BIOGRAFIA JOANA FOMM (ATRIZ,RAINHA DAS MALVADAS DA TV)


     Joana Fomm
Joana Maria Fomm (Belo Horizonte, 14 de setembro de 1940) é uma atriz brasileir
a.

Joana Fomm nasceu em Belo Horizonte, mas foi registrada no Rio de Janeiro, tendo sido adotada pelos seus tios, ainda pequena, depois de os seus pais perderem tudo numa enchente. Estreou-se no cinema em 1962, na fita "O Quinto Poder", de Alberto Pieralisi. Na TV, a sua estreia aconteceu dois anos depois, na novela "O Desconhecido", exibida na TV Rio e baseada num original de Nelson Rodrigues.
Na década de 60, participou em filmes importantes do cinema brasileiro, como "Todas as Mulheres do Mundo", "O Homem Nu", "Edu Coração de Ouro", "Bebel Garota Propaganda" e "Macunaíma".

O seu primeiro grande papel na televisão foi no início da década de 70, na novela "As Bruxas", da TV Tupi, na qual interpretou Sofia. NaTV Tupi participou ainda nas telenovelas "A Fábrica", "Bel-Ami", "Ovelha Negra", "Ídolo de Pano", "A Viagem" e "Papai Coração".
Estreou-se na TV Globo em 1977, na novela "Sem Lenço, Sem Documento", exibida às 19h00.
Contudo, foi no papel da vilã Yolanda Pratini, em "Dancin' Days", telenovela de Gilberto Braga exibida em 1978 , que Joana Fomm se tornou um nome nacional e uma das atrizes mais requisitadas para as novelas. Joana é tida como uma atriz perfeita para interpretar personagens más, arrogantes, frias e calculistas. Além de Yolanda, outro papel dentro deste estilo foi o de Lúcia Gouveia em "Corpo a Corpo" (1984), novela também de Gilberto Braga. Interpretou também Fausta, a tia rica, má e preconceituosa, em "Bambolê" (1987), a beata mal-amada Perpétua na telenovela "Tieta" (1989) e a vingativa Eugênia em "As Pupilas do Senhor Reitor" (1995), desta vez no SBT.

SBT. Participou ainda em outras novelas importantes da Rede Globo, tais como: Coração Alado, Brilhante, Elas por Elas, Eu Prometo, Roda de Fogo, Vamp, e Porto dos Milagres.
A partir da década de 90, atuou em filmes importantes como "Quem Matou Pixote?", "Copacabana" (de Carla Camurati) e "Quanto Vale ou é por Quilo?".

Em 2007, chegou a ser convidada por Gilberto Braga para interpretsr a personagem Marion Novaes, na novela "Paraíso Tropical", mas por motivos de saúde foi forçada a deixar o elenco, sendo substituída por Vera Holtz (foi-lhe diagnosticado um câncer da mama .

Em 2010 foi convidada, mais uma vez, pelo autor da novela Insensato Coração para interpretar um personagem, mas teve novamente que recusar devio a uma disautonomia (doença que afeta o sistema nervoso e que tem comprometido os movimentos da artista.)
Foi casada com o ator Francisco Milani e com o diretor Astolfo Araújo.

 Carreira

  Na televisão
2010 - As Cariocas ..... Denise (ep: A Desinibida do Grajaú)
2008 - Dicas de Um Sedutor ..... Mãe Januária
2008 - Casos e Acasos ..... Eliete
2005 - Bang Bang ..... Miriam Veridiana McGold
2004 - Metamorphoses ..... Margot
2003 - Kubanacan ..... Caridad ("participação especial")
2003 - Agora É que São Elas ..... Dinorá
2001 - O Clone ..... Dra. Cecília Leal ("participação especial")
2001 - Porto dos Milagres ..... Rita
2000 - Esplendor ..... Olga Norman
1998 - Meu Bem Querer .....
1998 - Serras Azuis ..... Semíramis (Bandeirantes)
1996 - Razão de Viver ..... Yara (SBT)
1995 - Explode Coração
1994 - As Pupilas do Senhor Reitor ..... Eugênia Carlota (SBT)
1993 - Fera Ferida ..... Salustiana Maria

