A TRISTE HISTORIA DE WILSON SIMONAL(MUSICO)


Wilson Simonal
Wilson Simonal de Castro (Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 1938 — São Paulo, 25 de junho de 2000)  foi um cantor brasileiro de muito sucesso nas décadas de 1960 e 1970, chegando a comandar um programa na TV Tupi, "Spotlight", e dois programas na TV Record, "Show em Si... Monal" e "Vamos S'imbora", e a assinar o que foi considerado na época o maior contrato de publicidade de um artista brasileiro, com a empresa britânica Shell.


Cantor detentor de esmerada técnica e qualidade vocal, Simonal viu sua carreira entrar em declínio após episódio no qual teve seu nome associado ao DOPS, envolvendo a tortura do seu contador Raphael Viviani.  O cantor acabaria sendo processado e condenado por extorsão mediante sequestro, sendo que, no curso deste processo, redigiu um documento dizendo-se delator, o que acabou levando Simonal ao ostracismo e a condição de pária da música popular brasileira.


Wilson Simonal e Sidney Magal

Seus principais sucessos são "Balanço Zona Sul", "Lobo Bobo", Mamãe Passou Açúcar em Mim, "Nem Vem que não Tem", "Tributo a Martin Luther King", "Sá Marina" (que chegou a ser regravada por Sérgio Mendes e Stevie Wonder, como "Pretty World" ), "País Tropical", de Jorge Ben, que seria seu maior êxito comercial, e "A Vida É Só pra Cantar". Simonal teve uma filha, Patrícia, e dois filhos, também músicos: Wilson Simoninha e Max de Castro.
      

Infância

Filho de Maria Silva de Castro, uma cozinheira e empregada doméstica mineira, e do também mineiro Lúcio Pereira de Castro, radiotécnico que havia se mudado com sua mulher para o Rio de Janeiro, Simonal recebeu esse nome em homenagem ao médico que realizou o parto.  Mas, por obra de seu pai, o que deveria ter sido Roberto Simonard de Castro acabou tornando-se Wilson Simonal de Castro.  Estudou em colégio católico chegando inclusive a ter aulas de canto orfeônico ao participar do coral mudando-se após para um colégio público.  Na praça Antero de Quental, onde jovens se reuniam para passar os fins de semana, chegou a causar algum rebuliço cantando sucessos da época em inglês.  Ali conheceu Edson Bastos, filho da pianista Alda Pinto Bastos, que lhe ensinou a tocar violão e piano e com quem pretendia formar um conjunto musical.

Mas os planos de formar um grupo musical foram interrompidos quando Simonal foi chamado para servir no 8º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado (8º GACOSM) e neste quartel, que era famoso pelo seu time de futebol e pela sua banda, Simonal aprendeu a comandar platéias, já que era chefe da torcida do time do quartel, além de ter participado de vários bailes como cantor :

Carreira

                  Primeiro conjunto, carreira solo, Beco das Garrafas e estréia na TV
Em 1960, Simonal deu baixa do exército como sargento  e, juntando-se a seu irmão Zé Roberto e a seus amigos Marcos Moran, Edson Bastos e Zé Ary, os cinco adotaram o nome de Dry Boys. O conjunto durou até os primeiros meses de 1961 quando se apresentaram no programa "Clube do Rock" de Carlos Imperial, na TV Tupi.  Depois da apresentação tentaram um contrato com uma gravadora, por intermédio de Imperial, mas foram recusados. Isto levou o grupo ao fim, com Simonal seguindo carreira solo sob a proteção de Imperial, além de ter se tornado crooner do Conjunto Guarani. 
Com o fim dos Dry Boys, Simonal ficou sem ter onde morar, já que morar na casa da sua mãe em Areia Branca e trabalhar na Zona Sul não era possível. Carlos Imperial contratou-o como seu secretário, ao lado de Erasmo Carlos, e arranjou um modo de Simonal morar na casa de Eduardo Araújo que, ainda adolescente, morava em uma quitinete alugada pelo seu pai, no Catete.  Nesta época, Simonal chegou a substituir Cauby Peixoto em uma apresentação na antiga Rádio Nacional carioca, conseguindo um contrato.  Entretanto, a estada na casa de Eduardo Araújo não é longa e Simonal logo se muda para um apartamento de Imperial. Numa das apresentações do clube do Rock conhece Tereza Pugliesi, que viria a ser sua mulher, e começa a namorá-la. 

Mais tarde naquele ano torna-se crooner da boate Drink, pela qual chega, inclusive, a gravar duas faixas para um LP que só sairia em 1962.  A sua exposição na boate lhe rende um contrato com a gravadora Odeon pela qual lançaria, em dezembro de 1961, seu primeiro compacto com "Terezinha", um Chá-chá-chá de Imperial em homenagem a namorada de Simonal, e "Biquínis e Borboletas". No mesmo mês troca a Drink pela boate Top Club.  Nos anos de 1962 e 1963, sua gravadora lançaria mais três compactos seus de modo a testar a receptividade de Simonal em diferentes estilos musicais, antes de lançar seu primeiro disco em novembro de 1963, Tem "Algo Mais". Neste disco está "Balanço Zona Sul", seu primeiro sucesso nas rádios. Pouco antes do lançamento do álbum, casaria com Tereza Pugliesi, já grávida de Wilson Simoninha, em 24 de outubro de 1963. 
O álbum e a música lhe dão maior exposição, provocando um convite da dupla Miele & Bôscoli para que ele deixasse o Top Club e passasse a se apresentar nos shows que eles organizavam, conhecidos como "pocket shows", no Beco das Garrafas. Simonal aceita e participa de várias apresentações entre o início de 1964 e meados de 1965.

No dia 06 de abril de 1964 nasce seu primeiro filho, Wilson Simonal Pugliesi de Castro. Em julho de 1964, lança mais um compacto com "Nanã" e "Lobo Bobo", recebendo boa acolhida nas rádios e abrindo espaço para a gravação do seu segundo álbum, A Nova Dimensão do Samba, ainda considerado por muitos como o melhor disco da carreira de Simonal.
No final de 1964, chega a excursionar 40 dias com a dançarina Marly Tavares e o conjunto Bossa Três, do pianista Luís Carlos Vinhas, pela Colômbia com o show "Quem Tem Bossa Vai à Rosa", o primeiro de Miele & Bôscoli que havia sido pensado para um teatro de verdade, isto é, fora do circuito do Beco das Garrafas. O sucesso no Beco e com as músicas gravadas trazem o interesse da TV Tupi em produzir um programa apresentado por Simonal. Assim, em janeiro de 1965 assina contrato para apresentar o programa "Spotlight" e muda-se para São Paulo.

