, que por essa época era
um adolescente, foi enviado a viver com a sua bisavó e mãe de Tibério,
Lívia.Após a morte de Lívia, foi acolhido pela sua avó Antônia. Em 30,
Druso César foi encarcerado e Nero César faleceu no exílio, não é
sabido se por inanição ou por suicídio. Suetônio escreve que após o
desterro da sua mãe e os seus irmãos, ele e as suas irmãs ficaram como
pouco mais que prisioneiros de Tibério, e submeteu-os a uma estreita
vigilância por parte dos soldados imperiais. Em , Calígula passou a
fazer parte do pessoal encarregado dos cuidados de Tibério em Capri,
onde o jovem permaneceu durante seis anos.Surpreendentemente, Calígula
reconciliou-se com o imperador.Segundo certos historiadores era um
excelente ator que, vendo o perigo, decidiu esconder o ressentimento
que albergava para Tibério.Um observador disse de Calígula: Nunca houve aqui um melhor servente ou um pior mestre. Em
33, Tibério concedeu-lhe o cargo de questor, que conservou até a sua
nomeação como imperador. Por essa época faleceram em prisão Agripina e
Druso, a sua mãe e irmão. Calígula contraiu matrimônio com Júnia
Claudilla. Este matrimônio terminou com a morte de Júnia durante um
parto no ano seguinte. Tornou-se amigo do praefectus, Névio Sutório
Macro, que resultaria ser um importante aliado.Incitado por Calígula,
Macro falou bem a Tibério a respeito do seu amigo de modo a que o
imperador não albergasse para o filho do seu velho rival nenhuma
suspeita. Em 35, Calígula e Tibério Gemelo foram designados herdeiros ao trono.
O IMPERADOR E INICIO DO REINADO
Quando
Tibério faleceu a 16 de março de 37, a sua posição e títulos adquiridos
como princeps foram transferidos a Calígula e ao neto de Tibério,
Tibério Gemelo. Apesar de Tibério ter então 77 anos, alguns
historiadores defendem que foi assassinado.[22][26] Tácito escreve que
o praefectus Macro asfixiou o imperador a fim de garantir a ascensão de
Calígula;[26] Suetônio afirma que até mesmo o novo herdeiro pôde ter
sido o autor do assassinato. Pela sua vez, Fílon e Josefo registram que
Tibério faleceu por morte natural. Respaldado por Macro, Calígula foi
designado imperador em solitário ao anular o testamento de Tibério
alegando demência deste ao outorgá-lo.Calígula
aceitou todos os poderes do Principado que lhe conferiu o senado e,
quando entrou em Roma a 28 de março, foi recebido por uma grande
multitude que o aclamou entre outros com as alcunhas de "o nosso bebé"
e "a nossa estrela". É descrito como o primeiro imperador que, no
momento da sua ascensão, era apreciado por todos.Este apreço era devido
ao fato de ser o filho do finado Germânico, muito amado pela plebe, bem
como o sucessor de Tibério, cuja época final no trono fora terrível
para o povo romano.Segundo Suetônio foram sacrificados cerca de 160.000
animais na sua honra durante os três primeiros meses do seu reinado.
Segundo Fílon, os primeiros sete meses do reinado de Calígula foram dos
mais felizes que experimentara o Império em muito tempo.Os
primeiros atos de Calígula como imperador foram generosos com o povo e
o exército embora, segundo Dião Cássio, fora em parte devido a simples
interesses políticos: O imperador concedeu à guarda pretoriana e às
tropas urbanas e fronteiriças uma generosa recompensa pelos serviços
prestados, a fim de ganhar o apoio do exército.Destruiu os documentos
nos quais ficaram registrados os nomes dos acusados de traição durante
o mandato de Tibério, declarou que os juízos por traição eram coisa do
passado e chamou para Roma os exilados.Ajudou os afetados pelo sistema
de impostos imperial, desterrou os delinquentes sexuais e celebrou
luxuosos espetáculos, tais como os combates de gladiadores, ganhando
assim o apoio do povo.Também recolheu os ossos da sua mãe e os seus
irmãos e depositou-os no Ara Pacis.
