HELENO DE FREITAS (jogador de futebool biografia)


      Heleno de Freitas
Heleno de Freitas (São João Nepomuceno, 12 de fevereiro de 1920 — Barbacena, 8 de novembro de 1959) foi um futebolista brasileiro, considerado o primeiro "craque problema" do futebol brasileiro.
Advogado, boêmio, catimbeiro, boa vida, irritadiço, galã, Heleno era homem de boa aparência, mas quase intratável. Depois de onze anos jogando futebol, entrou para a história como um dos maiores craques do futebol sul-americano .


                                                                                                  O jogador

Dono de um gênio intempestivo, que muitas vezes o fazia ser expulso de campo e lhe trazia muitos inimigos, Heleno de Freitas, apelidado de "Gilda" por seus amigos do Clube dos Cafajestes e pela torcida do Fluminense, por seu temperamento e por este ser o nome de uma personagem da atriz estadunidense Rita Hayworth em filme de mesmo nome, foi o símbolo de um Botafogo guerreiro, que nunca se dava por vencido.
Descoberto por Neném Prancha no time do Botafogo de praia, Heleno chegou ao time principal em 1937, com a responsabilidade de substituir o ídolo Carvalho Leite (goleador do tetracampeonato estadual, de 1932 a 35) e não decepcionou a torcida, com grande habilidade e excelente cabeceio.
Dono de uma postura elegante dentro e fora de campo, o jogador de cerca de 1,82 metros de altura foi o maior ídolo alvinegro antes de Garrincha, mesmo sem nunca ter sido campeão pelo clube. Marcou sua passagem pelo Botafogo com 209 gols em 235 partidas, tornando-se o quarto maior artilheiro da história do clube. Deixou General Severiano em 1948, quando foi vendido ao Boca Juniors, da Argentina, na maior transação do futebol brasileiro até então.

Ainda atuou pelo Vasco da Gama, onde conquistou seu único título por um clube, o de campeão carioca de 1949 com o memorável Expresso da Vitória, pelo Atlético Junior de Barranquilla (da Liga Pirata da Colômbia), pelo Santos e pelo América, onde encerrou a carreira, porém tendo jogado apenas uma partida pelo clube de Campos Sales, sua única no estádio do Maracanã, sendo expulso aos 35 minutos do primeiro tempo, após acertar um carrinho violento em um zagueiro adversário. Ainda tentou, depois, voltar aos campos pelo Flamengo por indicação de Kanela, mas se desentendeu com os jogadores do rubro-negro num jogo-teste e não foi aceito.
Fez 18 partidas pela Seleção Brasileira de Futebol marcando 15 gols, tendo sido artilheiro do Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1945 - atual Copa América - com 6 gols.

Nesta Foto  o time do Mangueira de 1936, onde vemos: Pedro Ferreira, Orlando, Ovanna, Carlos Mendes, Canarinho, Zinho, Heleno de Freitas, Oscar, Antonio, Heraldo, Deco Mendes e Nestor Rezende.


                                                                                                     Vida pessoal

Heleno estudou no Colégio São Bento e depois obteve o bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro (atual Faculdade Nacional de Direito da UFRJ). Era considerado membro da alta sociedade, com amigos empresários, juristas e diplomatas. Seu pai era dono de um cafezal e ainda cuidava de negócios de papel e chapéus.
Sua vida foi marcada por vícios em drogas como lança-perfume e éter. Isto o fez tentar se auto-eletrocutar num treino do Botafogo. Boêmio, era frequentador de diversas boates do Rio de Janeiro.
Teve um filho apenas, Luiz Eduardo, com sua esposa Silvia. Porém, ela fugiu para Petrópolis por conta do temperamento de Heleno de Freitas em 1952. Luiz Eduardo — por ter perdido contato desde a mudança — só teve notícias sobre o pai com 10 anos de idade, justamente sobre seu falecimento
.
O casamento de Heleno com Ilma, mãe de Luiz
Heleno teve complicações com sífilis, que o deixou louco. Segundo o ex-goleiro Danton, Heleno, já internado em um sanatório, assistia acompanhado de um médico os jogos do Olympic de Barbacena, e dentre seus delírios megalomaníacos Danton o ouviu contar que teve casos amorosos com várias mulheres bonitas, incluindo um caso nunca comprovado com Eva Peron no período em que ele esteve na Argentina. Veio a falecer no ano de 1959, em um sanatório de Barbacena, onde se internou seis anos antes, em 1953, com apoio da família.
Sua vida é retratada no filme Heleno estrelado por Rodrigo Santoro que fez o papel título e Alinne Moraes, que fez sua esposa Silvia 
.