O programa era uma tentativa de tocar músicas de modo mais "sofisticado" e com arranjos mais próximos ao jazz americano da época, de Miles Davis e Gil Evans. Por isso, todos os seus lançamentos nesse ano seguem essa linha. Assim são o álbum auto intitulado de março de 1965, o compacto do mesmo mês, o compacto duplo de julho de 1965 - acompanhado pelo Bossa Três e no qual Caetano Veloso foi lançado como compositor com sua música, "De Manhã" - e o seu quarto álbum, S'imbora. Exemplo disso são os arranjos de, entre outros, Eumir Deodato e J.T. Meirelles. 
Foi nessa época que defendeu "Rio do Meu Amor", de Billy Blanco e "Cada vez mais Rio" de Luís Carlos Vinhas e Ronaldo Bôscoli, no I Festival da Música Popular Brasileira, da Tv Excelsior.  Simonal se mostrava antenado com a música que estava sendo feita no país. Além de ter sido o segundo a gravar Caetano Veloso - sua irmã, Maria Bethânia, já o havia gravado, mas Simonal era mais conhecido[3] - foi o segundo a gravar Chico Buarque, apenas depois de Geraldo Vandré (que havia defendido "Sonho de um Carnaval" em 1965), mas antes de Nara Leão, frequentemente lembrada por ter sido quem lançou o compositor carioca.  Também foi o primeiro a gravar Toquinho, defendo uma canção sua, "Belinha", no III Festival da Música Popular Brasileira, de 1967.

Mudança de canal, pilantragem e o Mug
Em janeiro de 1966, acabou o contrato de Simonal com a TV Tupi e ele não queria renová-lo. Ao invés disso, assinou com a TV Record que era o maior canal de TV brasileiro desde 1965, graças aos seus programas musicais, em especial a "O Fino da Bossa", comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues e que era o reduto da Bossa Nova e da Canção de Protesto, e ao programa "Jovem Guarda", comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa e propagador do Iê-iê-iê.  Logo no início, Simonal já passou a ser uma atração fixa no programa de Elis e Jair Rodrigues, mas participava também do programa dos jovem guardistas, algo que só ele e Jorge Ben faziam. 

Neste ano, lançou mais dois compactos em abril e maio de 1966, sendo que o segundo (Mamãe Passou Açúcar em Mim), gravado para a trilha sônora do primeiro filme dos Trapalhões (Na Onda do Iê-iê-iê) e com a banda The Fevers acompanhando o cantor, estourou nas rádios e foi o maior sucesso de Simonal até então.


Na onda desse novo sucesso, em agosto de 1966, Simonal firma uma parceria com o Som Três, formado por Toninho na bateria, Sabá no baixo e César Camargo Mariano no piano, para que o grupo o acompanhasse na carreira solo e no seu futuro programa que deveria estrear ainda aquele ano.  A ideia de Simonal e César Camargo Mariano era misturar Bossa Nova, Samba, a nascente música Soul americana, o Jazz, a música de protesto e o rock que se fazia por aqui na época sem perder a qualidade, mas fazendo um som que eles definiam como "mais comunicativo", isto é, que se comunicasse melhor com as massas do que a Bossa Nova.  Este novo som, seria chamado futuramente de pilantragem, uma mistura de samba, iê-iê-iê e soul, constituindo-se em verdadeiro movimento, capitaneado por Wilson Simonal, Carlos Imperial e Nonato Buzar. 
Assim, Simonal e o Som Três gravaram juntos pela primeira vez em 02 de fevereiro de 1966, numa rápida viagem ao Rio de Janeiro, a música "Carango" de Carlos Imperial e Nonato Buzar, que já havia sido gravada por Erasmo Carlos. A canção fez ainda mais sucesso que "Mamãe Passou Açúcar em Mim", como que garantindo que estavam na trilha correta.  Estes 9 meses nos quais Simonal trabalhou na Record sem programa próprio serviram para que ele adquirisse experiência e ensaiasse com o seu conjunto. E às 20h20m do dia 20 de outubro de 1966, estreou o seu programa "Show em Si... Monal", tendo entre os seus roteiristas Miele, Bôscoli, Carlos Imperial e Jô Soares.


 Nos intervalos do programa que, como era gravado, precisava, de quando em quando, parar para as trocas das fitas de rolo, Simonal entretia o público com piadas, imitações e algumas músicas despretensiosas. Foi assim que surgiu a ideia de gravar "Meu Limão, meu Limoeiro" que, já sendo "sucesso" nos intervalos do programa, sairia no álbum Vou Deixar Cair, o quinto de Simonal.  Este disco, que saiu em novembro de 1966, já começava a explorar a ideia da pilantragem, recorrendo a uma mistura de compositores e estilos, tudo "amalgamado" pelos arranjos de César Camargo Mariano. Ou, nas palavras de Sabá em depoimento para o jornalista Ricardo Alexandre, era algo que "não era iê-iê-iê, não era bossa-nova, não era canção de protesto, não era jazz, mas era tudo isso e era algo completamente diferente".  Em setembro defendeu "Querendo Ficar", composição de Johnny Alf, no primeiro festival da Record, e em outubro defendeu, juntamente com o MPB4, "Maria", de Francis Hime e Vinicius de Moraes, no Primeiro Festival Internacional da Canção.

Capítulo singelo na história não só de Simonal como também da música popular brasileira é a campanha ou happening do Mug. Mug era um boneco de "pano preto, redondo e sem pescoço, com os olhos esbugalhados, 'cabelos vermelhos e calça xadrez ao estilo escocês, que virou febre ao ser vendido como amuleto da sorte para o Ano-Novo de 1967".  Os mais variados artistas e personalidades participaram, como o Zimbo Trio, Chico Buarque, Ari Toledo, Hebe Camargo e Maurício de Sousa, além, é claro, de Simonal. Aproveitando a campanha, Simonal estreou em dezembro um show produzido por Miele & Bôscoli no Teatro Princesa Isabel, em Ipanema. O nome era "Mugnífico Simonal" e trazia o cantor acompanhado da sua banda, o Som Três, cantando músicas e realizando alguns esquetes.