DOENÇA E LOUCURA
Enfermidade, conspirações e câmbio de atitudeFazendo
realidade um auspício formulado em princípios do seu reinado, Calígula
caiu gravemente enfermo em outubro de 37. Esta doença é descrita
nomeadamente pelo historiador Fílon,.Dião Cássio também a menciona
brevemente na sua obra. Segundo Fílon a sua doença devia-se a que
Calígula, após ser nomeado imperador, tornou-se amigo demais dos
excessos. O império ficou paralisado ao receber a notícia da doença,
pois o seu jovem monarca levara-os para um período de prosperidade que
diziam equiparável ao de Augusto. Embora Calígula conseguisse
recuperar-se por completo desta doença, o estar tão perto da morte
marcou um ponto de inflexão no seu modo de reinar, tal qual indica
Josefo.Após recobrar a saúde,
Calígula ordenou assassinar várias pessoas que prometeram as suas vidas
aos deuses se o imperador se recuperava.Forçou a cometer suicídio
àqueles exilados durante o seu reinado: a sua esposa; o seu sogro,
Marco Silano; e o seu primo, Tibério Gemelo.Fílon
escreve que Gemelo instigou uma conspiração contra Calígula enquanto o
imperador estava enfermo. Antes de se suicidar, Silano foi julgado por
Calígula pois Júlio Grecino, o encarregue de justiçá-lo num primeiro
momento, recusou, sendo executado por isso.Suetônio crê que estes
complôs eram pura imaginação do imperador.Reformas públicas
AS REFORMAS PUBLICAS
Em 38, a administração de Calígula focou-se nas
reformas públicas e políticas que precisava o império. Foi publicado um
documento com os registros das despesas que realizara o imperador, algo
nunca feito durante o reinado de Tibério; os afetados pelos incêndios
foram ajudados; foram abolidos certos impostos; e impulsionados os
eventos desportivos. Também foram admitidos novos membros nas ordens
senatorial e equestre. Talvez o mais significativo deste período seja a
volta das eleições democráticas. Dião Cássio disse desta decisão do
imperador que: …embora
causasse o deleite da plebe, não era um ato sensato, pois as oficinas
voltariam a cair uma vez mais nas mãos de muitos, fazendo que os fundos
se empregassem para fins privados em lugar de obter renda, do qual
derivariam muitos desastres. Durante
este mesmo ano, Calígula foi duramente criticado por ordenar execuções
sem juízo prévio. A mais significativa foi a do ex prefeito do pretório
Sutório Macro, a quem em muitos sensos Calígula devia o trono.
SERVIÇOS FEITOS URBANOS
Apesar da crise econômica, Calígula efetuou
numerosos projetos de construção durante o seu reinado. Alguns destes
edifícios eram públicos, mas a maioria foram erigidos com um fim
privado.Segundo Flávio Josefo, os
projetos mais importantes realizados durante o reinado de Calígula
foram as ampliações dos portos de Regium (atual Reggio di Calabria e
Sicília. Após efetuar tais obras, foi possível aumentar o volume de
cereais embarcados desde o Egito. Estas reformas talvez fossem
realizadas em resposta ao episódio de fome.Foram
completados o Templo de Augusto e o Teatro de Pompeu, começou a
construção de um anfiteatro nas imediações da Saepta, e foi reformado o
Palácio Imperial. Começaram a construir o Aqua Claudia e o Anio Novus,
aquedutos que Plínio o Velho considerava maravilhas da engenharia. Foi
erigido um grande circo, conhecido como o Circo de Caio e Nero. Para
decorar este edifício, foi transportado um grande obelisco da província
do Egito, o atual Obelisco Vaticano, que foi erigido no seu centro.[66]
Em Siracusa, foram reparadas as muralhas e os templos da cidade. Foram
construídas novas estradas e reparadas as antigas. O imperador também
planejava reconstruir o palácio de Polícrates de Samos, terminar o
Templo de Apolo Didimeu em Éfeso e fundar uma cidade no cume dos Alpes.