 Clubes

Fluminense
Botafogo
Vasco da Gama
Boca Juniors
Atlético Junior de Barranquilla
Santos
América

 Títulos

Copa Roca :1945
Copa Rio Branco :1947 (Pela Seleção Brasileira)
Campeonato Carioca : 1949 (Pelo Vasco da Gama)
 Campeonato Carioca de Aspirantes: 1949 (Pelo Clube de Regatas Vasco da Gama
)



Em pé: Negrão, Laranjeiras, Sarno, Ary, Spinelli e Ivan.
Agachados: Renê, Tovar, Heleno, Tim e Franquito.
Heleno de Freitas - Ex-atacante do Botafogo
Seleção Carioca 1946 II
Vejam a seleção carioca campeã brasileira de 1946. Em pé: Johnson (massagista), o goleiro Luís Borracha, Eli, Augusto, Jorge, Danilo Alvim e Haroldo. Agachados: Pedro Amorim, Maneco, Heleno de Freitas, Ademir de Menezes, Chico e o também massagista Mário Américo

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/974661-rodrigo-santoro-usa-obsessao-para-moldar-tragedia-de-jogador.shtml
Rodrigo Santoro usa obsessão para moldar tragédia de jogador

Rodrigo Santoro, 36, faz a melhor performance de sua carreira em "Heleno", que teve estreia mundial anteontem no Festival de Toronto.

Dez anos se passaram desde que o ator se tornou um dos principais rostos do novo cinema brasileiro, com "Bicho de Sete Cabeças" (2001), de Laís Bodanzky.

O novo filme é o primeiro em que exerce também a função de produtor, tendo trabalhado desde a concepção do projeto e do roteiro com o diretor José Henrique Fonseca ("O Homem do Ano", 2003).
Baseado na história real de Heleno de Freitas, o longa --que tem estreia no Brasil prevista para março do ano que vem-- narra a tragédia do icônico jogador do Botafogo dos anos 1940.

Heleno viu seu talento e sua carreira serem destruídos por um temperamento irascível e pela sífilis cerebral, que o matou com apenas 39 anos, em 1959, esquecido e falido
.
Ele era obcecado com a perfeição, não só dele, mas de todo o time que jogava ao seu lado", explica o ator, que usou essa mesma obsessão para moldar sua performance. "A vida é muito curta para não dar o seu melhor."


heleno de freitas                                                                        rodrigo santoro

DEGRADAÇÃO FÍSICA

A atuação de Santoro vai além da transformação física (ele perdeu 20 kg para viver os últimos dias de Heleno), abrangendo também a arrogância do playboy carioca, seu charme e a derrocada numa clínica em Barbacena (MG), onde viu Pelé ascender ao estrelato na Copa de 1958.

O trabalho do ator e a degradação física do personagem remetem às performances recentes de Marion Cotillard em "Piaf - Um Hino ao Amor" e de Natalie Portman em "Cisne Negro".

Outra referência clara é Robert de Niro em "Touro Indomável" (1980). E não é por acaso que o longa é fotografado por Walter Carvalho ("A Erva do Rato") num preto e branco inspirado no clássico de Martin Scorsese.

"Heleno" reverencia o Rio dos anos 40 e 50 com visual e estilo, mas peca ao ignorar o lado popular do futebol.

Para um filme que fala sobre o maior esporte nacional, tendo como pano de fundo a derrota na Copa do Mundo de 1950 e a vitória em 1958, faltam a paixão e a presença do torcedor, o que torna a genialidade do protagonista algo meramente citado, mas nunca mostrado no longa
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Sífilis que matou Heleno demora décadas para se manifestar, afirma especialista
"É possível que Heleno tenha contraído sífilis nos primeiros anos da vida sexual"
Documentos do prontuário 220
Renan Damasceno - Estado de Minas

Heleno de Feitas deu entrada na Casa de Saúde São Sebastião em 19/12/1954, conforme documentos do prontuário 220, uma pasta com cerca de 120 cartas trocadas entre o dr. José Theobaldo Tollendal e Heraldo de Freitas, que custeou as despesas do irmão. Foi o médico que, um mês antes, havia descoberto, em exame na Casa de Saúde Santa Clara, em BH, a doença que mataria Heleno: paralisia geral progressiva (PPG).

Para a médica Lucinéia Carvalhaes, diretora clínica do Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte, referência nacional em doenças infecciosas, “é possível que Heleno tenha contraído sífilis nos primeiros anos da vida sexual, pois era comum então ter as primeiras relações com prostitutas”.