1992 - Você Decide (3 episódios)
1991 - Vamp ..... Carmem Maura

1989 - Tieta ..... Perpétua ("antagonista")
1987 - Bambolê ..... Fausta
1986 - Roda de Fogo ..... Thelma Rezende
1986 - Cambalacho ..... Joana Duarte ("participação especial")
1984 - Corpo a Corpo ..... Lúcia Gouveia
1983 - Eu Prometo ..... Helô
1983 - Louco Amor ..... Laura ("participação especial")
1982 - Elas por Elas ..... Natália
1981 - Brihante ..... Virgínia
1981 - Baila Comigo ..... Prostituta ("participação especial")
1980 - Coração Alado ..... Melissa
1979 - Os Gigantes ..... Vânia
1978 - Dancin' Days ..... Yolanda Pratini
1977 - Sem Lenço, Sem Documento ..... Hilda
1976 - Papai Coração ..... Paula

1975 - A Viagem ..... Andrezza
1975 - Ovelha Negra ..... Marina
1974 - Ídolo de Pano ..... Jeanne
1973 - Vendaval ..... Catarina
1972 - Bel-Ami ..... Betina
1971 - A Fábrica ..... Maria Cecília
1970 - As Bruxas ..... Sofia
1969 - João Juca Júnior ..... Cléo
1969 - Nenhum Homem É Deus ..... Mina
1969 - A Última Valsa ..... a desconhecida
1968 - Passo dos Ventos ..... Linda
1964 - O Desconhecido

No cinema
Quanto Vale ou É por Quilo? (2005)
Copacabana (2001)
Quem Matou Pixote? (1996)
Vai Trabalhar Vagabundo II (1991)
Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia (1990)
O Cavalinho Azul (1984)
Espelho de Carne (1985)
Beijo na Boca (1982)
Contos Eróticos (1977)
Marília e Marina (1976)
Um Brasileiro Chamado Rosaflor (1976)
Os Desclassificados (1972)
Vozes do Medo (1972)
Noites de Iemanjá (1971)
Fora das Grades (1971)

Elas (1970)
Gamal, o Delírio do Sexo (1970)
As Gatinhas (1970)
O Palácio dos Anjos (1970)
Um Sonho de Vampiros (1969)
As Armas (1969)
Macunaíma (1969)
A Noite do Meu Bem (1968)
Edu, Coração de Ouro (1968)
Bebel, Garota Propaganda (1968)
O Homem Nu (1968)
A Vida Provisória (1968)
El ABC del Amor (1967)
Todas as Mulheres do Mundo (1967)
Um Morto ao Telefone (1964)
O Quinto Poder (1962)

Prêmios

AnoPrêmioCategoria(Novela/Filme)Resultado
1968CANDANGOMelhor Atriz CoadjuvanteA Vida ProvisóriaVenceu
1979APCAMelhor Atriz de TelevisãoDancin' DaysVenceu
1990CANDANGOMelhor AtrizCésio 137 - O Pesadelo de GoiâniaVenceu
1990Troféu ImprensaMelhor AtrizTietaVenceu

entrvista de joana fon a revista Quem 

A atriz fala pela primeira vez de sua luta contra o câncer – ela teve que retirar os dois seios, submeteu-se a cinco cirurgias e, no lugar da quimioterapia, usa um medicamento que tira o vigor e a deixa sem ar. Mas Joana não desiste da vida e faz muitos planos para o futuro

Dois tumores no seio direito – foi esse o diagnóstico que a atriz Joana Fomm recebeu de sua médica no começo de 2007. Ela descobriu que precisava retirar a mama. Tentou levar a doença na base do humor, até como forma de aliviar a ansiedade pela recuperação, após a cirurgia. Um ano depois, porém, quando pensava ter vencido o drama, o câncer voltou. Dessa vez, a mamografia indicava três tumores no seio esquerdo. Uma nova cirurgia foi feita para a retirada da outra mama. “Na hora em que tiram o seio... a sensação é a de perder uma perna. Estavam tirando um pedaço de mim”, diz Joana. O humor, então, já não era o mesmo de antes.