Contudo, o mais ambicioso dos projetos que Calígula quis efetuar foi o
de escavar um canal através do Istmo de Corinto, na então província
romana da Acaia (atualmente Grécia).Em
39, Calígula efetuou um espetaculoso trabalho de engenharia; construiu
uma ponte flutuante temporária que ligava os portos de Baiae e Puteoli
empregando barcos. Tem-se escrito que esta ponte rivalizava com a que
ergueu o Rei Persa Jerjes I a fim de cruzar o Helesponto.Calígula, que
não sabia nadar, atravessou o rio em lombo do seu cavalo, Incitatus, e
portando a armadura de Alexandre o Grande. É provável que o imperador
realizasse isto a fim de cumprir a predição de Tibério Cláudio Trasilo,
que dissera que ninguém tinha mais possibilidades de se tornar
imperador que aquele que cruzara a cavalo a Baía de Baiae.Ordenou
a construção de duas enormes embarcações, as quais foram encontradas
nas profundezas do Lago de Nemi. Estes dois barcos figuram entre os
maiores do mundo antigo; o menor de eles foi construído com o fim de
albergar um templo consagrado a Diana, enquanto o maior era em essência
um palácio para o imperador, com solos de mármore e o seu próprio
sistema de canharias.
CALIGULA E O SENADO
Militarmente, o reinado de Calígula esteve pontuado pela expansão das
fronteiras do Império através da anexação da província de Mauritânia e
pelo começo dos preparativos para a conquista da ilha da Britânia
(província romana). Mauritânia
era um reino cliente de Roma governado por Ptolemeu da Mauritânia, a
quem Calígula mandou executar durante uma das suas visitas a Roma. Após
a morte do seu governante, os territórios que formavam o reino foram
anexados ao Império e divididos em duas províncias independentes. O
descontente surgido entre os habitantes das duas novas províncias
derivou numa importante revolta, que seria sufocada durante a
administração de Cláudio.Dião Cássio escreveu um capítulo inteiro a
respeito da anexação da Mauritânia, que desapareceu. O imperador
planejou uma campanha contra os Britanos em 40, mas a sua execução foi
realmente estranha: segundo escreve Suetônio na sua obra As Vidas dos
Doze Césares, o imperador dispôs as tropas em formação de batalha ao
longo do Canal da Mancha e ordenou que atacaram permanecendo na água.
Posteriormente ordenou que os soldados deviam recolher conchas da água
como "o tributo que o oceano devia ao monte Capitolino e ao monte
Palatino". Devido à prática ausência de fontes, o que ocorreu ali é
motivo de debate até mesmo entre os escritores contemporâneos a
Calígula. Os historiadores modernos apresentaram um grande número de
teorias, numa tentativa de explicar estas ações. O mais fatível é que
esta viagem fosse concebida como uma simples missão de exploração e
reconhecimento do terreno, ou com o objetivo de aceitar a rendição do
cacique britano Admínio. Também é possível de que os antigos
historiadores se referissem a estas "conchas"em senso metafórico,
querendo referir-se aos genitais femininos (é provável que as tropas
visitassem prostíbulos), ou à captura de barcos britanos quando pequeno
tamanho. Na cunhagem de moedas, o imperador engrandeceu os seus
sucessos militares.