Também conhecida por neurossífilis ou sífilis terciária, a PPG é uma manifestação tardia da doença. Não tem cura e o tratamento apenas impede o avanço, sem dar fim às sequelas. A sífilis é um mal silencioso. Na primeira fase, aparecem pequenas feridas, que somem em três semanas. Pouco tempo depois, a manifestação é uma alergia no corpo, que igualmente desaparece.

O paciente perde peso, apresenta fortes dores musculares e passa a caminhar com a base alargada, como se estivesse perdendo o equilíbrio. As principais manifestações psiquiátricas são mania de grandeza, discurso sem nexo e confusão entre fantasia e realidade – sintomas apresentados por Heleno.

Estádio do Olympic


Segundo a sobrinha do jogador, Helenize de Freitas, Heleno contava muitos casos já durante o período que morou em São João Nepomuceno, entre 1952 e 1954, antes de se internar em definitivo. “Ele contava para gente que era amigo do Víctor Mature, ator de Sansão e Dalila. Como ele convivia com muitos artistas nos tempos de glória do Rio, a gente era criança e não sabia se era verdade. Só depois, mais tarde, que percebemos que aquilo já era delírio do tio Heleno”, comentou. 

O ex-goleiro Danton, que conviveu com Heleno, quando este ia aos treinos do Olympic acompanhado do Dr. Tollendal, em Barbacena, também lembra dos casos megalomaníacos do ex-craque do Botafogo. “Ele falava para gente que namorava as mulheres mais bonitas. Contava que teve caso com a Eva Perón, quando estava na Argentina”, contou.

Antes da descoberta e do aumento do uso da penicilina, nos anos 1940, a neurossífilis era a principal causa de internação entre os quadros psiquiátricos. Na casa de Saúde, Heleno foi tratado com doses de Benzetacil (benzilpenicilina benzatina), antibiótico utilizado para tratar infecções. Ainda hoje, o farmaco é uma das opções mais eficazes para o tratamento da sífilis
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Filho de Heleno de Freitas foi até sanatório para conhecer história do pai: ‘Foram 60 anos procurando’

 Quando o filme "Heleno" estrear, no próximo dia 30, o público do século XXI irá conhecer o mundo de glamour e tragédia de um ídolo de 70 anos atrás. Já seu filho, Luiz Eduardo, 62 anos, pretende se distanciar de todas essas histórias.
— O filme fechou um ciclo para mim. Heleno acabou. Acabou a minha procura. Foram 60 anos procurando — disse.
A voz cansada denuncia o peso do mito Heleno sobre filho Luiz Eduardo de Freitas. Uma vida inteira dedicada a uma busca frenética pelas origens que teve seu ponto alto na ida ao sanatório onde o pai morreu.
— Eu precisava saber quem ele era. Muitos falavam dele e eu tinha que buscar a minha raiz.


 A mãe de Luiz, Ilma, se separou de Heleno quando o filho ainda tinha dois anos de idade. Depois disso, nunca mais tiveram contato. A morte do pai, em 1959, lhe foi informada sem maiores detalhes. Mas em um táxi na Praça Mauá, anos mais tarde, a caminho do colégio interno, soube do destino trágico do ex-atacante de Botafogo e Vasco.
— Carente de pai como eu era, sempre perguntava para os taxistas se eles conheciam Heleno de Freitas. Até que um dia um deles respondeu: "É aquele que morreu maluco, né?"
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Luiz Eduardo de Freitas, filho de Heleno, na pré-estreia do filme que conta a história de seu pai
filho de heleno
A revelação caiu como uma bomba para Luiz, que, a partir de então, passou a refazer todos os passos do pai. Uma procura que o levou até o sanatório de Barbacena-MG.
— O sanatório já estava sendo demolido. Mas eu precisava entrar no quarto em que ele ficava. Precisava saber se ele havia deixado alguma mensagem para mim — contou Luiz, que brincou com as próprias lembranças: — Coisas de maluco atrás de maluquice.


 ão havia mensagem alguma, mas Luiz voltou de Minas com o peso nas costas de anos de busca. Hoje, ele não quer mais falar de Heleno. No máximo, da atuação de Rodrigo Santoro no filme. Ou de seu próprio livro, que ainda não foi escrito mas já tem título. "O menino catabola" irá contar esta busca por identidade.
— O título é inspirado naquele bicho que vira uma bolinha quando você encosta nele. Eu era assim quando novo. Vivia me escondendo. Agora, vou limpar minha alma. Quero morrer tranquilo.