A atriz recolheu-se em casa, no Leblon, Rio de Janeiro, e só atendia os amigos por telefone. Chorou, ficou deprimida, mas não escondeu o câncer de ninguém. O medo da morte surgiu apenas após uma quinta (e demorada) cirurgia, para a reconstituição das mamas. “É impossível estar com essa doença e não pensar nisso. Fiquei imaginando que não é possível que uma pessoa, na minha idade, aguente tanta anestesia. Mas foi um pensamento passageiro”, diz ela, que está com 70 anos.

Em entrevista a QUEM, a atriz, que é mãe de Gabriel, de 34 anos, de seu relacionamento com o escritor Ricardo Gouvêa, concordou em falar pela primeira vez sobre a luta que travou contra a doença. Um tanto ofegante, efeito da medicação que precisa tomar por cinco anos, olhos marejados e voz por vezes embargada, Joana dá uma lição de vida. Sentada no sofá de sua sala, ao lado de uma estátua de Dom Quixote, ela faz planos para o futuro, dos quais constam trabalhos como a próxima novela de Gilberto Braga, que deve ir ao ar em 2010.

repetição de uma grande parceria – em 1978, ela brilhou como a Yolanda Pratini, de Dancin’ Days. Outro trabalho de enorme sucesso seu é a amargurada e cômica Perpétua, da novela Tieta, de Aguinaldo Silva, em 1989. “Tenho muitos planos de viver. Quando os seios estiverem bem bonitos, depois da próxima plástica, quero ir à praia de topless, para enlouquecer os paparazzi. Quero fazer topless para provar minha feminilidade”, diz, com um belo sorriso.

QUEM: Como você descobriu que estava com câncer?

JOANA FOMM: Fui fazer um exame normal, estava atrasada com meus preventivos. A médica olhou e disse: “Aqui tem uma coisa”. Achei que não devia ser nada, porque já tinha tido uns caroços antes. Mas, da maneira como ela me olhou, eu já sabia que era câncer.


QUEM: Qual foi a primeira pessoa a quem você contou sobre a doença?

JF: Um amigo meu, Radamés, me ligou quando eu estava saindo do consultório. Tínhamos marcado de ir ao teatro ver meu filho, que é músico e ia participar da orquestra da peça. Daí, atendi já falando: “Alô, estou com câncer”. Ele desligou o telefone na hora, acho que pirou junto comigo. Dois minutos depois, ligou de novo. Eu disse que não ia ao teatro. Ele insistiu e fomos. Quando cheguei lá, chamei meu filho, Gabriel, e falei do exame. Ele tentou segurar o choro, pediu para eu ir para casa, mas preferi ficar e ver a peça. Esse foi meu primeiro dia com a doença.

QUEM: Você teve câncer duas vezes seguidas. Dá para comparar as duas etapas?

JF: É muito ruim. Você não sabe que está com a doença, não sente nada... Um belo dia, faço um exame e o médico diz: “Você está com câncer”. Na primeira vez, em 2007, segurei bem, operei logo, foi tudo rápido. Pensei: “Pronto, acabou”. Tirei o seio e fizeram a plástica. Tive certeza de que estava boa. Num outro exame, um ano depois, viram que o outro seio tinha três tumores. Aí, peguei depressão. Pensar em começar tudo de novo... Nossa, foi um golpe e tanto! A impressão era de que uma pedra tinha entrado na minha cabeça e tomado conta de mim. Fiquei pálida como uma pera. Branca mesmo.


QUEM: Qual foi o pior momento da doença?

JF: Fiquei ainda mais deprimida quando não consegui fazer uma peça, que estava ensaiando, no começo de 2008. Queria provar que tinha capacidade de fazer. Fui aos ensaios, mas não aguentei ir adiante. Isso me afundou ainda mais.

QUEM: Você fez quimioterapia?

JF: Não. Tenho que tomar um remédio fortíssimo por cinco anos e fazer exames regularmente. Não perdi cabelo, nada disso... Mas fico sem fôlego. O remédio que eu tomo tira o vigor. Mas aprendi a driblar o remédio. Estou representando que estou com vigor.


QUEM: Agora, por exemplo, está representando?