O DEUS
m
40, Calígula desenvolveu uma série de políticas muito controvertidas
que fizeram da religião um importante elemento do seu papel político. O
imperador começou a realizar as suas aparições públicas vestido de deus
e semideus, como Hércules, Mercúrio, Vênus e Apolo. Referia a si mesmo
como um deus quando comparecia ante os senadores, e ocasionalmente
aparecia nos documentos públicos com o nome de Júpiter. Erigiu três
templos adicados a si mesmo; dois em Roma e um em Mileto, na província
da Ásia. No Fórum, o Templo de Castor e Pólux foi vinculado diretamente
à residência imperial no Palatino e dedicado a Calígula. Foi a esta
época que começou a aparecer como um deus frente da plebe.A
política religiosa de Calígula rompia totalmente com a dos seus
predecessores. Segundo Dião Cássio, os imperadores vivos podiam ser
adorados no Oriente , enquanto os imperadores mortos o podiam ser em
Roma. Augusto até mesmo escreveu uma obra a respeito do seu espírito,
embora Dião considere este ato como uma medida extrema que os
imperadores preferiam esquivar.Calígula foi muito mais além ao obrigar
o senado e o povo a render-lhe culto em vida.
CALIGULA E A POLITICA NO ORIENTE
Durante
o seu reinado, aconteceram uma série de revoltas e conspirações com
origem nas províncias orientais. O imperador recebeu para esta tarefa a
ajuda do seu amigo Herodes Agripa, a quem nomeou governador dos
territórios de Bataneia e Traconítide. Esta difícil situação no
Oriente era motivada pela conjunção de três fatores: a difusão da
cultura grega, a lei romana e os direitos dos judeus. Para agravar a
situação, o praefectus do Egito, Aulo Avílio Flaco, não era homem de
confiança do imperador. Flaco fora fiel a Tibério, conspirara contra a
mãe de Calígula e contava com ligações com os egípcios separatistas. Em
38, o imperador decidiu vigiar a Flaco, para o que enviou Agripa para
Alexandria sem prévio aviso. Segundo Fílon, a visita foi recebida com
protestos contra a comunidade grega, que cria que Agripa queria
proclamar-se rei dos judeus. Flaco tratou de contentar os gregos e
Calígula ao levantar estátuas do imperador nas sinagogas da região.
Como resultado, estouraram distúrbios na cidade, ao que Calígula
respondeu relevando Flaco do seu posto e executando-o. Em 39, Agripa
acusou Herodes Antipas, o tetrarca de Galileia e Pereia, de traçar uma
rebelião contra o governo romano com o apoio do Império Parto. Antipas
confessou e Calígula exilou-o. Como recompensa, Agripa recebeu as
províncias de Bataneia e Traconítide. Em 40, ocorreram novos
distúrbios em Alexandria que enfrentaram gregos e judeus. Os judeus
foram acusados de se negarem a render culto ao imperador, e esse mesmo
ano estouraram distúrbios na cidade de Jamnia. O motivo da revolta era
o descontente que gerara entre a população judaica a construção de um
altar. As tensões foram em aumento até os dirigentes religiosos
ordenarem destruí-lo. Em retaliação, Calígula ordenou pôr uma grande
estátua sua no Templo de Jerusalém, algo incompatível com o monoteísmo
judeu. Fílon escreveu que: Considerava [Calígula] suspeitos à maioria dos judeus, como se fossem as únicas pessoas que desejavam opôr-se. Temendo
que a ordem do imperador provocasse o estouro de uma guerra civil, o
governador da Síria, Públio Petrônio, adiou a sua execução.Finalmente,
convencido por Agripa, Calígula revogou tal ordem.
OS ESCANDALOS
As fontes sobreviventes oferecem um importante número de histórias
a respeito de Calígula que ilustram a sua crueldade e a sua demência.As
fontes contemporâneas, Fílon de Alexandria e Sêneca, o Moço, descrevem
o imperador como um demente irascível, caprichoso, derrochador e
enfermo sexual. Era acusado de alardear de se acostar com as mulheres
dos seus súditos, de matar por pura diversão, de provocar uma fome ao
gastar demais dinheiro na construção da sua ponte, e de querer erigir
uma estátua de si mesmo no Templo de Jerusalém com o objeto de ser
adorado por todos.Fontes posteriores,
entre as que se destacam Suetônio e Dião Cássio, repetiram nos seus
relatos os fatos indicados por autores anteriores e acrescentaram novas
histórias de loucura. Calígula foi acusado de manter relações
incestuosas com as suas irmãs:Agripina a Menor, Drusila e Júlia
Livilla. Seutônio o descreve com tendo:"Estatura alta,corpo enorme,de
pescoço e pernas delgadas.Olhos fundos,fronte larga e carrancuda e
cabelos raros e alto da testa desguarnecido.Tinha corpo cabeludo e
rosto horrível e repelente,e ele procurava torná-lo cada vez mais
feroz,ensaiando diante de um espelho,para inspirar terror e espanto".
