Leia a seguir a reprodução integral da entrevista publicada na revista Putz! de Janeiro/Fevereiro de 1999, com Luis Ricardo e Arlindo Barreto, dois homens que tiveram a honra de se vestir com o traje do Bozo! Luis Ricardo e Arlindo Barreto falam como era a vida vestido com os trajes sagrados do nosso querido Bozo.

"Bozo, Bozo... Vai tomar no cu!!!, O quê? Sua casa está cheia de urubu?"



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Luis Ricardo, o Bozo Papa-Tudo
Quantos Bozos realmente existiram? Todo mundo fica sem resposta pra essa pergunta. Pelo o que a gente conseguiu apurar, entre dublês e Bozos oficiais, existiu uma pá. Mas existem os Bozos e "o" Bozo. O grande titular, e dono absoluto da posição, sempre foi o Luis Ricardo. Ele mesmo, aquele do Pap-Tudo. Este é o cara que pegou o programa completamente falido e conseguiu mantê-lo no ar po 10 anos direto, sem sair de cima.
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Putz - Você ficava irado com qualquer modificação que os dublês faziam no personagem?
LR - Irado? Pô, o Bozo é um filho pra mim! Tinha muito show de Bozo falso e eu denunciava na delegacia. Tinha um ciúme louco do personagem.
Putz - Alguém no programa batia na molecada?
LR - Nunca, nunca... Nunca vi e nem fiquei sabendo de nenhum tipo de mau-trato.

Putz - Mas a molecada abusava, né?
LR - Se abusava? Minha canela era permanentemente roxa! A criançada ia ao programa e queria saber se o Bozo era de verdade... E era só chute na canela!

Putz - Quando você assumiu o papel de Bozo, o que mudou no programa?
LR - Antes de eu entrar, a estrutura do programa era enorme!!! Aí o Silvio Santos mandou todo o elenco embora e me colocou num estúdio com duas câmeras e o telefone, que era o 236-0873. O programa era o BOZO-MEMÓRIA e foi um estouro! A central da Telesp não aguentou tanta ligação e ficou congestionada. Era a primeira vez que isso acontecia com uma emissora de televisão... O Silvio teve que pagar uma multa enorme pra Telesp.

Putz - O Silvio Santos metia muito o bedelho no programa?
LR - Total, total. Mas era aquele negócio de ligar no camarim pra saber porque eu estava rouco... Ele tem a fase menina dos olhos, de tomar conta do programa... depois libera.

Putz - E o que rolava de engraçado no ar?
LR - Acontecia coisas do tipo "Alô, alô.. Bozo? Vai pra **** que o pariu!". Aí eu tinha que pensar rápido e respondia: "Alô, como? A ponte perto da sua casa caiu?". E desligava... Ou: "Bozo, Bozo... Vai tomar no cú!". E eu: "O quê? Sua casa está cheia de urubu?".

Putz - E a Bozolina?
LR - Quem fazia a Bozolina era eu! Era a minha voz! Na verdade, a Bozolina era o sonoplasta, que entrava com a minha voz toda vez que eu contava uma piada... Depois veio a Bozolinda e quem fazia era a flor, mas não funcionou...

Putz - E as marcas registradas do Bozo, era você quem criava também?
LR - Muita coisa era minha. A frase "Ah, que peninha!!!" é minha...

Putz - "Bitoca no meu nariz" também é sua?
LR - Não, essa não é minha... Essa foi do Arlindo (Barreto)... A Dança do Gansinho era minha, a DAnça da Perninha era minha, a coreografia do Chuveiro era minha...

Putz - Tem mais alguma história interessante do programa?
LR - Na época em que o programa era ao vivo então... Tinha um personagem, sem citar nomes, que fazia um quadro meio teatral, era um monólogo. Eu fiquei assistindo o monólogo e no meio do programa, ao vivo, a dentadura dele sai voando da boca e fica quicando no chão do estúdio. Deu um acesso de riso em todo mundo, acabou o quadro e foi pro comercial...