JF: Represento todo dia. Faço piada, brinco... Mas é claro que é complicado. Antes de você chegar, eu estava na cama, deitada, bastante tonta. Minha pressão estava 9 por 6. Tomei um copo d’água, nem conseguia levantar a cabeça. Daí, você chegou e tive que representar que está tudo bem (risos). Mas estou reerguida. A minha professora de voz, que também teve câncer, disse que, pela minha voz, estou curada. Isso tem sentido. Quando se tem a doença, a voz diz muito sobre você. Depois que acaba, é difícil voltar à voz normal. Sair é mais difícil do que ficar doente. A gente fica embrulhada num outro clima.

QUEM: No período em que esteve doente, as pessoas se afastaram de você?

JF: Eu é que me afastei. Pedi para os amigos não ligarem, estava deprimida. A não ser que você tenha muita intimidade com a pessoa, é chato recebê-las em casa, deitada, com câncer! Arlete Salles me ligou e me fez rir, falou: “Aproveita para fazer tudo quanto é plástica, conserta tudo!” Ney Latorraca ligava direto, ficava às gargalhadas com ele no telefone. Disse que ele me curou um pouco também.


QUEM: Teve medo de morrer?

JF: Só tive medo de morrer uma vez. Fiz cinco operações ao longo do tratamento, incluindo as plásticas. A última durou sete horas, e aí veio o medo. Não é possível que uma pessoa, na minha idade, aguente tanta anestesia. Falei isso para a médica, mas ela achou que era bobagem. Foi um pensamento passageiro.
QUEM: Que lição você tira disso tudo?

JF: Todo mundo diz que tira lições de um câncer, mas eu não. Isso tudo talvez tenha me feito pensar na célula que inflama e enlouquece, mas não enlouquece sozinha, enlouquece as outras células. É um universo que funciona independentemente da gente, é uma doença da qual você não participa. Eu quis dar um caráter psicológico a ela, mas meu psicanalista quis me bater! Desculpe eu rir disso, é trágico, mas é engraçado. Quando vi os meus novos seios, pensei: “Poxa vida, no final, saí no lucro! Estão mais bonitos do que eram antes”.


QUEM: Antes da reconstituição dos seios, você conseguia se ver no espelho?

JF: Não. Fiz a cirurgia e me enrolaram toda na cama com gazes. Quando levantei, a gaze caiu. Aquilo me deixou nervosa. Tive pânico de me olhar e não ver meus seios. Chamei as enfermeiras e falei que caiu o curativo. Fiquei muito nervosa! Mas, aí, entra o lado cômico da tragédia... As enfermeiras eram minhas fãs, me reconheceram, ficaram ainda mais nervosas, não conseguiam fazer nada. Ficaram atrapalhadas. Tive um ataque de riso. Falei: “Gente, vocês estão parecendo dupla caipira. Me dá isso aqui que eu mesma coloco”. Daquele dia em diante, tive que rir da doença.

QUEM: Dizem que a retirada dos seios mexe com a feminilidade. Você sentiu essa mudança?

JF: Não me sinto menos mulher, pelo contrário. Eu me sinto mais feminina, por saber que segurei essa. Estou mais corajosa. Quero recuperar a força, acabar com esse cansaço. Na hora em que tiram o seio... a sensação é de perder uma perna. Estavam tirando um pedaço de mim. Não é mole, sabia? Mas, depois que passa, o desejo é ter um seio bacana. É uma vergonha uma mulher da minha idade falar isso, mas, na verdade, eu quero é namorar. Quero ter 120 anos e estar legal comigo mesma, não me esconder atrás de sutiãs de enchimento.


QUEM: Você está namorando?
JF: Agora não. Mas, no ano passado, sim. Namorei com seio escondido. Não ficava à vontade. Não quero falar o nome dele, mas foi uma pessoa maravilhosa durante toda a doença, ficou por perto, foi bacana, me deu muita força. Tenho muitos planos de viver. Quando os seios estiverem bem bonitos, depois da próxima plástica, quero ir à praia de topless, para enlouquecer os paparazzi. Quero fazer topless para provar minha feminilidade. Procurei o médico e falei para transformá-los em seios de atriz europeia, dessas que usam camisetas decotadas.


QUEM: Como está sendo o retorno ao trabalho?