Também se disse que as obrigara a prostituir-se. Além disso, estes
historiadores acusam de enviar algumas tropas a efetuar exercícios
militares absurdos, e de tornar o palácio num bordel. Provavelmente a
história mais famosa é a que conta que o imperador quis nomear o seu
cavalo, Incitatus, cônsul e sacerdote.A
validez destas fontes é questionável pois, na cultura política romana,
a demência e a perversão sexual iam da mão nas crônicas que descreviam
os maus governantes
ACONTECIMENTOS COM O ASSASSINATO
As fontes antigas descrevem o reinado de Calígula como um açuite para
as ordens senatorial e equestre. Segundo Josefo, as ações do imperador
desencadearam uma série de conspirações na sua contra, até finalmente
ser assassinado; no mesmo, viram-se envolvidos os integrantes da guarda
pretoriana, liderados por Cássio Querea.Embora o complô fosse concebido
somente por três homens, é provável que muitos senadores, soldados e
equites estivessem à par do mesmo e, de certa forma, envolvidos.Segundo
Josefo, as motivações de Querea para cometer o assassinato eram
puramente políticas. Suetônio escreve que o motivo do assassinato foram
as zombarias de Calígula, que usava nomes pejorativos para se referir a
Querea, ao que considerava um afeminado e um arrecadador de impostos
incompetente. As alcunhas mais empregues pelo imperador para se referir
ao praefectus eram Priapo e Vênus.A
24 de janeiro de 41, Querea e alguns pretorianos abordaram Calígula
enquanto ele se dirigia a um grupo de novos atores que participavam de
jogos. Os pormenores a respeito deste acontecimento variam ligeiramente
de um escritor a outro, mas todos coincidem em que Querea foi o
primeiro a apunhalar o imperador, seguido pelo restante de
conspiradores. Suetônio assinala as similaridades entre o assassinato
de Calígula e o de Júlio César. O historiador escreve que o velho Caio
Júlio César (Júlio César) e o novo Caio Júlio César (Calígula) foram
assassinados por 30 conspiradores liderados por um homem chamado Cássio
(Cássio Longino e Cássio Querea).Quando os guarda-costas germanos do
imperador se deram conta de que Calígula estava sendo atacado, este já
era morto. Cheios de raiva e dor, os germanos responderam assassinando
conspiradores, senadores, transeuntes e inocentes por igual.O
senado tratou de usar a morte de Calígula para restaurar a repúblicae,
pela sua vez, Querea tentou convencer o exército para que apoiasse os
senadores. Porém, os militares permaneceram leais à figura do
imperador, e a plebe unanimemente pediu que os assassinos de Calígula
fossem levados frente da justiça. Vendo-se sem apoios, os assassinos
apunhalaram a mulher de Calígula, Milônia Cesônia, e à sua filha, Júlia
Drusilla, a quem romperam o cranio ao bater a cabeça contra um muro.
Contudo, foram incapazes de encontrar o tio de Calígula, Cláudio, que
fugiu da cidade.] Após ter-se assegurado o apoio da Guarda Pretoriana,
Cláudio foi designado imperador e, nada mais aceder ao trono, o tio de
Calígula ordenou a execução dos assassinos do seu sobrinho. Segundo
Suetônio, o corpo do imperador foi escondido até poder ser incinerado e
sepultado pelas suas irmãs. Permaneceu no Mausoléu de Augusto até que,
em , durante o saque de Roma, as suas cinzas foram espalhadas.