Alegria, Alegria
Na temporada no Teatro Princesa Isabel com o show "Mugnífico Simonal", o cantor escreveu nos bastidores uma música com Ronaldo Bôscoli. Nela assumia-se negro e falava em luta, em uma reflexão sobre Martin Luther King Jr., pastor americano ícone na luta pelos direitos civis naquele país. A canção foi tocada na temporada do show e gravada pela banda em 28 de fevereiro de 1967,  mas, como era de se imaginar, ficaria retida na censura por quatro meses.  Ainda assim, na entrega do troféu Roquete Pinto para os melhores do ano, Simonal cantou a música para um Teatro Paramount lotado, fazendo um discurso
:(Essa música, eu peço permissão a vocês, porque eu dediquei ao meu filho, esperando que no futuro ele não encontre nunca aqueles problemas que eu encontrei, e tenho às vezes encontrado, apesar de me chamar Wilson Simonal de Castro.) 
O compacto foi lançado em junho de 1967 e estreou direto no primeiro lugar na parada do IBOPE.  No mesmo mês, houve a gravação de um álbum ao vivo e duplo, no mesmo Teatro Paramount onde ocorria o programa de Simonal para comemorar o primeiro aniversário do show, com direito a 4 mil pessoas cantando em uníssono "Tributo a Martin Luther King" no encerramento do show.  Em setembro de 1967, lançou mais um compacto contendo "Nem Vem que não Tem" que fez um sucesso imenso, só ultrapassado na carreira do cantor por "Sá Marina" e "País Tropical". No dia 06 do mesmo mês, o programa de Simonal na tv trocou de horário e de nome e ganhou a participação de Chico Anysio, passando a chamar-se "Vamos S'imbora" e deixando as 22h40m de domingo para passar para as 20h10m de quarta-feira.

No famoso III Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record, Simonal foi indicado como intérprete por tantos compositores que a organização abriu uma exceção para que ele apresentasse uma música em cada uma das três eliminatórias.  Assim, o cantor defendeu "Balada do Vietnã", de Elizabeth Sanches e David Nasser, vestido de guerrilheiro; "O Milagre", de Nonato Buzar, com um grande crucifixo no peito; e "Belinha", de Toquinho e Victor Martins, "vestido de pilantragem".
No mês seguinte sairia o próximo álbum de Simonal e o primeiro de quatro a se chamar Alegria, Alegria!!!, bordão que Simonal usava na televisão e que Caetano Veloso pegou emprestado para usar como nome de uma música no festival do mês anterior.  O disco era pilantragem pura, com várias cantigas de roda, palmas, muita gente no estúdio durante a gravação e alguns sucessos, como "Vesti Azul".


 Mudanças no som
Em junho de 1968, Simonal lançou "Sá Marina", uma música que seria o segundo maior sucesso de sua carreira e o maior até então. O arranjo de César Camargo Mariano tornava a música delicada, quase um soul. A música também tornou-se o maior "cartão de apresentações" de Simonal no exterior, tendo sido gravada por Sérgio Mendes, Herp Albert & Tijuana Brass e Stevie Wonder como "Pretty World". Um mês depois estrearia um novo show pra teatro do cantor. "Horário Nobre" era dirigido por João das Neves, que era egresso do Centro Popular de Cultura da UNE e visto como um diretor de teatro combativo e político,  e estreou no Teatro Toneleros no dia 12 de julho de 1968.  O show foi sucesso de crítica por ser tido como menos óbvio já que não trazia simplesmente sucessos de Simonal ("Meu Limão, meu Limoeiro" nem constava do show ), mas continha momentos diferentes como interpretações de Cole Porter e George Gershwin.  Também tinha comentário político com Simonal se solidarizando com os atores da peça Roda Viva, que haviam apanhado de membros do Comando de Caça aos Comunistas, um grupo paramilitar da época. 
Em agosto de 1968, saiu o segundo disco de Simonal com o nome Alegria, Alegria, tendo como subtítulo: Quem não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga. Este segundo disco continua na guinada do cantor em direção a um som mais próximo ao soul e ao funk estadunidenses. Além de "Sá Marina", o álbum traz também "Zazueira", de Jorge Ben e, puxado por essas músicas, teve boa vendagem no mercado fonográfico nacional.  Em outubro, o cantor e sua banda tocaram no Olympia em Paris, aproveitando para tocar também na TV daquele país e realizar uma pequena turnê internacional.


Voltando ao Brasil, começaram os preparativos para mais um show teatral de Simonal, que seria batizado "De Cabral a Simonal". Com direção de Oswaldo Loureiro e textos de Arnaud Rodrigues e Oduvaldo Vianna Filho, estreou em janeiro de 1969 no mesmo Teatro Toneleros de "Horário Nobre".  Este foi o show de maior sucesso de público do cantor, rodando o país todo e contava com a banda de Simonal, o Som Três, reforçada com metais, a percussão de Chacal e a guitarra de Luiz Cláudio Ramos, da banda "A Brazuca".  Um dos pontos altos do show era protagonizado pelo seu coreógrafo, Gerson Côrtes. Utilizando um jogo de luz e sombras ele aparecia no palco dançando e Simonal aparecia no fundo dos teatros, dando a impressão que Simonal estava em dois lugares ao mesmo tempo.  Graças ao sucesso do show, Gerson conseguiu gravar um compacto pela CBS, "Não Volto mais Aqui". Anos depois, faria sucesso como Gerson King Combo.

Em 5 de fevereiro de 1969 seu contrato com a TV Record terminava e seu show, o "Vamos S'imbora", saiu do ar. Renegociou o contrato por mais alguns meses apenas para aparições esporádicas já que a agenda de shows não estava permitindo as gravações toda semana.  Em abril do mesmo ano saía o seu terceiro álbum Alegria, Alegria, com o subtítulo de Cada um Tem o Disco que Merece. Neste disco, o Som Três foi definitivamente ampliado, passando a contar com o sax barítono de Aurino, o trompetista Darcy, seu irmão Zé Roberto Simonal no sax, Maurílio no trompete e Juarez no sax tenor, além de Don Chacal tocar frequentemente percussão nos discos e Sabá passar a usar um contrabaixo elétrico.  Os destaques do disco eram os arranjos mais complicados de César Camargo, utilizando vários instrumentos diferenciados para conseguir sons, como fagotes e flugelhorns, além do lançamento de "Mustang Cor de Sangue" dos irmãos Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, saindo da pilantragem em direção a um som cada vez mais soul e mais próximo do que Sérgio Mendes fazia nos EUA.