JF: No final do ano passado, participei em Casos e Acasos e Dicas de Um Sedutor. Fiz tudo nervosíssima. A voz foi sumindo, a força também. Mas fui lá e fiz. As pessoas que viram gostaram. Mas sei que podia ter ficado melhor. Não saiu como gostaria de ter feito. Fiz agora um filme, O Gerente, do Paulo César Saraceni, ficou bem bacana. Consegui dominar a interpretação. E farei, no ano que vem, a novela do Gilberto Braga. Quero viver.


QUEM: É comum pessoas que passam por problemas como o seu se apegarem à religiosidade. Com você também foi assim?

JF: Se eu me tornei religiosa? Não, sabe por quê? Porque não tenho religião. Nunca tive. Eu não acredito em Deus, mas acredito no poder da energia positiva. Acredito em santos, por exemplo, que são caras de energia fantástica. Ainda quero contar num livro os mistérios que rondam minha vida. São coisas que aconteceram comigo, então, não posso ignorá-las, simplesmente.

QUEM: Que coisas?

JF: Quase morri de gangrena, com apendicite, quando tinha 6 anos. Quem me salvou foi um espírita, que meu tio levou até mim, após os médicos dizerem que não sabiam o que eu tinha. Depois, na adolescência, tive febre aftosa. A costureira da minha tia foi lá me rezar, nunca tinha visto uma rezadeira na vida. Quando acabou de rezar, eu já não tinha mais nada. Olha que loucura! O médico não sabia nem o que dizer.


QUEM: Teve alguma experiência assim, inexplicável, mais recentemente?

JF: Estive no Retiro dos Artistas em agosto, para ver a Dirce Migliaccio, que foi muito minha amiga. Me falaram para não ir, porque ela não reconhecia mais ninguém. Mas fui. E me assustei com a aparência dela. Perguntei: “Dirce, aqui é Joana. Você se lembra de mim?” Ela, que não falava há dias, disse: “Claro!” Quando fui embora, ela deu um grito: “Tchau”. Depois disso não falou mais nada. Foi uma despedida, e só para mim (Dirce morreu no fim de setembro). Fiquei louca de tão comovida por ela ter falado só comigo. Chorei horrores.

QUEM: A novela Tieta, que marcou época na TV, está completando 20 anos. Você sente saudade de sua personagem, a megera Perpétua?

JF: Não. Porque deixo a personagem lá no estúdio no último dia de gravação. Mas fico com certos problemas, sabe? Quando fiz Perpétua, fiquei cheia de rugas. Eu era uma pessoa toda enrugada, por causa das expressões que ela fazia. E tinha que usar sapato de padre, aquela coisa dura, que deixava os pés horrorosos. Foi um sacrifício voltar a ser eu mesma depois daquele trabalho.


QUEM: É verdade que você não gosta de falar sua idade?

JF: É, sim. Só falo minha idade para taxista, porque eles perguntam e se assustam depois que falo. “Não pode ser! Setenta?!” Morro de rir. Parei de falar em idade quando soube de uma frase ótima do Millôr Fernandes, que diz: “Depois de não existir e antes de desaparecer para sempre, a gente vive um pouco”. Idade limita a gente. Ah, não pode transar com essa idade? Por favor, né!

QUEM: Você sente que existe esse preconceito com relação à idade dos atores?

JF: Muito. Quando você diz a idade, os diretores pensam: “Vamos colocá-la para ser a tia velha da mocinha”. E nada mais que isso. A única pessoa que escapou dessa coisa horrorosa foi a Fernanda Montenegro. O resto não. Em Bang Bang (2005), acharam que o casal que formei com o Tarcísio Meira era muito velho. Olha que horror! Era um casal tão lindo...


Fonte: Revista Quem - 05/10/2009

entrevista a revista isto e gente
fonte © Copyright 1999/2007 Editora Três
Joana Fomm
‘‘O papel de mocinha é chato’’
Atriz de vilãs inesquecíveis como Yolanda Pratini, de Dancing Days, e a Perpétua, de Tieta, ela está no ar em Bang Bang e, aos 65 anos, diz que sua crise de idade foi aos 28

TEXTO: CARLA FELÍCIA
Não é só pelo talento exibido em seus trabalhos que Joana Fomm surpreende. À vontade no sofá de seu apartamento no Rio, a atriz, de 65 anos, destrói com muita simpatia qualquer vestígio das vilãs inesquecíveis que marcaram sua carreira. Cigarro sempre na mão, diverte-se por não saber ao certo há quantos anos encanta o público: “Quarenta e poucos”, diz. De tão desligada, esqueceu seu próprio aniversário, em setembro. Foi lembrada pelo filho, o músico Gabriel, 30, de sua união com o escritor Ricardo Gouveia. No ar em Bang Bang, como a matriarca Viridiana, enfrenta o desafio de conquistar o público fazendo uma mulher do bem.