UM HINTORIOGRAMA Historiografia
Oferecer
uma visão exata a respeito do reinado de Calígula é extremamente
difícil. Somente duas fontes contemporâneas ao imperador chegaram à
atualidade: os trabalhos de Fílon de Alexandria e Sêneca, o Moço. As
obras do primeiro, Da Embaixada a Caio e Flaco, proporcionam alguns
pormenores a respeito dos começos do reinado de Calígula, mas centrados
nos acontecimentos que rodearam à população judaica que habitava as
províncias da Judeia e Egito. As obras de Sêneca oferecem algumas
anedotas a respeito da personalidade de Calígula; porém, a objetividade
destes escritos foi questionada devido a que o próprio Sêneca esteve
prestes a ser executado pelo imperador em 39, quando foi acusado de
participar numa conspiração para derrocá-lo. Existiram obras
coetâneas que relatavam detalhadamente o seu reinado, mas estas obras
desapareceram. Além disso, os historiadores que as escreveram foram
riscados de parciais, quer por ser críticos demais quer por aduladores
com o imperador.Em qualquer caso, as fontes primárias perdidas, unidas
às obras de Sêneca e Fílon, serviram de base das fontes secundárias e
terciárias sobreviventes, escritas pelas seguintes gerações de
escritores. É conhecido o nome de alguns de eles, tais como Clúvio Rufo
e Fábio Rústico, autores de dois escritos que criticavam duramente a
Calígula, agora perdidos. Rústico foi um conhecido amigo de Sêneca,
famoso entre os seus coetâneos pelo elegante uso que fazia dos recursos
literários e pela tergiversação de que eram vítimas as suas histórias.
Rufo era um influente senador que se viu envolvido no assassinato do
imperador. A irmã de Calígula, Agripina a Menor, escreveu uma
autobiografia que relatava o período do seu irmão como imperador, a
qual também se perdeu. Agripina fora exilada pelo seu irmão como
consequência das suas conexões com Marco Emílio Lépido, que conspirou
contra ele. A herança do filho de Agripina, Nero, foi tomada pelo seu
tio. A maior parte do conhecido deste imperador procede de Suetônio
e Dião Cássio, cuja objetividade é posta em dúvida devido à sua
condição de patrícios. Suetônio redigiu a sua obra oitenta anos depois
da morte de Calígula, enquanto Dião Cássio o fez 180 anos depois.
Embora o trabalho de Dião Cássio seja muito valioso, da sua obra apenas
sobreviveu um pequeno resume escrito por João Xifilino, um monge do
século XI.
Suetônio
dedica 21 capítulos da sua obra a Calígula como imperador, e a partir
do capítulo 22 declara que falará de Calígula como um monstro. Outra
série de fontes proporcionam uma perspectiva limitada do reinado deste
imperador. Josefo oferece uma detalhada descrição do assassinato, e
Tácito outorga alguma informação sobre a sua vida durante o reinado de
Tibério. Tácito, supostamente o mais objetivo dos historiadores da
Antiguidade, escreveu uma pormenorizada história de Calígula, mas parte
dos seus Anales perderam-se. A Naturalis Historia de Plínio o Velho
contribuiu também alguns pormenores a respeito da sua vida. Das
poucas fontes sobreviventes, não existe nenhuma que ofereça uma visão
favorável do imperador. A escassez e parcialidade dessas fontes dou
lugar a importantes lacunas a respeito do seu reinado. Dos seus dois
primeiros anos no trono não sobreviveu praticamente nada e, além disso,
os importantes eventos acontecidos durante o seu reinado, tais como a
anexação da Mauritânia, a campanha na Britânia e as diferenças com o
senado, não foram descritas devidamente.
CONSIDERAÇOES SOBRE A SAUDE E LOUCURA DEMENCIA
Exceto
Plínio o Velho, todas as fontes sobreviventes descrevem a Calígula como
um louco. Porém, não se sabe se estão falando literal ou figuradamente.