O Contrato com a Shell e o último Alegria, Alegria
Ricardo Amaral, um empresário carioca, resolve promover uma turnê de Sérgio Mendes no Brasil. Fala com a Shell atrás de patrocínio e consegue agendar 17 shows a serem realizados em 20 dias, por todo o país, com cachê de 1 milhão de dólares por apresentação para o artista. O contrato incluía uma apresentação a ser gravada e transmitida pela TV Tupi, no Clube Monte Líbano, e uma apresentação a preços populares no Maracanãzinho, a última da turnê. Pelo tamanho do Maracanãzinho, o show foi "engordado" com outras atrações como Jorge Ben, Marcos Valle, Gal Costa, Maysa, Milton Nascimento, Os Mutantes, Gracinha Leporace, Pery Ribeiro e Wilson Simonal. Caso sobrassem ingressos eles serim comprados pela Shell e utilizados em promoções nos seus postos de gasolina.
Ficou acertado que Simonal faria o show que antecederia ao de Sérgio Mendes com os grupos Brasil '66 e Bossa Rio. No dia 5 de julho de 1969, trinta mil pessoas lotavam o Maracanãzinho, não tendo sido necessária a compra dos ingressos pela empresa patrocinadora.  O destaque negativo do show era o som dos Amplificadores que eram engolidos pelo barulho que vinha da platéia. Simonal entrou nervoso já que nunca tinha tocado para um público tão grande e, além do mais, para ele e sua banda aquele público estava ali para ver Sérgio Mendes. Mas o que aconteceu viraria notícia em toda a imprensa no outro dia: Simonal tocou seis ou sete músicas - apenas hits - e foi ovacionado, com a platéia cantando junto com ele durante todo o show, além de ter divido o público em vozes tal como fazia no seu antigo programa de tv durante "Meu Limão, meu Limoeiro".  O sucesso foi tanto que, quando o show terminou, Simonal desmaiou no camarim.

Foi nesse clima que Sérgio Mendes subiu ao palco e iniciou sua apresentação. Quando começou a tocar "Pretty World" (sua versão de "Sá Marina") o público delirou. Entretanto, quando as vocalistas de sua banda começaram a cantar a letra em inglês, a platéia começou em coro a gritar "Simonal! Simonal!".  Somente quando o cantor subiu ao palco para cantar "Sá Marina" o público sossegou. Sérgio Mendes acabaria sendo muito aplaudido quando tocou sua versão de Mas que Nada.  A cobertura da imprensa foi extremamente favorável a Simonal, enaltecido mais do que Sérgio Mendes por alguns (como Nelson Motta no jornal Última Hora ). O Pasquim tripudiou em cima de Sérgio Mendes, considerado vendido pelo tablóide , e publicou que Simonal "jantou" o músico niteróiense.

O impacto do show foi tão grande na cúpula de marketing da Shell, que estava assistindo a tudo no Maracanãzinho , que Simonal passou a ser sondado para assinar um contrato como garoto propaganda da companhia. Enquanto estava em conversações com a empresa, o cantor lançou o que viria a ser o seu maior sucesso comercial, País Tropical. Simonal conheceu a canção quando foi levado por Jorge Ben para assistir a um show de Gal Costa, com quem Jorge Ben estava tendo um caso.  Lá o cantor viu Gal cantar "País Tropical" e, ignorando a preferência dada por Jorge Ben para a cantora gravá-la, arrastou-o para o estúdio para mostrar a canção a sua banda.  Simonal fez grandes modificações na música, cortando estrofes inteiras, introduzindo menções ao slogan da Shell na época ("algo mais") e inventando um bis para a música no qual cantava-se apenas a primeira sílaba das palavras, criando o célebre termo "patropi", utilizado até hoje para referir-se ao Brasil.

A Shell, após ter tido como garotos-propaganda Os Mutantes, avaliava que precisava de um grande nome (como Roberto tinha sido nos tempos do programa Jovem Guarda), já que acreditava que a parceria com o grupo paulista havia sido mais benéfica para os artistas do que para a companhia.  Assim, após a apresentação de Simonal no Maracanãzinho, a empresa acreditou que tinha achado o homem certo. No dia 16 de setembro de 1969, o artista assinou um contrato de publicidade com a Shell, sendo chamado pela imprensa da época de "o mais fabuloso contrato de publicidade já assinado no Brasil" , com uma duração inicial de seis meses, sendo que o contrato foi renovado em março de 1970 por mais um ano, com condições ainda mais vantajosas para Simonal. 

Simonal já vinha há algum tempo flertando com a ideia de tomar conta da própria carreira autonomamente, criando uma pessoa jurídica que faria toda a sua movimentação financeira, reduzindo custos e tributos. A convivência com Sérgio Mendes, que era "empresário de si próprio", e João Carlos Magaldi, publicitário de muito sucesso na época, assim como os exemplos de músicos de fora como Frank Sinatra que tinha fundado a Reprise Records e os Beatles que haviam iniciado a Apple Corps, levaram Simonal a conclusão que este era o melhor caminho a seguir para sua carreira.  Assim, no dia 12 de setembro de 1969, o cantor juntou alguns amigos, entre eles o empresário Ruy Brizolla, para tocarem a produtora e criou a Simonal Produções Artísticas.