Fazer uma avó pela primeira vez é um problema?
Não. Se meu filho tivesse levado uma vida normal, casado cedo, já seria avó. Tenho uma birra com ele porque digo que quero ser avó e ele responde que se depender dele posso esquecer. Ele não quer filhos. A coisa que eu mais gostaria no mundo era ser avó, levar meu neto para ver a gravação...

Sente-se bem com o passar do tempo?
É difícil. Meu analista disse que estou em forma. Respondi que cada um sabe o que sente quando envelhece. Não consigo mais pular muro, ou seja, envelheci. Gostava muito disso, de correr, de subir e descer de árvore. Por outro lado, é mais fácil ser feliz mais velho. Você não dá importância a milhares de coisas que você dava antes e que não têm a menor importância. Eu era muito elétrica, ansiosa. Agora não, estou em paz. Você vai aceitando o mundo como ele é. Não que eu tenha ficado babaca, ainda discuto, brigo pelos meus propósitos, mas numa boa, sem ansiedade.

É difícil envelhecer sendo uma atriz?
Fiz uma plástica no pescoço porque me vi no vídeo. A imagem é terrível. Tudo que você não vê em casa no espelho, vê na tevê em detalhes. E isso dá um choque. Mas mesmo assim estou envelhecendo legal. Tem gente que muda o rosto, fica gordo, magro, com raiva, rancoroso. O envelhecimento para mim foi uma abertura, não uma reclusão.

Faria outra plástica? 
Adorei o resultado, mas acho que não faria mais. No meu rosto não mexeria, a não ser uma correção, tirar uma gordurinha. Pegar essa cara que estou agora e aumentar o nariz, puxar não sei o quê, para ficar 20 anos mais jovem, aí não. Tenho a impressão de que se eu fizer uma plástica e não me reconhecer no dia seguinte, me suicido. Tem uma hora que você tem que envelhecer, senão fica ridículo. Ou a gente envelhece ou morre. Prefiro envelhecer.

Prefere vilãs ou mocinhas?
O papel de mocinha é chato. É bom fazer a vilã, a peste. As vilãs têm liberdade, podem ser loucas, não precisam ter um comportamento específico. Têm que ser inesperadas, o que é maravilhoso. Já fiz mocinhas também, mas não são os grandes papéis. Tem um site que fala das grandes personagens das novelas e sou eu a única que tem duas na lista: a Yolanda Pratini (de Dancing Days) e a Perpétua 
(de Tieta).

Grupos de discussão já influenciaram seu trabalho? 
Quando fiz Porto dos Milagres, a classe gostou muito e eu também, mas o povo não. Eu era uma mulher de pescador e aparecia velha, feia e boazíssima. O grupo de discussão achou que o cabelo estava feio, que eu estava mal vestida. Eu e Tonico Pereira, que fazia meu marido, entramos pelo cano. Não queriam que ele fosse barrigudo como tínhamos imaginado. Disse para ele: “Encolhe logo essa barriga, põe a camisa para dentro, que eu vou pentear o cabelo. Vamos fazer o que eles querem”.

Como foi a sua infância?
Eu era um moleque. Era conhecida como peixinho, nadava todo dia desde menina. Depois, comecei a jogar futebol, na praia e em casa. Era a líder, representante da turma, já era feminista sem saber. Odiava quando um garoto dizia que em mulher não se bate nem com uma flor. Ficava tão possessa que batia nele. Minhas brincadeiras eram de moleque, não brincava de boneca. Mas na minha cabeça eu ia ser escritora, isso já estava decidido. Com 15 anos, um namorado me convidou para entrar num grupo de teatro. Fui ensaiar com ele e não deu certo, mas eu resolvi estudar teatro assim mesmo.

 verdade que fez curso de modelo?
É. Todo mundo falava que eu sentava como um garoto, falava como um garoto. Procurei a Socila para aprender a sentar e andar como uma mocinha, a me comportar, a fotografar, tudo pensando em ser atriz.