Além disso, é difícil separar a realidade da ficção levando em conta a
impopularidade do imperador entre essas fontes. Os historiadores
modernos trataram de atribuir uma razão médica ao seu instável caráter,
alegando a possibilidade de que padecera encefalite, epilepsia ou
hipertiroidismo; fala-se de adiatrepsia, uma palavra grega que o
imperador aplicou para descrever a sua própria conduta. Fílon de
Alexandria, Flávio Josefo e Sêneca, o Moço descrevem Calígula como um
demente, mas alegam que esta loucura era resultado da experiência dos
anos. Segundo Sêneca, o imperador transformou-se num homem arrogante,
iracundo e grosseiro na sua ascensão ao trono. Josefo pensa que foi o
poder que tornou Calígula um arrogante, fazendo-lhe acreditar que era
um deus.Pela sua vez, Fílon defende que a sua personalidade
experimentou um radical câmbio quando esteve prestes a falecer de uma
doença.Segundo Juvenal, o imperador bebeu uma poção que o tornou louco. EPLEPSIA Suetônio
escreve que Calígula padeceu epilepsia quando era novo.Os historiadores
modernos teorizaram que o imperador vivia com um profundo e contínuo
medo a sofrer um ataque associado à sua doença. Apesar de que aprender
a nadar era parte da educação imperial, o imperador não o fez,pois os
epilépticos podem sofrer ataques causados pela luz que se reflete na
água. Também é dito dele que falava com a lua cheia, e a lua é
relacionada ocasionalmente com a epilepsia. Hipertiroidismo Muitos
historiadores defenderam que Calígula padecia hipertiroidismo.Este
diagnóstico é baseado na irritabilidade e na "olhada" do imperador,
descrita por Plínio o Velho.
CALIGULA CINEMA TV
Calígula foi encarnado por: John
Simm na mini-série Imperium: Nerone (2004). Esta obra, dividida em dois
episódios, narra a vida do imperador Nero da sua infância até a sua
morte. Calígula aparece como uma personagem secundária. Szabolcs Hajdu no filme Calígula (1996) John
McEnery na mini-série A.D. (1985). Nela é descrita a vida dos primeiros
cristãos na época de Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Malcolm
McDowell em Calígula (1979), um filme cheio de imprecisões históricas
que descreve como Calígula assassina a Tibério e inicia um reinado
pontuado pelas suas excentricidades. Jay Robinson em O manto Sagrado
(1953), Filme épico passado nos últimos anos do reinado de Tibério.
Calígula aparece como uma personagem secundária. John Hurt na série
de televisão Eu, Cláudio (1976); esta série é baseada no romance de
Robert Graves, Eu, Cláudio, que descreve a vida da dinastia
Júlio-Claudianana narrada pelo tio de Calígula, Cláudio. Emlyn Willians desempenhou o papel de Calígula em Eu, Cláudio, filme baseado também no romance de Graves . Nunca se completou. Courtney Love representou-o no falso avanço de Gore Vidal's Caligula, aparentemente um "refilmagem" de 1979. A
obra de Nat Cassidy, The Reckoning of Kit and Little Boots, descreve a
vida do dramaturgo isabelino Christopher Marlowe e a de Calígula, com a
fictícia presunção de este estar trabalhando num escrito a respeito do
imperador no momento do seu assassinato. Insiste-se nas similaridades
entre os dois personagens; ambos faleceram sendo apunhalados em 29
ocasiões e ambos tinham uma curiosa perspectiva religiosa. A obra
foca-se também na relação entre o imperador e a sua irmã Drusilla, e na
sua profunda aversão para Tibério. Foi estreada em Nova Iorque em junho
de 2008. "Caligula" de Albert Camus, é uma obra de fição na qual o
imperador Calígula regressa após abandonar o palácio durante três dias
e três noites seguidas da morte da sua irmã querida, Drusilla. Depois,
o novo imperador usa o seu poder para "trazer o impossível ao reino do
provável".
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