No mês seguinte, o contrato com a Shell começou a render seus frutos. Magaldi tinha excelentes contatos na Globo, por ser padrinho de casamento de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho e havia sido seu sócio em uma empresa,  e conseguiu que Simonal fosse indicado presidente do júri do IV Festival Internacional da Canção, que ele fizesse o show de entreato da final e, também, que ele seria o embaixador do evento no ano seguinte.  No dia 4 de outubro de 1969, Simonal subiu ao palco do Maracanãzinho, dessa vez com várias pessoas segurando cartazes em referência ao cantor, outras com bandanas na testa, tal qual Simonal, e regeu o público como se fosse um coral novamente, dividindo a platéia em vozes durante "Meu Limão, meu Limoeiro". 
Em novembro de 1969, chegaram as lojas o quarto e último álbum de Simonal com o título de Alegria, Alegria. Tentando aproveitar-se do sucesso de "País Tropical" e do show de encerramento do FIC no Maracanãzinho, o disco continha como subtítulo o monólogo introdutório do cantor na música, Homenagem à Graça, à Beleza, ao Charme e ao Veneno da Mulher Brasileira, além de suas capa ser imagem do cantor durante o show. O disco vendeu bem, trazendo ainda a música "Que Maravilha", uma composição de Jorge Ben e Toquinho.  No mesmo mês, o músico foi o anfitrião da festa do milésimo gol de Pelé: como o jogador também era patrocinado pela Shell, a empresa promoveu o show, que ocorreu no dia da bandeira daquele ano, e, nada mais natural, chamou seu outro contratado para ser o mestre de cerimônias.

A Copa do mundo e o início do fim
Em janeiro de 1970, Simonal excursionou pela Europa como embaixador do FIC daquele ano e aproveitou para promover a sua própria carreira além-mar, tendo conseguido que todos os 9 músicos que compunham sua banda (o Som Três mais os "metais com champignon", como o cantor chamava o naipe de metais ) acompanhassem a comitiva.  Apresentou-se no Midem, na França, na TV RAI da Itália, chegando a gravar uma versão em italiano de "País Tropical" para ser lançada naquele país, e também na televisão portuguesa.  Ao voltar ao Brasil, gravou o novo hino do FIC, composto por Miguel Gustavo e acompanhado por uma banda regida por Lyrio Panicali. 
Após temporada na boate Sucata no início do ano, Simonal e sua banda (o único músico que não foi junto foi o baterista Toninho, substituído por Victor Manga, da banda "A Brazuca") embarcaram para o México em maio de 1970 para acompanhar a Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo daquele ano. Antes da viagem, na qual faria apresentações na boate El Dorado, em Guadalajara, e uma temporada de 45 dias no hotel Camino Real,  Simonal deixou gravadas quatro músicas para o lançamento de um compacto duplo em junho daquele ano, contendo, entre outras, "Aqui É o País do Futebol" de Milton Nascimento e Fernando Brant, para que pudesse se ausentar do país deixando algo pra ser lançado.  Lá, o cantor conquistou o povo mexicano, em uma estratégia planejada por João Havelange para que o time se sentisse em casa, e participou ativamente da vida do time, conseguindo acesso livre à concentração,  além de ter chegado a lançar um álbum em solo mexicano, México '70, que viria a ser lançado no Brasil apenas 40 anos depois.

Em 24 de junho de 1970, estreou o filme É Simonal, indo na onda dos filmes com músicos que existiam à época. Dirigido por Domingos de Oliveira, que havia dirigido o sucesso Todas as Mulheres do Mundo, contava com produção de César Thedim e com a atriz Irene Stefânia, além de participações especiais de Marília Pêra, Jorge Dória, Milton Gonçalves, Ziembinski e trilha sonora de Erlon Chaves. O filme naufragaria nas bilheterias em 1970, devido ao fato de ter que competir com Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-rosa, maior bilheteria do ano no Brasil,  e, depois, com o Let It Be dos Beatles.  Em 1971, no seu relançamento, o filme não conseguiria atrair boas bilheterias novamente, devido a aparição de Simonal nas páginas policias. 
No dia 19 de agosto, Simonal e sua banda entraram em estúdio e gravaram o que Simonal chamava de "músicas nativistas",  e que incorporavam uma visão ufanista do país. Assim, além do hino do FIC, gravado mais cedo aquele ano, incluíam também "Que cada um Cumpra o seu Dever", do próprio cantor, e "Brasil, Eu Fico" e "Resposta", ambas de Jorge Ben Jor. Esta última canção era uma resposta à "Paris Tropical", de Juca Chaves, canção esta que, por sua vez, era uma sátira à "País Tropical". 
O contrato com a Shell previa, mensalmente, "shows em rede nacional de altíssima qualidade", entretanto, o único destes shows ocorreu em setembro de 1970 quando Simonal recebeu Sarah Vaughan para um concerto acompanhado do "Som Três", da banda da Tupi (regida por Erlon Chaves), e do conjunto de Sarah (John Donald Abne no piano, Gene Perio no baixo e Jimmy Cobb na bateria). No show os dois cantaram vários clássicos, incluindo um dueto em "The Sahdow of your Smile", para encerrar. A transmissão ocorreu no dia 20, um domingo, durante o programa de Flávio Cavalcanti, contando ainda com a dupla Miele e Bôscoli na produção.

Nos últimos meses Simonal vinha preparando um álbum, em sua cabeça, que deveria chamar-se Samba Soul, tendo, inclusive, músicas já reservadas para o cantor, como "Atropelado Bacharel", de Marcos Valle, e "Mano Caetano", que Jorge Ben havia feito para Caetano Veloso, que se encontrava exilado.  Entretanto, devido à falta de foco em música (o Som Três estava em franca desaceleração, fazendo cada vez menos shows e gravando cada vez menos), o álbum acabou virando lenda.  Para ter um álbum para lançar ainda aquele ano, o cantor e sua banda entraram em estúdio em outubro e, em apenas três dias, gravaram o que seria o álbum Simonal, considerado por alguns como um dos melhores de sua carreira, devido a sua despretensão, entrosamento e coesão, afinal, havia sido praticamente gravado em ao vivo em estúdio.  O álbum foi lançado em dezembro daquele ano, juntamente com o compacto contendo A Tonga da Mironga do Kabuletê, que seria a última música de Simonal arranjada por César Camargo Mariano e o último no qual o compositor era acompanhado pelo Som Três.

Para o lançamento do álbum, Simonal estrearia um show no Canecão, produzido pela dupla Miele & Bôscoli, que seria o último com a participação do Som Três e o último de sua fase de sucesso.  O nome seria Simona/Simonal, concebido pela dupla fazendo uso da velha dicotomia entre o "Simonal" sofisticado, cantor de bossa nova, e o "Simona" pilantra: o showman, o entertainer. Uma semana antes da estréia é que o Som Três e César Camargo Mariano foram avisados que o espetáculo aconteceria, tendo sido chamados para ensaiar as músicas já arranjadas por Erlon Chaves, já que o show contaria também com a presença da banda veneno. Neste ensaio, Simonal recusou todas as músicas arranjadas pelo maestro, com a exceção da abertura e do encerramento (nas quais ele não cantava).  Então, César Camargo teve apenas quatro dias para rearranjar tudo e, as duas bandas, mais dois dias para ensaiar aqueles novos arranjos a tempo da estréia.  No final, deu tudo certo e o espetáculo foi um sucesso de público e crítica, ficando em cartaz até fevereiro de 1971.