Tornou-se vaidosa? 
Agora faço uma coisa que nunca fiz na vida: passar creme. Há seis meses, minha dermatologista mandou. De repente, vi que tinha cremes, xampus, mousses, entrei nessa. É resultado da idade. Se eu não resolver isso agora, nunca mais. Então vou passar creme para a pele ficar bonita.

Cuida da saúde?
Deveria. Faço musculação e pilates, mas não durmo cedo. Quando não estou gravando, durmo às 5h. Queria tanto que não houvesse violência porque é de noite que começo a viver. Gosto de sair, andar nas ruas, ir a uma livraria, tomar um café, olhar vitrine, encontrar amigos. Hoje em dia não dá mais. Deveria parar de fumar, mas também não consegui ainda. O máximo que consegui foi ficar três dias sem fumar. É vício mesmo.

Tem outros vícios?
Não, isso que é o chato. Podia parar de fumar cigarro para fumar maconha, que faz menos mal. Não posso, porque maconha me dá fobia. Se vou beber, arrasa meu fígado. Quando era jovem, tomei LSD como terapia. Mas quando percebi que era uma piada, briguei com o médico, parei de tomar. Aquilo não faz bem, vi amigos meus ficando malucos. Também não gosto de jogar, quer dizer, jogar até gosto um pouco. Não chega a ser um vício, então só tenho o cigarro mesmo.

Já teve alguma crise de idade?
Aos 28 anos, descobri que estava velhíssima. Não sei o que foi, entrei numa crise metafísica. “Por que estou aqui?”, “O que vou fazer?”, “Qual é a função do homem?”. Aí, li uma frase do Millôr Fernandes, tive um ataque de riso e saí dessa crise: “Depois de não existir nunca e antes de desaparecer pra sempre, a gente vive um pouco”. É por aí. Depois tive uma crise maior com nascimento de filho. Mas não era por causa
da idade.

Por que era então?
Responsabilidade. Não tinha imaginado que mudasse tanto assim. Fiquei complicada, deprimida. Entrei na fobia, no pânico, fiquei muito tempo sem fazer teatro por isso. Fiquei muito maluca, com medo. É uma coisa fantástica ter filho e me assusto muito com as coisas. Ver uma pessoa crescendo dentro de você é uma loucura. Depois você sente falta da barriga. Descobri com tratamento médico que era depressão. Na minha época, a moda era dizer que era fossa. Me tratei fazendo muita psicanálise.

Você foi casada quantas vezes?
Acabei de perder o único marido com quem casei no papel e de véu e grinalda (o ator Francisco Milani). O que não significou nada em absoluto. Ficamos juntos por pouco tempo, um ano e três meses.
Já vivi junto umas quatro, cinco vezes, mas nunca por muito tempo.
Era namoro mesmo, não chegou a ser casamento. Então, na verdade, acho que não casei nunca. Casar mesmo, fazer alguma coisa junto, isso não experimentei.

Está namorando?
Não. Adoraria gostar de alguém, mas também não consigo mais dizer que vou tentar porque acho engraçado. Atualmente, tem que ter alguma definição. Vamos ter uma coisa leve ou vamos correr o risco de fazer algo juntos? E não tem acontecido isso. Quando você é jovem vai ver o que acontece, transa uma noite. Para mim não dá mais, já não acho engraçado. Depois de meia hora sei como vai acabar. Meu último namorado um dia disse: “Descobri que a gente tem que casar”. Respondi: “Descobri que nós acabamos de acabar”. A gente não tinha nada em comum além de passear, namorar, fazer amor.

Não se sente solitária?
Adoro me sentir solitária. É muito bom ficar sozinha, às vezes meu filho até me atrapalha um pouco nisso. É claro que sinto falta de um amor, porque abraçar é bom, beijo na boca é bom, comentar a vida é muito bom. Mas fico sozinha sem problema. Eu gosto.

 
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