 

heleno de freitas o principe maldito o filme
Sinopse: Heleno de Freitas era o príncipe da era de ouro do Rio de Janeiro, os anos 40, quando a cidade era um cenário de sonho, cheio de glamour e promessas. Bonito, charmoso e refinado nos salões elegantes, era um gênio explosivo e apaixonado nos campos de futebol. Heleno tinha certeza de que seria o maior jogador brasileiro de todos os tempos. Mas a guerra, a sífilis e as desventuras de sua vida desviaram seu destino, numa jornada de glória e tragédia.

“Heleno – o príncipe maldito” de José Henrique Fonseca. O filme tem caráter biográfico onde trata de vida de Heleno de Freitas, jogador do Botafogo do Rio nos anos 40. Um rio cheio de glamour e promessas, onde um charmoso jogador vivia nos refinados salões numa vida marcadamente boemia. Heleno é apresentado como um gênio explosivo e apaixonado pelo futebol. Tinha gosto refinado para o cinema e para a boa música e para variar, cercado de mulheres. Uma fotografia que explora o preto e branco dando um toque de beleza sem igual e que vai aos poucos alegorizando aquilo que será o destino trágico de Heleno. O filme começa pelo fim: o
rodrigo santoro cena do filme
 jogador já se encontra num hospital internado para tratamento de saúde e co mpletamente desfigurado pela sífilis que o atingiu dramaticamente. O papel principal foi entregue ao ator Rodrigo Santoro. Arrisco aqui a dizer que é um dos poucos papeis em que Santoro não precisa unicamente da sua beleza, mas demonstra talento dramatúrgico para um papel que requer boa interpretação e que chaga a convencer. De todos os filmes comentados nestas miúdas notas, Heleno de José Henrique Fonseca é o mais fraco, mas tem lugar garantido na história das relações futebol/cinema. Um filme que acaba soando como uma crítica no mundo do futebol de hoje, apesar de voltar aos anos 40. Explico-me: é que a vida trágica de Heleno é como um alerta para essa loucura pela busca do estrelato presente na vida de um monte de jovens no Brasil de hoje, aonde chegam a sacrificar quase tudo de sua juventude para tornar-se um cabeça de vento como esse Neymar e outros do mesmo naipe. Uma pena. Porém, o que mais me chamou a a t enção foi uma “nobreza de espírito” presente nas imagens e falas de Heleno de Freitas e que mais se parece com uma frase lapidar de Jean-Paul Sartre: “No furor, na ira, no orgulho, na vergonha, na recusa nauseante ou na reivindicação jubilosa, é necessário que eu escolha ser o que sou”. A frase poderia constar como epigrafe do filme que ficaria de bom tamanho no entendimento da vida de um grande jogador de futebol como Heleno e de como no futebol ou na vida, escolhemos também nossa breve vida e, nisto, somos todos e todas do mesmo barro.

Rodrigo santoro como sempre interpreta com magnaminidade mais um personagen que vai entrar para historia de sua carreira heleno de freitas o polemico e primeiro jogador problema da historia do brasil que acabou indo a loucura devido a sua agitaçao drogas bebidas noitadas interminaveis que incrivelmente ele continuava a jogar com com categoria mas sem paciencia acabou nao sendo aceito mais acabou morrendo louco em um sanatorio se garrincha foi uma estrela heleno foi uma supernova mas que infelismente se queimou com o propio calor que proporcionou

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HELENO DE FREITAS: O mais romântico e trágico dos craques

Heleno também era boa pinta e entrava em campo com os cabelos assentados por gomalina. Usava ternos da moda, era galã, mulherengo, boêmio, e gostava da noite de Copacabana. A família viera de Minas, da pequena São Joã Nepomuceno, onde nosso personagem nasceu, em 1920. Filho de um comerciante de café, que um dia morreu de pneumonia, Heleno mudou-se com a família para o Rio quando era ainda um garoto de 13 anos.

Logo descobriu o futebol de praia em Copacabana e atuou sob direção do folclórico Neném Prancha, filósofo do esporte e autor de algumas das mais famosas frases sobre o jogo da bola. Nas imediações do Posto 6, conheceu e se tornou amigo de outro botafoguense, João Saldanha.

Em tal companhia, Heleno só poderia terminar em General Severiano, onde chegou depois de breve desvio pelo Fluminense, clube para o qual o haviam levado alguns amigos. Aliás, uma das curiosidades da vida de Heleno é que, durante algum tempo, ele pôde jogar pelas duas equipes ao mesmo tempo.