Episódio do contador
No início da década de 1970, Simonal teria sido vítima de um desfalque e demitiu seu contador, Raphael Viviani, o suposto culpado. Este moveu uma ação trabalhista contra o cantor. Em agosto de 1971, Simonal recrutou dois amigos (um deles seu segurança) militares para arrancar uma "confissão" do contador, que foi torturado nas dependências do Dops.  Este, afinal, acabou assinando a confissão de culpa no desfalque.
Simonal conhecia os agentes do Dops há dois anos, quando havia deposto, como suspeito, a respeito da presença de uma bandeira soviética no cenário de um de seus shows. O que ele não contava era que a esposa de Viviani daria queixa do espancamento e, quando os jornais noticiaram o fato, os envolvidos foram obrigados a se explicar. 


Processado sob acusação de extorsão mediante sequestro do contador, Simonal levou como testemunha aquele mesmo policial do Departamento de Ordem Política e Social do então Estado da Guanabara, Mário Borges, que o apontou em julgamento como informante do Dops. Outra testemunha de defesa, um oficial do I Exército (atual Comando Militar do Leste), afirmou que o réu colaborava com a unidade.

Simonal foi julgado culpado pelo sequestro e, em 1972, quando estava prestes a lançar o seu "disco de retomada" pela Philips, foi condenado a uma pena de cinco anos e quatro meses, segundo o juiz, devido a sua "alta periculosidade". Mas cumpriu a pena em liberdade. Nos autos, Simonal era referido como colaborador das Forças Armadas e informante do DOPS. Em 1976, em acórdão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, também é referida a sua condição de colaborador do DOPS. ("Em sua argumentação final, o ilustre meritíssimo alega que não tem como julgar os agentes do DOPS, já que estávamos vivendo um estado de exceção e, por isso, ele não tinha competência para julgar atos que poderiam ser de segurança nacional, mas Wilson Simonal, que era civil, não tinha esse tipo de “cobertura”, portanto pena de 5 anos e 4 meses para ele(...) Se em 1971 fosse provado que ele era um colaborador, ele não seria julgado por isso, seria condecorado," escreve o comediante Claudio Manoel, produtor e diretor do documentário Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei.)

Tentativas de retomada da carreira
Em 1972, Simonal foi contratado pela gravadora Philips, pela qual acabaria lançando quatro discos (Se Dependesse de Mim, Olhaí Balandro... é Bufo no Birrolho Grinza, Wilson Simonal e Dimensão 75) com baixas vendagens, sem conseguir a retomada que pretendia. Seu contrato com a gravadora duraria até 1974 e em 1975 passou a gravar seus discos na RCA Victor até 1979, também com baixas vendagens. Em 1980 a situação se repetiu novamente quando passa a gravar na Discos Copacabana e aconteceu o mesmo em meados daquela década, quando foi para a gravadora BMG Ariola. Já na década de 1990, muda sucessivamente de gravadoras: na Movieplay em 1995 e na Happy Sound em 1998, quando lança seu último álbum.

 Ostracismo e morte
Simonal caiu em absoluto esquecimento a partir da década de 1980.  Segundo sua segunda mulher, Sandra Cerqueira, "Ele dizia para mim: 'Eu não existo na história da música brasileira' ".

Tornou-se deprimido e alcoólatra, vindo a morrer de cirrose hepática decorrente do alcoolismo em 25 de junho de 2000.

Fama de delator

O compositor Paulo Vanzolini, no entanto, afirma, em entrevista ao Caderno2 do Estadão, que Simonal era, de fato, "dedo duro" do regime militar e complementa: "Essa recuperação que estão fazendo do Simonal é falsa. Ele era dedo-duro mesmo. Ele se gabava de ser dedo-duro da ditadura' (...) na frente de muitos amigos ele dizia 'eu entreguei muita gente boa' ", conclui.  No entanto, jamais houve registro de alguém que declarasse ter sido delatado por Simonal. Nem mesmo a Rede Globo, a qual Simonal jurava que havia um documento proibindo sua entrada nos programas da emissora, registra que haja documentos vetando o cantor. Sobre isso, o superintendente de produção e programação da Globo à época, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, reafirma que nunca partiu da direção da emissora nenhuma proibição à presença de Simonal em suas atrações. Boni alega que a sua ausência na Globo se dava por ser considerado pelos diretores dos programas musicais uma pessoa de difícil relacionamento profissional.

Raphael Viviani, em depoimento para o filme, relata que Simonal estaria no Dops e teria assistido à sua tortura e não teria tido dó.

O humorista Chico Anysio e o jornalista Nelson Motta, dentre outras personalidades, afirmam que até a presente data não apareceu uma vítima sequer das ditas delações de Simonal. O jornal O Pasquim, frente de luta contra a ditadura militar, através de pessoas como Henfil e Jaguar, ocupou-se de propagar as acusações que destruíram a carreira de Simonal.


 Reabilitação

O processo de reabilitação do cantor na memória coletiva é já longo e não sem alguns percalços. Começou no início dos anos 90 quando Simonal obteve documentos da Presidência da República que, após vasculhar os arquivos dos serviços de informação, informavam que nada fora encontrado sobre a associação do cantor com os denominados serviços. Assim, o cantor voltou a aparecer na mídia como uma vítima do clima da ditadura militar que provocava patrulhamentos.

O artista acabaria morrendo sem conseguir sair do ostracismo. 