Putz - Tem mais
LR - Tem, claro... eu dormia nos intervalos do programa, durante os desenhos. Eu morava no cierco ainda, então acordava super cedo pra chegar no estúdio... Eu não aguentava... E pra dormir eu tirava a peruca e colocava o nariz na testa. Quando tocava a campainha avisando a hora que o programa voltava ao ar, eu colocava tudo de volta e ia pro meu lugar. Só que o pessoal começou a me sacanear! Tocavam a campainha antes da hora e, uma vez, mandei todo mundo à *****, mas dessa vez era de verdade! A vinheta rodando e eu mandando todo mundo à *****. Quando percebi que daquela vez não era sacanagem fiquei apavora e esqueci de pôr o nariz de volta. Quer dizer, o programa voltando ao ar, eu sonado, de mau humor, mandando todo mundo à *****... Já viu, né? E ainda com o nariz de palhaço na testa... aquilo foi uma zona!

Putz - Se te convidasse pra fazer o Bozo novamente, você aceitaria?
LR - Não faria. Quando eu estava saindo do SBT me fizeram esta proposta. O Bozo foi uma fase muito boa da minha vida, mas aceitar uma proposta dessas, seria como voltar no tempo. Eu aceitaria dirigir o programa, mas fazer o personagem novamente não dá...

Arlindo Barreto, o Bozo Pastor
Você assistia o Bozo na maior inocência, mas nem imaginava que o bom palhaço podia estar completamente chapado? Alucinado de tudo? O outro Bozo, que segurou a barra do programa por aproximadamente 10 anos junto com o Luis Ricardo, também tinha os seus piripaques de rock star e curtia animar a criançada com a cabeça fritando. Arlindo Barreto agora está regenerado e afirma ter encontrado o caminho na luz de Jesus. Sobriedade ou será que desta vez ele embarcou numa bad trip sem volta? Acompanhe aí a entrevista do Bozo que, além das bitocas, curtia outras coisas em seu nariz...
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Putz - Quando você começou a se envolver com as drogas?
AB - Infelizmente, as máscaras não duram muito tempo. Elas inevitavelmente caem. De repente, eu não tinha mais nenhum desafio, era um grande sucesso, tinha dinheiro no bolso, era superpremiado... as coisas começaram a se tornar repetitivas. Aí eu caí dentro de um vazio existencial enorme!!! Inicialmente, eu tentei preencher isso com sexo. Tinha em minha cama todas as mulheres que eu queria. Depois veio o álcool, que dava uma certa alegria, mas os efeitos colaterais eram devastadores. Depois eu conhecia cocaína, que me dava uma falsa sensação de alegria, mais eu me satisfazia mesmo assim. Quando descobri que essa alegria não era verdadeira, já era tarde, estava dependente.
Putz - E o que você fazia pra ninguém descobrir que você era viciado?
AB - Como sou ator, eu consegui enganar todo mundo. Todos ficavam surpresos com a minha euforia, meu pique, mas ninguém desconfiava. Eu tinha um superpique, ninguém me acompanhava. Mas quando acabava o programa, eu estava completamente esgotado por dentro. Estava alegre com a máscara, mas quando tirava, pra onde ia o sorriso?

Putz - Como começou sua carreira?
AB - Eu fui educado, desde pequeno, no meio televisivo. Minha mãe era atriz (Márcia de Windsor), e cheguei a atuar em novelas da Globo, da Bandeirantes, filmes, teatro e comecei a ver na área de humor um grande desafio. Entrei na TVS, que na época era uma emissora pequena, pra trabalhar em comédia. O primeiro Bozo, que era o Wandeco Pipoca, não tinha muito jeito com crianças, falava muito palavrão e teve que sair por causa desses problemas. Então, entrou o Luis Ricardo, em seguida eu e depois o terceiro Bozo, que servia como stand by. Este terceiro era o Décio Roberto, que morreu de AIDS. Ele contraiu o HIV de uma moça que tinha o vírus e, infelizmente, veio a falecer.