É que nos anos 1930 havia uma cisão
Heleno de Freitas, ídolo eterno do Botafogo, vira filme com Rodrigo Santoro
Jogador de 1,82m de altura, Heleno era dono de um cabeceio inigualável. Jogando pelo time do Botafogo de futebol de praia, foi trazido para substituir Carvalho Leite, craque do tetra alvinegro
É que nos anos 1930 havia uma cisão no futebol carioca entre os que aceitavam o profissionalismo e os que o rechaçavam. Formaram-se duas ligas rivais. Entre as duas facções, Heleno jogava ora por um time ora por outro. Mas o duplo vínculo logo cessou e ele pôde se dedicar, de maneira exclusiva, ao seu time do coração, o da estrela solitária.

Houve uma mudança importante também nesse início de trajetória de Heleno. No princípio, ele jogava no meio de campo, onde se destacava pela classe e elegância. Mas tinha outra característica que poderia ser aproveitada: rendia melhor mais adiantado, dentro da área, onde imperavam seu furor, a vontade sem tamanho de vencer, a valentia e a volúpia do gol.

Transformado em centroavante, encontrou seu verdadeiro lugar dentro de campo. E também no coração da torcida que, no entanto, como se sabe, é volúvel como o de uma prima-dona.
Heleno de Freitas, ídolo eterno do Botafogo, vira filme com Rodrigo Santoro

Heleno era famoso por jogar como se tomado pela dramaticidade de uma ópera, embriagado pelo desejo de vitória, incapaz de pensar em outra coisa senão em derrotar o adversário. Desse modo, brilhou intensamente no auge de sua carreira, entre 1940 e 1947.

Nesse período áureo disputou a maior parte dos seus 304 jogos como profissional e marcou a maioria dos seus 249 gols. No entanto, por ironia, nunca conseguiu dar um título ao seu querido Botafogo.

Na gestão de Carlito Rocha (e do seu cão Biriba) foi vendido para o Boca Juniors, e lá ficou por pouco tempo. Desentendimentos com colegas, brigas, noitadas, Heleno era sempre o mesmo. Queixava-se de boicote dos argentinos, de que a bola nunca chegava a ele, em especial do jeito que a exigia, mansinha em seus pés. Encerrou prematuramente a experiência portenha e voltou ao Brasil. Foi para o Vasco e, também por ironia, conquistou seu único título carioca por um clube rival do seu amado Botafogo.

EM BUSCA DO OURO COLOMBIANO
Já não era o mesmo e os sintomas da sífilis começavam a aparecer. Em 1950, largou o Vasco e foi atrás dos dólares da famosa Liga Pirata colombiana, contratado pelo Atlético Junior de Barranquilla. Chegou encrencando com os novos patrões porque achou que o hotel onde o hospedaram não estava à altura. Mudaram-no para outro, mais condizente com o personagem. Com toda essa pompa inicial, a passagem por Barranquilla pouco teve de notável. Exceto pelo fato de Heleno tornar-se personagem de um jornalista chamado Gabriel García Márquez.

Está certo que naquela época García Márquez sequer sonhara com 'Cem Anos de Solidão', ainda não se tornara um Pelé das letras e teria achado graça caso lhe dissessem que um dia ganharia o Nobel de Literatura. No entanto, era já cronista de pena cheia e brindou Heleno com o texto intitulado 'O Doutor De Freitas'. Nele, fala de uma "milagrosa atuação" do brasileiro no Estádio Municipal.

Nelson Rodrigues também se refere ao período colombiano de Heleno. Evocando cenas fantasiosas, disputas cavalheirescas e aventuras amorosas do jogador, Nelson conclui: "Não há no futebol brasileiro jogador mais romanesco.
"

Tanto romance cobrava seu preço. Heleno ficou seis meses na Colômbia e voltou disposto a retomar a carreira. Não conseguiu. Em rápida passagem pelo Santos, brigou com todo mundo e voltou ao Rio. Lá vestiu sua última camisa profissional, a do América, com a qual realizou o desejo de jogar no Maracanã, onde sonhara defender o Brasil na Copa do Mundo. Sonho impossível, porque estava brigado com o técnico da seleção, Flávio Costa. E também porque em 1950 não era sombra do jogador que fora. Mesmo esse jogo no Maracanã tornou-se pesadelo. Com a camisa do América, comportou-se de maneira tão desvairada que terminou expulso. Era o fim.

O grande Heleno, o Gilda dos gramados, já não tinha condições sequer de cuidar de si. Assistido pelo irmão Oscar, começou a peregrinação por sanatórios, para tentar se curar. Em vão. A sífilis, provavelmente apanhada nos bordéis da vida, havia tomado seu cérebro e não era mais controlável. Terminou em Barbacena, a cidade mineira dos asilos de loucos, onde ainda viveu por seis anos, cada vez pior, em meio a recortes de jornais que falavam do seu tempo de fama. Morreu, em 1959. Tinha 39 anos
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