Em 2002, a pedido da família, a Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) abriu um processo para apurar a veracidade das suspeitas de colaboração do cantor com os órgãos de informação do regime militar. A comissão analisou documentos da época, manteve contato com pessoas do meio artístico, como o comediante Chico Anysio e os cantores Ronnie Von e Jair Rodrigues, e analisou reportagens publicadas nos jornais. Em notícia veiculada em 1992 pelo Jornal da Tarde, por exemplo, Gilberto Gil e Caetano Veloso, oficialmente perseguidos pelo regime militar, declararam não ter tido problemas de convivência com Simonal, sendo que Veloso ainda elogiou as qualidades de Simonal como artista.
Além de depoimentos de artistas e de material enviado por familiares e amigos, constou do processo um documento de janeiro de 1991, assinado pelo então secretário nacional de Direitos Humanos, José Gregori, no qual atestava que, após pesquisa realizada nos arquivos de órgãos federais, como o SNI e o Centro de Informações do Exército (CIEx), não foram encontrados registros de que Simonal tivesse sido colaborador, servidor ou prestador de serviços daquelas organizações.
Em 2003, concluído o processo, Wilson Simonal foi moralmente reabilitado pela Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em julgamento simbólico. 


Em 2009, foi lançado o documentário Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, dirigido por Claudio Manoel (da troupe Casseta & Planeta), Micael Langer e Calvito Leal, que tenta resgatar a trajetória de vida do cantor, baseando-se em depoimentos e traçando um retrato simpático ao cantor, apesar de contar com um longo testemunho de Raphael Viviani.  O filme mostra que a popularidade do cantor chegou a rivalizar com a dos artistas da Jovem Guarda e chega a conclusões sobre o seu ostracismo, sobre o qual Claudio Manoel chegou a dizer que Simonal "pagou uma pena dura demais, desproporcional ao que ele fez, porque sua condenação foi até o fim da vida. Para ele, não teve anistia". 
Em 2009, também foi lançada a biografia Nem Vem que Não Tem - A Vida e o Veneno de Wilson Simonal. Nela, segundo Marcus Preto, repórter do jornal Folha de São Paulo, seu autor, o jornalista Ricardo Alexandre, apresenta fatos que tentam levar o leitor a acreditar na inocência alegada por Simonal.  A narrativa desenvolvida no livro sustenta que, para se inocentarem, os agentes do Dops que torturaram o contador teriam improvisado uma farsa: Viviani seria um possível terrorista denunciado por Simonal. Para dar um ar de credibilidade à história, o cantor assinou documento em que se assumia acostumado a "cooperar com informações que levaram esta seção [o Dops] a desbaratar por diversas vezes movimentos subversivos no meio artístico".


Em 2011 foi lançado o livro "Simonal: quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga", do historiador Gustavo Alonso, pela Editora Record. Nele o autor mostra um painel complexo dos anos 60/70, deixando claro que Simonal não foi o único que flertou com o regime, e problematiza a recente reabilitação do cantor. Alonso aponta uma instigante questão: sendo Simonal vítima ou algoz, a sociedade continua se vendo como resistente ao regime ditatorial, algo que o historiador busca questionar. Ele mostra como vários artistas da MPB flertaram com a ditadura, dentre eles Elis Regina, Jair Rodrigues, Tom Jobim, João Nogueira, o grupo Os Originais do Samba, artistas como Tonico e Tinoco, os tropicalistas, Jorge Ben, e até Chico Buarque, dentre vários outros. O autor nega que o racismo tenha sido preponderante para o ostracismo de Simonal, que, junto da grande maioria da população, era um defensor da idéia vulgata da "democracia racial". A concepção de que Simonal teria sofrido "racismo" por parte da sociedade contribui, segundo Alonso, para a vitimização do cantor, que finalmente também pôde entrar no panteão das "vítimas" do regime, ou seja, ao lado da sociedade também "vitimizada", que sente dificuldade de se reconhecer no papel de algoz. Para o historiador, a forma vitimizada de se recordar Simonal nos dias de hoje não problematiza o apoio da sociedade ao regime e se cala sobre o principal motivo da exclusão do cantor: o flerte incessante com a cultura de massa através da Pilantragem e a concorrência com o Tropicalismo na modernização antropofágica da música brasileira.

Antes do Tropicalismo, Simonal já misturava as guitarras na música brasileira, também flertava com a cultura de massa e incorporava o mundo pop e ironizava as esquerdas folclóricas e a música de protesto. Alonso mostra até que, nos anos 60, Tropicalismo e Pilantragem eram até confundidos, tamanha a semelhança entre os projetos que, por fim, tiveram trajetórias distintas, sobretudo após o exílio dos baianos. Enquanto um projeto conseguiu colocar um tropicalista no ministério da Cultura, Gilberto Gil no mandato Lula (2002-2010), a Pilantragem ficou apagada. Talvez porque, segundo Alonso, a Pilantragem era a versão da "malandragem" nos anos 60/70, ambigua e paradoxal, e que apesar de muito popular não conseguiu a incorporação pela intelectualidade, fosse de esquerda ou direita. ´Diante dos vários questionamentos que coloca, o livro "Simonal: quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga", foi considerado por Arthur Xexéo, em coluna de 03 de agosto de 2011 no jornal O Globo, como "inflamável". Segundo Xexéo, o livro de Gustavo Alonso é capaz de causar "uma explosão e tanto nas entranhas da MPB".

Além de elogiado por Arthur Xexéo, o livro de Gustavo Alonso foi muito analisado e recomendado por diversos músicos e críticos culturais. Caetano Veloso escreveu sobre a obra: "Alonso complexifica a discussão sobre o fim da vida daquele grande cantor. Deve ser lido.”  O crítico cultural Pedro Alexandre Sanches fez a seguinte avaliação: "Eis o ovo da serpente cutucado pelo historiador Gustavo Alonso. Esmiuçando inúmeros exemplos, ele dá margem à compreensão de que, numa sociedade muito mais complexa que o bangue-bangue hollywoodiano maniqueista que divide o mundo em 'bons' e 'maus', quem lutou contra a ditadura pode ter igualmente colaborado com ela, e vice-versa. (...) Você já havia ouvido falar em algum outro lugar sobre esse perturbador redesenho histórico proposto em livro por Gustavo Alonso?"  A revista Rolling Stone louvou a precisão histórica da obra: "Este livro nasceu da dissertação de mestrado defendida pelo autor, o historiador Gustavo Alves Alonso Ferreira, na Universidade Federal Fluminense, em 2007. E por isso se mostra uma obra bastante completa quanto à pesquisa e apuração dos fatos que permeiam a vida e obra do redescoberto Wilson Simonal".  O crítico cultural Mauro Ferreira também elogiou o historiador:


“A leitura de 'Simonal: Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga' se torna obrigatória por todos que se interessam pela música brasileira e pelo questionamento dos mitos alimentados pela história oficial da tal MPB”.  O crítico Luis Nassif também elogiou o livro em seu blog.  Por fim, o historiador e jornalista Paulo Cesar de Araújo, autor do clássico "Eu não sou cachorro, não: música popular cafona e ditadura militar" e do censurado "Roberto Carlos em detalhes", escreveu na orelha da obra de Alonso: “Este livro vai além dos limites de uma biografia tradicional: explora como a sociedade e, especialmente, o meio musical atravessaram a corda bamba do protesto e da adesão ao regime militar. (...)Na contramão do senso comum, que coloca o elenco da MPB no panteão dos heróis nacionais da resistência, o autor lembra que vários cantores e compositores flertaram com a ditadura e a bajularam. (...)Este livro interessa não só aos apaixonados por nossa cultura, mas também aos que se deixam atrair pelo enigma de como as sociedades eternizam ou matam seus ídolos”.