Putz - E o que mudou no programa com a entrada de vocês?
AB - O programa deu uma alavancada. Por causa do marketing a gente foi obrigado a fazer um programa de 6 horas. O resto é história... 10 anos de carreira, 5 troféus imprensa, 3 discos de ouro. Fomos nomeados Embaixadores da Boa Vontade pela UNESCO. Um grande sucesso...

Putz - E quando a Igreja entrou na sua vida?
AB - Por causa do vício, eu sofri um acidente. Caí no banheiro e quebrei o vidro do box com o meu braço. Perdi muito sangue e só fui acordar na UTI. A Elizabete, que era a produtora do programa e hoje é minha esposa, levou um pastor da Igreja Batista no hospital e eu entrei em coma. Quando eu voltei, descobri que algo havia mudado em meu coração. Saí do hospital e comecei a frequentar a Igreja. Eu tive a chance de voltar pra TV, mas preferi ficar na Igreja. Fui pro seminário, estudei bastante e fui ordenado pastor da Igreja Batista.

Putz - O que você acha do Padre Marcelo
AB - Um homem brilhante. Ele viu que Deus não é este fardo pesado que todos acham que Ele é. Deus é alegria, é amor, paz... E é isso que o Padre Marcelo passa em suas pregações. Eu discordo dele em algumas questões doutrinais, mas isto é pura teologia.

Putz - Você e o Luis Ricardo faziam uma boa dupla?
AB - Uma ótima dupla. A gente se dava muito bem, porque eu era ator e o Luis era um palhaço de picadeiro, filho de palhaço de circo. Então, a gente se completava.

Putz - Que tipo de coisa acontecia quando o programa estava no ar?
AB - Tanta coisa. Por exemplo: numa das brincadeiras do programa, eu estava com o menino no telefone e este garoto havia perdido o jogo. A voz dele ia pro ar, mas eu não conseguia ouvir, porque tava com algum problema no microfone. Quem estava em casa ouvia muito bem. O menino perdeu a brincadeira, ficou nervoso e disse "*****". Como eu não tava ouvindo, pedia pra ele repetir. E ele ficava gritando "*****" no telefone e me mandava tomar no cú! Fiquei nervoso, dei uma bronca no garoto, falei pra ele chamar seu pai, etc... Fui advertido por ter ficado nervoso na frente da câmera e o Luis veio me encher, dizendo que eu era um palhaço burro, gozando com a minha cara e dizendo que eu devia ficar quieto, não falar nada...

Putz - Com ele não aconteciam essas coisas?
AB - Num outro dia, eu estava em casa vendo o programa e o Luis é quem estava apresentando. De repente, um outro garoto, no telefone também, mandou o Bozo tomar no cú! Você sabe o que o Luis respondeu? Que preferia tomar num copo porque é mais limpo... É claro que ele foi advertido também e no dia seguinte eu cheguei pra ele e disse a mesma coisa que ele havia dito pra mim: que ele era um palhaço burro e que devia ficar quieto...

Putz - Tem mais?
AB - Teve um dia que o nariz do Bozo, que era uma bolhinha de frescobol presa com um elástico, arrebentou no ar. Eu fiquei com aquela cara branca, ao vivo e sem o nariz. Foi horrível, mas como em quase todos os programas, eu improvisei. Fiquei segurando o nariz com um dedo e comecei a cantar aquel musiquinha: "Quem gosta do palhaço Bozo, sabe onde é o nariz...".

Putz - E hoje? O que você está fazendo?
AB - Hoje eu sou um homem de 45 anos, casado, absolutamente sóbrio, restaurado, regenerado, com 3 lindos filhos. Continuo me preparando, estudando e procuro crescer no amor e na graça de Jesus Cristo. Eu faço parte de um circo da Igreja Batista, chamado Tenda da Esperança. Eu, como Bozo, junto com dentistas, médicos, etc. levamos assistência médica e uma palavra de amor e paz pras comunidades pobres. Deus levantou um palhaço pra falar sério a um povo que diz falar sério, mas que só faz palhaçada.