Wilson Simoninha e Max de Castro

 Discografia

         De Estúdio
1963 - Tem "Algo Mais"
1964 - A Nova Dimensão do Samba
1965 - Wilson Simonal
1965 - S'imbora
1966 - Vou Deixar Cair...
1967 - Alegria, Alegria !!!
1968 - Alegria, Alegria Volume 2 ou Quem não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga
1969 - Alegria, Alegria Volume 3 ou Cada um Tem o Disco que Merece
1969 - Alegria, Alegria Volume 4 ou Homenagem à Graça, à Beleza, ao Charme e ao Veneno da Mulher Brasileira
1970 - México '70
1970 - Simonal
1971 - Jóia, Jóia
1972 - Se Dependesse de Mim
1973 - Olhaí, Balândro... É Bufo no Birrolho Grinza!
1974 - Wilson Simonal
1974 - Dimensão 75
1975 - Ninguém Proíbe o Amor
1977 - A Vida É só pra Cantar
1979 - Se todo mundo Cantasse Seria bem mais Fácil Viver
1982 - Alegria Tropical
1983 - Simonal
1991 - Os Sambas da minha Terra
1995 - Brasil
1998 - Bem Brasil - Estilo Simonal



           Ao Vivo
1967 - Show em Simonal
         Compactos Simples
1961 - Teresinha / Biquinis e Borboletas
1962 - Eu te Amo / Beija meu Bem
1963 - Está Nascendo um Samba / Garota Legal
1963 - Walk Right In / Fale de Samba que Eu Vou
1964 - Nanã / Lobo Bobo
1965 - Garota Moderna / Juca Bobão
1966 - Se você gostou / Mangangá
1966 - Mamãe Passou Açúcar em Mim / Tá por Fora
1966 - Carango / Enxugue os Olhos
1967 - A Praça / Ela É Demais
1967 - Tributo a Martin Luther King / Deixa quem quiser falar
1967 - Nem Vem que não Tem / Escravos de Jó
1967 - Duas Contas / Balada do Vietnã
1967 - Belinha / Samba do Carioca
1967 - O Milagre / O Apito no Samba
1967 - Alegria, Alegria / Pata, Pata
1968 - De como um Rapaz Apaixonado Perdoou por Causa de um dos Mandamentos / Sá Marina
1968 - Sá Marina / Namoradinha de um Amigo Meu
1968 - Correnteza / Meia-volta
1969 - País Tropical / Se Você Pensa
1970 - Que cada um Cumpra com o seu Dever / Canção nº 21
1970 - A Tonga da Mironga do Kabuletê / No Clarão da Lua Cheia
1971 - Obrigado, Pelé / Você Abusou
1971 - Gemedeira / Tristeza
1972 - Noves Fora / Paz e Arroz
1973 - Homem de Verdade / Viva em Paz
1976 - A Vida É só pra Cantar / Trinta Dinheiros
1977 - Meu Ofício É Cantar / Viva a Planta
1977 - Compacto Argentina 78: Macumbancheiro / Vamos Vencer
1980 - Vinte Meninas / Várzea
1984 - Foi Cachaça que Matou / Banho de Alegria


Compactos Duplos
1963 - Está Nascendo um Samba / O Estranho na Praia / Garota Legal / O que Eu Faço pra Esquecer
1965 - De Manhã / Das Rosas / Cuidado Cantor - Passarinho - Nêga - Não Ponha a Mão - Já Vai? - Na Onda do Berimbau
1966 - A Banda / Disparada / Quem Samba, Fica / Máscara Negra
1967 - Tributo a Martin Luther King / Deixa quem Quiser Falar / Ela É Demais / Está Chegando a Hora
1968 - Samba do Crioulo Doido / Alegria, Alegria / Pata, Pata / A Rosa da Roda
1968 - Correnteza / Meia-volta / A Saudade Mata a Gente / Terezinha de Jesus
1970 - Kiki / Menininhas do Leblon / Aqui É o País do Futebol / Eu Sonhei que tu Estavas tão Linda
1970 - Compacto Promo Shell: Hino do Festival Internacional / Brasil, Eu Fico / Que cada um Cumpra com o seu Dever
1970 - Brasil, Eu Fico / Canção nº 21 / Resposta / Que cada um Cumpra com o seu Dever
1971 - Na Galha do Cajueiro / Ouriço / África África
1973 - Tanauêra / Glória e Paz nas Alturas / Mexericos da Candinha / Quarto de Tereza
1976 - Navio Negreiro / O Amor Está no Ar / Escola em Luto / Esses Tempos de Agora
1977 - A Vida É só pra Cantar: A Vida É só pra Cantar / Cordão / Trinta Dinheiros / Coisa de Louco
1978 - Nós Somos Filhos do mesmo Deus / Quando Ele Dormir / Macumbancheiro / Vamos Vencer

 
         Coletâneas
1994 - A Bossa e o Balanço
1997 - Meus momentos: Wilson Simonal
2002 - De A a Z : Wilson Simonal
2004 - Rewind - Simonal Remix
2004 - Série Retratos: Wilson Simonal
2009 - Wilson Simonal - Um Sorriso Pra Você
    Caixas
2004 - Wilson Simonal na Odeon (1961-1971)
    Trilha sonora
2009 - Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei
  Filmografia

1958 - Minha Sogra É da Polícia
1966 - Na Onda do Iê-iê-iê
1970 - É Simonal
1971 - Som Alucinante
2009 - Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei

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